Depois de apresentar informações talvez pouco conhecidas sobre Olavo de Carvalho, Reinaldo Azevedo e Rodrigo Constantino, exponho agora minha opinião sobre como devemos lidar com estes colunistas e outros que pertencem à mesma corrente de pensamento.
Alguns dizem que esse tipo de colunista deve ser completamente ignorado. Isto porque esses colunistas gostam de aparecer, são do tipo que amam ser odiados por alguns, e que, portanto, falar sobre eles, mesmo emitindo opinião negativa, é ajudar a divulga-los.
Concordo parcialmente com este argumento. É verdade que todos esses colunistas adoram aparecer, que falar deles ajuda a coloca-los em evidência. Mas o fato é que desde 2003, esse tipo de colunista vem ganhando muita evidência na mídia, seja escrita, seja televisiva, seja radiofônica, seja online. Alguns já são suficientemente conhecidos para não precisarem mais do "nosso" trabalho de divulgação. E existe o risco deles fazerem a cabeça de pessoas. Isto não seria nem um pouco bom. Pois haverá danos à saúde pública se as pessoas passarem a pensar que não há problema em não levar crianças para tomar vacina ou que campanhas governamentais de uso de preservativo são ruins. Haverá danos à tolerância às minorias se fosse padrão as pessoas pensarem que homossexualidade é uma doença ou que o cidadão mais oprimido é o homem, branco, heterossexual e cristão. Haverá danos à segurança pública se linchadores passassem a ser vistos como algo "até compreensível". Haverá danos aos conhecimentos do país sobre sua história se a mentira de que só "terroristas" foram assassinados durante a ditadura militar for vista como verdade. Haverá danos ao conhecimento dos brasileiros sobre ciência se as pessoas disserem que "o aquecimento global não existe" com base apenas no "eu acho que".
Portanto, esses colunistas merecem resposta, mas a resposta precisa ser bem feita. Caso contrário, as preocupações dos que defendem que esses colunistas devem ser ignorados tornam-se reais.
Escrevo aqui um conjunto de sugestões tanto para colunistas de revistas de esquerda e lideranças de esquerda (muito provavelmente eles nunca vão encontrar este texto, mas quem sabe...), quanto para críticos de Facebook, Twitter e Blog.
1) Colunistas muito conhecidos devem ser criticados. Colunistas pouco ou nada conhecidos devem ser ignorados.
2) Não é recomendável publicar em Facebook, Twitter ou Blog um texto de um ultradireitista preconceituoso acompanhado apenas de comentários como "absurdo, nojento". Porque isto ajuda apenas a divulgar. É importante responder aos argumentos do texto. É muito bom que especialistas em determinadas áreas de conhecimento respondam às "groselhas" proferidas por esses colunistas, como vemos aqui.
3) Quem deve responder a esses colunistas direitistas raivosos é uma questão importante. Pessoas com conhecimento acadêmico ajudam a desmentir patacoadas desses colunistas. Às vezes, nem é necessário tanto conhecimento assim. Só não é recomendável que acadêmicos muito conhecidos, lideranças muito importantes de partidos políticos e lideranças muito importantes de movimentos sociais escrevam críticas a colunistas ultradireitistas. Devem fazer isso apenas em réplica, quando atacados. Em situação normal, esses colunistas precisam ser criticados por pessoas menos conhecidas que eles. Quando o crítico é muito conhecido e importante, gera muita publicidade para quem não merece. Considero uma decisão equivocada a do Guilherme Boulos de ter escrito uma coluna inteira criticando o Reinaldo Azevedo. O MTST é um movimento muito mais importante do que o blog do Reinaldo Azevedo. Para o colunista da Veja, foi como um troféu ter recebido um texto do Guilherme Boulos. Bons acadêmicos desconhecidos são pessoas ideais para criticar colunistas ultradireitistas. A crítica a esses colunistas deve ser um trabalho horizontal e de formiguinha. Vale a pena divulgar no Facebook e no Twitter as boas críticas.
4) Colunistas direitistas trolls e colunistas que têm as mesmas posições políticas, escrevem para os mesmos periódicos, mas mantém aparência de sérios e respeitáveis devem ser tratados sem distinção, a não ser que critiquem abertamente os colunistas trolls. Da mesma forma que esperamos que islâmicos em geral expressem repúdio contra terroristas que utilizam o nome da religião islâmica para cometer atentados, para que o terrorismo não seja associado à religião; esperamos que os "sérios e respeitáveis" repudiem publicamente quem usa a trollagem para defender as mesmas posições políticas que as deles.
5) Nunca devemos caluniar ou difamar qualquer colunista. Nenhuma boa causa, no caso, o repúdio ao extremismo de direita, deve ser defendida por mentiras. Se defensores de determinada causa consideram que são necessárias mentiras para defender esta causa, muito provavelmente a causa não é tão boa assim.
6) Nunca fazer graça com a aparência física de qualquer colunista, nem fazer piadas sexuais.
7) Usar o naofo, isto é óbvio.
terça-feira, 17 de fevereiro de 2015
quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015
domingo, 1 de fevereiro de 2015
O PT e a extrema esquerda, o PSDB e a extrema direita
Não foi surpreendente a quase ausência de reação do PSDB à declaração do Jair Bolsonaro sobre o estupro. Este partido não teria razão para incomodar os fãs do militar deputado pelo Rio de Janeiro. Afinal, quem mais se envolveu na campanha de Aécio Neves para presidente não foram os apreciadores da obra "Dependência e desenvolvimento na América Latina" de Fernando Henrique Cardoso, nem dos artigos de economia de José Serra, nem das ideias de Franco Montoro, Magalhães Teixeira e Mário Covas. Quem mais se empenhou em defender a candidatura do Aécio no Facebook, nas páginas de comentários dos sites de notícias e nas ruas foram os fãs de Jair Bolsonaro. E, óbvio, leitores da Veja, ouvintes de Rachel Sheherazade e Danilo Gentili e todas essas excrecências aí. O PSDB não daria um pé na bunda em seus mais aguerridos apoiadores apenas um mês depois de uma tão concorrida eleição. Repara-se que no município do Rio de Janeiro, Jair Bolsonaro teve aproximadamente 10% dos votos para deputado federal. No segundo turno para presidente, Aécio teve perto de 50% dos votos. Como todos os que votaram em Jair Bolsonaro para deputado votaram em Aécio para presidente, aproximadamente 1/5 dos eleitores de Aécio no município do Rio de Janeiro votou em Jair Bolsonaro. Não é pouca coisa.
Muitos posicionamentos são feitos na política através do silêncio. Quando o PSDB manifestou-se sobre o assunto apenas com uma tímida nota, que não mencionou sequer nomes, e seus deputados se calaram, a mensagem implícita passada foi "fãs de Bolsonaro, defende-lo explicitamente não dá, mas enquanto outros partidos repudiaram o deputado querido de vocês, nós ficamos caladinhos porque estamos fazendo o possível para não abandonar vocês, uma vez que vocês deram grande contribuição na campanha".
Um gesto análogo foi o do governo Lula ao ter recusado a extradição do terrorista italiano Cesare Battisti. Lula agiu igual Mitterrand: usou Battisti como um prêmio de consolação para extrema-esquerda, insatisfeita com a política econômica do governo. Foi um recado como "esquerdistas remanescentes no PT e no PCdoB, não nos abandonem, não vão para o PSOL e para o PSTU, a militância de vocês nas campanhas é muito importante, olhem como nós fomos legais com vocês. Na política doméstica, só não vamos mais para a esquerda porque o Congresso não deixa".
Os dois grandes partidos de eleições majoritárias no Brasil têm relação ambígua com os extremos do espectro político. Nos discursos oficiais de campanha, gostam de se mostrar como próximos do centro. Mas através de comunicação em código e gestos simbólicos, o PT sempre procura manter canal de comunicação com a extrema-esquerda e o PSDB sempre procura manter canal de comunicação com a extrema-direita. Por dois motivos: primeiro lugar, porque se os extremos se veem completamente excluídos dos partidos majoritários, eles podem se organizar sozinhos e se tornar uma ameaça aos partidos majoritários. Caso emblemático se viu na França, em que Sarkozy foi obrigado a incorporar para do discurso dos Le Pen para que a Frente Nacional não se tornasse maior até mesmo do que a UMP. Em segundo lugar, os extremos são uma força de militância muito mais combativa do que a forças políticas próximas do centro.
Por causa disso, o PT é ao mesmo tempo o partido que lidera um dos governos da "esquerda responsável" na América Latina, "responsável" até demais muitas vezes, principalmente depois das medidas anunciadas neste segundo mandato de Dilma, que mostra pros banqueiros que não é contra a austeridade, que mostra pros religiosos que não é satanista; e também o partido que se aproxima dos outros "governos progressistas" da América Latina, que repudia o imperialismo norte-americano e europeu, que está junto dos sindicatos, dos movimentos sociais, das minorias. O PSDB é ao mesmo tempo o partido que criou os fundamentos do Bolsa Família e também o partido dos que acham que Bolsa Família só serve pra comprar voto de vagabundo que não deveria ter o direito de votar.
Dois textos recentes tratam muito bem deste tema. Em "A Grande Ilusão", Vladimir Safatle mostra como o PT é ao mesmo tempo governo e oposição de esquerda ao seu próprio governo, ou seja, como procura tutelar a oposição de esquerda para não perder o controle. Em "O Perigo da Extrema Direita", Renato Janine Ribeiro mostra como a militância de extrema-direita pode ser útil eleitoralmente ao PSDB, mas como esta militância pode desfigurar o partido.
A relação do PT com a extrema esquerda é mais evidente para a maior parte dos observadores porque não é tão difícil de entender. O PT nasceu em 1980 ocupando o espaço mais à esquerda no espectro político brasileiro, e foi se moderando ao longo do tempo, chegando à Carta ao Povo Brasileiro de 2002. Por isso, sempre teve proximidade com movimentos sociais que estão mais à esquerda do que os governos Lula/Dilma. Já quando presidente, Lula usou um boné do MST como um gesto simbólico, para mostrar que mesmo com um Ministro da Agricultura ligado ao agronegócio, o PT não perdeu o contato com a luta pela reforma agrária. Atualmente, o PT ainda conta com uma rede de blogueiros e de comentaristas em comunidades virtuais do Facebook que criticam o PSOL não por ser radical demais, mas por "dividir a esquerda". Esses "formadores de opinião" gostam de passar a imagem de o PT continua tendo bandeiras tão esquerdistas quando o PSOL e que só não as implementa porque "a atual correlação de forças não permite". O PT não quer perder toda a militância de esquerda para o PSOL.
A relação do PSDB com a extrema direita, muitos conhecem só de atualmente, mas alguns laços não são tão recentes. Quando este partido foi fundado em 1988, alguns cientistas políticos consideram-no um partido de "centro-esquerda". Os fundadores foram antigos políticos do MDB, intelectuais com tendências esquerdistas no passado. Embora o partido tenha o nome de "social democrata", nunca teve relação com trabalhadores sindicalizados nem mesmo no ano de sua fundação. Diferente do que ocorre com partidos social democratas europeus. Mesmo nunca tendo sido muito esquerdista, o PSDB foi caminhando para a direita com o tempo, tendo como importante marco a coligação com o PFL em 1994.
Já na década de 1990, apareceu o primeiro sinal de aproximação do PSDB com a extrema direita. A Revista República, criada por Mendonça de Barros para ser um meio de comunicação paraoficial do partido, chegou a dedicar uma matéria de capa ao "filósofo" Olavo de Carvalho, quando ele ainda nem era conhecido. O redator chefe da revista, Reinaldo Azevedo, um simples tucano convencional no passado, tornou-se um imitador do "pensamento" de Olavo de Carvalho a partir do primeiro mandato do Lula. Isto ajudou a aproximar o tucanismo do olavismo. Isto eu expliquei com mais detalhes no meu post anterior. Importante lembrar que a Nossa Caixa, banco público paulista, patrocinava a revista de Reinaldo Azevedo.
O PSDB ainda contribui com a divulgação e o apoio financeiro ao "pensamento" de Reinaldo Azevedo e Rodrigo Constantino assinando a Revista Veja para as escolas estaduais paulistas.
O Instituto Millenium, criado para divulgar ideias de direita no Brasil, reúne economistas do PSDB e colunistas raivosos da imprensa.
Outro fato importante a se considerar são as frequentes aparições de Luís Felipe Pondé na TV Cultura.
Em 2010, José Serra explorou ateufobia alheia na campanha presidencial e em 2012, explorou homofobia alheia na campanha municipal. Não se esqueceu nem mesmo do Foro de São Paulo. Nem viu problemas em incentivar a participação de pessoas em uma manifestação onde se sabia que haveria pedidos de golpe militar.
Verifica-se através destes exemplos que o PSDB não apenas vem contando com a militância de extrema direita, como vem ajudando a fomentá-la. Não sabemos se o criador terá controle sobre a criatura para sempre.
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