quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Meu pitaco no debate sobre a ANPEC

Aproveito que hoje é o Dia do Economista para palpitar no debate sobre o exame da ANPEC.
No ano passado, estudantes da UFRJ fizeram um abaixo-assinado para criticar: 1. o conteúdo do exame, 2. a alta taxa de inscrição, 3. a existência reportada de cola.
Sobre os pontos 2 e 3, eu concordo.
Sobre o ponto 1, não.
Os autores do abaixo-assinado afirmam que o exame não deveria ter uma orientação teórica única e hegemônica. Neste tópico são criticados a ausência de espaço para as abordagens heterodoxas da economia e o risco de padronização dos cursos de graduação.

Em primeiro lugar, a orientação teórica única e hegemônica só existe nas provas de Microeconomia e de Macroeconomia. Para fazer a prova de Economia Brasileira, o estudante precisa conhecer um pouco de teorias heterodoxas. E se uma faculdade desejar que seus alunos de pós tenham mais deste conhecimento, é só dar mais peso para a prova de Economia Brasileira. E se a faculdade achar que a maioria dos conhecimentos presentes na prova não são adequados para o perfil desejado do estudante de pós, basta introduzir outros critérios de avaliação. Isto faz, por exemplo, o Mestrado em Desenvolvimento da Unicamp, que só utiliza a prova de Economia Brasileira, a avaliação do projeto e a entrevista, estes dois, fora da ANPEC.
Sobre o conteúdo das provas de Microeconomia e de Macroeconomia, não há problema algum que seja baseado em livros-texto como Varian, Pyndick&Rubinfeld, Blanchard, Dornbusch&Fisher. O lado positivo de focar unicamente do básico da teoria ortodoxa é justamente evitar a padronização dos cursos de graduação. A Micro e Macro destes livros são muito básicas e devem ser lecionadas a estudantes de graduação de qualquer escola, independentemente de sua abordagem teórica.
A economia ortodoxa é praticamente só uma e precisa ser aprendida por ortodoxos e heterodoxos. As economias heterodoxas são várias, e uma chega a competir com a outra. Colocar conteúdo de correntes de pensamento heterodoxas induziria todos os cursos de graduação a acrescentá-las em seus currículos. Como não é possível ensinar todas as correntes heterodoxas na graduação, que são muitas, algumas teriam que ser selecionadas. Isto criaria uma padronização heterodoxa. Quando apenas a Micro e a Macro de livros-texto entram na prova, os cursos de graduação tem mais autonomia para além de lecionar este conteúdo, decidir ensinar a teoria ortodoxa com mais profundidade ou escolher quais teorias heterodoxas a ensinar, sem prejudicar o aluno que pretende fazer o exame.

Um comentário:

Salomão disse...

É Marcelo... em última análise o que o exame mede é se você estudou pra prova.. e isso é só o que se pede de um mestrando (que estude).

Bom texto.
Abs,
Carlos
Central de Ensino