Não votei em Marina Silva no primeiro turno. Votei em Dilma Roussef. Por concordar mais com o projeto político de Dilma. Não tenho objeções à pessoa de Marina. Durante esta campanha eleitoral, eu sempre discordei da posição dos petistas mais fanáticos, que consideravam Marina Silva uma traidora ou que sua campanha era útil para a direita.
Acredito que os eleitores de Marina Silva têm muitas objeções, algumas delas bastante compreensíveis, à candidata Dilma Roussef e ao governo Lula. Mas certamente não acreditam em clichês propagados por alguns eleitores de José Serra como o de que “o governo Lula é o mais corrupto da história”, “todos os acontecimentos positivos do governo Lula foram iniciados por FHC” ou “o Bolsa Família foi feito para comprar voto de vagabundo”. Quem acredita nisso não teria votado em uma histórica militante do PT, que permaneceu no partido até 2009 e no governo Lula até 2008.
Portanto, não será difícil dialogar com os eleitores de Marina Silva. Respeitando e discutindo as críticas que possam ter à Dilma e à Lula, pretendo demonstrar que aquilo que os eleitores de Marina Silva procuram pode ser mais facilmente encontrado na candidatura de Dilma Roussef do que na de José Serra.
Em primeiro, lugar, obviamente, a questão ambiental. É verdade que a atenção dada pelo governo Lula ao meio-ambiente ficou aquém do esperado. Mas ao menos, os ambientalistas disputaram espaço dentro do governo Lula. O trabalho iniciado por Marina Silva e continuado por Carlos Minc gerou resultados. Como pode ser verificado aqui, o deflorestamento bruto da Amazônia Legal vem apresentando forte declínio desde 2004. Naquele ano, foram desmatados aproximadamente 28 mil quilômetros quadrados. Em 2009 foram desmatados menos de 10 mil.
Em um eventual governo Serra, os ambientalistas teriam espaço muito mais reduzido. A senadora Katia Abreu, aliada de Serra, chamou o ministro Carlos Minc de ecoxiita. Tasso Jereissati, outro aliado de Serra, endossou. E como foi muito bem demonstrado no blog de Idelber Avelar, as áreas das Regiões Norte e Centro-Oeste que apresentaram mais desmatamento foram as áreas que deram mais votos a José Serra. O blogueiro também demonstrou que o PSDB se opôs à Operação Arco de Fogo, que foi fundamental para a redução contínua do desmatamento da Amazônia.
Ainda indiretamente relacionado ao tema, é importante lembrar as ações do governo Lula contra o trabalho escravo. Durante o governo Lula foram retirados seis vezes mais trabalhadores da condição de escravidão do que durante o governo FHC. Durante esta campanha eleitoral, Dilma Roussef assinou um compromisso contra o trabalho escravo.
Em segundo lugar, assim como a própria Marina Silva, seus eleitores também podem ter algumas críticas à política externa do governo Lula. Eu também tenho. Desaprovei completamente as declarações do presidente Lula a respeito dos oposicionistas no Irã. Mas são poucos os líderes de países democráticos que não mantém boas relações com regimes autoritários. Bajular o tirano do Irã é muito ruim, mas a campanha de José Serra é bem pior, ao mobilizar os setores da sociedade que querem trazer as idéias do Irã para nossas terras. Apesar de alguns problemas, a política externa do governo Lula acumulou mais sucessos do que fracassos. Basta comparar a cobertura da imprensa estrangeira com a cobertura da imprensa brasileira ao nosso governo. Os jornais Le Monde e El País consideraram Lula o “homem de 2009”.
A política externa deste governo permitiu diversificar as exportações brasileiras e fortalecer os países em desenvolvimento nas negociações mundiais sobre comércio e finanças.
Em terceiro lugar, é importante comentar a repercussão que sites serristas, logo após o primeiro turno, deram ao tratamento desrespeitoso que alguns dilmistas concederam a Marina Silva antes do primeiro turno. É verdade que em meio a muitas críticas qualificadas, alguns eleitores de Dilma fizeram críticas desqualificadas à candidata verde. Mas cada eleitor tem sua opinião pessoal que muitas vezes diverge daquela de seu candidato. Insultos bem maiores à Marina Silva foram encontrados no campo serrista. Um colunista aliado de Serra há uma década chamou Marina de “santinha da floresta oca”. Em contrapartida, Luís Nassif, um dos mais conhecidos colunistas favoráveis a candidatura de Dilma Roussef, fez um ótimo texto elogioso sobre Marina Silva. O texto foi escrito em 19 de agosto, quando era esperada a vitória de Dilma no primeiro turno.
O próprio José Serra afirmou que Marina Silva e Dilma Roussef são parecidas. Ele não parece preocupado em obter os 10% cativos da candidata verde. Ele parece preocupado apenas em obter os outros 10% de última hora, aqueles que optaram por Marina Silva no primeiro turno simplesmente por rejeitarem Dilma e Serra.
Depois de discutir e rebater muitos supostos motivos para não votar na Dilma, pretendo apontar motivos para votar na Dilma. Um deles é o voto de solidariedade. Gostaria que não apenas quem votou em Marina Silva, mas também quem votou em Plínio ou quem anulou no primeiro turno pensasse nisso.
Para nós da classe média, pouco faz diferença no nosso cotidiano quem é o Presidente da República. Para milhões de brasileiros, que recentemente ultrapassaram a linha de indigência ou a linha de pobreza, o governo Lula fez a diferença, para melhor. Não apenas por causa do Bolsa Família e do Luz para Todos, como também por causa do aumento do salário mínimo e do crescimento da economia. Em solidariedade a essas pessoas, eu recomendo o voto em Dilma Roussef, para manter estas conquistas. São essas pessoas que têm poucos meios para se expressarem e ainda são esculachadas por alguns “cientistas políticos” e por colunistas de baixa qualidade.
E por fim, a questão de gênero. Por muito tempo, considerei pouco relevante o fato de Dilma Roussef ter a possibilidade de ser a primeira mulher a ocupar a cadeira de Presidente do Brasil. O gênero não faz alguém ser melhor nem pior. Jamais gostaria que Yeda Crusius ou Katia Abreu fossem uma ou outra a primeira mulher presidente. Mas como nesta campanha os elementos machistas e retógrados da sociedade brasileira, que sempre existiram, mas estavam adormecidos, subitamente acordaram. Portanto, a eleição de Dilma Roussef teria importância simbólica fundamental.
domingo, 17 de outubro de 2010
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