segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Dawkins é muito maior do que suas recentes polêmicas idiotas

Dawkins pisou na bola duas vezes recentemente. Uma quando ele disse que mulheres grávidas de feto com Síndrome de Down DEVEM abortar. Outra quando ele fez acusações sobre o menino de família muçulmana preso nos Estados Unidos por causa de um relógio. A imagem do biólogo ficou prejudicada por causa destes dois acontecimentos.
Mas não é por isso que se pode desprezar toda sua vida e sua obra. Ele não só é reconhecido no meio científico como um grande zoólogo, como ele escreveu ótimas obras de divulgação da Teoria da Evolução para o público leigo, como "O Relojoeiro Cego" e "O Maior Espetáculo da Terra".
Porém, o livro que tornou-o mais conhecido no mundo foi "Deus, um delírio", em que ele pratica o ateísmo militante. Há ateus que dizem "sou ateu, mas o Dawkins me envergonha, parece um pastor de sinal trocado". Não penso assim. Se há líderes religiosos e mesmo familiares tentando convencer que Deus existe, por que alguém não poderia fazer o oposto? As pessoas seriam expostas a ideias diferentes e poderiam ter discernimento para avalia-las. Os ateus que dizem "sou ateu, mas não gosto do Dawkins" provavelmente vivem em ambientes tolerantes ao ateísmo. Figuras como Dawkins são necessárias, porém, porque há ateus que vivem em ambientes intolerantes, esses ateus precisam ser protegidos. Por isso, o ateísmo militante não é futilidade.
Eu gostei da maneira através da qual Dawkins argumentou contra a existência de Deus. Usou o argumento favorito dos anti-evolucionistas de que "nada complexo surge por acaso", mostrou que evolução não é acaso e que Deus sim seria algo complexo que teria surgido por acaso, ou seja, algo pouco provável.
Outras argumentações interessantes em "Deus, um delírio" é a de que religiões não pregam necessariamente o bem, bastando ver as partes horrorosas que existem no Antigo Testamento para chegar a essa conclusão. Mesmo se as religiões só pregassem o bem, seus dogmas não teriam que ser verdadeiros só por causa disso. Em sociedades mais religiosas as pessoas não têm comportamento melhor do que em sociedades menos religiosas (comparem, por exemplo, o Norte com o Sul dos Estados Unidos). No tempo em que todas as sociedades eram mais religiosas, os valores sociais não eram melhores (no século XIX, por exemplo, escravidão, racismo e machismo eram aceitos).
Ao contrário do que foi dito por alguns críticos, o "Deus, um delírio" não prega apenas para os totalmente já convertidos. Eu me considerava apenas agnóstico quando comprei o livro. Achei interessante a crítica ao agnosticismo. Passei a me definir tranquilamente como um ateu, embora eu continue sendo agnóstico também. Não são excludentes.
Há defeitos no livro sim. Não concordo com Dawkins quando ele considera que até religiões sem fanatismo fazem mal para a Humanidade. Também achei pretensioso demais ele tentar refutar a filosofia de São Tomás de Aquino em três páginas.
De qualquer maneira, "Deus, um delírio" é um livro que vale a pena ser lido. Não é a melhor obra dele. As melhores obras dele são aquelas sobre a área de especialização dele, que é a Teoria da Evolução. Mas muitos conheceram estas outras obras porque conheceram o autor por causa do "Deus, um delírio".
Ah, e eu gosto do Dawkins também quando ele dá alfinetadas naquela esquerda que só ataca o fundamentalismo cristão, mas tolera um pouco mais o fundamentalismo islâmico.

No Brasil, com bancadas fundamentalistas fazendo tantos horrores, Dawkins precisa ser mais conhecido.

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