sábado, 29 de janeiro de 2011

Parece que mais uma vez Paul Krugman leu este blog

Em 1 de maio de 2010 eu escrevi:

Alguém poderia ... dizer ... que a tendência mais natural prevista pelas leis econômicas seria a de convergência entre o PIB per capita da Europa Ocidental e o dos EUA, que estava ocorrendo de 1950 a 1980, e que a estagnação na faixa dos 70 ou 80% ocorrida deste então seria prova de fraqueza do modelo europeu continental.
Mas a verdade é que a diferença entre o PIB per capita dos EUA e o da Europa Ocidental é em sua maior parte explicada pelo maior número de horas trabalhadas nos EUA: os norte-americanos começam a trabalhar mais cedo, trabalham mais horas por semana, têm férias mais curtas e se aposentam mais tarde. A diferença de produtividade por hora trabalhada do norte-americano e do europeu ocidental é bastante pequena. Ou seja, o PIB per capita superior dos EUA não implica qualidade de vida superior. Trata-se de uma escolha social entre consumo e lazer. Os norte americanos preferem ter mais consumo, os europeus ocidentais preferem ter mais lazer. Consumo e lazer são indicadores indispensáveis do nível de qualidade de vida. E o PIB só mede consumo.

http://blogdomarcelobrito.blogspot.com/2010/05/verdades-inquestionadas-questionaveis-i.html

Em 28 de janeiro de 2011, Paul Krugman escreveu
So, here are some ratios of France to the United States:
GDP per capita: 0.731

GDP per hour worked: 0.988
Employment as a share of population: 0.837
Hours per worker: 0.884
So French workers are roughly as productive as US workers. But fewer Frenchmen and women are working, and when they work, they work fewer hours.
Why are fewer Frenchmen working? As I’ve pointed out, during prime working years they’re as likely to work as Americans. But fewer young people work (in part because of more generous college aid); and, mainly, the French retire earlier. The latter is arguably the result of misguided policies: Mitterand made early retirement alarmingly attractive. But it’s not a problem of weak productivity or mass unemployment.
And why do the French work shorter hours? Probably for the most part because of government policies mandating vacation time.
The bottom line is that France is a society with the same level of technology and productivity as the US, but one that has made different choices about retirement and leisure. Vive la difference!

http://krugman.blogs.nytimes.com/2011/01/28/gdp-per-capita-here-and-there/

domingo, 16 de janeiro de 2011

Honduras poderá mudar a lei para permitir a reeleição

Bom texto de Bruno Ribeiro sobre o assunto, publicado no blog de Rodrigo Vianna.

http://www.rodrigovianna.com.br/outras-palavras/o-vexame-dos-brasileiros-que-defenderam-o-golpe-em-honduras.html#more-6141

O vexame dos brasileiros que defenderam o golpe em Honduras
por Bruno Ribeiro, no blog
A Trincheira
Se tivéssemos uma imprensa séria e profissional de verdade no país, determinados “comentaristas políticos” já teriam sido despachados e as empresas que eles trabalham veiculariam desculpas públicas pelas asneiras que disseram ou escreveram. Como não são e ainda duvidam da inteligência de quem os lê, vê e ouve, fica tudo por isso mesmo e quem falou ou escreveu a sandice continua ocupando espaço, ignorando solenemente a necessidade de se explicar ao distinto público.
Poderia citar aqui vários jornalistas e comentaristas que usaram os mesmíssimos argumentos, e isso mostra como a maioria reza pela mesma cartilha, mas dentre todos os entoadores de mantra ninguém defendeu o golpe em Honduras com mais paixão e afinco do que Alexandre Garcia e Arnaldo Jabor.
Quando em 2009 os milicos tomaram o poder em Honduras, expulsando o presidente eleito legitimamente, a opinião pública internacional condenou de imediato. O comportamento da imprensa nacional foi esquizofrênico, fazendo eco a princípio com a reação internacional, mas logo em seguida mudando lentamente de posição, até defender abertamente a “legalidade” de um vergonhoso golpe de estado.

...

Feminismo e Prostituição

A prostituição é um tema que divide opiniões não apenas entre conservadores e progressistas, mas também dentro do campo progressista.É muito lúcida a visão da feminista Martha Nussbaum a respeito da prostituição. Para ela, a prostituição não é um mal que deve ser extirpado, e sim um trabalho remunerado que deve ser respeitado. O que deve ser eliminado é o estigma da prostituição e a falta de oportunidades que muitas mulheres pobres têm para escolher outros ofícios. A criminalização da prostituição, além de eliminar uma das poucas formas de sustento disponíveis para muitas mulheres pobres sem instrução, ainda dificulta o estabelecimento de normas de segurança e higiene para este trabalho.
Nussbaum considera que não há motivos racionais para defender a criminalização da prostituição consensual de mulheres adultas. Poderia se argumentar que muitas vezes a prostituição não é consensual porque as mulheres teriam sido “forçadas” a venderem seus corpos devido à situação social. Mas se for pensar nesta forma, quase todos os ofícios remunerados são “forçados” porque as pessoas precisam trabalhar para se sustentarem. E tendo em vista que todos os trabalhos são executados com o corpo, mesmo os mentais, todas as pessoas que exercem trabalho remunerado “vendem seus corpos”.
De acordo com a autora, as características da prostituição podem ser encontradas em vários outros ofícios. A operária, assim como a prostituta, geralmente ganha baixos salários e está submetida a riscos à saúde. A empregada doméstica, assim como a prostituta, ganha baixos salários, é obrigada a realizar uma sequência de tarefas listada pelo cliente e sofre com o estigma. A cantora de casa noturna, assim como a prostituta, usa o corpo para provocar prazer. A massagista, mesmo aquela cuja atividade nada tem a ver com sexo, proporciona prazer ao cliente através do contato corporal. A voluntária de testes de equipamentos médicos, assim como a prostituta, tem suas partes íntimas penetradas. O lutador de boxe, assim como a prostituta, está exposto a riscos à saúde. E ninguém sugere tornar ilegais as profissões mencionadas.
Para Nussbaum, as principais causas do preconceito contra a prostituição sãoduas: a aversão ao sexo sem fins reprodutivos e a repulsa à remuneração em algumas ocupações. No passado distante, cantores e atores remunerados eram considerados pervertidos. No passado não muito distante, o esporte profissional não era tolerado. Hoje, considera-se normal uma pessoa ganhar o pão de cada dia através da música, do teatro ou do esporte. É possível que no futuro, seja plenamente respeitada a pessoa que ganha o pão de cada dia através do sexo.
A posição de Martha Nussbaum sobre a prostituição é em grande parte compartilhada por Levitt e Dubner, autores do Superfreakonomics. Os dois autores consideram que a situação das prostitutas nos Estados Unidos era melhor antes da criminalização e que policiais aproveitam a criminalização para fazer sexo gratuito com prostitutas, em troca da vista grossa. A única diferença entre Nussbaum e Levitt e Dubner é que enquanto ela é contra a cafetinagem, eles pensam que tal prática melhora a condição de trabalho das prostitutas.
Entre os partidários do banimento da prostituição estão não apenas reacionários, por causa dos preconceitos mencionados anteriormente, mas também algumas feministas, por motivos diferentes. Estas feministas consideram a prostituição uma forma de subordinação da mulher ao homem. Trata-se de uma visão equivocada querer coibir a prostituição por causa disso, porque não se combate uma causa pelo seu efeito. Além disso, a prostituição ilegal seria uma submissão muito maior do que um contrato legal. Estas mesmas feministas geralmente têm objeções também à pornografia.
Impedir uma mulher adulta de por vontade própria fazer sexo em troca de dinheiro ou posar nua em cenas picantes para fotos em troca de dinheiro seria impedir uma mulher de ser dona do próprio corpo.
No Brasil, a prostituição felizmente não é criminalizada, e infelizmente não é reconhecida legalmente como um ofício igual qualquer outro.

Os recursos naturais e o limite ao crescimento do PIB

O limite que o estoque limitado de alguns recursos naturais existentes no Planeta Terra impõe ao crescimento do PIB mundial não deve ser interpretado de forma muito rígida. Não é possível dizer que para o PIB mundial crescer X%, o consumo de determinado recurso tem que crescer X%.
Por dois motivos: primeiro, o progresso técnico permite reduzir a quantidade de recursos naturais para produzir bens materiais. Segundo, o PIB não é composto apenas por bens materiais, aqueles que a gente pode pegar e apalpar. E a participação de bens não materiais no PIB é cada vez maior.
É possível demonstrar isso em um exemplo bastante simples: o país A produz cadernos, o país B produz livros. A quantidade de cadernos produzidos pelo país A é igual à quantidade de livros produzidos pelo país B. A área das folhas dos cadernos e dos livros é igual. A quantidade de folhas também é igual. Portanto, as duas economias utilizam a mesma quantidade de recursos naturais (tudo bem, a economia do país B gasta um pouco mais de matéria-prima necessária para fabricar tinta). Mas como os livros têm trabalho intelectual, o valor agregado dos livros é maior, e dessa forma, o PIB do país B é maior que o PIB do país A. Se a economia do país A se converter em uma economia igual à do país B, o país A terá tido um crescimento do PIB sem crescimento do consumo de recursos naturais (apenas aquele necessário para produzir um pouco mais de tinta). Para demonstrar a mesma ideia, outro exemplo utilizado poderia ter sido de um país C, que produz CDs graváveis, e um país D, que produz CDs de música.
Foram apenas exemplos simples. Mas ilustram o que ocorre no mundo real. O crescimento da participação do PIB não apalpável no PIB total permite que o PIB aumente mais do que o consumo de recursos naturais.

Pela tabela acima, é possível perceber que entre 1990 e 2006, o PIB mundial cresceu mais do que o consumo de diversas formas de energia.
Portanto, os limites ao crescimento impostos pela limitação do estoque de recursos naturais não deve ser interpretado de forma tão aterrorizadora.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Não sabia que o tecido social brasileiro tinha "estamentos"

Escreveu o deputado Otavio Leite, do PSDB-RJ

Navegar é preciso. Foram-se as eleições de 2010, com nossas derrotas e vitórias — que deixaram importantes lições — a indicar qual o nosso ponto de partida para a construção do futuro. Vale, portanto, uma reflexão para traçarmos metas e estratégias.
Inicialmente é preciso compreender a outra face dos 44% obtidos no segundo turno presidencial. Pois, se é certo que apontam um peso substancial do eleitorado (vide estamentos mais informados e autônomos em todo o tecido social), por outro lado, representam o que tem sido o nosso "teto", e, por mais eloquente que seja, ele é, e será sempre, insuficiente para a vitória.
http://oglobo.globo.com/pais/moreno/posts/2011/01/06/o-futuro-do-psdb-354806.asp

Definição de "estamento" na Wikipedia
Constitui uma forma de estratificação social com camadas sociais mais fechadas do que as classes sociais, e mais abertas do que as castas (tipo de estratificação ainda presente em algumas sociedades, como na Índia, segundo a qual o indivíduo desde o nascimento está obrigado a seguir um estilo de vida predeterminado), reconhecidas por lei e geralmente ligadas ao conceito de honra. Historicamente, os estamentos caracterizaram a sociedade feudal durante a Idade Média.
Na obra de Max Weber, o conceito de estamento é ampliado. Passa a significar não propriamente um corpo homogêneo estratificado, mas sim uma certa teia de relacionamentos que constitui um determinado poder e influi em determinado campo de atividade.
Podemos afirmar que, no estamento, cada estrato deve obedecer leis diferenciadas. Por exemplo, na sociedade feudal os direitos e deveres de um nobre eram diferentes dos direitos e deveres de um servo. E, embora a lei não preveja a mudança de status social, ela também não a torna impossível, como na casta. Por exemplo, um servo pode se tornar um pequeno comerciante ou um membro do clero. Isso dá ao sistema de estamentos uma mobilidade social maior do que nas castas, mas não tão alta quanto nas classes sociais, onde todos, em teoria, são iguais perante a lei.(carece de fontes)
Nas palavras de Raimundo Faoro: "O estamento burocrático comanda o ramo civil e militar da administração e, dessa base, com aparelhamento próprio, invade e dirige a esfera econômica, política e financeira. No campo econômico, as medidas postas em prática, que ultrapassam a regulamentaçao formal da ideologia liberal, alcançam desde as prescrições financeiras e monetárias até a gestão direta das empresas, passando pelo regime das concessões estatais e das ordenações sobre o trabalho. Atuar diretamente ou mediante incentivos serão técnicas desenvolvidas dentro de um só escopo. Nas suas relações com a sociedade, o estamento diretor provê acerca das oportunidades de ascensão política, ora dispensando prestígio, ora reprimindo transtornos sediciosos, que buscam romper o esquema de controle".



Seria um wishful thinking?

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Comentário sobre os cartazes da campanha dos ônibus ateus


A notícia deve ser conhecida, portanto, dispensa maiores explicações. A ATEA (Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos) decidiu fazer uma campanha contra o preconceito em relação aos ateus. Para isso, comprou o espaço dos ônibus urbanos de Salvador e Porto Alegre para colocar cartazes de propaganda. Porém, as empresas de transporte público das duas cidades recusaram ceder o espaço para a divulgação da campanha.
A iniciativa foi muito boa. Porém, dos quatro cartazes, apenas um deles cumpre o papel em transmitir uma mensagem correta, respeitosa, que não dá margem a interpretações equivocadas, e que ajuda a abrir a mente de quem não tolera pessoas que não acreditam em dogmas religiosos. Este cartaz é o "somos todos ateus com os deuses dos outros". Os outros três apresentam diversos problemas.
O "religião não define caráter" carrega uma mensagem correta. Pessoas religiosas não são nem melhores nem piores do que pessoas não religiosas. O objetivo da escolha de Chaplin e Hitler para ilustrar a campanha não é mostrar que acreditar em Deus torna as pessoas ruins, mas que acreditar em Deus não torna as pessoas necessariamente boas e não acreditar não as torna necessariamente ruins. Embora correta, a mensagem é mal divulgada, por três motivos: em primeiro lugar, observadores poderim interpretar erroneamente que o objetivo do anunciante foi demonstrar que religião criaria Hitlers e ateísmo criaria Chaplins. Em segundo lugar, muita gente acha equivocadamente que Hitler era ateu. Um Torquemada, um Franco, um Khomeini ou um Bin Laden criariam menos problemas de entendimento. Em terceiro lugar, a Lei de Godovin.
O "se Deus existe, tudo é permitido" não faz sentido. Não apenas quem não acredita, mas a grande maioria das pessoas que acreditam em Deus consideraram o atentado ao World Trade Center uma monstruosidade. A foto do atentado faria mais sentido com os dizeres "se a fé fosse sempre boa, atrocidades não seriam cometidas em nome dela".
O "a fé não dá respostas, só impede perguntas" ficou muito espalhafatoso com a foto da grade de uma prisão. Em vez de estimular a tolerância, estimula o conflito.
Conforme dito anteriormente, o "somos todos ateus com os deuses dos outros" ficou ótimo. É um convite à reflexão. A maioria das pessoas que acredita em Deus nos dias de hoje acredita em um Deus específico: no Deus descrito pelas três grandes religiões monoteístas. Quase ninguém acredita nos deuses dos egípcios antigos, dos gregos antigos, dos africanos, dos indianos, dos ameríndios. Durante muito tempo, crianças que pertenceram a estes respectivos povos aprenderam desde cedo a acreditar em seus respectivos deuses. Hoje quase todos nós não acreditamos em nenhum destes deuses. Por que o Deus no qual fomos educados a acreditar desde crianças tem necessariamente que existir? O que acharíamos se os mencionados povos nos considerassem pessoas sem moral ou sem caráter somente porque não acreditamos nos deuses deles?

domingo, 9 de janeiro de 2011

Valeu, Ricardo Mello!

O tenista campineiro e bugrino venceu pela quarta vez (terceira consecutiva) o Aberto de São Paulo.
Vamos esperar que neste ano ele se aproxime do número 50 do ranking da ATP.

sábado, 8 de janeiro de 2011

Por Deus e pela Família

Como é bom ser amigo ou parente de autoridade no Brasil...


Governo concede passaporte diplomático para bispo da Igreja Universal e MPF faz de conta que não vê

O que mais se estranha é a omissão do Ministério Público Federal no Brasil que não age para coibir essa ilegalidade, já que é sua atribuição constitucional.

No apagar das luzes do governo Lula, o Itamaraty realizou uma série de questionáveis emissões de passaportes diplomáticos. Um dos privilegiados foi o bispo Romualdo Panceiro, da Igreja Universal. Ele recebeu o documento em “caráter excepcional” nos últimos dias de dezembro. A benesse, válida por um ano, foi concedida para atender um pedido formal do senador Marcelo Crivella (PRB-RJ), também bispo da Universal, e autorizada pelo ex-ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim.
http://www.gp1.com.br/noticias/governo-concede-passaporte-diplomatico-para-bispo-da-igreja-universal-e-mpf-faz-de-conta-que-nao-ve-174384.html

Obs. Soube ontem que o filho de Lula resolveu devolver o passaporte diplomático. A situação deixou de ficar péssima. Ficou só muito ruim mesmo.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

200 países, 200 anos, 4 minutos

http://www.youtube.com/watch?v=jbkSRLYSojo

Interessantíssmo este vídeo. Mostra como o mundo evoluiu nos últimos 200 anos.
O apresentador mostra um gráfico em que o eixo horizontal se refere ao PIB per capita e o eixo vertical se refere à expectativa de vida. Os países são representados por bolinhas, proporcional ao tamanho de suas populações. Essas bolinhas andam no gráfico, representando o caminho percorrido de 1810 a 2010.
Percebe-se que apesar da extrema desigualdade de renda e de longevidade, todos os países estão em condições, em ambos os critérios, muito melhores hoje do que estavam há 200 anos. A maior parte da população vive em países de renda média ou média baixa. Obviamente os desníveis internos devem ser considerados. Até o final da Segunda Guerra Mundial, havia uma tendência de distanciamento entre os países desenvolvidos e os países em desenvolvimento. A partir de então, passou a haver uma tendência de aproximação.
O vídeo ajuda a demonstrar como o intenso progresso técnico ocorrido nos últimos 200 anos beneficiou a maior parte da população mundial.
Um fato não comentado pelo autor, mas percebido pela observação do movimento das bolinhas, é que existe uma relação de longo prazo entre renda e longevidade, que pode ser percebida tanto na forma como os países se distribuem no gráfico em 2010 (geralmente os de PIB per capita alto também são os de expectativa de vida alta), como na forma que eles começam em 1810 e terminam em 2010. Porém, não existe relação de curto prazo entre estas duas grandezas. A China evoluiu muito em expectativa de vida e pouco em PIB per capita de 1950 a 1980. A partir de então, passou a evoluir muito em PIB per capita e pouco em expectativa de vida. Não fez um movimento diagonal no gráfico. Primeiro fez um movimento vertical e depois horizontal. Com o Brasil aconteceu o oposto. Evoluiu mais em PIB per capita entre 1950 e 1980, e mais em expectativa de vida entre 1980 e 2010.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Era o PT um partido de classe média até 2002? Não!

Algumas análises superficiais na imprensa tratam de uma mudança da base de apoio do PT. De acordo com estas análises, o PT teria tido uma base de apoio mais forte na classe média até a eleição do Lula de 2002. Posteriormente, os escândalos de corrupção envolvendo lideranças do PT teriam erodido o apoio da classe média. Os programas sociais, o aumento do salário mínimo e a redução da miséria teriam aumentado a base de apoio do PT entre os pobres.
Ambos os movimentos de fato ocorreram. Porém, é errôneo afirmar que até 2002 o PT recebia mais votos entre a classe média do que entre os pobres. Nunca foi assim. Uma observação da votação do PT por zona eleitoral no município de São Paulo nas eleições presidenciais de 1998, 2002 e 2006, e municipais de 2000 e 2004 ajudam a desmentir esta tese. Na verdade, mesmo nas eleições de 1998, 2000 e 2002, antes do Lula assumir, elevar o salário mínimo e implementar o Bolsa Família, o PT teve votação melhor nas zonas pobres do que nas zonas de classe média em São Paulo.
O gráfico a seguir, que relaciona a votação do Lula no primeiro turno em 1998 com a votação de Lula no primeiro turno em 2006, nas 41 zonas eleitorais de São Paulo, mostra que as zonas que deram mais votos ao Lula em 2006 foram as mesmas que deram mais votos ao Lula em 1998.

A Zona 5, correspondente ao Jardim Paulista, é o pontinho localizado mais embaixo e mais à esquerda no gráfico (somente no gráfico, é óbvio). Esta zona deu 13,4% para Lula em 1998 e 12,8% em 2006. A Zona 251, correspondente a Pinheiros, deu 18,3% para Lula em 1998 e 15,7% em 2006. A Zona 371, correspondente a Grajaú, deu 37% para Lula em 1998 e 59,8% em 2006. A Zona 375, correspondente a São Mateus, deu 46,2% a Lula em 1998 e 56,4% em 2006.
Considerando a votação total de Lula no município de São Paulo, verifica-se que ele teve 27,7% dos votos válidos em 1998 e 35,7% no primeiro turno de 2006. Nas zonas de classe média alta, houve leve declínio. Nas zonas de periferia, houve forte elevação.
Já o gráfico a seguir, relaciona a votação de Lula no segundo turno de 2002 com a votação de Lula no segundo turno de 2006 nas 41 zonas de São Paulo.

Verifica-se que a forte polarização por classe social ocorrida em 2006 foi apenas uma acentuação do que já havia ocorrido em 2002. No segundo turno daquele ano, Lula teve 51,1% dos votos válidos . No segundo turno de 2006, Lula teve 45,6%. Nas zonas de classe média alta, Lula, que já não tinha sido bem votado em 2002, sofreu forte queda. No Jardim Paulista, caiu de 29,3% para 17,2%. Em Indianópolis, caiu de 31,2% para 19%. Em Pinheiros, caiu de 35,4% para 21,6%. Mesmo em zonas de classe média menos elegantes, como em Tatuapé, Lula sofreu forte queda, de 45,6% para 31,7%. Em zonas pobres, Lula cresceu. Em Guaianases, Lula foi de 63,2% para 67,5%. Em Grajaú, Lula foi de 63,1% para 72,2%. Apesar dessas mudanças, os lugares onde Lula teve mais votos em 2006 foram os mesmos onde ele teve mais votos em 2002.
Para muitos, nunca foi mistério que Lula sempre tenha sido mais bem votado pela população mais pobre. Marta, porém, já foi erroneamente associada com o voto de classe média. Algumas colunas de jornal chegaram a dizer que a classe média foi o determinante da vitória de Marta em 2000 e da derrota dela em 2004. Somente a segunda afirmação é correta.
A observação do resultado eleitoral do segundo turno da eleição municipal de 2000 pode causar essa impressão. O gráfico a seguir relaciona a votação de Marta no segundo turno em 2000 com a votação de Marta no segundo turno em 2004.
Mudanças importantes ocorreram. Em 2000, Marta foi eleita com 58,5% dos votos válidos. A variação de sua votação foi pequena. Não foi inferior a 50% e superior a 67% em nenhuma zona. No segundo turno de 2000, Marta recebeu 63,3% dos votos válidos em Pinheiros e 60,6% dos votos válidos em Perdizes. Em zonas eleitorais de classe média e classe média baixa da Zona Leste, Marta teve desempenho pior. Obteve 50,1% na Mooca, 50% na Vila Maria e 51% em Tatuapé. Porém, a maior votação de Marta ocorreu em zonas periféricas, como Grajaú, onde ela obteve 66,1%, e São Mateus, onde ela obteve 66%. Em 2004, Marta teve 45,1% dos votos válidos e foi derrotada. Em Pinheiros e Perdizes, Marta ficou na faixa dos 30%. Nas mencionadas zonas eleitorais da Zona Leste, Marta teve entre 30% e 40%. Nas zonas mais pobres, Marta manteve sua votação elevada, e em algumas delas, teve sua votação ampliada. Tirando esses casos excepcionais, houve alguma continuidade entre a distribuição de votos na Marta no segundo turno de 2000 e no segundo turno de 2004.
A continuidade fica mais acentuada quando são comparados os resultados do primeiro turno de cada eleição.

Verifica-se que as zonas que deram mais votos para a Marta no primeiro turno de 2004 foram as mesmas que deram mais votos para a Marta no primeiro turno de 2000. Mesmo em 2000, as zonas eleitorais que deram mais votos para a Marta no primeiro turno foram as zonas mais pobres. Em Pinheiros, Marta teve apenas 31,7%. Em Perdizes, 33,5%. Em zonas periféricas, Marta teve mais que 40%. O bom resultado de Marta em zonas de classe média alta no segundo turno aconteceu somente por causa da rejeição ao Maluf. Alckmin recebeu muitos votos nessas zonas no primeiro turno, e a grande maioria dos votos de Alckmin migrou para Marta.
Quando Marta se candidatou ao governo do estado em 1998, não passou para o segundo turno. No primeiro, obteve 12,1% onde reside, no Jardim Paulista, e 28,2% em Guaianases. Estes resultados enfraquecem não apenas a tese de que o PT era um partido de classe média, como também a tese de que políticos que defendem a legalização do aborto e a união civil de homossexuais encontram rejeição mais forte entre os pobres.
A evidência de que o PT é há muito tempo um partido mais votado pelos pobres do que pela classe média pode ser encontrada em outros municípios paulistas. Em 1998, Lula teve 57,3% dos votos válidos em Diadema, 34,8% em Sumaré e 39,3% em Hortolândia. No mesmo ano, Lula teve 30% em Valinhos e 21,4% em Vinhedo. No segundo turno de 2002, Lula obteve 72,8% dos votos válidos em Diadema, 69,1% em Sumaré e 72,6% em Hortolândia. Em Valinhos, teve 61,2%, e em Vinhedo, teve 53%.
Uma grande guinada ocorreu no interior das regiões Norte e Nordeste do Brasil. Antes, eram o local de maior rejeição ao PT. Atualmente, são a maior fortaleza do PT nas eleições presidenciais.
Porém, em regiões metropolitanas, o PT recebe apoio maior da população mais pobre mesmo antes do governo Lula.

domingo, 2 de janeiro de 2011

Parabéns aos machos brasileiros

Nós, machos brasileiros, estamos de parabéns!!!
Por causa principalmente do voto masculino, o Brasil elegeu pela primeira vez uma mulher para o cargo de Presidente da República. Entre as mulheres, a diferença de votação entre Dilma e Serra foi mínima.

Portanto, não precisamos sentir culpa em no dia da posse da primeira mulher presidente, dedicar mais comentários a outra mulher: à senhora Temer.