domingo, 8 de novembro de 2009

A dignidade de Mino Carta

Colunistas militantes, identificados com determinadas posições políticas, têm como leitores habituais pessoas com posições políticas parecidas. Alguns desses colunistas sofrem de um mal chamado de “bundamolice”. Quando eles têm uma ou outra opinião diferente da de seus leitores habituais, preferem ficar na moita. Em vez do cachorro abanar o rabo, o cachorro acaba aceitando ser abanado pelo rabo. Na verdade, nem o cachorro tem que abanar o rabo, nem o rabo tem que amarrar o cachorro. Os leitores não têm que ter todas as opiniões iguais a do colunista, nem o colunista tem que ter todas as opiniões iguais a de seus leitores. Há muitas pessoas no mundo, há muitos assuntos no mundo para se ter uma opinião. Portanto, é impossível que muitas pessoas tenham opiniões iguais em todos os assuntos. Divergências podem e devem ser expostas e debatidas.
Um exemplo de colunista que jamais sofreu do mal da bundamolice é Mino Carta. Ele teve coragem de ser um dos maiores defensores da extradição de Cesare Battisti, mesmo não sendo esta a posição de muitos de seus leitores. E mais, ele fez isso sem ficar cheio de dedos. Não disse “os ideais de Battisti e de seu bando eram lindos, mas eles exageraram um pouquinho na violência”. Foi algo mais claro: “a Itália era um Estado democrático e de Direito, uns terroristas decidiram afrontar esta situação, e por tais delitos eles devem pagar”. Em nenhum momento Mino Carta tenta abrandar sua posição para fugir da critica de que “ele estaria parecido com a direita”. Se ele realmente estivesse, toda a centro-esquerda italiana também estaria.
Isto tem a ver com outra virtude de Mino Carta: a combinação de exuberância no diagnostico dos problemas com a sensatez na solução da cura. O jornalista italiano parece um extremista de tão grande a sua paixão em denunciar as injustiças sociais. Mas para pregar a solução, opta pela boa e velha social-democracia. Não considera ditaduras de partido único, economia de comando e atentados contra regimes democráticos o caminho para se chegar a uma sociedade mais justa. Porque existem caminhos melhores. A Itália é um bom exemplo. No imediato pós-guerra, o país conseguiu conciliar crescimento econômico com justiça social. O PCI, tendo percebido e contribuído para isso, havia decidido participar do jogo democrático e por isso, atraiu a ira dos terroristas de extrema-esquerda, que sabotaram a possibilidade do partido chegar ao poder pelas urnas.
No caso de Battisti, Mino Carta vem prestando um excelente serviço de combate a desinformação. Mostrou as falhas da teoria de que o julgamento teria sido injusto, esclareceu que as medidas de emergência adotadas pela Itália naquele período nada tinham a ver com autoritarismo. Tais medidas, previstas pela Constituição de 1948, seriam apenas um mecanismo de legitima defesa de um Estado de Direito contra terroristas. E por muitas vezes, Mino Carta teve que esclarecer que quem fez o pedido de extradição foi o Prodi, e que tal pedido tem apoio do PD. Defensores do Battisti no Brasil insistem em tentar dar a entender que quem quer a extradição é o Berlusconi.
Alguns textos de extrema-esquerda que defendem Battisti perdem um pouco a credibilidade por tentar ao mesmo tempo dizer que Battisti não teria cometido os crimes dos quais ele é acusado, e que se ele realmente os tivesse cometido, não seria tão ruim assim.
Outra pessoa que merece destaque pelo seu posicionamento no caso é o jurista Walter Maierovitch, também articulista da revista Carta Capital.
Em alguns fóruns de discussão on-line, pessoas de extrema-esquerda debateram quais seriam os “interesses” de Mino Carta ao defender com tanta vontade a extradição de Battisti. Ora, isso sim é “parecer a direita”. São jornalistas e políticos de direita que acham que Mino Carta tem “interesses” por trás de tudo que escreve. Esses jornalistas e políticos de direita que dizem que “o Mino Carta é insignificante, que ninguém lê sua revista”. Se isso fosse verdade, o redator-chefe de Carta Capital seria o insignificante mais comentado do mundo.
E quais seriam os “interesses” de Mino Carta no caso Battisti? Poderiam ser aversão ao terrorismo, defesa da pratica política por meios pacíficos, defesa do Estado democrático e de Direito, solidariedade com familiares e amigos das vitimas do terrorismo ...

Impugnação da candidatura de Silvio Santos completa 20 anos

Em 9 de novembro de 1989, o muro de Berlim foi aberto e milhares de alemães orientais puderam conhecer o Oeste. Foi um símbolo do fim da Guerra Fria. Mas no dia seguinte, a manchete de capa de um certo jornal paulista foi sobre Senor Abravanel e sua impossibilidade de sair candidato.
Porem, não sejamos injustos. A queda do muro de Berlim foi apenas o principal dos muitos eventos que causaram a queda do comunismo no Leste Europeu, que foi um grande efeito domino.
Em janeiro de 1989, Erich Honecker, o então presidente da Republica Democrática Alemã, disse que o muro de Berlim duraria por no mínimo mais cem anos. Então, tudo mudou de repente naquele histórico ano. Em julho de 1989, a Hungria abriu suas fronteiras com a Áustria, e por isso, muitos alemães orientais puderam ir para o Oeste em seus Trabants. Outro pais que se abriu foi a Tchecoslováquia. Muitos alemães orientais entraram na embaixada da Republica Federal da Alemanha em Praga e obtiveram asilo.
Enquanto isso, em Leipzig, um movimento contra o regime comunista começou a se formar na Nicholaikirche, a principal igreja evangélica da cidade. Este movimento deu origem a gigantes manifestações populares em outubro. O mundo temeu que o regime adotaria a solução chinesa. Felizmente isto não ocorreu.
Em Berlim, no dia 7 de outubro, houve a grande parada de celebração dos 40 anos da Republica Democrática Alemã. O evento foi seguido de grandes protestos contra o regime, que terminaram em conflitos com a policia.
Os protestos de Berlim e Leipzig precipitaram a queda de Erich Honecker, o presidente linha dura. O Partido Socialista Unificado optou por Egon Krenz, um linha um pouco menos dura.
Este novo governo decidiu abrir gradualmente as fronteiras. Mas por um mal entendido, no dia 9 de novembro, milhares de alemães de ambos os lados se aglomeraram perto do muro. Não havia outra opção senão abrir. Mas ainda não foi naquela noite que o regime caiu.
Em janeiro de 1990, quando o povo ocupou a sede da Stasi, o partido não teve como se segurar. Já havia ate mesmo demanda interna por mudanças.
Em marco de 1990, aconteceram as primeiras eleições livres e multipartidárias na RDA. Foi formado um governo do CDU e FDP, favorável a reunificação.
Em junho de 1990, o muro inteiro veio abaixo. Houve também a reforma monetária.
George Bush apoiou a reunificação. Gorbatchev e Mitterand tiveram um pouco de relutância inicial, mas acabaram aceitando. Margaret Thatcher foi a ultima a aprovar.
Em 3 de outubro de 1990, a RDA deixou de existir.
O desnível econômico entre o Leste e o Oeste ainda não foi completamente superado. Recentemente, a renda per capita dos cinco estados do Leste era de 17 mil euros. A de Berlim era 22 mil. A de Rheinland-Pfalz, o estado mais pobre do Oeste, era de 24 mil. E a de Hamburgo, o estado mais rico, 44 mil. O desemprego no Leste é muito alto e por isso, muitos jovens migram para o Oeste. As cidades do Leste não têm pirâmide etária, e sim, cogumelo etário.
Mas o Leste recebeu muito apoio do Oeste, por meio do imposto da reunificação, e da União Européia. Os centros históricos de algumas cidades do Leste foram completamente restaurados. A frota de bondes foi quase que completamente renovadas, e por isso, os veículos são mais novos do que os do Oeste. As estações de trem do Leste também são mais novas que as do Oeste.
A divisão aparentemente persiste na opinião das pessoas. Na eleição parlamentar da Alemanha em 2009, o CDU ganhou a maioria dos distritos no Oeste de Berlim e o Die Linke ganhou quase todos os distritos do Leste da capital. Mas isto não quer dizer muita coisa. Nem quem vota no Die Linke acha que o tempo do comunismo era melhor. Estes normalmente consideram que algumas coisas pioraram e outras melhoraram. Mas quase ninguém deseja viver sob ditadura.