sábado, 15 de novembro de 2014

O ranking das eleições presidenciais brasileiras


Rankings são sempre motivo de polêmica. Isto inclui rankings de conjuntos musicais, de canções, de filmes, de livros, de times históricos de futebol e de esportistas individuais. Aí eu decidi fazer outro tipo de ranking, que também pode ser polêmico: o das sete eleições presidenciais brasileiras da Nova República. Classifiquei-as da mais para a menos interessante.

Para classificar as eleições, eu considerei alguns critérios: importância histórica na mudança da forma de fazer políticas públicas no Brasil, importância histórica na mudança da forma em que as eleições subsequentes são disputadas, grau de interesse que a eleição gerou para os brasileiros, dramaticidade e imprevisibilidade. Não dei pontos, não criei ponderações, não usei números. Usei esses critérios apenas como um guia, mas a definição da classificação dependeu de subjetividade

Todas as eleições presidenciais brasileiras da Nova República estão na minha memória. De algumas eu me lembro de detalhes, e nessas estão incluídas aquela em que eu votei pela primeira vez, que foi a de 2002, e, obviamente, também a de 2006, 2010 e 2014. De outras, tenho apenas vagas recordações, como a de 1989, quando eu tinha cinco anos. Nas que eu tenho menos lembranças, dependi de leituras. Mesmo nas mais recentes, leituras são muito importantes.

Eis o ranking, exposto aqui da última para a primeira colocada.

 

Sétimo: 1998

Primeiro Turno
 
 
 
 
 
Candidato
Partido
Origem
Domicílio
Votos
Proporção
Fernando H. Cardoso
PSDB
RJ
SP
35.936.540
53,06%
Luís I. Lula da Silva
PT
PE
SP
21.475.218
31,71%
Ciro Gomes
PPS
SP
CE
7.426.190
10,97%
Enéas Carneiro
PRONA
AC
SP
1.447.090
2,14%
Ivan Frota
PMN
CE
RN
251.337
0,37%
Alfredo Sirkis
PV
 
212.984
0,31%
José Maria de Almeida
PSTU
 
202.659
0,30%
João de Deus
PTdoB
 
198.916
0,29%
José Maria Eymael
PSDC
 
171.831
0,25%
Thereza Ruiz
PTN
 
166.138
0,25%
Sérgio Bueno
PSC
 
124.659
0,18%
Vasco Neto
PSN
 
109.003
0,16%
Total válidos
 
67.722.565

 

https://sites.google.com/site/atlaseleicoespresidenciais/_/rsrc/1390268375112/1998/mapacor1998.png

Foi muito fácil definir a eleição presidencial mais sem graça da Nova República. Foi sem sombra de dúvida a de 1998. Mesmos candidatos principais que a de quatro anos antes, quase as mesmas alianças, mesmo vencedor, quase os mesmos percentuais. O resultado para o país dessa eleição foi a manutenção do modelo econômico iniciado em 1990, com mudança apenas na introdução do tripé macroeconômico. Não houve grande interesse dos brasileiros por aquela eleição. O resultado foi bastante previsível. Não houve acontecimentos memoráveis. Nem debate televisionado houve. O candidato à reeleição se recusou a participar de qualquer debate.

O maior legado da eleição presidencial de 1998 para as subsequentes foram as candidaturas de José Maria Eymael e de José Maria de Almeida do PSTU, que começaram naquela ocasião e se repetiram com frequência. Foi a última eleição presidencial disputada por Enéas.

Nem mesmo a crise econômica iniciada na Rússia, que já estava batendo na porta do Brasil, dada a vulnerabilidade do nosso país naquele momento, ameaçou a reeleição de Fernando Henrique Cardoso. Muitos acreditaram que ele seria o único a garantir o real forte. Foi beneficiado com um acordo com o FMI, feito às pressas, com apoio dos Estados Unidos. O acordo postergou o inevitável para depois da eleição. Em janeiro de 1999, o real sofreria uma maxidesvalorização. E o PSDB só voltaria a ganhar uma eleição presidencial em... não sei, o término desta frase ainda está em aberto.

A eleição presidencial de 1998 foi tão sem graça que foi ofuscada por outras eleições. A disputa para governador de São Paulo naquele ano foi emocionante, com a disputa acirrada entre Covas, Marta e Rossi para disputar o segundo turno contra Maluf, e os memoráveis debates entre Covas e Maluf. Destaque também teve a disputa intelectual para senador do Rio de Janeiro, que foi um Fla-Flu esquerda/direita entre Saturnino Braga e Roberto Campos.

Mas como este ranking é exclusivo de eleições presidenciais, a de 1998 é certamente lanterninha.

 

Sexto: 1994

Primeiro Turno
 
 
 
 
 
Candidato
Partido
Origem
Domicílio
Votos
Proporção
Fernando H. Cardoso
PSDB
RJ
SP
34.350.217
54,28%
Luís I. Lula da Silva
PT
PE
SP
17.112.255
27,04%
Enéas Carneiro
PRONA
AC
SP
4.670.894
7,38%
Orestes Quércia
PMDB
SP
SP
2.771.788
4,38%
Leonel Brizola
PDT
RS
RJ
2.015.284
3,18%
Esperedião Amin
PPR
 
1.739.458
2,75%
Carlos Antônio Gomes
PRN
 
387.611
0,61%
Hernani Fortuna
PSC
 
238.126
0,38%
Total válidos
 
63.285.633
 

 

https://sites.google.com/site/atlaseleicoespresidenciais/_/rsrc/1316402014542/1994/mapacor1994.PNG

Se a segunda eleição de Fernando Henrique Cardoso foi a mais sem graça da história da Nova República, a primeira eleição dele foi a segunda mais sem graça. Não foi a eleição que determinou o início do Plano Real porque este plano já estava sendo realizado no governo anterior. Não houve uma polarização acalorada entre esquerda e direita no país porque até mesmo algumas pessoas que se consideravam de centro-esquerda votaram em Fernando Henrique. Não houve polarização de classes sociais porque o ex-ministro ganhou disparado em todas as faixas de renda. Não houve polarização regional porque Fernando Henrique ganhou com folga em todas as regiões, com uma diferença um pouco menor apenas na Região Sul. Depois de julho, quando Fernando Henrique ultrapassou Lula, nunca houve dúvida sobre quem seria o vencedor. O tucano foi favorecido pelo fato do PT não ter acreditado no Plano Real.

A única novidade daquela eleição é que foi a primeira da longa série de eleições casadas – presidente junto com deputado federal e estadual, senador e governador – realizadas em ano de Copa do Mundo, calendário que é mantido até hoje.

A eleição de 1994 também marcou o início da aliança PSDB/PFL, que dura até hoje. Alguns dizem que o PFL foi se enfraquecendo aos poucos com esta aliança e se tornando um mero coadjuvante na política brasileira. Outros dizem que o PSDB foi gradualmente se transformando em PFL.

 

Quinto: 2010

Segundo Turno
 
 
 
 
 
Candidato
Partido
Origem
Domicílio
Votos
Proporção
Dilma Rousseff
PT
MG
RS
55.752.529
56,05%
José Serra
PSDB
SP
SP
43.711.388
43,95%
Total válidos
 
99.463.917
 
Brancos
 
2.452.597
Nulos
 
4.689.428
Total
 
106.605.942

 

Primeiro Turno
 
 
 
 
 
Candidato
Partido
Origem
Domicílio
Votos
Proporção
Dilma Rousseff
PT
MG
RS
47.651.434
46,91%
José Serra
PSDB
SP
SP
33.132.283
32,61%
Marina Silva
PV
AC
AC
19.636.359
19,33%
Plínio Sampaio
PSOL
SP
SP
886.816
0,87%
José Maria Eymael
PSDC
 
 
89.350
0,09%
José Maria de Almeida
PSTU
 
 
84.609
0,08%
Levy Fidélix
PRTB
 
 
57.960
0,06%
Ivan Pinheiro
PCB
 
 
39.136
0,04%
Rui Costa Pimenta
PCO
 
 
12.206
0,01%
Total válidos
 
 
101.590.153
 
Brancos
 
 
3.479.340
Nulos
 
 
6.124.254
Total
 
 
111.193.747

 

https://sites.google.com/site/atlaseleicoespresidenciais/_/rsrc/1317865587995/2010/mapacor2010mm.PNG

A eleição presidencial brasileira de 2010 teve duas grandes novidades. Pela primeira vez na história do Brasil, uma mulher foi eleita. Pela primeira vez depois de 50 anos, houve uma eleição presidencial direta em que o Lula não estava disputando. Além das novidades, um fato histórico que passou desapercebido deve ser lembrado aqui: 2010 marcou o centenário da primeira disputa presidencial no Brasil em que houve realmente competição. Em 1910, Rui Barbosa e Marechal Hermes de Lima disputaram a presidência, e o militar ganhou. Cem anos depois, houve outra derrota do candidato preferido pela maioria dos paulistas.

Ainda assim, não foi das eleições mais interessantes. O primeiro e o segundo turno de 2010 foram, na verdade, respectivamente, o terceiro e o quarto turno de 2006. Apesar de estarem com outros candidatos, PT e PSDB repetiram os discursos. O PT dizendo que o PSDB não era a favor dos pobres. O PSDB dizendo que o PT não era ético. Houve apenas duas novidades da campanha de Serra em comparação com a campanha de Alckmin. A primeira foi a tentativa de não apenas igualar, mas de superar o PT em promessas para o social, como oferecer aumentos maiores para o salário mínimo e para o Bolsa Família. Assim, tentava-se diminuir a vantagem que o PT teria entre os pobres, que são a maioria do eleitorado. A segunda foi a introdução na campanha do anti-comunismo tipo Guerra Fria, algo que tinha aparecido em campanhas presidenciais brasileiras pela última vez em 1989, com Collor. Dilma era retratada na campanha internética como atéia, abortista, amiga das Farc, censuradora de imprensa. Esse discurso não encontraria respaldo nos anos 90, mas naquele momento, já encontrava respaldo em alguns segmentos do eleitorado, sob influência de uma geração de colunistas na imprensa iniciada por Olavo de Carvalho. O anti-comunismo tipo Guerra Fria pode ter funcionado como um presente para alguns conservadores, que poderiam ter ficado insatisfeitos com o populismo econômico da campanha. Ao se apresentar como um conservador pró-valores cristãos e não como um conservador pró-Estado Mínimo, José Serra tentou se aproximar do perfil ideológico daquilo que é o perfil da maioria dos brasileiros, conforme demonstrado em pesquisas de opinião.

A estratégia funcionou? Depende se observamos o copo cheio ou o copo vazio. José Serra tinha sido prefeito da cidade mais populosa do Brasil, governador do Estado mais populoso do Brasil, tinha disputado a Presidência da República uma vez. Dilma Rousseff nunca tinha sido candidata. Por outro lado, Dilma era apoiada por Lula, que participou ativamente da campanha, como se fosse um candidato à reeleição. Segundo as pesquisas de opinião, 80% dos brasileiros consideravam a administração de Lula ótima ou boa. E mesmo assim, Serra teve, no segundo turno, 43,95% dos votos válidos. Ou seja, se Serra teve todos os votos dos que consideravam a administração de Lula péssima, ruim e regular, ele ainda teve aproximadamente um terço dos votos daqueles que consideravam a administração de Lula ótima ou boa. A vitória de Dilma, apesar de ter tido margem razoavelmente folgada, não foi barata. Mesmo sendo apoiada por um presidente com 80% de aprovação, ela teve que suar para ganhar. E seu partido teve que ceder. A campanha foi obrigada a assinar uma carta de compromisso com religiosos. Que foi cumprida ao longo do mandato. Durante o governo Dilma, houve alguns retrocessos em termos de separação entre religião e Estado, em comparação com o governo Lula. O material didático de educação anti-homofobia foi suspenso.

Outros destaques da eleição de 2010 foram Plínio Sampaio e Marina Silva. Plínio ganhou muita simpatia nos debates, mas esta simpatia não foi transformada em votos. Marina Silva teve uma votação surpreendente e se tornou uma nova força política. Conseguiu reunir não apenas eleitores centristas, mas também alguns eleitores que estavam à esquerda de Dilma, e outros que estavam à direita de Serra. Marina caiu no primeiro turno, mas caiu de pé.

A evolução das intenções de voto repetiu o script de 2006. Candidata do PT liderando com folga até meados de setembro, com possibilidade de vitória no primeiro turno, perda de fôlego na última quinzena, resultado do primeiro turno indicando segundo turno entre PT e PSDB, início da campanha do segundo turno com vantagem apertada para o PT, e alargamento desta vantagem até o dia do segundo turno. A diferença foi que a vitória de Dilma em 2010, apesar de razoavelmente folgada, foi um pouco menos folgada do que a de Lula quatro anos antes. A distribuição geográfica dos votos de 2010 foi parecida com a de 2006. Com exceção de Acre e Espírito Santo, onde Dilma teve queda brusca, e do Rio Grande do Sul, que foi o único estado em que Dilma 2010 teve desempenho melhor do que Lula 2006, o declínio de Dilma 2010 em relação a Lula 2006 foi razoavelmente uniforme em todo o território nacional.

 

Quarto: 2014

Segundo Turno
 
 
 
 
 
Candidato
Partido
Origem
Domicílio
Votos
Proporção
Dilma Rousseff
PT
MG
RS
54.501.108
51,64%
Aécio Neves
PSDB
MG
MG
51.041.155
48,36%
Total válidos
 
105.542.273
 
Brancos
 
1.921.819
Nulos
 
5.219.787
Total
 
112.683.879

 

Primeiro Turno
 
 
 
 
 
Candidato
Partido
Origem
Domicílio
Votos
Proporção
Dilma Rousseff
PT
MG
RS
43.267.668
41,59%
Aécio Neves
PSDB
MG
MG
34.897.211
33,55%
Marina Silva
PSB
AC
AC
22.176.619
21,32%
Luciana Genro
PSOL
RS
RS
1.612.186
1,55%
Pastor Everaldo
PSC
 RJ
 RJ
780.513
0,75%
Eduardo Jorge
PV
 SP
 SP
630.099
0,61%
Levy Fidelix
PRTB
MG
SP
446.878
0,43%
José Maria
PSTU
 SP
 SP
91.209
0,09%
Eymael
PSDC
RS
SP
61.250
0,06%
Mauro Iasi
PCB
 SP
 SP
47.845
0,05%
Rui Costa Pimenta
PCO
 SP
 SP
12.324
0,01%
Total válidos
 
 
104.023.802
 
Brancos
 
 
4.420.489
Nulos
 
 
6.678.592
Total
 
 
115.122.883

 

https://sites.google.com/site/atlaseleicoespresidenciais/_/rsrc/1415562840406/eleio-de-2014/mapacor2014.jpg

Se for considerada apenas a dramaticidade e os acontecimentos marcantes, a eleição presidencial de 2014 fica atrás apenas da de 1989 e supera todas as outras. Afinal, considerando todas as eleições presidenciais do período pós-redemocratização, apenas em 1989 e em 2014 os brasileiros acordaram no dia de ir para as urnas sem ter certeza de quem seria o vencedor. E assim como em 1989, em 2014 a segunda vaga no segundo turno foi decidida em cima da hora. Além disso, a campanha de 2014 teve uma tragédia, que foi o acidente de Eduardo Campos, teve momentos marcantes dos debates, como as discussões levantadas por Luciana Genro e Eduardo Jorge, e o aparelho excretor do Levy Fidélix. Mas não é apenas de dramaticidade e de acontecimentos marcantes que vive este ranking. Importância histórica também conta. Aí, é pouco provável que a eleição de 2014 deixe legado muito grande para o futuro. Daí a colocação modesta no ranking. Ainda assim, por causa de sua maior emoção, o segundo pleito vencido pela Dilma ficou na frente do primeiro pleito. Mas fora isso, a eleição presidencial de 2014 pareceu a Parte III de uma mesma história. É possível dizer que o primeiro e o segundo turno de 2014 foram o quinto e o sexto turno de 2006. Este vídeo de 6:39 https://www.youtube.com/watch?v=EmTz7EAYLrs descreve bem o que foram as eleições presidenciais de 2006, 2010 e 2014. Até o 2:30, a situação difícil para o PT ao término do primeiro turno. Aos 2:30, a chegada da militância do PSOL e outras figuras da esquerda para o apoio crítico no segundo turno. A partir do 6:10, o resultado final do segundo turno.

Pela lógica do “é a economia, estúpido”, depois de três eleições, tinha chegado uma em que o PT tinha grande probabilidade de perder. Em 2002, o PT foi favorecido por ter a candidatura de oposição em um momento em que a economia estava mal. Em 2006 e 2010, o PT foi favorecido por ter a candidatura de situação em um momento em que a economia estava bem. Em 2014, o PT era situação em um momento em que a economia estava mal. Além disso, tinha o escândalo da Petrobras. E a repercussão ruim do IPEA ter postergado a divulgação de dados. Quando a campanha iniciou, por volta de 35% dos eleitores consideravam a administração da Dilma ótima ou boa, não muito mais do que o percentual de quem considerava a administração ruim ou péssima. Na pergunta de apenas duas opções de resposta, aprova ou desaprova, estava quase meio a meio. Cenário desfavorável para quem estava disputando a reeleição.

E o que faltou para os dois principais candidatos da oposição? Combinar com ao menos 50,1% dos eleitores. Ambos pregaram apenas para o próprio rebanho. Fizeram uma campanha voltada exclusivamente para quem já é contra o PT, para quem já votaria contra o PT mesmo se a economia estivesse em situação semelhante à de 2006 ou 2010.

Se o assunto principal da campanha eleitoral fosse uma avaliação dos últimos quatro anos, Dilma estaria em desvantagem. Para a campanha da Dilma, era muito mais vantajoso que o assunto da campanha fosse uma divisão entre candidatura dos pobres e candidatura dos ricos, entre esquerda e direita. E que a avaliação fosse dos últimos doze anos, e não dos últimos quatro. A campanha de Aécio, na maior parte do tempo, fez exatamente o que a campanha de Dilma, liderada por João Santana, quis mostrar. A campanha de Dilma quis mostrar que Aécio era o candidato dos ricos, da direita. A campanha de Aécio mostrou que ele era exatamente isso.

O povo poderia estar insatisfeito com o status quo atual, insatisfeito com aluguel caro, transporte público caro e ruim, educação e saúde públicas de baixa qualidade. Mas para a campanha de Aécio, o principal problema do Brasil era a falta de credibilidade dos investidores na condução da política econômica, e que Armínio Fraga seria a solução. Nos debates, Aécio criticou não apenas os quatro tortuosos anos de Dilma, mas também os oito anos de Lula, período no qual as classes mais baixas tiveram importante ganho de renda. Além disso, o candidato do PSDB usou frases de efeito que só empolgam direitistas convictos como “para combater a corrupção, a solução é tirar o PT do poder”, ou “temos que libertar o Brasil do PT”. Porque até quem não avalia muito bem a administração Dilma sabe que corrupção não é monopólio de um único partido e que ninguém “liberta” um país de um governo, que por mais que muitas pessoas desaprovem, foi legalmente constituído. Na reta final, Aécio quis ser um pouco mais popular e prometeu acabar com o fator previdenciário. Já era tarde demais.

Outra atitude da campanha de Aécio que só empolgou eleitores anti-PT convictos foi a tentativa de se fazer de vítima, de dizer que estava sendo atacado por “uma campanha sórdida, cheia de mentiras”. Mesmo o colunista Élio Gaspari, que tinha leve preferência pelo tucano, alertou que sua reação arrogante às denúncias dos aeroportos foi pior do que os próprios aeroportos. A construção de aeroportos em terras de familiares foi um caso evidente de patrimonialismo, e não havia como dizer que tudo era normal e que nada tinha de errado. Ainda assim, sabendo disso, muitas pessoas poderiam ter a intenção de votar em Aécio, considerando que a construção dos aeroportos, apesar de ser antiética, foi menos ruim do que muitas outras coisas feitas no Brasil. Mas, segundo o colunista, quando Aécio insistiu em dizer que explicou tudo, que nada mais tinha a dizer, que o assunto deveria ser encerrado logo, passou a impressão de que poderia fazer coisas piores.

Enquanto isso, a Marina Silva tinha um programa que em economia era parecido com o do PSDB, mas que em outros temas, se parecia mais com o do PT do que com o do PSDB. Mas a campanha de Marina não quis enfatizar isso. Preferiu disputar o voto anti-PT com Aécio. Por isso, focou as críticas à Dilma na economia, convergindo com a candidato tucano. Fugindo de suas origens, Marina Silva pouco abordou a desatenção do governo Dilma com as questões indígena e ambiental. No último momento, o eleitorado anti-PT preferiu o original à cópia. A campanha de Dilma pretendeu retratar a candidatura de Marina como uma candidatura conservadora. Se for analisar ponto por ponto do programa de Marina, não era bem assim. Mas a campanha de Marina nada fez para evitar o rótulo de conservadora. A votação de Marina Silva em 2014 foi parecida com a de 2010, mas se em 2010 ela caiu de pé, em 2014 ela caiu de traseiro.

Alguns podem perguntar: se a Marina 2014 estava à direita da Marina 2010, e ainda por cima ela declarou apoio ao PSDB no segundo turno em 2014 e não em 2010, por que a transferência de votos dela ao PSDB no segundo turno em 2014 não foi maior do que em 2010? A resposta é simples: porque embora ela tenha tido percentual parecido em 2010 e 2014, na média, o eleitorado dela de 2014 era mais pobre do que o eleitorado dela de 2010.

É certo que a campanha de Dilma exagerou nas propagandas negativas dos adversários. Tentou mostrar que era gravíssimo a Marina Silva ter Neca Setúbal como guru, mesmo tendo a fundação da herdeira do Itaú trabalhado para o governo federal e a própria Neca ter apoiado o Haddad em 2012. A forma que a Dilma colocou em pauta a história do bafômetro do Aécio não foi das mais bonitas. Porém, de qualquer maneira, a campanha teve ataques pesados de todos os lados para todos os lados, mas não teve mentiras. A imagem que João Santana quis passar de Aécio Neves e Marina Silva foi confirmada pelas campanhas deles próprios.

Em relação aos resultados, a margem de Dilma diminuiu bastante de 2010 para 2014. A distribuição geográfica dos votos foi razoavelmente parecida com quatro anos antes. O que mudou na distribuição foi que não houve piora de desempenho da Dilma no Norte e no Nordeste de 2010 para 2014. Toda sua queda se deu no Centro-Oeste, no Sudeste e no Sul. Ou seja, houve aumento de polarização. Dilma manteve sua votação (ou mesmo ampliou) onde ela já tinha ido bem e perdeu votação onde ela já tinha ido mal. A exceção foi nos estados do Norte em que Dilma perdeu as duas vezes, como Acre e Roraima, em que a vantagem do candidato do PSDB diminuiu. E nos estados do Sudeste em que Dilma ganhou as duas vezes, como Minas Gerais e Rio de Janeiro, em que a vantagem dela diminuiu. É importante destacar que a elevação de Aécio Neves em comparação com José Serra quatro anos antes em Minas Gerais foi semelhante à sua elevação média nacional, não havendo o efeito da localidade.

 

Terceiro: 2002

Segundo Turno
 
 
 
 
 
Candidato
Partido
Origem
Domicílio
Votos
Proporção
Luís I. Lula da Silva
PT
PE
SP
52.793.364
61,27%
José Serra
PSDB
SP
SP
33.370.739
38,73%
Total válidos
 
86.164.103
 

 

Primeiro Turno
 
 
 
 
 
Candidato
Partido
Origem
Domicílio
Votos
Proporção
Luís I. Lula da Silva
PT
PE
SP
39.455.233
46,44%
José Serra
PSDB
SP
SP
19.705.445
23,20%
Anthony Garotinho
PSB
RJ
RJ
15.180.097
17,87%
Ciro Gomes
PPS
SP
CE
10.170.882
11,97%
José Maria de Almeida
PSTU
 
 
402.236
0,47%
Rui Costa Pimenta
PCO
 
 
38.619
0,05%
Total válidos
 
84.952.512
 

 

https://sites.google.com/site/atlaseleicoespresidenciais/_/rsrc/1316401239850/2002/mapacor2002.PNG

A única decisão difícil para a elaboração deste ranking foi definir o terceiro lugar. As outras posições foram decisões fáceis, mas não foi elementar definir entre 2002 e 2014 qual das duas ficaria na frente. A de 2014 teve mais dramaticidade. A de 2002 teve mais importância histórica. Prevaleceu a importância histórica.

Depois de 38 anos, o Brasil voltava a ter um presidente de esquerda. Outro tabu quebrado foi que pela primeira vez desde 1960, um presidente eleito diretamente transmitiria o cargo para outro presidente eleito diretamente. E entre as sete eleições presidenciais da Nova República, a de 2002 foi a única em que um candidato de oposição ao governo vigente venceu. Alguns poderiam argumentar que em 1989 isto também aconteceu, uma vez que Collor dizia ser opositor de Sarney. Mas Collor foi informalmente apoiado pelo PMDB e pelo PFL, partidos que compunham a base de Sarney. Foi em 2002 a primeira vez em que a votação de Lula não se restringiu à esquerda, diferente do que ocorreu em 1989, 1994 e 1998. Isto foi determinante para sua vitória. Foi a primeira vez que a candidatura presidencial do PT apresentava um vice fora da esquerda, tendência que se repetiria em todas as eleições subsequentes.

Foi uma eleição sem grande polarização ideológica, uma vez que Lula prometia preservar o suficiente das políticas de FHC, assinando uma carta de compromisso para isso, e Serra prometia mudar o suficiente. Foi uma eleição sem grande polarização regional, uma vez que a vantagem folgada de Lula para Serra foi aproximadamente igual nas cinco regiões do país. Foi uma eleição sem grande polarização de classe social, uma vez que Lula superou Serra por larga margem em todas as faixas de renda. Dentro das regiões metropolitanas, Lula teve desempenho melhor nas áreas mais pobres, mas a polarização foi menor do que seria a partir de 2006.

Foi o início do longo período de presença do PT no Palácio do Planalto. E foi a consolidação definitiva do PT como um partido reformista moderado. O PT tinha nascido como um partido reformista radical com algumas correntes revolucionárias dentro dele. Junto com a mudança ideológica, veio a entrada definitiva do PT no mundo do financiamento milionário de campanha.

A eleição de 2002 teve grande importância histórica, mas não teve grandes emoções. Depois que a Polícia Federal encontrou o dinheiro vivo de Roseana e depois que Ciro Gomes teve a ascensão e queda meteórica, o caminho de Lula até a vitória ficou livre. Durante as três semanas de campanha do segundo turno, Serra nunca chegou a ameaçar Lula. As turbulências dos mercados financeiros não conseguiram mudar o candidato vencedor, mas conseguiram mudar os planos do candidato vencedor para o governo.  

Destaque positivo é que foi a última eleição civilizada. Os candidatos eram vistos como adversários entre si, e não como inimigos. Os eleitores de Lula sabiam reconhecer qualidades no Serra, os eleitores de Serra sabiam reconhecer qualidades no Lula. Foi a última vez que não houve troca de mensagens de ódio entre as diferentes regiões do Brasil.

 

Segundo: 1989

Segundo Turno
 
 
 
 
 
Candidato
Partido
Origem
Domicílio
Votos
Proporção
Fernando Collor
PRN
RJ
AL
35.089.998
53,03%
Luís I. Lula da Silva
PT
PE
SP
31.076.364
46,97%
Total válidos
 
66.166.362
 
Brancos
 
986.446
Nulos
 
3.107.893
Total
 
70.260.701

 

 

 

Primeiro Turno
 
 
 
 
 
Candidato
Partido
Origem
Domicílio
Votos
Proporção
Fernando Collor
PRN
RJ
AL
22.611.011
32,47%
Luís I. Lula da Silva
PT
PE
SP
11.622.673
16,69%
Leonel Brizola
PDT
RS
RJ
11.168.228
16,04%
Mário Covas
PSDB
SP
SP
7.790.392
11,19%
Paulo Maluf
PDS
SP
SP
5.986.575
8,60%
Guilherme Afif
PL
 
3.272.462
4,70%
Ulysses Guimarães
PMDB
 
3.204.932
4,60%
Roberto Freire
PCB
 
769.123
1,10%
Aureliano Chaves
PFL
 
600.838
0,86%
Ronaldo Caiado
PSD
 
488.846
0,70%
Affonso Neto
PTB
 
379.286
0,54%
Enéas Carneiro
PRONA
 
360.561
0,52%
José Marronzinho
PSP
 
238.425
0,34%
Paulo Gontijo
PP
 
198.719
0,29%
Zamir Teixeira
PCN
 
187.155
0,27%
Lívia Abreu
PN
 
179.922
0,26%
Eudes Mattar
PLP
 
162.350
0,23%
Fernando Gabeira
PV
 
125.842
0,18%
Celso Brant
PMN
 
109.909
0,16%
Antonio Pedreira
PPB
 
86.114
0,12%
Manoel Horta
PDCdoB
 
83.286
0,12%
Armando Silva
PMB
 
4.363
0,01%
Total válidos
 
69.631.012
 

 

https://sites.google.com/site/atlaseleicoespresidenciais/1989/mapacor1989.PNG?attredirects=0

A eleição presidencial brasileira de 1989 é para quem viveu naquele tempo a mais memorável de todas. Foi a primeira direta depois da redemocratização. Contou com um grande menu de candidatos. Por ter sido a única eleição solteira, sem ser acompanhada pelas eleições legislativas, não houve muitas coligações. A única, foi a Frente Brasil Popular, de Lula, que contava com PT, PCdoB e PSB. Fora isso, cada partido lançou seu próprio candidato. Os debates eram mais divertidos, por serem mais espontâneos. E houve indefinição do início ao fim. A disputa pela segunda vaga no segundo turno foi acirrada entre Lula e Brizola. E a disputa do segundo turno também foi acirrada. Collor venceu por uma margem não muito pequena (seis pontos percentuais), mas esta margem foi feita no dia da votação. As pesquisas ao longo da semana decisiva mostravam empate técnico.

No primeiro turno, houve dois blocos de candidatos. O dos “filhotes da ditadura” (usando a definição de Brizola), que incluía Collor, Maluf, Afif e Aureliano e o dos opositores da ditadura, que incluía Lula, Brizola, Covas, Ulisses e Freire. Era meio óbvio que iria para o segundo turno um representante de cada bloco. A liderança de Collor no bloco dos “filhotes da ditadura” nunca foi contestada. A liderança do outro bloco, conforme mencionado anteriormente, foi muito disputada. Lula passou para o segundo turno beneficiado por ter sido o mais esquerdista entre todos os concorrentes do seu bloco. E perdeu no segundo turno prejudicado por ter sido o mais esquerdista entre os candidatos do bloco da esquerda. Aconteceu com a esquerda em 1989 o que aconteceria com a direita em 2014.

Não havia espaço para moderação em 1989. A percepção da situação social e econômica do Brasil naquele tempo poderia ser comparada com aquela história do elefante em que uns tocavam nas pernas e achavam que era uma coisa, outros tocavam na tromba e pensavam que era outra. Uns viam o Brasil como um país com imensa concentração de renda, de riqueza e de terras, com indicadores sociais péssimos em comparação mundial que contrastavam com uma renda per capita intermediária em comparação mundial, e que por isso, o país necessitava de um governo socialista para corrigir esses problemas. Outros viam o Brasil como um país de economia muito fechada, com o Estado exercendo de forma disfuncional o papel de produtor, com muita burocracia, e que por isso, o país necessitava de um governo liberal para corrigir esses problemas. Essa foi a grande polarização do segundo turno.

Destaca-se também que 1989 viu a primeira eleição presidencial no Brasil cuja principal mídia foi a televisão. Em 1960, o Brasil tinha menos de um milhão de aparelhos.

Embora tenha sido marcante na memória de muitos brasileiros, a eleição de 1989 não ocupa o primeiro lugar no ranking por ter levado ao poder um partido que não existe mais e uma personalidade política que atualmente tem pouca relevância.

 

Primeiro: 2006

Segundo Turno
 
 
 
 
 
Candidato
Partido
Origem
Domicílio
Votos
Proporção
Luís I. Lula da Silva
PT
PE
SP
58.295.042
60,83%
Geraldo Alckmin
PSDB
SP
SP
37.543.178
39,17%
Total válidos
 
95.838.220
 

 

Primeiro Turno
 
 
 
 
 
Candidato
Partido
Origem
Domicílio
Votos
Proporção
Luís I. Lula da Silva
PT
PE
SP
46.662.365
48,61%
Geraldo Alckmin
PSDB
SP
SP
39.968.369
41,64%
Heloísa Helena
PSOL
AL
AL
6.575.393
6,85%
Cristóvam Buarque
PDT
PE
DF
2.538.844
2,64%
Ana Maria Rangel
PRP
 
126.404
0,13%
José Maria Eymael
PSDC
 
63.294
0,07%
Luciano Bivar
PSL
 
62.064
0,06%
Total válidos
 
95.996.733
 

 

https://sites.google.com/site/atlaseleicoespresidenciais/_/rsrc/1316400925865/2006/mapacor2006.PNG

A eleição presidencial de 2006 pode não ter sido a que mais atraiu a atenção dos brasileiros durante a campanha, mas pela sua maior importância histórica, fica no topo do ranking. Nem sempre o fato que chama mais atenção do público no momento é o que acaba recebendo maior atenção de historiadores na posterioridade. Por exemplo: os atentados ao World Trade Center atraíram mais atenção no momento em que aconteceu do que a abertura do muro de Berlim, mas este evento acabou tendo importância histórica maior.

As quatro grandes novidades trazidas pela eleição de 2006 foram:

1.    Pela primeira vez na história do Brasil, o candidato à esquerda teve desempenho melhor nas partes mais pobres do que nas partes mais ricas do país. Inverteu uma regra que durava mais de 50 anos em que as partes mais pobres do país (áreas rurais das regiões Norte e Nordeste) eram a principal fortaleza eleitoral da direita, que davam muitos votos para UDN, PSD, ARENA, PFL e que foram onde os dois Fernandos obtiveram maior vantagem. Era possível antes que candidatos à esquerda tivessem muitos votos de pessoas mais pobres, mas não de pessoas mais pobres que moravam nos lugares mais pobres. Ainda assim, Lula teve em 2006 votação expressiva em áreas ricas do país, votação que o PT foi perdendo em 2010 e 2014. Em 2006, foi a última vez que o PT ganhou em Campinas, Belo Horizonte, Goiânia e Vitória e que teve vantagem expressiva em Brasília. Em 2010 e 2014, se acentuou a tendência de ruralização e nortização do voto no PT. Mas a tendência teve início em 2006. Alguns comentaristas ruins dizem que não é normal a esquerda ter votação mais alta em regiões mais pobres do país e que por isso o Lula seria coronelismo, e não esquerda. Mas como demonstrou bem o cientista político Alberto Carlos Almeida, é comum no mundo a esquerda ir melhor nos locais mais pobres e a direita nos locais mais ricos, isto acontece na Espanha, na França e na Alemanha.

2.    Houve a emergência do lulismo, que é um fenômeno político distinto do petismo. Os principais apoiadores do petismo desde os anos 1980 eram sindicatos, movimentos sociais, estudantes e intelectuais, que viam o PT como o defensor de suas lutas. Os principais apoiadores do lulismo foram os brasileiros muito pobres, não organizados politicamente, que anteriormente não apoiavam o PT, mas depois que o Lula foi presidente, consideraram-no responsável pela melhoria de suas condições de vida. A partir daquele momento, esta nova base de apoio do Lula foi gradualmente se tornando a nova base de apoio do PT. O cientista político André Singer explica muito bem o fenômeno político do lulismo.

3.    Pela primeira vez na Nova República, o candidato que foi claramente apoiado pelas empresas de mídia de massas perdeu a eleição. Redes de televisão, rádio, jornais e revistas insistiram que os brasileiros deveriam votar no Alckmin. No final, 60,8% dos brasileiros que votaram em algum candidato votaram no Lula. Em 1989, 1994 e 1998, os Fernandos tinham sido os candidatos apoiados pela mídia. Em 2002, não houve posicionamento claro em favor de um ou de outro candidato. Alguns podem contra-argumentar: a maioria das pessoas que têm mais acesso à mídia votou em Alckmin. Verdade, mas foi uma maioria irrisória. A pesquisa Datafolha da véspera do segundo turno mostrou que 50% dos brasileiros com escolaridade superior votariam em Alckmin e 43% votariam em Lula.

4.    Um pouco relacionado com o tópico três, em 2006, a Internet estreou como um importante meio de campanha eleitoral, rivalizando com a televisão. Em 1998 e 2002, alguns brasileiros já acessavam a Internet no domicílio, mas eram poucos, e, além disso, a Internet naquele tempo servia basicamente para mandar e-mail e para ler jornal e revista na tela do computador. Em 2006, o usuário da Internet passou a ser não apenas receptor, como também potencial emissor de informação e opinião. Ainda não havia Twitter, e o Facebook era pouco conhecido. Mas havia as comunidades do Orkut, os blogs e o Youtube. A eleição de 2006 marcou a era de ouro dos blogs. Depois disso, os blogueiros, por preguiça, passaram a escrever mais no Twitter e no Facebook. Alguns blogs eram de jornalistas da grande mídia, como o do Josias e o do Noblat, e outros eram de jornalistas expulsos da grande mídia, como o de Mino Carta, o de Luís Nassif e o de Paulo Henrique Amorim. Estes jornalistas mencionados continuaram a ser influentes na Internet em 2010 e 2014. Mas a principal novidade de 2006 foi a emergência de blogueiros não oriundos da grande mídia, que passaram a ter cada vez mais leitores, e continuam ativos até hoje, muitos deles, não mais em blogs. Estes blogueiros (ou ex-blogueiros) não influenciam número de eleitores suficiente para ter impacto em uma eleição, mas influenciam a formação de opinião no longo prazo.

A eleição de 2006 foi a eleição que ainda não acabou. Tanto que, conforme eu mencionei anteriormente, as eleições de 2010 e 2014 foram continuações da de 2006, com as mesmas discussões.

Para as decisões de políticas governamentais, 2006 foi muito importante, porque muitas das marcas do governo Lula ocorreram (ou ao menos se ampliaram) no segundo mandato. Em muitos aspectos, o primeiro mandato do Lula foi continuidade do segundo mandato do FHC.

Lula liderou as pesquisas durante toda a campanha, no primeiro e no segundo turno. Mas houve momentos de imprevisibilidade. Alckmin teve uma arrancada surpreendente na reta final do primeiro turno, e a desvantagem dele em relação a Lula no primeiro turno acabou sendo pequena. Naquela noite de domingo do primeiro turno, alguns comentaristas chegaram a torc... prever a vitória de Alckmin, torcendo pa... considerando que os votos na Heloísa Helena eram de insatisfação com o governo e não de esquerda, e que poderiam migrar para o Alckmin. Na segunda-feira seguinte, de manhã, alguns que antes diziam que não mais votariam no PT estavam prontos para defender o voto crítico em Lula no segundo turno. Alckmin conseguiu um feito inusitado: ter menos votos no segundo turno do que no primeiro.