quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Ato pró-Dilma na Cinelândia, Rio de Janeiro, 22 de outubro de 2014

Não teve Dilma, mas teve Alessandro Molon, Lindberg Farias, Gilberto Palmares, Carlos Minc, Benedita da Silva, Miguel Rosseto, autor de Dilma Bolada, Leonel Brizola Neto, Roberto Amaral, Jandira Fegali, samba, churrasquinho, Heineken e muita alegria.























 



 

 




 


quinta-feira, 16 de outubro de 2014

O que o Marcelo Brito pensa sobre esses "manifestos pelo voto nulo"

Quando um opinador de esquerda escreve e divulga amplamente um "manifesto pelo voto nulo", a consequência prática de sua ação não é neutra entre os dois candidatos concorrentes no segundo turno. A consequência prática é ajudar o Aécio. Isto porque opinadores de esquerda têm leitores de esquerda e influenciam pessoas de esquerda. Portanto, quando um esquerdista quer aumentar o número de votos nulos escrevendo e divulgando amplamente um manifesto defendendo esta opção, ele apenas converte potenciais votos da Dilma em voto nulo, ele não converte votos do Aécio em voto nulo, porque quem é potencial eleitor do Aécio provavelmente não lerá ou, pelo menos, não será influenciado pelo manifesto. Quando um esquerdista escreve o "manifesto pelo voto nulo", ele ataca os dois concorrentes pela esquerda. Aí, os argumentos anti-Aécio contidos no manifesto não convencerão os potenciais eleitores do Aécio.
No segundo turno, há apenas dois candidatos. E apenas um deles será vencedor. Um ou outro. Não existe um terceiro candidato chamado "nulo". Mesmo se o número de votos nulos superar o número de votos de ambos os candidatos, ganha, entre os dois, quem tiver o maior número de votos.
Se alguém estiver muito insatisfeito com ambos os candidatos, e, desta maneira, não quiser ajudar qualquer um dos candidatos, a atitude mais coerente é simplesmente votar nulo e falar que faz isso quando perguntado. E depois da eleição, se empenhar nos próximos quatro anos para construir uma candidatura melhor que as duas que disputam o atual segundo turno.
Um "manifesto pelo voto nulo" pode fazer sentido quando se deseja criticar a democracia representativa ou ao modo de funcionamento da democracia representativa no Brasil. Mas aí, faz mais sentido fazer isto no primeiro turno. Eu não sou contra a democracia representativa, não pretendo votar nulo por isso, apenas estou dizendo que uma atitude dessas para quem pensa assim é mais útil no primeiro turno do que no segundo turno.
O argumento vale para o lado oposto também. Um opinador de direita que escreve "manifesto pelo voto nulo" auxilia a Dilma. A diferença é que diferente daquele, este exemplo não existe na vida real, é apenas hipotético. Pastor Everaldo, Levy Fidelix e Eymael fecharam com Aécio. Jair Bolsonaro e Olavo de Carvalho apoiam Aécio.

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Respondendo aos principais questionamentos anti-Dilma

Normalmente, os adversários da Dilma fazem essas perguntas. Eis as respostas.


Os defensores da candidatura da reeleição de Dilma gostam muito de comparar os indicadores macroeconômicos dos oito anos de Lula com os oito anos de FHC, mas o que dizer dos quatro anos de Dilma, com crescimento baixo do PIB e inflação alta?

Durante o governo Dilma foi feita a necessária correção do câmbio, cujos efeitos positivos ocorrem no longo prazo e os efeitos negativos ocorrem no curto prazo. Sempre quando é feita uma desvalorização cambial, o efeito imediato é a estagflação. Isto ocorreu de forma muito pior em 1983 e 1999, quando o trabalhador sentiu os efeitos no bolso. Nos anos que se seguiram a 1999, por sinal, quando o Armínio Fraga, indicado por Aécio para ser Ministro da Fazenda era Presidente do Banco Central, a inflação estourou a meta algumas vezes, algo que não ocorreu durante o governo Dilma.

O crescimento do PIB do Brasil foi baixo entre 2011 e 2014, mas é necessário lembrar que já em 2010 o PIB per capita do Brasil atingiu nível superior ao de 2007, último ano pré-crise, algo que ainda não ocorreu com países desenvolvidos que fizeram as políticas de austeridade tão defendidas pelos entusiastas da candidatura de Aécio.

Há alguns países em desenvolvimento que tiveram crescimento do PIB bem maior do que o do Brasil, mas são países com rede de proteção social bem menor que a do Brasil, aí vem a pergunta “crescimento para quem?”. Se a campanha adversária fizer apologia desses países, está mostrando bem a que veio.

O governo Dilma cometeu sim alguns erros na condução da política macroeconômica, assim como outros governos, incluindo o de FHC, com aquele Presidente do Banco Central...

Mas nem só de macroeconomia vive o ser humano. O governo Dilma tem importantes realizações na área social, como o Pronatec, o Mais Médicos, a continuação do Minha Casa Minha Vida, do Bolsa Família, o programa de ônibus escolares nas regiões rurais, a Lei dos Royalties para a Educação e a Saúde, o Marco Civil da Internet, o Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil e o fortalecimento das obras de mobilidade urbana do PAC 2.

E mesmo com muitas críticas aos últimos quatro anos, é importantíssimo lembrar que a candidatura adversária não é apenas contra os últimos quatro anos, é contra os últimos doze anos.

 

Como assim votar pela continuidade deste governo? Quer dizer que o país está bom? Que não precisa mudar?

É óbvio que não está bom, mas quem acha que o Brasil não tem padrão de vida igual ao da Suíça sempre por causa do governo atual tem problemas mentais. E é óbvio que o Brasil está bem menos ruim agora do que estava em 2002. O período de 2002 até aqui só foi década perdida para ex-historiador que virou animador de circo na mídia e para acadêmicos que acham que o Brasil é a Gávea.

A educação, a saúde e a segurança pública não vão bem, e o governo federal TAMBÉM deve ser cobrado por isto, mas quem fornece diretamente a maior parte destes serviços são estados e municípios, e quase metade da população brasileira vive em um estado governado pelo partido de Aécio

(o segundo mais populoso estado do Brasil, coincidentemente o de Aécio, não será mais).

Se Dilma achasse que o Brasil está bom, não estaria se empenhando tanto pela reforma política, algo pelo qual aparentemente Aécio não demonstra tanto interesse.

 

Como votar em alguém do PT com mais um caso de corrupção em evidência, o da Petrobrás? Não é muita lama? E sobre o Aécio, só acharam dois aeroportos.

Comparando pessoa com pessoa, contra a Aécio, há no mínimo os dois aeroportos. Contra a Dilma, há NADA.

Comparando partido com partido, políticos do PT se envolveram em escândalos de corrupção, políticos do PSDB também. A história do PSDB é farta em escândalos, como o revelado pelas conversas telefônicas sobre as privatizações das empresas de telecomunicações, o valerioduto de Minas Gerais em 1998, o escândalo do metrô em São Paulo. O partido é o que tem maior candidatos barrados pelo Ficha Limpa.

Sobre a corrupção na Petrobrás, parece óbvio que existe, mas até agora não se falou da nova direção nomeada por Dilma em 2012, apenas da que existia anteriormente. É importante lembrar também que Paulo Roberto Costa já trabalhava na Petrobrás antes do Lula ser Presidente do Brasil. Mesmo o esquema tendo existido, nem tudo que ele falou em depoimento sigiloso seletivamente vazado oportunisticamente em período eleitoral é necessariamente verdade. Não há provas, são apenas palavras.

Se tudo que Paulo Roberto Costa disse realmente fosse verdade, o ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral estaria envolvido no esquema. E isto em nada arranhou o apoio das forças conservadoras do Brasil à candidatura de seu sucessor ao governo do Rio de Janeiro, essas mesmas forças conservadoras que estão utilizando tanto as declarações de Costa para bater na Dilma. Aí se vê que a indignação seletiva sobre a Petrobrás tem propósitos diferentes de simplesmente diminuir a corrupção no Brasil.

 

Os defensores da candidatura de Dilma falam muito de FHC, mas isto não é passado distante? Quem está se candidatando é Aécio Neves e não Fernando Henrique Cardoso.

É verdade que Aécio Neves não é igual a Fernando Henrique Cardoso. Aécio Neves é pior. Apesar do governo com muitos defeitos, FHC defendeu o Mercosul. Aécio Neves tem desprezo pelo bloco. FHC propôs no último ano do seu segundo mandato o Plano Nacional de Direitos Humanos. Em 2009, Lula propôs algo parecido, e o PSDB se juntou aos setores mais retrógrados da sociedade brasileira para enterrar o plano. O PSDB nunca foi um partido social-democrata de verdade, porque, ao contrário dos partidos social-democratas europeus, nunca teve o sindicalismo como base de apoio. A caminhada em direção à direita começou com a aliança com o PFL em 1994, e, se deslocou ainda mais para a direita quando se tornou oposição. As candidaturas de Alckmin 2006, Serra 2010 e Aécio 2014 foram mais direitistas do que a de Covas 1989, FHC 1994 e 1998 e Serra 2002.

 

Como é possível falar que Aécio é de direita se ele é descendente de Tancredo, que tanto lutou pela democracia, e pertence a um partido fundado por opositores da ditadura?

Pouco importa se Aécio é ou não o candidato DE direita. Fato inquestionável é o de que ele é o candidato DA direita. Depois do fim da ditadura e do fiasco de Collor, a direita adotou a tática de “gozar com o pau dos outros”. Para defender seus interesses, recruta candidatos que já atuaram no campo da esquerda (FHC, Serra, Marina) ou que tiveram padrinhos políticos que já atuaram no campo da esquerda (Alckmin (Covas), Aécio (Tancredo), Eduardo Campos (Miguel Arraes)).

Se Aécio é o candidato do Jair Bolsonaro, do Silas Malafaia, do Olavo de Carvalho e do Reinaldo Azevedo, algum motivo deve ter. Se Aécio é o candidato daquela parte da classe média que está revoltada que comer fora ficou caro porque o garçom e o cozinheiro não ganham mais tão mal, algum motivo deve ter.

 

Mas também há direitistas que apoiam Dilma: Sarney, Renan, Jáder Barbalho, Kátia Abreu.

O apoio mais problemático a Dilma é de Kátia Abreu. Os demais são apenas oligarcas que gostam do poder, e não merecem nossa admiração. Mas ao contrário dos direitistas que apoiam Aécio, estes não dedicam a atividade política a atacar os direitos humanos, a atacar as minorias.

 

O Aécio Neves é conservador em economia e defende a redução da maioridade penal, mas parece que em algumas questões de moral e costumes, ele é razoavelmente moderno.

Pouco importa. A base de apoio dele é reacionária em todas as questões e isso é o que determina as decisões de um governo. FHC defende a descriminalização da maconha, mas nada fez sobre isso durante seu governo. A lei que deixa de punir com prisão posse de pequenas quantidades é de 2006, sancionada pelo Lula.

 

Mas o Aécio não fez um bom governo lá em Minas Gerais?

Os maiores feitos apontados pelos defensores de Aécio foi ter implantado em Minas Gerais as reformas que Bresser Pereira fez em nível federal. Se o Aécio fez em seu estado o que já foi feito na união, qual a relevância de sua experiência? Quanto ao mérito das reformas de Bresser, é importante lembrar que o que elas têm de positivo foram mantidas por Lula e Dilma. O que tem de negativo, como f... o servidor, ainda bem que não foram. E Bresser Pereira apoia a... Dilma.

Bom, e Aécio foi reeleito, fez Anastasia como sucessor, mas perdeu em Minas Gerais no primeiro turno, e o PSDB perdeu a eleição para governador.

 

A meritocracia proposta por Aécio para o serviço público não é uma ideia interessante?

Ninguém fez tanto algo tão meritocrático do que os governos do PT: contratar servidores por concurso público. Um exemplo de apego dos governos do PT pela meritocracia foi o de não ter embaixadores políticos. Chegou-se a preencher embaixadas em todos os lugares do mundo com pessoal do quadro do Itamaraty. Antes, era comum as embaixadas dos países mais poderosos do mundo serem preenchidas por indicação política.

E o início da carreira de Aécio na vida pública não é um caso de meritocracia. A família contou muito.

 

Não é ruim para a democracia um partido ficar no poder por tanto tempo?

Se for por vontade popular, qual é o problema? Conforme foi mencionado em post anterior, o Partido Social Democrata já ficou 40 anos seguidos no poder na Suécia, o Partido Democrata já ficou 20 anos seguidos no poder nos Estados Unidos, a União Democrata Cristã já ficou 16 anos seguidos no poder na Alemanha. Quem usa o argumento da “alternância de poder” se esquece de São Paulo, porque lá, quem está no poder há muito tempo é outro partido.

É difícil falar que “o PT está no poder”, porque este partido nunca teve mais do que um quinto do Congresso Nacional.

 

O PT não está aparelhando o Estado?

Muito provavelmente, nove em cada dez pessoas que dizem isso sabem porra nenhuma sobre o que isso significa e simplesmente papagaiam o que ouviram pela grande mídia. O Estado depende de servidores de carreira, e, em geral, o PT valoriza mais isto do que os partidos conservadores fazem, mas também depende dos cargos de livre provimento, aí, é legítimo um governo eleito pelo povo nomear pessoas afinadas ideologicamente com o governo.

 

Não é melhor para a esquerda que o PT vá para a oposição se renove e volte mais combativo em 2018?

É melhor para o país que a direita perca agora e volte mais moderada em 2018, sem Armínio Fraga. Desta forma, o modelo social desenvolvimentista do Lula se tornará suprapartidário. Situação análoga ocorreu nos Estados Unidos em 1948, ano da reeleição de Truman, a última vitória democrata da série de cinco consecutivas. Aquela vitória forçou os republicanos a indicarem um candidato mais moderado para 1952, o Eisenhower, e dessa maneira, o modelo do New Deal foi suprapartidário até 1980.

A vitória de Aécio seria importante para a direita por motivos que vão além da economia. Alguns ministros do STF irão se aposentar e o presidente que tomar posse em 2015 indicará novos ministros. O Senado precisa aprovar as escolhas. Como o Senado é majoritariamente conservador, é impossível para a Dilma nomear aliados políticos do PT. Não haverá mais Tóffolis. Verificou-se que a maioria das indicações de Lula e Dilma não foi de aliados políticos: Carmen Lúcia, Rosa Weber, Zavaski e Barroso poderiam ter sido indicados por qualquer presidente. Com Aécio eleito, ele teria caminho livre para colocar mais tipos como Gilmar Mendes para dentro do STF.

 

E voltando ao FHC? O desempenho pior dele em comparação a Lula não se deveu a uma conjuntura internacional menos favorável? Não se deveu ao fato dele ter pego a casa desarrumada, arrumado a casa e passado a casa arrumada para o Lula?

Já respondi estes mitos em um post de 2010.


 

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

As máquinas de spining do PT e do PSDB


O que Luís Nassif e Miriam Leitão têm em comum? Ambos não defendem um Estado totalmente mínimo, embora o Luís Nassif esteja mais distante disso do que a Miriam Leitão. Ambos também consideram que o nacional desenvolvimentismo praticado entre 1930 e 1980 parou de responder às necessidades do país e precisou ser superado. Ambos apoiam programas de transferência de renda. Ambos abordam questões sobre minorias e direitos humanos. Se fôssemos coloca-los na régua do espectro político, diríamos que ambos estão próximos do centro. Mas há uma diferença fundamental entre ambos. E qual é? Luís Nassif é o elemento mais à direita da máquina de spining do PT. Miriam Leitão é o elemento mais à esquerda da máquina de spining do PSDB.

O spining é uma forma propaganda de determinada organização, no caso, partidos políticos. Não é uma simples manifestação de opinião. O spining é feito através da construção de uma narrativa construída a partir de acontecimentos reais para favorecer quem está sendo defendido. As narrativas construídas por quem faz spining são fáceis de serem compreendidas e repetidas por militantes partidários nos ambientes reais e virtuais. Mais explicações aqui http://en.wikipedia.org/wiki/Spin_(public_relations)

Existem várias formas de fazer spining, que podem ser listadas aqui. Pode-se divulgar o maior número possível de notícias que mostram sucessos das administrações do partido aliado e insucessos das administrações do partido adversário. Lembrando que como administrações do PT existem a atual administração federal e algumas administrações estaduais e municipais, e como administrações do PSDB existem a administração federal de mais de doze anos atrás e muitas administrações estaduais e municipais atuais. Notícias de sucessos e insucessos de administrações do partido aliado e de sucessos e insucessos de administrações do partido adversário existem muitas. Basta “fazer a feira”, ou seja, selecionar as notícias convenientes. Quando não é possível esconder sucessos de administrações do partido adversário ou insucessos de administrações do partido aliado, argumenta-se que o sucesso adversário e o insucesso aliado são resultados de variáveis não controláveis pela administração, que podem incluir a conjuntura internacional, a responsabilidade de outros níveis de governo, o efeito defasado das políticas da administração anterior. Quando um lado faz este tipo de argumentação, o outro replica, o outro treplica, e assim vai. Ninguém “vence” definitivamente um debate porque argumento para defender qualquer tese sempre existe. Isto pode ser muito bem observado no filme “Obrigado por Fumar”.

E como os spin doctors abordam um clássico caso na administração pública em que o chefe de um órgão, nomeado pelo governante, entra em conflito com os servidores de carreira do órgão, o “pessoal da casa”? Duas explicações são possíveis. Se a administração é do partido adversário, o conflito ocorreu porque o órgão tem um corpo técnico altamente qualificado vítima de ingerência de um líder desqualificado que está lá apenas por indicação política. Se a administração é do partido aliado, o conflito ocorreu porque o governante visionário decidiu colocar alguém para modernizar o órgão, mas esbarrou no corporativismo de seus servidores de carreira.

E quanto às acusações de corrupção? Se as acusações são contra o partido adversário, o acusado é culpado até que se prove o contrário. Se o acusado é o partido aliado, o acusado é inocente até que se prove o contrário. Se não há provas suficientes contra o aliado, isto ocorre porque as acusações são falsas. Se não há provas suficientes contra o adversário, isto ocorre porque os órgãos de investigação não estão fazendo seu papel por estarem sob controle do partido adversário. Se a justiça condena um membro do partido adversário ou absolve um membro do partido aliado, a justiça agiu com independência e imparcialidade. Se a justiça faz o oposto, está corrompida. Se um escândalo que envolve políticos do partido aliado é descoberto por meios ilegais, como escuta não autorizada ou violação de sigilo bancário ou fiscal, o mais relevante é o fato da descoberta ter sido feita por meios ilegais e o maior criminoso é quem utilizou-se destes meios. Se um escândalo que envolve políticos do partido adversário é descoberto por meios ilegais, o mais importante é o escândalo em si, e denunciar que a descoberta foi feita por meios ilegais é uma forma de desviar a atenção. Quando o TSE suspende um anúncio do partido aliado é censura, quando o TSE suspende um anúncio do partido adversário, está cumprindo seu papel em coibir o jogo sujo.

A máquina de spining do PSDB é composta por colunistas como Miriam Leitão, Merval Pereira, Carlos Sardenberg, Arnaldo Jabor, Lúcia Hipólito, Sérgio Malbergier, Eliane Castanhede, Bolívar Lamounier, Marco Antônio Villa e Reinaldo Azevedo. Ou seja, repara-se que este time começa no centro, com Miriam Leitão, e vai até a extrema-direita, com Reinaldo Azevedo, passando por toda a direita. É conveniente para um partido que o spining reúna uma ampla faixa do espectro político, para atrair uma ampla faixa de leitores. Como não há homogeneidade ideológica total, verificou-se até mesmo um ano atrás uma troca de farpas entre Miriam Leitão e Reinaldo Azevedo.

Uma vez que eu mencionei o Reinaldo Azevedo, é necessário não confundir este grupo de colunistas citados no parágrafo anterior com os colunistas olavetes. O Reinaldo Azevedo é apenas uma ponte entre estes dois grupos. Porque ele faz tanto spining para o PSDB quanto pregação olavete. Definem-se como olavetes aqueles que acham que os politicamente corretos vão destruir a civilização judaico-cristã-ocidental. O colunista Luís Felipe Pondé é do grupo das olavetes junto com o Reinaldo, mas ao contrário deste, Pondé não entra em discussões partidárias. O interessante na história de Reinaldo Azevedo é que ele é spin doctor do PSDB antes de ter virado olavete. Tinha no final dos anos 1990 e no início dos anos 2000, em parceria com Luiz Carlos Mendonça de Barros, a revista República, que depois virou Primeira Leitura. Neste revista, Reinaldo Azevedo defendia o governo FHC dos ataques de outros partidos, mas, ao mesmo tempo, defendia a ala desenvolvimentista paulista do PSDB em contraposição à ala monetarista carioca do partido. Ou seja, defendia a ala do PSDB que supostamente era a mais de esquerda. Fez campanha para José Serra em 2002 atacando furiosamente Ciro Gomes. Não atacava Lula ideologicamente. Sua revista chegou a dizer que ideologicamente, Lula e Serra eram parecidos, mas Serra era “o mais preparado”. Para atrair leitores mais à esquerda, a revista entrevistou gente como Joseph Stiglitz e Dani Rodrik. A súbita conversão de Reinaldo Azevedo ao olavismo ocorreu depois que Lula tomou posse. Ainda assim, o colunista continuou peessedebista e serrista, e seu partido se aproximou do olavismo, culminando com a campanha de Serra de 2010, que falou da “ligação do PT com as Farc”, do “perigo da república sindical” e do abortismo da Dilma.

Conforme foi possível ver, todos os spin doctors favoráveis PSDB escrevem para grandes empresas de mídia, representando a opinião dos donos destas empresas, que incluem a Globo (que além do canal de TV aberta, tem a Globo News, o portal G1, a Rádio CBN, o jornal O Globo e a revista Época), a Abril (que publica a Veja e a Exame), a Folha e o Estadão. Por pertencerem a veículos de comunicação que não transmitem apenas opinião, mas também notícias, alguns tentam parecer neutros. Outros nem tentam.

Exemplos de spin doctors favoráveis ao PT são Luís Nassif, Mino Carta, Paulo Henrique Amorin, Luiz Carlos Azenha, Franklin Martins, Altamiro Borges, Paulo Moreira Leite, Ricardo Melo e Emir Sader. Com exceção de Ricardo Melo, que trabalha na Folha, estes colunistas não fazem parte da grande mídia. A grande maioria já fez, mas foi demitida. Embora as grandes empresas de mídia sempre tenham tido donos com ideologia conservadora, havia maior pluralidade de opinião nas décadas de 1980 e 1990. Ao longo da década de 2000, a esquerda sofreu expurgo da grande mídia. Por isso, esses colunistas estão na mídia alternativa, que inclui a revista Carta Capital e os sites Carta Maior, Viomundo, Diário do Centro do Mundo, Brasil 247, Conversa Afiada e Tijolaço. Alguns destes sites recebem patrocínio de empresas públicas, e, por isso, são criticados pela grande mídia conservadora. Como as empresas da grande mídia conservadora também recebem publicidade estatal, não é o patrocínio estatal que realmente incomoda as grandes empresas de mídia, e sim, a existência de diversidade de opinião.

Voltando a falar desses colunistas, assim como ocorre entre os colunistas pró-PSDB, há também uma grande diversidade ideológica entre os pró-PT. Tem desde o Luís Nassif, quase no centro, até o Emir Sader, bastante à esquerda. Destes, Luís Nassif e Mino Carta são os que estão menos presos à defesa de um partido. São críticos, muitas vezes, do governo Lula e principalmente do governo Dilma. Tanto o blog do Luís Nassif, quanto a revista Carta Capital, são plurais e assim como publicam defesas do governo federal, publicam críticas tanto pela esquerda quanto pela direita. A Carta Capital já publicou entrevistas de Aécio Neves e Eduardo Campos, assim como já publicou colunas de políticos do PSOL. Luís Nassif já teve uma visão mais positiva do PSDB nos anos 1990, mas se distanciou dos tucanos à medida em que eles se deslocaram muito para a direita. Emir Sader, por sua vez, publica de vez em quando alguns tweets de mau gosto.

Não se pode confundir colunistas de esquerda em geral com colunistas que escrevem textos favoráveis ao PT. Vladimir Safatle, por exemplo, é um colunista de esquerda da Folha, mas não escreve textos sobre disputas de partidos políticos. Ele não faz propaganda nem mesmo de seu PSOL. Prefere enfocar assuntos mais acadêmicos. Leonardo Sakamoto é outro colunista de esquerda que não escreve sobre política partidária. Ele escreve sobre movimentos sociais, condições de trabalho, reforma agrária, meio ambiente e conflito de valores (religiosos X secularistas) sem defender políticos do PT ou atacar políticos do PSDB.

O spining não é uma atividade criminosa. É uma prática inevitável em uma democracia de massas. Nem todas as pessoas que votam conseguem entender textos complexos, opiniões complexas. Mas votam. Ainda bem. Se apenas pessoas com capacidade de entender teses acadêmicas votassem, não haveria democracia, e sim ditadura. Não é absurdo mostrar o máximo possível de notícias boas para seu partido favorito. E nem todos os autores citados neste texto realizam cada um todos os exemplos de spining. Alguns destes autores, escrevem bons textos opinativos.

O problema é que, muitas vezes, a criação de narrativas a favor de partidos é construída em cima de fatos falsos, ou de fatos verdadeiros amarrados de forma desonesta. Nestes casos, gera-se propaganda enganosa e a qualidade do debate político é prejudicada.   

O PSOL nesta eleição

Nesta eleição, o PSOL marcou golaços e tomou frangos. Marcou golaço na área de direitos civis (LGBT, aborto, drogas leves, antiviolência policial), de justiça social (tributação sobre grandes fortunas, reforma agrária e urbana) e democracia (desoligopolização dos meios de comunicação, financiamento público de campanha), mas tomou frango em posições sobre política (o maniqueísmo de achar "somos os bons e os demais são todos iguais") e economia (o anticapitalismo dogmático, a v...isão do orçamento como algo ilimitado). Organizando candidaturas de verdade, de alguém pensando em exercer o cargo executivo, como de Marcelo Freixo no Rio e Edmílson em Belém em 2012, o PSOL pode crescer muito mais. A candidatura de Luciana Genro acabou sendo mais uma declaração de princípios do que uma disputa pela presidência. Foi improvisada, decidida na última hora. E mesmo assim teve um milhão e meio de votos. Nas próximas eleições, pode ter mais. E no Rio, o PSOL se consolidou como maior força de esquerda.

sábado, 4 de outubro de 2014

Projeção do resultado do primeiro turno


Para projetar os resultados em votos válidos do primeiro turno, eu peguei as 27 pesquisas estaduais do Ibope, calculei os válidos, jogando todos os indecisos na conta do Aécio, considerando seu crescimento, aí eu fiz a ponderação pela população de cada estado e o resultado final ficou.

Dilma Rousseff 43,6%
Aécio Neves 28,3%
Marina Silva 23,9%
Outros 4,2%

Não detalhei os outros, mas observando estado por estado no site do Ibope, é possível prever que entre os "outros", Luciana Genro fica em primeiro e Eduardo Jorge, Pastor Everaldo e Levy Fidelix praticamente empatam logo a seguir. A declaração anti-gay rendeu. Caso contrário, ele estaria disputando a lanterna com Eymael e Rui Costa Pimenta.