Os defensores da candidatura da
reeleição de Dilma gostam muito de comparar os indicadores macroeconômicos dos
oito anos de Lula com os oito anos de FHC, mas o que dizer dos quatro anos de
Dilma, com crescimento baixo do PIB e inflação alta?
Durante o governo
Dilma foi feita a necessária correção do câmbio, cujos efeitos positivos
ocorrem no longo prazo e os efeitos negativos ocorrem no curto prazo. Sempre
quando é feita uma desvalorização cambial, o efeito imediato é a estagflação. Isto
ocorreu de forma muito pior em 1983 e 1999, quando o trabalhador sentiu os
efeitos no bolso. Nos anos que se seguiram a 1999, por sinal, quando o Armínio
Fraga, indicado por Aécio para ser Ministro da Fazenda era Presidente do Banco
Central, a inflação estourou a meta algumas vezes, algo que não ocorreu durante
o governo Dilma.
O crescimento
do PIB do Brasil foi baixo entre 2011 e 2014, mas é necessário lembrar que já
em 2010 o PIB per capita do Brasil atingiu nível superior ao de 2007, último
ano pré-crise, algo que ainda não ocorreu com países desenvolvidos que fizeram
as políticas de austeridade tão defendidas pelos entusiastas da candidatura de
Aécio.
Há alguns
países em desenvolvimento que tiveram crescimento do PIB bem maior do que o do
Brasil, mas são países com rede de proteção social bem menor que a do Brasil, aí
vem a pergunta “crescimento para quem?”. Se a campanha adversária fizer
apologia desses países, está mostrando bem a que veio.
O governo
Dilma cometeu sim alguns erros na condução da política macroeconômica, assim
como outros governos, incluindo o de FHC, com aquele Presidente do Banco
Central...
Mas nem só de
macroeconomia vive o ser humano. O governo Dilma tem importantes realizações na
área social, como o Pronatec, o Mais Médicos, a continuação do Minha Casa Minha
Vida, do Bolsa Família, o programa de ônibus escolares nas regiões rurais, a
Lei dos Royalties para a Educação e a Saúde, o Marco Civil da Internet, o Marco
Regulatório das Organizações da Sociedade Civil e o fortalecimento das obras de
mobilidade urbana do PAC 2.
E mesmo com
muitas críticas aos últimos quatro anos, é importantíssimo lembrar que a
candidatura adversária não é apenas contra os últimos quatro anos, é contra os
últimos doze anos.
Como assim votar pela continuidade
deste governo? Quer dizer que o país está bom? Que não precisa mudar?
É óbvio que
não está bom, mas quem acha que o Brasil não tem padrão de vida igual ao da
Suíça sempre por causa do governo atual tem problemas mentais. E é óbvio que o
Brasil está bem menos ruim agora do que estava em 2002. O período de 2002 até
aqui só foi década perdida para ex-historiador que virou animador de circo na
mídia e para acadêmicos que acham que o Brasil é a Gávea.
A educação, a
saúde e a segurança pública não vão bem, e o governo federal TAMBÉM deve ser
cobrado por isto, mas quem fornece diretamente a maior parte destes serviços
são estados e municípios, e quase metade da população brasileira vive em um
estado governado pelo partido de Aécio
(o segundo
mais populoso estado do Brasil, coincidentemente o de Aécio, não será mais).
Se Dilma
achasse que o Brasil está bom, não estaria se empenhando tanto pela reforma
política, algo pelo qual aparentemente Aécio não demonstra tanto interesse.
Como votar em alguém do PT com mais um
caso de corrupção em evidência, o da Petrobrás? Não é muita lama? E sobre o
Aécio, só acharam dois aeroportos.
Comparando
pessoa com pessoa, contra a Aécio, há no mínimo os dois aeroportos. Contra a
Dilma, há NADA.
Comparando
partido com partido, políticos do PT se envolveram em escândalos de corrupção,
políticos do PSDB também. A história do PSDB é farta em escândalos, como o
revelado pelas conversas telefônicas sobre as privatizações das empresas de
telecomunicações, o valerioduto de Minas Gerais em 1998, o escândalo do metrô
em São Paulo. O partido é o que tem maior candidatos barrados pelo Ficha Limpa.
Sobre a
corrupção na Petrobrás, parece óbvio que existe, mas até agora não se falou da
nova direção nomeada por Dilma em 2012, apenas da que existia anteriormente. É
importante lembrar também que Paulo Roberto Costa já trabalhava na Petrobrás
antes do Lula ser Presidente do Brasil. Mesmo o esquema tendo existido, nem
tudo que ele falou em depoimento sigiloso seletivamente vazado
oportunisticamente em período eleitoral é necessariamente verdade. Não há
provas, são apenas palavras.
Se tudo que
Paulo Roberto Costa disse realmente fosse verdade, o ex-governador do Rio de
Janeiro Sérgio Cabral estaria envolvido no esquema. E isto em nada arranhou o
apoio das forças conservadoras do Brasil à candidatura de seu sucessor ao
governo do Rio de Janeiro, essas mesmas forças conservadoras que estão
utilizando tanto as declarações de Costa para bater na Dilma. Aí se vê que a
indignação seletiva sobre a Petrobrás tem propósitos diferentes de simplesmente
diminuir a corrupção no Brasil.
Os defensores da candidatura de Dilma
falam muito de FHC, mas isto não é passado distante? Quem está se candidatando
é Aécio Neves e não Fernando Henrique Cardoso.
É verdade que
Aécio Neves não é igual a Fernando Henrique Cardoso. Aécio Neves é pior. Apesar
do governo com muitos defeitos, FHC defendeu o Mercosul. Aécio Neves tem
desprezo pelo bloco. FHC propôs no último ano do seu segundo mandato o Plano
Nacional de Direitos Humanos. Em 2009, Lula propôs algo parecido, e o PSDB se
juntou aos setores mais retrógrados da sociedade brasileira para enterrar o
plano. O PSDB nunca foi um partido social-democrata de verdade, porque, ao
contrário dos partidos social-democratas europeus, nunca teve o sindicalismo
como base de apoio. A caminhada em direção à direita começou com a aliança com
o PFL em 1994, e, se deslocou ainda mais para a direita quando se tornou
oposição. As candidaturas de Alckmin 2006, Serra 2010 e Aécio 2014 foram mais
direitistas do que a de Covas 1989, FHC 1994 e 1998 e Serra 2002.
Como é possível falar que Aécio é de
direita se ele é descendente de Tancredo, que tanto lutou pela democracia, e
pertence a um partido fundado por opositores da ditadura?
Pouco importa
se Aécio é ou não o candidato DE direita. Fato inquestionável é o de que ele é
o candidato DA direita. Depois do fim da ditadura e do fiasco de Collor, a
direita adotou a tática de “gozar com o pau dos outros”. Para defender seus interesses,
recruta candidatos que já atuaram no campo da esquerda (FHC, Serra, Marina) ou
que tiveram padrinhos políticos que já atuaram no campo da esquerda (Alckmin
(Covas), Aécio (Tancredo), Eduardo Campos (Miguel Arraes)).
Se Aécio é o
candidato do Jair Bolsonaro, do Silas Malafaia, do Olavo de Carvalho e do
Reinaldo Azevedo, algum motivo deve ter. Se Aécio é o candidato daquela parte
da classe média que está revoltada que comer fora ficou caro porque o garçom e
o cozinheiro não ganham mais tão mal, algum motivo deve ter.
Mas também há direitistas que apoiam
Dilma: Sarney, Renan, Jáder Barbalho, Kátia Abreu.
O apoio mais
problemático a Dilma é de Kátia Abreu. Os demais são apenas oligarcas que
gostam do poder, e não merecem nossa admiração. Mas ao contrário dos
direitistas que apoiam Aécio, estes não dedicam a atividade política a atacar
os direitos humanos, a atacar as minorias.
O Aécio Neves é conservador em
economia e defende a redução da maioridade penal, mas parece que em algumas
questões de moral e costumes, ele é razoavelmente moderno.
Pouco
importa. A base de apoio dele é reacionária em todas as questões e isso é o que
determina as decisões de um governo. FHC defende a descriminalização da
maconha, mas nada fez sobre isso durante seu governo. A lei que deixa de punir
com prisão posse de pequenas quantidades é de 2006, sancionada pelo Lula.
Mas o Aécio não fez um bom governo lá
em Minas Gerais?
Os maiores
feitos apontados pelos defensores de Aécio foi ter implantado em Minas Gerais
as reformas que Bresser Pereira fez em nível federal. Se o Aécio fez em seu
estado o que já foi feito na união, qual a relevância de sua experiência?
Quanto ao mérito das reformas de Bresser, é importante lembrar que o que elas
têm de positivo foram mantidas por Lula e Dilma. O que tem de negativo, como
f... o servidor, ainda bem que não foram. E Bresser Pereira apoia a... Dilma.
Bom, e Aécio
foi reeleito, fez Anastasia como sucessor, mas perdeu em Minas Gerais no
primeiro turno, e o PSDB perdeu a eleição para governador.
A meritocracia proposta por Aécio para
o serviço público não é uma ideia interessante?
Ninguém fez
tanto algo tão meritocrático do que os governos do PT: contratar servidores por
concurso público. Um exemplo de apego dos governos do PT pela meritocracia foi
o de não ter embaixadores políticos. Chegou-se a preencher embaixadas em todos
os lugares do mundo com pessoal do quadro do Itamaraty. Antes, era comum as
embaixadas dos países mais poderosos do mundo serem preenchidas por indicação
política.
E o início da
carreira de Aécio na vida pública não é um caso de meritocracia. A família
contou muito.
Não é ruim para a democracia um
partido ficar no poder por tanto tempo?
Se for por
vontade popular, qual é o problema? Conforme foi mencionado em post anterior, o
Partido Social Democrata já ficou 40 anos seguidos no poder na Suécia, o
Partido Democrata já ficou 20 anos seguidos no poder nos Estados Unidos, a
União Democrata Cristã já ficou 16 anos seguidos no poder na Alemanha. Quem usa
o argumento da “alternância de poder” se esquece de São Paulo, porque lá, quem
está no poder há muito tempo é outro partido.
É difícil
falar que “o PT está no poder”, porque este partido nunca teve mais do que um
quinto do Congresso Nacional.
O PT não está aparelhando o Estado?
Muito
provavelmente, nove em cada dez pessoas que dizem isso sabem porra nenhuma
sobre o que isso significa e simplesmente papagaiam o que ouviram pela grande
mídia. O Estado depende de servidores de carreira, e, em geral, o PT valoriza
mais isto do que os partidos conservadores fazem, mas também depende dos cargos
de livre provimento, aí, é legítimo um governo eleito pelo povo nomear pessoas
afinadas ideologicamente com o governo.
Não é melhor para a esquerda que o PT
vá para a oposição se renove e volte mais combativo em 2018?
É melhor para
o país que a direita perca agora e volte mais moderada em 2018, sem Armínio
Fraga. Desta forma, o modelo social desenvolvimentista do Lula se tornará
suprapartidário. Situação análoga ocorreu nos Estados Unidos em 1948, ano da
reeleição de Truman, a última vitória democrata da série de cinco consecutivas.
Aquela vitória forçou os republicanos a indicarem um candidato mais moderado
para 1952, o Eisenhower, e dessa maneira, o modelo do New Deal foi
suprapartidário até 1980.
A vitória de
Aécio seria importante para a direita por motivos que vão além da economia. Alguns
ministros do STF irão se aposentar e o presidente que tomar posse em 2015
indicará novos ministros. O Senado precisa aprovar as escolhas. Como o Senado é
majoritariamente conservador, é impossível para a Dilma nomear aliados
políticos do PT. Não haverá mais Tóffolis. Verificou-se que a maioria das
indicações de Lula e Dilma não foi de aliados políticos: Carmen Lúcia, Rosa
Weber, Zavaski e Barroso poderiam ter sido indicados por qualquer presidente. Com
Aécio eleito, ele teria caminho livre para colocar mais tipos como Gilmar
Mendes para dentro do STF.
E voltando ao FHC? O desempenho pior
dele em comparação a Lula não se deveu a uma conjuntura internacional menos
favorável? Não se deveu ao fato dele ter pego a casa desarrumada, arrumado a
casa e passado a casa arrumada para o Lula?
Já respondi
estes mitos em um post de 2010.
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