quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Respondendo aos principais questionamentos anti-Dilma

Normalmente, os adversários da Dilma fazem essas perguntas. Eis as respostas.


Os defensores da candidatura da reeleição de Dilma gostam muito de comparar os indicadores macroeconômicos dos oito anos de Lula com os oito anos de FHC, mas o que dizer dos quatro anos de Dilma, com crescimento baixo do PIB e inflação alta?

Durante o governo Dilma foi feita a necessária correção do câmbio, cujos efeitos positivos ocorrem no longo prazo e os efeitos negativos ocorrem no curto prazo. Sempre quando é feita uma desvalorização cambial, o efeito imediato é a estagflação. Isto ocorreu de forma muito pior em 1983 e 1999, quando o trabalhador sentiu os efeitos no bolso. Nos anos que se seguiram a 1999, por sinal, quando o Armínio Fraga, indicado por Aécio para ser Ministro da Fazenda era Presidente do Banco Central, a inflação estourou a meta algumas vezes, algo que não ocorreu durante o governo Dilma.

O crescimento do PIB do Brasil foi baixo entre 2011 e 2014, mas é necessário lembrar que já em 2010 o PIB per capita do Brasil atingiu nível superior ao de 2007, último ano pré-crise, algo que ainda não ocorreu com países desenvolvidos que fizeram as políticas de austeridade tão defendidas pelos entusiastas da candidatura de Aécio.

Há alguns países em desenvolvimento que tiveram crescimento do PIB bem maior do que o do Brasil, mas são países com rede de proteção social bem menor que a do Brasil, aí vem a pergunta “crescimento para quem?”. Se a campanha adversária fizer apologia desses países, está mostrando bem a que veio.

O governo Dilma cometeu sim alguns erros na condução da política macroeconômica, assim como outros governos, incluindo o de FHC, com aquele Presidente do Banco Central...

Mas nem só de macroeconomia vive o ser humano. O governo Dilma tem importantes realizações na área social, como o Pronatec, o Mais Médicos, a continuação do Minha Casa Minha Vida, do Bolsa Família, o programa de ônibus escolares nas regiões rurais, a Lei dos Royalties para a Educação e a Saúde, o Marco Civil da Internet, o Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil e o fortalecimento das obras de mobilidade urbana do PAC 2.

E mesmo com muitas críticas aos últimos quatro anos, é importantíssimo lembrar que a candidatura adversária não é apenas contra os últimos quatro anos, é contra os últimos doze anos.

 

Como assim votar pela continuidade deste governo? Quer dizer que o país está bom? Que não precisa mudar?

É óbvio que não está bom, mas quem acha que o Brasil não tem padrão de vida igual ao da Suíça sempre por causa do governo atual tem problemas mentais. E é óbvio que o Brasil está bem menos ruim agora do que estava em 2002. O período de 2002 até aqui só foi década perdida para ex-historiador que virou animador de circo na mídia e para acadêmicos que acham que o Brasil é a Gávea.

A educação, a saúde e a segurança pública não vão bem, e o governo federal TAMBÉM deve ser cobrado por isto, mas quem fornece diretamente a maior parte destes serviços são estados e municípios, e quase metade da população brasileira vive em um estado governado pelo partido de Aécio

(o segundo mais populoso estado do Brasil, coincidentemente o de Aécio, não será mais).

Se Dilma achasse que o Brasil está bom, não estaria se empenhando tanto pela reforma política, algo pelo qual aparentemente Aécio não demonstra tanto interesse.

 

Como votar em alguém do PT com mais um caso de corrupção em evidência, o da Petrobrás? Não é muita lama? E sobre o Aécio, só acharam dois aeroportos.

Comparando pessoa com pessoa, contra a Aécio, há no mínimo os dois aeroportos. Contra a Dilma, há NADA.

Comparando partido com partido, políticos do PT se envolveram em escândalos de corrupção, políticos do PSDB também. A história do PSDB é farta em escândalos, como o revelado pelas conversas telefônicas sobre as privatizações das empresas de telecomunicações, o valerioduto de Minas Gerais em 1998, o escândalo do metrô em São Paulo. O partido é o que tem maior candidatos barrados pelo Ficha Limpa.

Sobre a corrupção na Petrobrás, parece óbvio que existe, mas até agora não se falou da nova direção nomeada por Dilma em 2012, apenas da que existia anteriormente. É importante lembrar também que Paulo Roberto Costa já trabalhava na Petrobrás antes do Lula ser Presidente do Brasil. Mesmo o esquema tendo existido, nem tudo que ele falou em depoimento sigiloso seletivamente vazado oportunisticamente em período eleitoral é necessariamente verdade. Não há provas, são apenas palavras.

Se tudo que Paulo Roberto Costa disse realmente fosse verdade, o ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral estaria envolvido no esquema. E isto em nada arranhou o apoio das forças conservadoras do Brasil à candidatura de seu sucessor ao governo do Rio de Janeiro, essas mesmas forças conservadoras que estão utilizando tanto as declarações de Costa para bater na Dilma. Aí se vê que a indignação seletiva sobre a Petrobrás tem propósitos diferentes de simplesmente diminuir a corrupção no Brasil.

 

Os defensores da candidatura de Dilma falam muito de FHC, mas isto não é passado distante? Quem está se candidatando é Aécio Neves e não Fernando Henrique Cardoso.

É verdade que Aécio Neves não é igual a Fernando Henrique Cardoso. Aécio Neves é pior. Apesar do governo com muitos defeitos, FHC defendeu o Mercosul. Aécio Neves tem desprezo pelo bloco. FHC propôs no último ano do seu segundo mandato o Plano Nacional de Direitos Humanos. Em 2009, Lula propôs algo parecido, e o PSDB se juntou aos setores mais retrógrados da sociedade brasileira para enterrar o plano. O PSDB nunca foi um partido social-democrata de verdade, porque, ao contrário dos partidos social-democratas europeus, nunca teve o sindicalismo como base de apoio. A caminhada em direção à direita começou com a aliança com o PFL em 1994, e, se deslocou ainda mais para a direita quando se tornou oposição. As candidaturas de Alckmin 2006, Serra 2010 e Aécio 2014 foram mais direitistas do que a de Covas 1989, FHC 1994 e 1998 e Serra 2002.

 

Como é possível falar que Aécio é de direita se ele é descendente de Tancredo, que tanto lutou pela democracia, e pertence a um partido fundado por opositores da ditadura?

Pouco importa se Aécio é ou não o candidato DE direita. Fato inquestionável é o de que ele é o candidato DA direita. Depois do fim da ditadura e do fiasco de Collor, a direita adotou a tática de “gozar com o pau dos outros”. Para defender seus interesses, recruta candidatos que já atuaram no campo da esquerda (FHC, Serra, Marina) ou que tiveram padrinhos políticos que já atuaram no campo da esquerda (Alckmin (Covas), Aécio (Tancredo), Eduardo Campos (Miguel Arraes)).

Se Aécio é o candidato do Jair Bolsonaro, do Silas Malafaia, do Olavo de Carvalho e do Reinaldo Azevedo, algum motivo deve ter. Se Aécio é o candidato daquela parte da classe média que está revoltada que comer fora ficou caro porque o garçom e o cozinheiro não ganham mais tão mal, algum motivo deve ter.

 

Mas também há direitistas que apoiam Dilma: Sarney, Renan, Jáder Barbalho, Kátia Abreu.

O apoio mais problemático a Dilma é de Kátia Abreu. Os demais são apenas oligarcas que gostam do poder, e não merecem nossa admiração. Mas ao contrário dos direitistas que apoiam Aécio, estes não dedicam a atividade política a atacar os direitos humanos, a atacar as minorias.

 

O Aécio Neves é conservador em economia e defende a redução da maioridade penal, mas parece que em algumas questões de moral e costumes, ele é razoavelmente moderno.

Pouco importa. A base de apoio dele é reacionária em todas as questões e isso é o que determina as decisões de um governo. FHC defende a descriminalização da maconha, mas nada fez sobre isso durante seu governo. A lei que deixa de punir com prisão posse de pequenas quantidades é de 2006, sancionada pelo Lula.

 

Mas o Aécio não fez um bom governo lá em Minas Gerais?

Os maiores feitos apontados pelos defensores de Aécio foi ter implantado em Minas Gerais as reformas que Bresser Pereira fez em nível federal. Se o Aécio fez em seu estado o que já foi feito na união, qual a relevância de sua experiência? Quanto ao mérito das reformas de Bresser, é importante lembrar que o que elas têm de positivo foram mantidas por Lula e Dilma. O que tem de negativo, como f... o servidor, ainda bem que não foram. E Bresser Pereira apoia a... Dilma.

Bom, e Aécio foi reeleito, fez Anastasia como sucessor, mas perdeu em Minas Gerais no primeiro turno, e o PSDB perdeu a eleição para governador.

 

A meritocracia proposta por Aécio para o serviço público não é uma ideia interessante?

Ninguém fez tanto algo tão meritocrático do que os governos do PT: contratar servidores por concurso público. Um exemplo de apego dos governos do PT pela meritocracia foi o de não ter embaixadores políticos. Chegou-se a preencher embaixadas em todos os lugares do mundo com pessoal do quadro do Itamaraty. Antes, era comum as embaixadas dos países mais poderosos do mundo serem preenchidas por indicação política.

E o início da carreira de Aécio na vida pública não é um caso de meritocracia. A família contou muito.

 

Não é ruim para a democracia um partido ficar no poder por tanto tempo?

Se for por vontade popular, qual é o problema? Conforme foi mencionado em post anterior, o Partido Social Democrata já ficou 40 anos seguidos no poder na Suécia, o Partido Democrata já ficou 20 anos seguidos no poder nos Estados Unidos, a União Democrata Cristã já ficou 16 anos seguidos no poder na Alemanha. Quem usa o argumento da “alternância de poder” se esquece de São Paulo, porque lá, quem está no poder há muito tempo é outro partido.

É difícil falar que “o PT está no poder”, porque este partido nunca teve mais do que um quinto do Congresso Nacional.

 

O PT não está aparelhando o Estado?

Muito provavelmente, nove em cada dez pessoas que dizem isso sabem porra nenhuma sobre o que isso significa e simplesmente papagaiam o que ouviram pela grande mídia. O Estado depende de servidores de carreira, e, em geral, o PT valoriza mais isto do que os partidos conservadores fazem, mas também depende dos cargos de livre provimento, aí, é legítimo um governo eleito pelo povo nomear pessoas afinadas ideologicamente com o governo.

 

Não é melhor para a esquerda que o PT vá para a oposição se renove e volte mais combativo em 2018?

É melhor para o país que a direita perca agora e volte mais moderada em 2018, sem Armínio Fraga. Desta forma, o modelo social desenvolvimentista do Lula se tornará suprapartidário. Situação análoga ocorreu nos Estados Unidos em 1948, ano da reeleição de Truman, a última vitória democrata da série de cinco consecutivas. Aquela vitória forçou os republicanos a indicarem um candidato mais moderado para 1952, o Eisenhower, e dessa maneira, o modelo do New Deal foi suprapartidário até 1980.

A vitória de Aécio seria importante para a direita por motivos que vão além da economia. Alguns ministros do STF irão se aposentar e o presidente que tomar posse em 2015 indicará novos ministros. O Senado precisa aprovar as escolhas. Como o Senado é majoritariamente conservador, é impossível para a Dilma nomear aliados políticos do PT. Não haverá mais Tóffolis. Verificou-se que a maioria das indicações de Lula e Dilma não foi de aliados políticos: Carmen Lúcia, Rosa Weber, Zavaski e Barroso poderiam ter sido indicados por qualquer presidente. Com Aécio eleito, ele teria caminho livre para colocar mais tipos como Gilmar Mendes para dentro do STF.

 

E voltando ao FHC? O desempenho pior dele em comparação a Lula não se deveu a uma conjuntura internacional menos favorável? Não se deveu ao fato dele ter pego a casa desarrumada, arrumado a casa e passado a casa arrumada para o Lula?

Já respondi estes mitos em um post de 2010.


 

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