segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Quem são os "moderate heroes"

Esta é uma expressão que aprendi recentemente em debates de Internet. O moderate hero é aquele que em todas as polêmicas em que dois lados defendem apaixonadamente pontos de vistas opostos, considera que a verdade está no ponto que fica exatamente no meio destes dois pontos de vista, a uma distância igual um do outro.
Todos nós temos visões intermediárias em alguns assuntos. Até porque, às vezes, existem posições extremas artificiais, que alguns colocam só para tencionar o debate para um lado e sua verdadeira posição parecer a do meio (e agradar moderate heroes). Quem lê este blog sabe que tenho posições intermediárias, moderadas, em alguns assuntos. Como escrevi ontem sobre a questão do "quem não faz parte da minoria não opina". Entendo os motivos de quem defende isso, considero válido algumas vezes, mas discordo de quem acha que deve ser regra absoluta. Em outras questões, defendo claramente um dos extremos. Por exemplo, o eventual impeachment da Dilma. Um dos extremos acha que é golpismo. Outro extremo acha que tem que ter impeachment. A posição intermediária é a de que "ainda não existem elementos jurídicos que embasam o impeachment, mas defender o impeachment não é golpe". Discordo até mesmo da posição intermediária, e defendo o extremo que o pedido de impeachment da Dilma é golpismo sim.
Já os moderate heroes, esses aí nem param muito para pensar antes de defender a posição intermediária. Eles têm fetiche pelo ponto do meio. Para eles, a moderação não é consequência do fato da própria opinião ser coincidentemente localizada entre os extremos mais falantes. Para eles, a moderação é um objetivo. Talvez, um objetivo intermediário para se alcançar um objetivo final: mostrar uma suposta superioridade intelectual.
O típico texto do moderate hero para todos os assuntos começa assim:
"De um lado há aqueles que pensam isso. Do outro há aqueles que pensam aquilo. Mas a verdade é que a questão não é tão simples assim. Os que pensam isso estão certos por causa disso, disso e disso, e os que pensam aquilo estão certos por causa disso, disso e daquilo".
A mensagem implícita seria
"De um lado tem uns imbecis, do outro também tem uns imbecis, e agora neste exato momento vocês lerão a voz da sabedoria".
Eu imagino os moderate heroes no tempo da Inquisição escrevendo.
"De um lado há os extremistas que querem colocar os judeus na fogueira. Do outro há outros extremistas que acham normal ser judeu e acha normal que eles fiquem impunes por terem crucificado Jesus Cristo. A verdade é que devemos evitar os extremos: os judeus devem ser punidos sim, mas fogueira é exagero"
Ou então falando sobre abolição da escravidão no século XIX.
"De um lado há os extremistas que querem manter a escravidão. Do outro há outros extremistas que querem que negros tenham direitos iguais aos dos brancos. A verdade é que devemos evitar os extremos: a escravidão deve ser abolida, mas não é por isso que os negros devem ter direito de votar".
Ou uma versão ainda mais caricatural, falando sobre a teoria conspiratória de que os aviões sozinhos seriam incapazes de ter derrubado as torres do World Trade Center em 11 de setembro de 2001, e que provavelmente havia explosivos dentro das torres, tendo sido premeditada a derrubada.
"A torre norte caiu somente por causa do impacto do avião, mas a torre sul caiu porque tinha explosivos dentro dela, uma vez que do jeito que o avião atingiu a torre sul, teria sido impossível derruba-la sozinho"
O moderate hero é aquele que gosta de ficar em cima do muro. Mas se um dia alguém chegar para ele e perguntar:
- Você gosta mais de ficar nos extremos ou em cima do muro?
Provavelmente ele vai responder:
- Devemos evitar os extremos, mas não é só por isso que devemos ficar em cima do muro.
Agora, para encerrar o texto, infelizmente eu terei que ser um pouco moderate hero. Por um lado, esse tipo de debatedor deve ser zombado. Por outro lado, temos que tomar cuidado com o mau uso do termo. Seria equivocado xingar alguém de moderate hero só porque esse alguém teve posição intermediária em um determinado assunto, coisa que é completamente normal. O moderate hero, conforme eu escrevi, é quem tem a posição intermediária em todos os assuntos.

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Datena e Russomano não são "a cara de São Paulo"

Quando saiu a notícia de que Datena e Russomano seriam candidatos a prefeito de São Paulo, li na Internet algumas pessoas dizendo que eles eram "a cara de São Paulo". Não vejo assim. Os dois, assim como Feliciano, representam apenas alguns segmentos da população paulistana. O único deles que já concorreu foi Russomano, que nem pro segundo turno foi.
Em geral, a classe média paulistana é mais moderna que a média do Brasil (o que não é muita coisa) em questões de liberdades ind...ividuais e valores culturais. Há maior aceitação da independência das mulheres, tolerância aos gays, tolerância à diversidade religiosa, liberdade sexual, apoio à descriminalização de drogas leves e apoio a causas ambientalistas em um raio de três quilômetros saindo do Masp do que na média do Brasil. Há gente nessa área que aplaude a chacina na periferia igual a que ocorreu recentemente, mas há gente assim no Brasil inteiro.
O que faz a classe média paulistana votar bem mais na direita do que o resto do Brasil é que os valores da meritocracia estão muito arraigados, e, às vezes, é uma visão torta de meritocracia. A ideia de que cada indivíduo é responsável pelo seu próprio sucesso e pelo próprio fracasso. Que impostos punem quem trabalha e programas sociais premiam vagabundo. Filho ter amigos gays tudo bem, ter amigos pobres já é um pouco mais complicado.
O João Dória representa muito mais esses ideais do que Datena, Russomano e Feliciano.

domingo, 30 de agosto de 2015

Opinião de homem sobre feminismo vale? Opinião de branco sobre movimento negro vale? Opinião de hétero sobre movimento LGBTT vale?

Como eu sou homem branco hétero, se eu me propus a escrever um texto sobre esse tema, é sinal de que eu não defendo a posição mais extremista de que "a opinião não vale". Mas também não defendo o outro extremo de que esses questionamentos são uma merda e a gente tem que ignorar. Não sou moderate hero profissional, não é só porque há duas opiniões extremas sobre determinado assunto que eu tenho que concordar sempre com o meio, mas neste assunto, eu concordo com o meio mesmo.
Essa ideia de que a opinião de quem não faz parte do grupo oprimido sobre questões relativas ao grupo oprimido não vale não veio de graça. Quem não pertence ao grupo oprimido pode até ser bem intencionado, mas cresce viciado involuntariamente em pensar como o dominante, muitas vezes como o dominante benevolente, e saber se colocar no lugar do oprimido, que é um longo aprendizado. Somos viciados em ouvir opiniões de homens brancos héteros sobre sexismo, racismo e homofobia. E quantos de nós nunca dissemos "sexismo, racismo e homofobia são coisas do passado" sem nunca ter perguntado para uma mulher, uma negra (por que eu teria que escrever um negro?), um gay, uma lésbica ou um transexual, ou seja, pessoas diretamente atingidas, se é isso mesmo? Escutar faz bem. Quando algum branco diz "no Brasil não existe mais racismo", devemos perguntar a ele "mas você perguntou aos negros com quem convive diariamente se é isso mesmo?", aí se ele responder "é que não há negros na minha vizinhança, no meu clube e no meu trabalho", a tréplica só pode ser "hmmmm".
Portanto, essa ideia de que opinião de quem não pertence ao grupo oprimido não vale é um grito de "ei, nos ouça!". Considero isso válido na maioria das vezes. Concordo que nós, homens, não temos qualificação para definir se o movimento feminista deve ser classista ou não, se a melhor onda do feminismo é a primeira, a segunda ou a terceira, se é melhor o feminismo radical, o liberal ou o socialista ou se as feministas devem aceitar que trans feminina é mulher ou não.
Agora, é aí que não aceito o extremo oposto, esta regra não pode ser absoluta. Sentir na pele não torna uma pessoa infalível em qualquer argumento. Se um discurso feminista se torna misândrico, é óbvio que os homens têm competência para discordar, até porque misandria não trata de mulher, e sim de homem, e como homem entende de homem, opinião de homem sobre misandria (de preferência negativa) é válida. O mesmo ocorre quando um discurso pró negros se torna brancofóbico. Ou quando pró LGBTT vira heterofóbico (embora essa última situação eu nunca tenha visto na prática).
Se a regra de que quem sente na pele está sempre certo for levada ao extremo, não poderíamos falar mal de uma ex-vítima de bullying na escola que resolveu se vingar eliminando fisicamente os praticantes do bullying e seus amigos porque nós nunca sentimos na pela a experiência de sofrer bullying.
A tentativa de transformar em princípio absoluto o de que "a opinião de quem não pertence ao grupo oprimido não vale" muito provavelmente não vai pegar no Brasil por uma simples questão de números. Os negros são aproximadamente metade da população brasileira. As mulheres são aproximadamente metade da população brasileira. Portanto, as mulheres negras são aproximadamente um quarto da população brasileira. Como estima-se que os homossexuais correspondam a 5% da população, provavelmente é próxima de 1,25% a participação das mulheres negras lésbicas no conjunto da população brasileira. Ou seja, 98,75% da população brasileira pertence a pelo menos um grupo opressor. E muitos desses aí não vão concordar com a ideia de "cala a boca que sua opinião não conta". Uma mulher branca que seja militante feminista que defende a regra muito provavelmente entende com facilidade que como ela é branca, ela não tem condição de opinar sobre movimento negro. Mas uma mulher branca não feminista (ou mesmo não defensora dessa regra) pode muito bem querer fazer críticas ao movimento negro.
E assim como os pertencentes aos grupos oprimidos devem ser compreendidos por quem nunca sentiu na pele ser parte desses grupos, seria muito bom que os que sentem na pele NÃO fazer parte de grupo oprimido também fossem compreendidos. Homens brancos héteros somos menos sensíveis com questões que afetem minorias, e, portanto, mesmo sem intenção, podemos pisar na bola. Portanto, temos que ter o direito (e o dever) de pedir desculpas. Caso isso ocorra, linchamentos reais e virtuais não são justificados. Por exemplo o Michel Teló, branco. Quando ele se pintou de preto, ele não sabia que isso era ofensivo.

Como explicar a um gringo a piada do pavê

Pavê is a typical Brazilian pie. It is composed by multiple layers of sweet crackers, cream and cake. Pavê is eaten often as a dessert in December holidays.
Because of the spelling of the word, there is a very famous double meaning joke related to the pavê in Brazil. "Para" means "to" in Portuguese. "Ver" means "see" in Portuguese. In spoken language, people say "pa" instead of "para" and people say "vê" instead of "ve...r". That's why "pavê" means "to see" in a literal translation to English. "Comer" means "eat" in Portuguese. So, the joke is: when the hostess say that there is "pavê" for "dessert", someone who is invited to the dinner asks if it is "pavê" or "pacomê". It means: he is asking if it is "to see" or "to eat". This is funny because it is odd that a kind of food is "to see" and not "to eat" according to its name. That's why this joke exists.
Not everyone makes this joke. There is a stereotype of people who make this joke: it is usually men aged between 40 and 70. Young people consider this joke old and boring.

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Para divertir um pouco

Dois bons memes de Facebook, sobre a ignorância que olavetes têm sobre o ensino superior de Humanidades no Brasil


quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Nem nem nem. Porque não sou governista, nem oposição de direita, nem oposição de esquerda

As atuais forças políticas no Brasil dão desânimo. Já fui favorável ao governo Lula, principalmente durante o segundo mandato. Atualmente, 71% dos brasileiros e eu estamos nada satisfeitos com o governo Dilma. Estou ainda mais insatisfeito com o partido do governo do que com o próprio governo. Isto não quer dizer que a oposição seja melhor. A oposição de direita nada tem a oferecer de melhor. A oposição de esquerda tem alguns méritos, mas também tem defeitos.
Por isso, faço um textão criticando o PSDB, que vale também para os outros partidos da oposição de direita, um textão criticando o PT, que vale algumas coisas também para o PCdoB, e finalmente um textão criticando o PSOL, que vale também para os outros partidos da oposição de esquerda.
Como o nome já diz, os textões são grandes, mas preferi mantê-los no mesmo post para evitar que alguém difunda separadamente, ou seja, escolha só um dos textos para difundir. Quer difundir, ótimo, mas faça com os três textões juntos.
Boa leitura


Oposição de direita: mais especificamente, o PSDB

Quando se fala em oposição à direita, o primeiro partido que vem à mente é o PSDB. Se já vou pegar pesado com o PSDB, é dispensável falar também do DEM, do PMDB, do PP e do PSD, que são piores, mesmo que os últimos três sejam governistas (ou principalmente por causa disso).

Eu voto desde 2000 e nunca apertei um 45 em uma urna eletrônica, nem pretendo fazer isso em breve. Se eu fosse dois anos mais velho, teria feito isso no segundo turno de 1998, dando o voto útil em Covas contra o Maluf. De lá pra cá, o PSDB só vem piorando. Se eu fosse adulto em 1988, ano da fundação do partido, eu provavelmente teria sido otimista quanto ao seu futuro.

Em 1994, muitos eleitores que se consideravam de centro-esquerda votaram em Fernando Henrique Cardoso, pensando que ele fosse fazer um governo social-democrata de verdade. Grande decepção. Os programas sociais de transferência de renda só tiveram início do sétimo ano de governo, e foram muito tímidos. O percentual de brasileiros vivendo abaixo da linha de pobreza era de 35% em 1995 e 34% em 2002. O índice de Gini ficou estável neste período. A participação da renda do capital na renda total aumentou, enquanto que a dos salários declinou. A geração de empregos com carteira assinada teve desempenho ruim. O Plano Real foi bem sucedido, mas pouco foi feito depois. O governo FHC seguiu a ideologia de que basta o governo não atrapalhar que o desenvolvimento vem. O governo, com tanta privatização e desregulamentação, parou de "atrapalhar", mas o desenvolvimento, mesmo oito anos depois, não veio.

Apesar de ter sido decepcionante o governo FHC, o PSDB ainda era melhor naquele tempo do que nos dias atuais. Se em termos de redução de pobreza e desigualdade o governo FHC deixou a desejar, não se pode negar que houve progresso em direitos humanos e Estado laico. Daquele tempo para o atual, o PSDB retrocedeu até nessas áreas. Alckmin foi reeleito em 2002 utilizando na campanha um massacre cometido pela Polícia Militar como prova de que a política de segurança estava funcionando. O partido esculachou o III Plano Nacional de Direitos Humanos, proposto pelo ministro Vannuchi, durante o segundo mandato do Lula, em 2009. A campanha de Serra utilizou ateufobia em 2010 e homofobia em 2012. Em 2015, o PSDB indicou o Coronel Telhada para dirigir a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de São Paulo, gesto simbólico que significa dar uma banana para a comissão. Atualmente, há um deputado do partido, que seguindo o lobby do Escola Sem Partido (???), propõe uma lei para censurar a atividade docente.

Duas características interligadas, muito marcantes no PSDB são o elitismo e o autoritarismo. Para o PSDB, a opinião que conta é a opinião da classe média para cima. É muito comum escutar políticos do PSDB dizendo "a sociedade pensa isso", "a sociedade pensa aquilo", sendo que a "sociedade" à qual eles se referem é o quinto mais rico da população brasileira. Por isso que o PSDB tem ojeriza a criação de qualquer mecanismo de democracia direta, participação popular. No ano passado, Alberto Goldman e Fernando Henrique Cardoso disseram indiretamente que a eleição de Dilma vale menos porque ela dependeu dos votos dos mais miseráveis (que seriam pessoas que valem menos?) Quando eu ouço alguém dizendo que o PSDB vai começar uma campanha para se aproximar das classes mais baixas, já é possível prever o que vem: demagogia religiosa e demagogia policialesca. São estes discursos que aproximam o PSDB de alguns segmentos das classes mais baixas, porque o social deste partido consta apenas no nome. O único momento em que o PSDB se lembra da desigualdade da distribuição de renda no Brasil é na hora de falar mal de universidades públicas, com o pretexto de que elas são frequentadas por filhos de pessoas com alto poder aquisitivo. Utiliza-se muito o discurso do "temos que priorizar a educação básica", que seria muito bonito e não fosse pelo significado oculto de "temos que sucatear o único nível de ensino que o setor público brasileiro ainda fornece com alguma qualidade para quem sabe sobrar um dinheirinho pra dar uma melhoradinha na educação básica". Bom, neste tema, o PT também não vem tendo um bom desempenho, basta ver o triste estado em que se encontram as federais no ano de 2015. Mas ao menos não é intenção deliberada. Ainda nesse tema, o PSDB é o partido que se considera o inventor do Bolsa Família, mas também é o partido favorito de quem considera que Bolsa Família só serve para comprar voto de vagabundo.

Como não há elitismo sem autoritarismo, não é difícil perceber as marcas deste vício no PSDB, mesmo tendo sido este partido fundado por antigos opositores do autoritarismo. Sabemos que a PM de São Paulo espanca manifestantes e mata morador de periferia assim como a PM dos outros 25 estados e do Distrito Federal. Mas não se verifica em outros estados caso semelhante de amor que se vê entre Alckmin e PM. É marcante também a agressividade de José Serra com jornalistas, mesmo que eles trabalhem para empresas de comunicação favoráveis a seu partido. E não pode deixar de ser mencionada a tentativa do senador Aloysio Nunes agredir fisicamente um engraçadinho ex-assessor de uma deputada do PT que fez apenas uma provocação verbal. Quando acontece qualquer ato de hostilidade contra qualquer integrante do PSDB ou contra qualquer aliado, seus líderes, junto com os aliados nos meios de comunicação, já exigem que o PT se ajoelhe no milho e peça desculpas, mesmo que o praticante do ato hostil não seja do PT. E palavrinha dos tucanos contra a bomba no Instituto Lula ou contra as agressões físicas sofridas por militantes petistas durante a campanha de 2014? Não vi. Outra atitude recente de baixo nível cometida pelo PSDB foi aquela nota dizendo que "jornalistas que corajosamente discordam do PT sofrem ataques em redes sociais". Em primeiro lugar, esses jornalistas (aliados do PSDB) não sofrem "ataques" em redes sociais porque falam mal do PT, e sim porque são simpáticos a racistas, machistas e homofóbicos e exaltam o regime militar. Em segundo lugar, "atacar" jornalistas em redes sociais também faz parte da liberdade de expressão.

E quanto à corrupção? Eu aceito a hipótese que o valerioduto praticado pelo PSDB em Minas Gerais em 1998 não foi tão grave quanto o praticado pelo PT a nível federal em 2005. E que o escândalo do Metrô em São Paulo tem uma diferença com o escândalo da Petrobras: no de São Paulo, ainda não apareceram indícios tão evidentes de políticos metendo diretamente a mão. Mas que algumas empresas obtiveram contratos superfaturados para prestar serviços ao Metrô de São Paulo é fato, e que estas empresas doaram para campanhas do PSDB também. Se tem focinho de forco, orelha de porco, lombo de porco e pé de porco pode ser a feijoada ou a porca, mas também é muito grande a probabilidade de ser porco. A mesma analogia do porco vale para a blindagem do Daniel Dantas. Sabemos que Daniel Dantas foi vencedor do leilão da privatização de telefonia, leilão em que ocorreram irregularidades conforme gravações mostraram. A irmã de Daniel Dantas tinha uma empresa em parceria com a filha de José Serra (o fato em si não é crime, mas ter critérios mais rigorosos pra escolher parceiros de negócios faz bem). Daniel Dantas se relacionava muito bem com Antônio Carlos Magalhães, do PFL. E quando Daniel Dantas entrou na mira da polícia federal, quem fez a blindagem do banqueiro baiano: Gilmar Mendes, o ministro pró PSDB/DEM, e jornalistas pró PSDB/DEM. A relação de causa e efeito pode não ter sido essa, mas que é coincidência não se pode negar.
Os defeitos que o PSDB tem, outros partidos também têm. Mas os defeitos do PSDB ficam menos aparentes quando o partido conta com uma blindagem feita pelas grandes empresas de comunicação. Não é a toa que há os que pensam que a crise energética nacional de 2001 e a crise hídrica paulista de 2014 foram causadas pela natureza. Como vocês lerão a seguir, o PT conta uma rede de jornalistas passa-pano. O PSDB também. A diferença é que os do PT estão em blogs, e os do PSDB estão nos jornalões.
Chegando perto do fim do texto, acho desnecessário explicar mais uma vez a relação não muito aparente, mas existente, entre PSDB e grupelhos de extrema-direita. Importante destacar mais uma vez apenas que Reinaldo Azevedo é PSDB e PSDB é Reinaldo Azevedo. O colunista da Veja não é simplesmente um reacionário que acha o PSDB menos ruim por falta de outras opções à direita. A sua ligação com o PSDB é bem mais antiga que seu olavismo. Já expliquei isso aqui no blog.

Outro feito do PSDB que não foi igualado nem pelos governos arenistas de São Paulo foi ter transformado a TV Cultura em um veículo de propaganda da direita, empregando gente da Veja e da nova safra de geradores de texto reaça.
 
Por fim, tento dar um palpite para uma pergunta que algumas pessoas fazem. "Fernando Henrique Cardoso e José Serra tiveram suas vidas acadêmicas ligadas à esquerda. Atualmente, na política, estão ligados à direita. Será que eles mudaram de ideia e passaram a acreditar na direita por convicção, ou eles apenas estão ocupando um espaço anteriormente vago no espectro político brasileiro?" Eu acredito que nos anos 90, quando eram governo, eles eram de centro, liderando uma coalização que incluía partidos de centro e partidos de direita. A parceria com a direita, representada pelo PFL que virou DEM, se manteve quando foram para a oposição, e talvez o convívio com a direita por mais de 20 anos acabou moldando suas mentes. 

 

Governismo: mais especificamente, o PT

Votei pela primeira vez em 2000, para prefeito de Campinas, no Toninho do PT, assassinado no ano seguinte. Votei pela primeira vez para presidente em 2002, no Lula. E vou ser sincero. Sabem o que o mensalão, revelado em 2005, significou para mim? Pouca coisa, pois eu já estava muito irritado antes com o partido, por causa da política econômica adotada por Lula no primeiro mandato. Foi só depois, lá por meados de 2006, já perto da campanha da reeleição, eu fui descobrir que a decisão de Lula quanto à política econômica havia sido acertada. Mas não o mensalão, óbvio. Na eleição de 2006, eu anulei no primeiro turno (voto em ninguém) e votei no Lula no segundo (veto ao Alckmin e sua base de apoio). Naquele tempo, eu considerava ainda válido o manjado discurso petista do "sempre foi assim, todo mundo fez, é que agora está sendo mais investigado". Não por achar que os escândalos foram aceitáveis, mas por achar que tinha que escolher o mal menor. Muitas decisões do PT e de Lula entre junho de 2005 e outubro de 2006 caminharam na direção certa. Todos os investigados foram afastados do governo. Delcídio, o deputado petista que presidia a CPI, não criou empecilhos para as investigações. Delúbio foi afastado do PT. Veio o segundo mandato, com o PIB do Brasil crescendo, a miséria diminuindo, o Brasil se projetando no exterior com a diplomacia sul-sul. Com o escândalo da Petrobras ainda escondido, os maiores escândalos aparentes entre 2007 e 2010 ocorreram no Rio Grande do Sul, então governado pelo PSDB, e no Distrito Federal, então governado pelo DEM. Voltei a me simpatizar com o PT, mas não tanto quanto entre 2000 e 2002.

Aí a partir de 2010, foi ficando cada vez mais difícil ser favorável ao PT. Em 2010, último ano de euforia, aqueles problemas ainda eram invisíveis. A campanha de Dilma foi irrigada com dinheiro de empresas que ganharam contratos superfaturados com a Petrobras (ou seja, a campanha foi irrigada com dinheiro da Petrobras). Fez alianças excêntricas no Paraná, no Rio de Janeiro, em Minas Gerais, em Pernambuco e em Goiás, abrindo mão de ter candidatos a governador para ter mais apoios na eleição para senador. Na época, achávamos isso justificável, pois considerávamos que com um Senado mais favorável, Dilma poderia fazer um governo mais progressista, o que acabou não ocorrendo. O PT recorreu a Eduardo Cunha e Marco Feliciano para ter os votos de evangélicos. Para os autores e receptores de cartilhas petistas, os dois só viraram escrotos na hora que se voltaram contra o PT. 

Veio o governo Dilma, recuando em relação ao que Lula avançou. Substituiu a política inovadora de Juca Ferreira na cultura por uma política pró gravadoras de Ana de Hollanda (pelo menos nesta área a bobagem foi desfeita, e Juca voltou). Negligenciou a questão indígena e teve seu ministro Cardozo parado frente a assassinatos de índios. Acabou com o material didático anti-homofobia para não promover "opção sexual". Demitiu um integrante do Ministério da Justiça que havia declarado ser contra a guerra às drogas. A área em que Dilma tentou se posicionar à esquerda de Lula foi a economia. Mas nem isso conseguiu. Não considero uma atitude muito esquerdista prolongar isenção de IPI para automóvel indefinidamente e represar preços de serviços públicos para simplesmente eles aumentarem depois. Alguns podem dizer: Dilma não é PT, é um alien dentro do partido. Alguns diriam até que ela saiu do PDT, mas o PDT não saiu dela. OK, mas o que ocorreu com o PT nos últimos cinco anos foi até pior do que o que ocorreu com o governo Dilma. 

Já em 2011, o PT aceitou Delúbio de volta. Em 2012, preferiu atacar o Supremo Tribunal Federal, ao invés de desligar do partido os membros condenados pelo tribunal. Alimentou a teoria de que os condenados teriam sido vítimas de uma vingança das elites por terem defendido o povão. Mesmo que oito dos onze ministros STF tenham sido nomeados por Lula ou por Dilma. E que um dos condenados tenha tido o hábito de dar consultoria para integrantes desta elite que supostamente estaria se vingando dele. É estranha esta lógica do PT, que considera que não pode defender legalização do aborto porque isso faz perder voto, não pode defender legalização da maconha porque isto faz perder voto, e preservar políticos condenados por corrupção também faz perder voto, mas isso o partido faz mesmo assim.

Quando veio o escândalo da Petrobras, acabou qualquer desculpa que era usada nos escândalos anteriores. No tempo do mensalão, alguns diziam que se não fizesse isso, não haveria base de apoio no Congresso, e, dessa forma, o país pararia. Os delatores do escândalo da Petrobras disseram que não apenas o PMDB e o PP receberam propina, mas que o próprio PT ficou com parte do dinheiro. Então, o escândalo não se restringe a formar base de apoio no Congresso. A outra desculpa, a de que o PT tem mais dificuldade de obter doações legais no meio empresarial por causa de diferenças ideológicas, e por isso utilizaria meios ilegais, também não é válida, pois em 2010 o Lula tinha 80% de aprovação.

A favor do PT há uma rede de sites que têm como pretexto uma boa causa, que é fornecer um contraponto à opinião transmitida pelos grandes meios de comunicação, mas acabam sendo tão nocivos quanto esses grandes meios de comunicação (chamados de PIG) quando criam uma massa de adestrados que acham que tudo que está a favor do PT é bom e tudo que está contra o PT é ruim. Ensinam a ter lealdade somente ao partido, e não a ideais. Dez anos depois da revelação do mensalão, que eles adoram escrever entre aspas, ainda mantém o discurso do “sempre foi assim, todo mundo fez, é que agora está sendo mais investigado”. Ora, porra, se sempre foi assim, sempre foi errado. Se todo mundo fez, todo mundo fez errado. Se só agora está sendo investigado, antes estava errado. A falta de discernimento que os seguidores destes sites têm é tão grande que não sabem diferenciar Gilmar Mendes, realmente comprometido com uma política conservadora, de Joaquim Barbosa, jurista de opiniões progressistas que foi tachado de reacionário simplesmente porque condenou ex-dirigentes do PT. Um dos sites chegou a reprovar Joaquim Barbosa pelo fato dele ter uma esposa branca.  Durante a Operação Lava Jato, junto com a justa crítica à partidarização declarada de alguns delegados da Polícia Federal, vemos uma tentativa infundada de desqualificar todo o instrumento da Delação Premiada, a não ser, é claro, que sirva contra o Eduardo Cunha. É justo criticar vazamentos seletivos, mas que a Delação Premiada tem muitos efeitos positivos em desvendar escândalos, sobre isto não há dúvida. Outra tentativa destes sites de defender o indefensável é defender o "legado da Copa". Um destes sites chegou ao ridículo de defender a realização de jogos da Copa em Cuiabá, Manaus e Natal, cidades sem clubes fortes para manter os estádios, alegando que Lula tinha uma visão de Brasil e que por isso ele não quis restringir o evento ao "sul maravilha" (texto que criou um espantalho, uma vez que ninguém foi contra fazer jogo em Salvador, Recife e Fortaleza, cidades com clubes mais fortes). Quem gostou do fato da Copa ter tido doze, e não apenas nove estádios, foram as empreiteiras.

Quando o governo federal faz coisas que quem se considera de esquerda não tem a menor condição de defender, apela-se à tentativa de separar o governo do partido. O problema desta estratégia é que algumas das decisões indefensáveis são tomadas por ministros do PT ou ministros não indicados pelos partidos "aliados", como Joaquim Levy e Kátia Abreu, que estão lá porque a Dilma quis, e não por solicitação do PMDB. Os adestrados mais delirantes também acham que o PSOL é aliado do PSDB e do PIG. E não houve muita diferença de opinião de alguns sites petistas e do PIG sobre os protestos pelo passe livre, protestos de índios e protestos contra a Copa. Quanto ao posicionamento sobre o PSOL, tem os fanáticos que acham que acham que o PSOL faz o jogo da direita e tem os um pouquinho mais moderados, mas não muito menos piores, que querem cagar regra sobre o que pode e o que não pode ser feito ao se fazer oposição ao governo e ao PT pela esquerda. Esses aí dizem que criticar o PT por ter caminhado demais para o centro tudo bem, mas que criticar o PT por causa de corrupção é coisa de coxinha udenista médio-classista pequeno burguês. Dão um presente para a direita, ao dar a ela o monopólio da defesa da ética, mesmo sendo muitos da direita também completamente desprovidos de ética.

As redes de petistas fanáticos e de direitista ignorantes se retroalimentam. Uma dificilmente seria tão forte sem a outra. Como alguns dos que criticam corretamente os colunistas trolls de direita defendem erroneamente petistas condenados, isto vira álibi para defensores desses trolls de direita desqualificarem os críticos. Mesmo que muitos desses trolls de direita defendam os corruptos do lado deles. Por outro lado, esses trolls de direita viram ótimos espantalhos para o antipetismo, e isto beneficia o petismo. A direita adora utilizar a despolitização de grande parte da população brasileira que acha que esquerda = PT. Como o PT está enrolado, isto é visto como uma oportunidade de jogar a crise no colo de toda a esquerda. Quando as redes petistas alimentam a ideia de que anti PT = direita, está colaborando com quem quer mostrar que esquerda = PT.

Outro costume muito ruim do PT é o de deixar pautas progressistas em banho maria e mostrar empenho em defende-las apenas quando são úteis para mobilizar militância em favor do partido. Um dos exemplos é o do financiamento exclusivamente público de campanha. É certo que como a esmagadora maioria dos deputados é eleita com financiamento privado, é muito difícil obter uma maioria pró financiamento exclusivamente público. Mas no tempo em que Lula tinha 80% de aprovação, o Executivo poderia ter tentado mandar um projeto a este respeito para o Legislativo, que o poder de pressão seria grande, e, talvez, o resultado final poderia ter sido a aceitação do financiamento privado, mas com um limite bem baixo. Recentemente, circulou uma PEC legalizando o financiamento privado, e um dos autores desta PEC era um deputado do PT, que não foi expulso do partido. Somente na campanha de 2014 e no decorrer de 2015 o PT ressuscitou o tema financiamento exclusivamente público. Outra bandeira ignorada pelo PT durante muito tempo foi a realização de uma reforma tributária que corrigisse a distorção brasileira de tributar muito o consumo e pouco a renda e o patrimônio, ou seja, de tributar muito o pobre e pouco o rico. Tanto o imposto sobre grandes fortunas, quando a criação de uma alíquota de Imposto de Renda superior a 27,5% para rendas muito altas, foram deixados em banho maria pelo PT. Também não é possível utilizar como desculpa o excesso de conservadorismo do Legislativo, porque o Executivo não enviou um projeto a esse respeito. Quando a deputados fundamentalistas pentecostais se voltam contra o PT, e a direita laica se une de forma oportunista a eles, os petistas alertam com razão sobre os danos causados por esses religiosos. Mas quando os religiosos estão na paz, os sites petistas comemoram quando a Record supera a Globo em audiência. O PT também deve ser criticado por não ter feito esforço para aprovar PEC proibindo a privatização da Petrobras e PEC constitucionalizando o Bolsa Família, e usar privatização da Petrobras e esvaziamento do Bolsa Família como fantasmas em campanha eleitoral.

Muitos dos que votavam no PT antes de 2002 eram aqueles que valorizavam bastante a educação e a saúde públicas, e consideravam que para ter educação e saúde públicas de qualidade valia a pena até mesmo pagar imposto elevado. Doze anos depois, a educação e a saúde públicas não deram um grande salto de qualidade. Parte disso é responsabilidade de governos estaduais e municipais, mas se a precariedade dos serviços é disseminada em todo o território nacional, o governo federal também deve ser cobrado. Como antes de 2002 o PT tinha grande base de apoio em universidades, esperava-se que com o PT no governo, o Brasil teria um grande desenvolvimento intelectual. Não foi isso que aconteceu. A ampliação do acesso dos jovens pobres à universidade é um fato que deve ser comemorado, mas não podemos esquecer que quando se fala de qualidade, e não de quantidade, os resultados não são os mesmos. A saída de milhões de pessoas da condição de miséria e a expansão do emprego com carteira assinada também são fatos que não podem ser desprezados. Ainda assim, mudanças mais profundas não ocorreram, mesmo depois de doze anos. Não precisa ser revolucionário trotskista para notar que houve frustração. Até mesmo para quem defende uma social democracia houve frustração.

Existe um grande abismo entre o discurso esquerdista de parte da militância da base da pirâmide do PT, que é tão esquerdista quando o PSOL e só não saiu da nave mãe porque considera que não pode dividir a esquerda, e as práticas de lideranças do PT de composição com as forças políticas e econômicas conservadoras. Quando no debate da eleição presidencial de 2014 a candidata Marina Silva disse que a palavra "elite" pode ter significado positivo, a militância começou o esculacho. Foi demonizada a pessoa de Neca Setúbal, que já trabalhou para o governo federal e já apoiou o Haddad. Aí, no ministério do segundo mandato, Dilma incluiu Joaquim Levy, representante da elite financeira, Kátia Abreu, representante da elite agrária, e Armando Monteiro, representante da elite industrial. Não há problema no fato do PT tentar manter bom relacionamento com o empresariado. O problema é a hipocrisia, é fazer isso e atacar os outros que fazem.

Muitas vezes, a composição com setores conservadores da sociedade vai longe demais, e, às vezes, o esquerdismo de fachada que preserva também vai longe demais. O governo Lula perdeu tempo demais com Cesare Battisti. Isto não passou de um prêmio de consolação para a militância esquerdista do partido. O resultado não foi dos melhores. A revista Carta Capital, que faz muitas críticas pela esquerda ao governo, concordou com os críticos à direita em considerar que o posicionamento do governo sobre o ex-terrorista italiano foi uma grande bobagem. O petismo comporta tanto o fornecimento de generosas verbas de publicidade para o PIG, quanto a comemoração por causa de dificuldades financeiras do PIG e dos jornalistas demitidos.

O discurso classemediofóbico pró-povão e sulfóbico feito por interneteiros petistas de classe média soa sinal de memória curta, uma vez que até 2002 os petistas se orgulhavam de pertencer à classe mais culta do país e consideravam o povo gaúcho mais politizado que a média dos brasileiros porque o PT era forte no Rio Grande do Sul.

Alguns petistas habitualmente perguntam "tudo bem, há integrantes do PT envolvidos em esquemas de corrupção, mas por que essa raiva toda é só contra o PT, os outros também não roubaram, por que não batem panelas para os outros também?" Respondendo à pergunta de maneira muito simples: as pessoas que batem panelas rejeitam o PT não só por corrupção, mas também por outros motivos. E...??????? Se petistas rejeitam outros partidos não só por causa de corrupção, mas também por outros motivos, por que quem rejeita o PT teria que rejeitar só por causa de corrupção? Alguns dos motivos de rejeitar o PT além de corrupção são justos e já mencionei, outros não. Em muitos assuntos, considero que quem está errado é quem bate panela, e não o PT. Mas de qualquer forma, petistas têm que aprender que são coisas da vida existir pessoas que rejeitam seu partido favorito. Ainda sobre "corrupção, mas só o PT, e uzotro?", também tem que ser considerado que embora PSDB e DEM já tenham praticado atos ilícitos quando eram governo federal e pratiquem ainda atualmente em estados e municípios, e PMDB e PP pratiquem os atos ilícitos juntos com o PT, as pessoas observam mais o presente do que o passado, mais o governo federal do que os governos subnacionais, e mais o partido de quem ocupa a cadeira de presidente do que os "aliados". Outro motivo de haver uma raiva muito grande específica ao PT por causa de corrupção é que o partido da estrela tinha, antes de ter virado governo, uma fama de partido honesto, e até quem não gostava do partido acreditava nisso. Sempre quanto maior a expectativa, maior é a decepção.

Outra atitude muito decorrente de petistas muito fanáticos é a de achar que todo mundo que saiu do PT é oportunista. Não conheço outro partido com tantas deserções. Grande parte dos prefeitos e governadores do PT eleitos antes de 2002 deixaram o partido. Incluem-se Jacó Bittar, Vitor Buaiz, Luíza Erundina, Cristóvam Buarque, Marta Suplicy, Edmílson Rodriguez. Além disso, saíram outros nomes como os que foram mais para a esquerda, para o PSOL, e os que foram mais para a direita, como Eduardo Jorge, Marina Silva e Hélio Bicudo. Nem todos estes listados são ídolos meus, mas quem diz que todo mundo que sai do PT é oportunista tem que admitir então que antigamente o PT tinha muito oportunista, uma vez que a lista dos que saíram é enorme.

Muita gente concorda com todas essas críticas, mas sempre dá um 13 "crítico" no segundo turno por causa do "mal menor". Eu mesmo fazia isso. Mas se o PT souber que sempre vai contar com apoio incondicional no segundo turno, nunca vai ter incentivo para corrigir seus erros. Chegou a hora de suspender este hábito. Não é o simples votinho 50 no primeiro turno que vai fazer o PT perceber que tem algo realmente errado. A reação do PT à prisão de Vacari foi um sinal de que parece que mesmo em 2015 o PT ainda não aprendeu.

Eu compreendo porque há algumas pessoas de bem que mesmo reconhecendo que o "PT cometeu alguns erros", ainda são condicionadas a recusar a perceber a gravidade desses "erros". Sabemos que nem todo mundo que odeia o PT é elitista, racista, machista e homofóbico. Mas não há qualquer dúvida de que todo mundo que é elitista, racista, machista e homofóbico odeia o PT. Muita gente que não tem qualquer ética no dia a dia odeia o PT. Daí o subconsciente de algumas pessoas dizem que, por causa disso, o PT é bom. Mas o mundo não se restringe a bem versus mal. Muitas pessoas escrotas odeiam o PT. Mas isto não impede que apesar de também ter feito muitas coisas boas, o PT também tenha feito muitas coisas escrotas.

Mas depois de todas as críticas ao PT, um lembrete: impeachment da Dilma seria um golpe sim.

 

Oposição de esquerda: mais especificamente, o PSOL

Este texto será basicamente sobre o PSOL, o partido da oposição de esquerda pelo qual sou mais favorável. Como já é um texto bem crítico, fica subentendido que minhas objeções ao PSTU e ao PCB seriam ainda maiores.

Conforme eu escrevi durante a campanha eleitoral de 2014, o PSOL, naquela campanha, marcou um golaço em direitos e tomou um frango em economia. Alguns libertários também disseram isso. Mas eu não estava defendendo uma posição libertária, considerando que só é bom defender legalização do aborto e legalização da maconha, e que ser socialista é ruim. Eu não sou libertário. Não sou contra ser socialista. Sou contra apenas ser infantil.

Pelo que líderes e militantes do PSOL falam, parece que orçamentos são ilimitados. A ideia básica é "podemos definir arbitrariamente um padrão de vida ideal e os governantes que não proporcionarem este padrão para toda a população são maus". A luta política deve ser feita para melhorar a distribuição da renda em favor das classes mais baixas, mas nenhuma luta política é capaz de multiplicar a renda por mágica. Este discurso do "temos que aumentar o gasto nisso, aumentar o gasto naquilo" pode até ser útil para mobilizar militância, pois é o mais fácil para pessoas com pouca instrução entenderem. Mas tenho dúvidas de que isso seja realmente politizante, pois apenas represa futura decepção para quando o PSOL for governo. Não precisa nem falar de situações hipotéticas. Isto já ocorre na realidade. A prefeitura de Macapá percebeu que não dá para pagar o salário para os professores que considera justo quando não tem dinheiro para isso. E não é verdade que o governo gasta 45% do "nosso dinheiro" com pagamento de juros da dívida, sei lá quantas vezes mais do que gasta com saúde e educação. O governo não gasta 45%*(impostos) e sim 45%*(impostos+empréstimos). O dinheiro para pagar juros dos títulos velhos vem da emissão de títulos novos, ou seja, empréstimos. Se o governo resolvesse dar o calote na dívida e usar o dinheiro emprestado para a saúde e educação, não haveria mais dinheiro emprestado.

A esquerda erra quando foca sua luta política em defesa de déficits públicos elevados e maior tolerância com inflação. Quem mais perde com déficit são os pobres, que os favoráveis ao déficit dizem estar defendendo, porque mais déficit implica juros mais altos, que prejudica tomadores de empréstimos e beneficia emprestadores. E se um Estado fica endividado demais, fica impossibilitado de prover serviços básicos. Se há déficit grande e os juros não sobem, há inflação elevada, que come mais a renda do pobre do que a renda do rico, pois o pobre tem menos acesso ao sistema financeiro. O que deve ser decidido politicamente é de onde deve vir a receita e para onde deve ir a despesa, mas não há política que permita fazer com que a despesa seja indefinidamente muito maior do que a receita. Este costume de parte da esquerda de não conseguir diferenciar alhos e bugalhos não é novo e já causou prejuízo anteriormente. Durante o governo João Goulart, também havia déficit e inflação, e o governo tentou fazer um ajuste, através do Plano Trienal. E ao contrário do que ocorre hoje, quem chefiava a economia não era um Chicago Boy, era ninguém menos do que Celso Furtado. O governo pretendia conciliar ajuste com reformas progressistas. Parte da esquerda passou a hostilizar o Plano Trienal, contribuindo para o enfraquecimento político de João Goulart.

Mesmo quando tenta sofisticar um pouco mais o discurso sobre economia, a oposição de esquerda comete erros básicos. Critica a desindustrialização do Brasil (perda de participação da indústria de transformação no PIB e nas exportações), mas reclama que os salários não aumentaram o suficiente, que são necessários mais direitos trabalhistas. Ou seja, o que propõem é ligar o ar condicionado e o aquecedor ao mesmo tempo. A desindustrialização do Brasil ocorreu justamente porque os salários aumentaram, e tornou-se impossível alguns setores industriais no Brasil concorrer com países asiáticos, que têm baixo custo do trabalho. Comprimir salários não é a única opção para recuperar a indústria, pois é possível investir em setores mais sofisticados tecnologicamente, não intensivos em trabalho não qualificado. Mas para isso, precisa capacitar melhor a força de trabalho brasileira. E para isso, precisa melhorar e muito a proficiência dos estudantes brasileiros em leitura e matemática. É aí que vem mais um defeito da extrema-esquerda: mania de sonhar demais quando fala em Educação e ser hostil às políticas que no curto prazo priorizem conteúdos mais tradicionais, como leitura e matemática. Poderemos ter um ensino mais vanguardista somente quando sairmos da merda no mais básico.

Todos estes defeitos comprometem os programas de governo do PSOL para o Poder Executivo. Por isso, muita gente que vota no PSOL sabe que as propostas são inviáveis e que os candidatos não desejam realmente exercer o cargo para o qual concorrem, mas vota no 50 como um gesto simbólico, acreditando que um bom resultado para o PSOL pressiona o PT voltar mais para a esquerda. As exceções foram Marcelo Freixo concorrendo a prefeitura do Rio de Janeiro e o ex-prefeito de Belém Edmílson Rodriguez concorrendo novamente ao cargo em 2012. Os dois elaboraram programa viável com intenção de concorrer de verdade.

Considero que Luciana Genro está cometendo um erro quando defende uma nova constituinte. O Brasil atual não tem sindicatos e movimentos sociais tão fortes quanto tinha em 1988. As forças políticas reacionárias estão muito mais fortes hoje do que estavam naquele tempo. Uma Assembleia Constituinte eleita nos dias atuais não escreveria uma Carta com os mesmos direitos individuais, sociais e trabalhistas presentes na de 1988. Seria criada uma República Teocrática Evangélica, que de liberal só seria na economia.

Por outro lado, os deputados do PSOL têm atuação muito boa. Aí, no Legislativo, meu voto começa com 50 sem qualquer indício de dúvida. Como agora eu moro no Rio de Janeiro e transferi meu título, minha dúvida em 2014 foi apenas entre Jean Wyllys e Chico Alencar, os dois muito bons. Quase que precisei decidir na moedinha.



Se eu falei mal de partidos, quer dizer que eu odeio partidos, que partidos são ultrapassados, que política agora só dá para fazer com ação direta? Não, eu apenas estou insatisfeito com os partidos brasileiros na atualidade.
Na década de 1990, poderíamos dizer que era um luxo o brasileiro ter condição de escolher entre PT e PSDB. Eram dois partidos dois quais se podia falar bem. Muitos acreditaram que em 1994, escolher entre Fernando Henrique e Lula era escolher entre dois bons candidatos. O mesmo se podia falar em 2002, com Lula e Serra. Eu me lembro de que no meu primeiro voto para presidente, eu votei no Lula e não contra o Serra. Eu acreditava que se o Serra fosse eleito, também não seria ruim. Assim como muita gente que votou no Serra ficou com muita esperança de que o Lula pudesse fazer um bom governo.
Atualmente, é possível dizer que poder escolher entre PT e PSDB é uma desgraça. Um pouco porque os dois partidos pioraram, um pouco porque alguns defeitos desses partidos, que já existiam, vieram mais à tona.
O voto nulo em 2018 deve ser considerado como possibilidade. Sou contra campanhas por voto nulo em segundo turno, porque a neutralidade no momento torna-se impossível. Quem é de esquerda e prega o voto nulo ajuda o candidato de direita (porque só converte potenciais votos do candidato de esquerda em votos nulo) e quem é de direita e prega o voto nulo ajuda o candidato de esquerda. Por isso, é melhor que campanhas pelo voto nulo sejam feitas antes do primeiro turno.

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Cientista político deixa evidente o que escrevi há pouco: impicheiros são golpistas sim

Muito elucidativa a entrevista do cientista político Carlos Pereira na Folha de S. Paulo de hoje. Ele é defensor do impeachment. E ao apontar os motivos, deixa claro que o impeachment da Dilma seria sim um golpe.

Quando questionado sobre qual é o crime de responsabilidade da Dilma que justifica o impeachment, a resposta é equivalente a um "hmmm, sei lá, ah, foda-se, tem que ter impeachment e ponto final".
E sobre o fato da Constituição brasileira dizer expressamente que impeachment é para crime de responsabilidade cometido durante a vigência do mandato, a resposta foi algo como "ah, mas o Ives Gandra disse que não precisa ser assim"

Link para a entrevista
http://www1.folha.uol.com.br/poder/2015/08/1669557-apelar-a-moderacao-para-evitar-impeachment-e-erro-diz-pesquisador.shtml

domingo, 16 de agosto de 2015

Pega a sua opinião e enfia no meio do cu

Dizer "Beatles foi melhor do que Rolling Stones", ou o oposto, é opinião. Dizer que John Lennon era integrante dos Rolling Stones não é opinião. Quem diz isto simplesmente está falando merda. O que envolve julgamento de valor é aberto à opinião. O que envolve fatos não é aberto à opinião.
Óbvio que o exemplo do John Lennon nos Rolling Stones foi extremo. Ninguém chega a ser tão débil mental a ponto de afirmar que "na minha opinião, John Lennon era membro dos Rolling Stones". Mas há inúmeros exemplos de besteirol que são ditos como se fosse "na minha opinião". Besteirol cuja única resposta possível é "não é opinião, você simplesmente está errado e ponto final". A Internet multiplicou a divulgação de opinião que não é opinião. Eis alguns exemplos

Holocausto
Independente de qualquer opinião, o Holocausto aconteceu

Hitler na régua esquerda/direita
Você pode ter sua "opinião" de que Hitler era de esquerda porque seu partido tinha socialista no nome, usava bandeira vermelha e praticava intervenção do Estado na economia. Mas independente da sua "opinião", Hitler chegou ao poder em 1933 com apoio dos partidos conservadores, do mercado financeiro e do ex-kaiser e com a oposição de comunistas e social democratas.
Alguns ultraconservadores adotaram a estratégia de negar o Holocausto, outros de dizer que Hitler era de esquerda, para evitar que o conservadorismo fosse associado com uma coisa muito feia. Mas em ambos os casos, eles não apresentam "opinião diferente". Estão simplesmente falando merda.

Guerra Civil Norte Americana
Até mesmo nos dias atuais, há sulistas dos Estados Unidos que gostam de preservar o orgulho confederado. Para não parecer que isso é feio, decidiram que o motivo da Guerra Civil não foi escravidão. O problema é que independente da opinião desses sulistas, a escravidão é explicitamente mencionada nos documentos escritos dos estados que decidiram se separar da União.

Aquecimento global
Entre os que pesquisam o aquecimento global e escrevem artigos científicos sobre o tema, 97% consideram que a ação humana está causando o aquecimento global. Não, não vou afirmar que é certeza que isto realmente esteja ocorrendo, porque até a maioria de cientistas pode errar. Agora, se a ação humana está sendo responsável pelo aquecimento global, está sendo e ponto final, independente do fato da direita neocon norte americana e da esquerda nacionalista terceiro mundista considerarem que a constatação do aquecimento global não natural pode causar repercussão política ruim. Os cientistas do aquecimento global podem até estar errados (o que é pouco provável), mas isto é completamente desvinculado das opiniões políticas dos negadores.

Consumo de carne
Comer carne pode fazer bem ou fazer mal. Médicos têm opiniões diferentes sobre o assunto. Mas a opinião de ativistas vegan sobre as questões éticas vinculadas ao confinamento e abate de animais não tem relevância para determinar que comer carne faz mal. Como eu disse anteriormente, se comer carne é saudável ou não, quem milita pela causa de que matar animal não é ético tem isenção tão pequena para responder à pergunta quanto o extremo oposto, dono de frigorífico.

Políticas fiscais e monetárias anticíclicas
Em geral, quem defende um Estado de bem estar social grande acha que políticas fiscais e monetárias anticíclicas funcionam. Quem defende Estado mínimo acha que políticas fiscais e monetárias anticíclicas não funcionam. O problema é que manter uma rede de proteção social e fazer políticas de suavização de ciclos são papéis do Estado independentes um do outro. Tamanho da rede de proteção social depende de julgamento de valor, opinião neste caso é relevante. Mas funcionamento ou não de políticas anticíclicas não é questão de opinião, é objeto de pesquisa. A ciência econômica ainda não achou resposta definitiva para a pergunta porque não consegue fazer experimento de laboratório, afinal, Economia não é ciência exata. Mas ainda assim, não é questão de julgamento de valor. Não é a sua opinião sobre o tamanho do Estado que responde à pergunta sobre o uso do Estado para suavizar ciclo. É perfeitamente possível um defensor do Estado pequeno, percebendo que em determinada situação a política anticíclica funciona, fazer isso diminuindo impostos. E um defensor do Estado grande, percebendo que em determinada situação, política anticíclica não funciona, tributar muito e gastar muito, mas sem gerar déficit.

Existência de Deus
Deus existe? Não sei. Mas não é sua opinião sobre a importância da religião para a vida das pessoas que vai determinar a resposta para esta pergunta. Mesmo que você ache que a religião faz bem para as pessoas, Deus não vai existir só por causa disso.

Campeonato Brasileiro de 1987
Você pode achar que seria mais justo considerar o Flamengo o único campeão brasileiro de 1987, porque foi o que disputou o campeonato que tinha as maiores equipes do Brasil. Mas independente de sua opinião, a CBF é quem tem a competência de organizar o Campeonato Brasileiro e a CBF considerava até uns anos atrás que o Sport era o único campeão, e hoje considera que tanto o Sport, quanto o Flamengo são campeões. Então independente da sua opinião, o Sport continua campeão brasileiro de 1987.

Texto que me inspirou
http://www.houstonpress.com/arts/no-it-s-not-your-opinion-you-re-just-wrong-updated-7611752

A triste decadência da comunidade "Olavo de Carvalho nos Odeia"

O Orkut foi criado em janeiro de 2004. Já em junho daquele ano foi criada a comunidade "Eu odeio Olavo de Carvalho", com a tradicional figura do coelho comendo a galinha no mau sentido. Olavo de Carvalho já era conhecido naquele tempo por ter colunas no Globo, na Época. Seu rebanho ainda não tinha dominado a imprensa brasileira, mas suas bizarrices já eram conhecidas. Por isso, a comunidade cresceu rapidamente em número de membros. Pelo que eu lembro, chegou a ter em torno de 500 já no final de 2004, com aproximadamente 30 que habitualmente postavam e comentavam. Eu entrei na comunidade em seu primeiro mês de existência.
Não demorou muito para percebermos que ninguém lá odiava o Olavo de Carvalho, e sim achava-o engraçado. E o Orkut já estava infestado de comunidades "Eu odeio _____", com o _____ podendo ser bandas, celebridades, clubes esportivos. Essas comunidades "Eu odeio ____" eram as mais chatas do Orkut. Por isso, ainda em 2004, o nome foi mudado para "Olavo de Carvalho nos Odeia".
No início, os tópicos da comunidade eram quase todos feitos para esculachar os textos do Olavo de Carvalho. Havia pessoas de diferentes áreas de formação, que reconheciam facilmente quando o "filósofo" escrevia alguma groselha sobre sua área de formação. À medida que a comunidade crescia, tornavam-se mais frequentes tópicos sobre colunistas de direita em geral, política (muita política), artes, esportes. Sempre havia pessoas com muita cultural geral para discutir esses assuntos. A Olavo de Carvalho nos Odeia tornou-se um lugar divertido para debater qualquer tema.
Como Olavo de Carvalho é um ícone da direita, é óbvio que a esmagadora maioria dos odiados pelo Olavo eram de esquerda. Mas nem por isso a comunidade se tornou um "PT nos ama", "PCdoB nos ama", "PSOL nos ama". Não havia uma tendência dominante. A comunidade reunia diversas tendências de esquerda. Tinha marxistas-leninistas chamados de stalinistas pelos trotskistas, tinha marxistas-leninistas chamados de trotskistas pelos stalinistas, tinha anarquistas, tinha social-democratas, tinha também aqueles que eram simplesmente progressistas genéricos (ou líberual no sentido norte-americano). Tinha até mesmo não esquerdistas, mas opositores do conservadorismo olaviano. Nestes, incluem-se libertarians e seu extremo oposto, que é a Terceira Posição nacional bolchevique pan eurasianista. Briguinhas entre PT e PSOL sempre existiram, com um ou outro excesso, mas habitualmente havia um clima de respeito mútuo.
A Olavo de Carvalho nos Odeia, no tempo de Orkut, pegou duas eleições presidenciais brasileiras (2006 e 2010) e duas eleições presidenciais norte-americanas (2004 e 2008). Durante as eleições presidenciais norte-americanas, havia a divisão entre os que torciam para os democratas e os que achavam que era tudo a mesma bosta. Durante as eleições presidenciais brasileiras, tinha a turma do PT, a turma do PSOL no primeiro turno PT no segundo, e a turma do nulo no segundo. Mesmo no tempo em que a comunidade era boa, o período de eleições brasileiras sempre foi o mais chato, cheio de mimimi. Sempre tinha os petistas de cartilha que faziam birrinha contra o PSOL colocando a culpa no partido do 50 pelo fato de Lula/Dilma não terem vencido direto no primeiro turno. Uma grande burrice, uma vez que durante o segundo turno, tem que buscar ser aliado do PSOL e não praticar insultos. Mas passada a eleição, a chatice passava.
Outro fato interessante na história da comunidade nos tempos de Orkut eram as visitas ilustres. Rodrigo Constantino chegou a postar lá. Iniciou um tópico dizendo que "Hitler era keynesiano". Este tópico foi de pura estupidez, mas em outros, ele parecia estar querendo fisgar pessoas para sua ideologia. Foi durante o tempo em que ele estava brigado com seu mestre, que queria parecer libertário e que falava mal não só da esquerda, como também de direitistas tradicionais. Se tentou fisgar pessoas lá, saiu de mãos abanando.
A decadência da Olavo de Carvalho começou quando o Orkut foi gradualmente perdendo membros, que migravam para o Facebook. Chegou um determinado momento que a própria comunidade teve que migrar para o Facebook. O período de coexistência da comunidade no Orkut e no Facebook foi curto. Essa transição ocorreu entre 2010 e 2012. Não sei por qual motivo, quando a comunidade migrou para o Facebook, perdeu completamente o sentido original. Tornou-se predominante um grupo de fundamentalistas favoráveis ao PT e ao PCdoB que respondiam não com argumentação, mas com insultos àqueles que divergiam do governismo. Houve uma espiral, em que cada vez mais que havia tópicos governistas, mais pessoas que não gostavam do que estavam vendo saiam, e mais a comunidade ficava somente cheia de tópicos governistas. Apesar do nome "Olavo de Carvalho nos Odeia", parecia que a comunidade tinha se tornado uma "Dilma nos ama".
Ser favorável ao PT ou ao PCdoB não é um defeito em si. Muitos fazem isso com argumentos respeitáveis. O problema é que os remanescentes na Olavo de Carvalho nos Odeia do Facebook têm uma visão binária de que todo mundo que é de esquerda mas não é governista é trosko, palavra que é um apelido pejorativo para trotskista. O problema é que nem todo mundo que é de esquerda mas está insatisfeito com o governo Dilma é trotskista.
Falando de forma simplificada, há quatro tipos possíveis de esquerda no Brasil. Um é de social democratas que apoiam as políticas do PT e não defendem o governo de Cuba. Outro é de social democratas que romperam com o PT por causa de corrupção, erros na administração, e não defendem nem o governo do Brasil, nem o de Cuba. Outro é de marxistas leninistas que rejeitam o caminho social democrata do PT, e defendem o regime de Cuba. Pra mim, são os três tipos respeitáveis de esquerda. O que predomina na Olavo de Carvalho nos Odeia do Facebook é um quarto tipo, bizarro. O que se diz marxista leninista ortodoxo e defende o governo do PT, dizendo que o PT é marxista leninista ortodoxo e só faz um governo centrista porque a "correlação de forças" não permite avançar para a esquerda. A decorrência disso é que todo mundo que é de esquerda e fala mal do governo do Brasil e de Cuba é "trosko". Esses marxistas leninistas ortodoxos petistas pecedobistas são tão bizarros que conseguem ser mais realistas do que o rei para defender o realpolitik. Chegaram a dizer que o PT deveria apoiar a candidatura de Skaf em São Paulo em 2014 para tentar conseguir um apoio do PMDB a candidatura de Lindberg (desconhecimento completo da política fluminense). Alguns chegaram a defender que era melhor votar em Skaf, e não em Padilha, porque o homem da Fiesp tinha mais chance de derrotar Alckmin em um eventual segundo turno.
Para piorar, a quase totalidade destes marxistas leninistas ortodoxos petistas pecedobistas é composta por seres humanos com dois testículos. Um destes marxistas leninistas ortodoxos petistas pecedobistas, o pior de todos, se considera o defensor dos pobres e diz que o movimento feminista, se não for classista, é liberal pequeno burguês individualista elitista útil ao imperialismo. Tópicos depreciando feministas são recorrentes. Outro membro chegou a postar um tópico misógino contra a Sininho porque ela cometeu um "crime": participa de movimento social não subordinado ao PT/PCdoB.
Esses supostos defensores do PT fazem um insulto à história do partido, que nasceu defendendo o Solidariedade, criticando os regimes de partido único do Leste Europeu, introduzindo na esquerda brasileira pautas pós-1968, como feminismo, LGBT, ambientalismo. Os que dizem hoje que o PSOL, o PSTU e o PCB dividem a esquerda, que deveria se unir toda em torno do PT, diram nos anos 1980 que o PT divide a esquerda, que deveria se unir em torno do PMDB.
Irritados com o ultra governismo da Olavo de Carvalho nos Odeia, alguns ex-membros criaram a José Dirceu nos Odeia, que apesar da diferença de opinião política, acabou sendo tão raivosa quanto a "nave mãe". Ao invés do ultragovernismo, o ultraesquerdismo. Partem do pressuposto que governos podem eliminar a maldade no mundo por decreto, e só não fazem isso porque são maus.
Mas felizmente nem tudo está perdido. No início deste ano foi criada outra dissidência da Olavo de Carvalho nos Odeia que recebeu o nome irônico de "Isso aqui não é uma democracia". Esta sim, é uma comunidade do Facebook que resgata o espírito da "Olavo de Carvalho nos Odeia" dos tempos de Orkut. Um encontro pacífico entre diversas tendências de esquerda.

Senna ou Schumacher?

Um dos clássicos das discussões intermináveis. Lembra um pouco a situação do filme "Obrigado por fumar", em que o menino aprende retórica com o pai lobista. Argumentos sempre existem para todos os lados e todos os gostos. E sempre continuarão existindo. Cada argumento sempre terá um contra-argumento. Por isso as discussões são intermináveis.
Alguns dos que acham que o melhor foi o Senna são os malas conhecidos como "as viúvas do Senna". Para eles, a Fórmula 1 era irrelevante antes de 1984 e depois de 1994. Senna era o herói e seus adversários eram os vilões. Todos conspiravam contra o piloto do capacete amarelo. A diferença de equipamento só era relevante na determinação dos resultados quando o do Senna não era o melhor. Só são lembradas as corridas dificílimas que Senna venceu, como o GP do Brasil em 1991, quando faltavam marchas e o mesmo GP em 1993, quando a chuva permitiu que a McLaren de Senna superasse a Williams de Prost e Hill. Mas são esquecidas as corridas fáceis que Senna desperdiçou, como o GP do Brasil de 1990, que estava praticamente ganho até Senna ter se enroscado com Nakajima. O GP do Japão de 1988 foi o copo meio cheio meio vazio. Senna ganhou depois de ter ficado lá atrás na largada. Mas Senna só ficou lá atrás na largada por causa de uma falha humana. Quem pensa como as viúvas do Senna poderia refletir: "Não escolhi nascer no Brasil. Se eu tivesse nascido em outro país, eu pensaria da mesma forma?"
Mesmo não sendo viúva do Senna, é perfeitamente possível pensar que ele foi o melhor. Argumentos não faltam. Mas também é possível pensar que Schumacher foi o melhor. Argumentos não faltam. É possível também falar de Alain Prost, Jack Stewart, Jim Clark, Nicki Lauda, Juan Manuel Fangio. Mas vamos pensar no brasileiro e no alemão, para não complicar.
Schumacher é recordista em vitórias e títulos. Não ganha do Senna de 7 a 1, mas ganha de 7 a 3. O número de vitórias de Schumacher é a soma do número de vitórias de Senna com o número de vitórias de Prost. Mas quem defende o Senna tem muitos argumentos para rebater. Schumacher já pegou a era que tinha mais de 16 corridas por ano. Senna só não teve mais conquistas porque sua carreira foi encerrada de forma trágica, da qual ele não tem culpa. Schumacher teve a sorte de pegar uma entre safra da Fórmula 1. Não teve adversários fortes. Seus principais adversários foram Hill, Villeneuve, Hakkinen, Barrichello, Montoya e o próprio irmão, que não são sombra de Senna, Prost, Piquet e Mansell, nem de Hamilton e Vettel. Tanto que bastou Alonso chegar para já superar o Schumacher.
Comparando o desempenho de Schumacher e Senna nas corridas em que ambos disputaram, que ocorreram entre o GP da Bélgica de 1991 e o GP de San Marino de 1994, Senna tem uma leve vantagem em pontos. Os sennistas ainda acrescentariam que, em 1993, tanto a McLaren de Senna, quanto a Benetton de Schumacher, tinham o motor Ford, e por contrato, a Ford tinha que fornecer motores melhores para a Benetton. Os defensores de Schumacher diriam que carro não é só motor, e que a vantagem de pontos de Senna em comparação com Schumacher foi obtida quando a McLaren tinha controle de tração e a Benetton não. Também podem dizer que Schumacher era muito novo, e que resultados não muito bons no início de carreira são acontecimento normal. Tanto que se desconsiderar o memorável GP de Mônaco, Senna não fez uma boa temporada em 1984, e a Toleman não era equipe de ponta, mas também não era uma carroça.
Os defensores de Senna podem argumentar que as vitórias de Schumacher, a quase totalidade delas na era no reabastecimento, eram sem graça, que ele só ganhava de ponta a ponta ou decidia naquelas duas voltas que antecediam a parada no box, enquanto que o Senna teve vitórias épicas. Os defensores de Schumacher dirão que o alemão teve muitas vitórias sem graça porque teve muitas vitórias, mas que entre as 91 vitórias, também houve algumas épicas, em que ele ganhou na chuva, ganhou tendo ficado atrás e fazendo muitas ultrapassagens, ganhou com carro inferior.
Senna fez algumas cagadas durante sua carreira. Schumacher também.
Em resumo, conforme dito no início do texto, tem argumento e contra-argumento pra todo lado.
Ainda assim, entre os dois, eu tenho leve propensão a considerar que Schumacher foi o melhor. Aceito a hipótese de que no cockpit, um era tão bom quanto o outro. Tanto Senna quanto Schumacher eram muito talentosos e muito esforçados para extrair o máximo de seus equipamentos. Mas não é apenas o que é feito no cockpit que determina o sucesso de um piloto. É aí que entra o diferencial do Schumacher. O alemão tinha mais capacidade de desenvolver um trabalho de longo prazo com a equipe. Quando Senna não tinha o melhor carro, ele conseguia diminuir no braço a diferença com as equipes de ponta. Mas ele pouco colaborou para que suas equipes tivessem os melhores carros. O caminho do Senna foi sempre de mudar para uma equipe com carro melhor. Da Toleman para a Lotus, da Lotus para a McLaren, da McLaren para a Williams. O caminho do Schumacher foi sempre fazer a equipe ter um carro melhor. Tanto que quando Schumacher estreou na Fórmula 1, a Benetton era uma equipe intermediária. Passou a ser uma equipe de ponta. Quando foi para a Ferrari em 1996, a equipe italiana tinha nome, torcida e charme, mas não fazia o melhor carro da Fórmula 1 havia muito tempo. Seu último título de pilotos tinha ocorrido em 1979. Depois de anos de trabalho, a Ferrari virou a equipe com melhor carro, situação que durou não muito tempo. Depois do capítulo final de sua carreira em 2006, Schumacher ainda teve um epílogo entre 2010 e 2012 com a Mercedes, em que ele ajudou a criar uma nova equipe grande.
Alguns responderão: pô, eu estou discutindo quem era o melhor piloto e não quem era o melhor gerente! Aí eu respondo que para ser um piloto de Fórmula 1, não basta apenas ser piloto, e que outras habilidades também contam, não podendo ficar fora da comparação. Acredito que comparando apenas a pilotagem, Senna era melhor que Piquet. Mas Piquet era melhor mecânico. Aí os dois brasileiros se equilibravam.

Por fim, para divertir, algumas profecias de Galvão Bueno sobre Schumacher
https://www.youtube.com/watch?v=o6Crr7WXZd0 9:20
https://www.youtube.com/watch?v=axb9-UXlbuI
https://www.youtube.com/watch?v=lfgnoR1kVNw

Depois, pra se redimir, Galvão virou mó puxa saco do alemão!

sábado, 15 de agosto de 2015

Os impicheiros são golpistas sim

O que me leva a acreditar que um eventual impeachment da Dilma seria sim um golpe? A falta de motivos? Não, seria o excesso de motivos. Se houvesse um motivo realmente sério, não seria necessário fazer uma lista tão grande de motivos. Todos bem fajutos. Os impicheiros se comportam igual a pseudo cientistas, aqueles que chegam à conclusão antes de começarem a pesquisa. No caso, eles primeiro chegaram à conclusão de que tem que ter impeachment, depois vão atrás do porquê.
Cogita-se impeachment desde 26 de outubro de 2014, ou até mesmo antes. O que ocorre é fácil de explicar: grupos políticos e econômicos com propostas que dificilmente entrariam no Palácio do Planalto pela porta da frente querem arrumar uma maneira de entrar pela porta dos fundos (não estou falando do humorístico). Desta forma, multiplicam-se motivos fajutos para deslegitimar a eleição e o mandato da Dilma.
Antes e logo após o segundo turno, Alberto Goldman e Fernando Henrique Cardoso insinuaram, sem dizer explicitamente, que a eleição da Dilma valia menos porque os votos dela foram de pessoas que valiam menos, ou seja, os mais pobres. Depois, o PSDB chegou a pedir pro TSE diplomar o Aécio como presidente, que teve 51 milhões de votos, 3,5 milhões a menos do que Dilma. Alegou-se que a eleição da Dilma era inválida por causa do uso dos correios de Minas Gerais. Depois, chegou a ser mencionado que Dilma deveria ser responsabilizada pela decisão de comprar a refinaria em Pasadena, no tempo em que ela era do conselho da Petrobras. O problema é que impeachment só vale para crimes de responsabilidade que o titular de um cargo comete quando ele tem este cargo. E se o OK à compra da refinaria fosse crime, o presidente da Editora Abril também é criminoso, pois ele também era do conselho e aprovou a compra. Depois falaram que a eleição da Dilma em 2010 teria que ser considerada inválida, pois a campanha recebeu dinheiro de propina da Petrobras. Este argumento também não rola porque o prazo para considerar a campanha válida ou não expirou. O mandato dos vencedores do pleito de 2010 terminou em 1 de janeiro de 2015. Como qualquer tentativa de condenar a Dilma por crime de responsabilidade relacionado ao escândalo da Petrobras é tentativa de achar pelo em ovo e não encontra qualquer respaldo legal, encontraram um pretexto completamente distinto, as pedaladas. O julgamento por causa da gambiarra no orçamento de 2014 pode até ter respaldo legal. O problema é que isso é a mesma coisa que prender um pai de família que serviu vinho para seu filho de 15 anos de idade. Se julgar uma pessoa por causa disso, vai ter que julgar uma penca de gente, vai virar um precedente muito ruim.
Alguns podem perguntar: vale a pena a esquerda defender a manutenção de um governo que não a representa? Governo de Joaquim Levy e Kátia Abreu? A resposta para esta pergunta é outra pergunta: o que o cu tem a ver com as calças? Podemos rejeitar este governo e ainda assim considerar golpe a tentativa de perverter o uso do impeachment, instrumento previsto pela constituição presidencialista para afastar titulares de cargos públicos que cometem crimes de responsabilidade durante exercício de seus cargos, tentando utilizá-lo como um voto de desconfiança do parlamentarismo, não previsto em nossa constituição.
Agora querem que fale mais de politiquês e menos de juridiquês? Não vejo vantagem nem para a oposição de esquerda ver o Brasil governado por Michel Temer, ou governado temporariamente por Eduardo Cunha até a eleição tampão do Aécio.
Parte da direita quer o impeachment porque sabe que a economia pode se recuperar até 2018, que muitas grandes obras serão inauguradas até lá, e que mesmo provavelmente sendo a favorita para o pleito de 2018, teria que suavizar o programa, fazendo às avessas o que Lula fez em 2002. Um impeachment agora permitiria a aplicação de um programa anti-popular por Michel Temer, Eduardo Cunha ou Aécio que em circunstâncias normais seria rejeitado pelas urnas. Em uma eleição tampão no início de 2016, Aécio estaria em condições bem mais favoráveis do que estaria em 2018, e teria, portanto, que fazer muito menos concessões.
A troca de governo agora, no fundo do poço da crise, daria a impressão que o PMDB ou o PSDB salvaram o Brasil, e daria hegemonia para um desses partidos para os próximos 30 anos.
Outra parte da direita quer manter a ameaça de impeachment como uma chantagem para a Dilma implantar um programa que sua base de apoio não deseja.
E um esclarecimento: gritar "Fora Dilma" é golpismo? Como eu disse em um post há alguns dias, pessoas comuns gritarem "fora Dilma" não é golpismo, é manifestação legítima de indignação. A própria esquerda adora gritar "Fora ...". Golpismo é políticos tentarem impeachment.
Sabemos que a rejeição a Dilma é generalizada em todas as regiões e classes sociais, que aproximadamente dois terços dos eleitores atualmente apoiam o impeachment. Mas não é possível dizer que Dilma deve ser punida por ter frustrado SEUS eleitores. Embora até muitos destes digam que apoiam o impeachment quando o entrevistador lhes pergunta, quem está realmente se mobilizando a favor do impeachment é quem NÃO votou nela.

Outra pergunta que alguns fazem: o PSDB não estaria apenas fingindo ser favorável ao impeachment apenas para não perder o canal de comunicação com grupos de extrema-direita, que sem esses canais de comunicação poderiam ser hostis também ao PSDB? Talvez. Mas é importante lembrar, como eu fiz em alguns posts deste blog, essa extrema-direita supostamente apartidária foi alimentada em grande parte pelo PSDB. É o partido do governo de São Paulo, que assina e anunciava na Veja. É o partido responsável por encher a TV Cultura de jornalistas da Veja, comprometendo a histórica qualidade do canal, e transformando-o em uma Fox News tupiniquim. É o partido para o qual Reinaldo Azevedo trabalhava mesmo antes dele ter virado neocon. É o partido dos economistas que mantém o Instituto Millenium, aquele que também tem agrega colunistas raivosos de direita. É o partido de alguns integrantes do "Vem pra rua".

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Privatização de serviços

Quando as privatizações começaram a ser debatidas no Brasil no final da década de 1980, diziam que deveriam ser privatizadas as atividades de siderurgia, mineração, energia e telecomunicações porque estas não eram atividades típicas de Estado, e, livrando deste peso, o Estado poderia cuidar melhor de suas atividades típicas, como educação e saúde.
Pois bem, passada essa fase, agora, sobre educação, fala-se em charter schools, vouchers, gestão de escolas públicas a cargo de empresas privadas. E agora, na saúde, estão querendo acabar com o conceito do SUS de atendimento universal.
Talvez, o propósito desde aquele tempo não era "deixar o Estado menos sobrecarregado para cuidar melhor de suas atividades típicas".

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

A trans crucificada e a Charlie Hebdo

Domingo, 09 de Agosto de 2015 - 10:00

‘Crucificada’ em Parada LGBT de SP, travesti é esfaqueada por ‘não ser de Deus’

http://www.bahianoticias.com.br/noticia/176852-crucificada-em-para-parada-lgbt-de-sp-travesti-e-esfaqueada-por-nao-ser-de-deus.html

É, ...
essa vai especialmente pros "defensores da tolerância" que decidiram culpar as vítimas pelo atentado à Charlie Hebdo.
Parabéns a esses merdas, conseguiram ser influentes

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Merval Pereira e a bomba

Quando algum grupo político sofre algum ato violento, a reação mais habitual é reagir com ataques verbais a qualquer um que não goste deste grupo, mesmo os que não gostam por motivos justos e não praticam violência. Isso é uma prática muito antiga, vem desde os tempos do incêndio de Roma (embora a reação neste caso não tenha sido apenas verbal). Essa forma de reação pode ter seus defeitos, mas também tem seu lado positivo. Impõe a necessidade de todos manifestarem repúdio à violência em alto e bom som. Por exemplo, foi correto exigir que os muçulmanos manifestassem condenação ao ataque à Charlie Hebdo, para evitar vínculo entre a religião e os terroristas.
Em dois casos recentes no Brasil, envolvendo grupos políticos opostos, verificamos esta prática. No ano passado, às vésperas do segundo turno, o prédio da Abril foi pichado e emporcalhado por militantes da UJS. Isso serviu de pretexto para que simpatizantes da ideologia da Veja tentassem criminalizar até quem pacificamente repudia a revista por motivos justos. Há uma semana, o prédio do Instituto Lula foi atacado com uma bomba de fabricação caseira. Aí os petistas resolveram apontar o dedo pra quem odeia o PT, incluindo aqueles que não participaram do ataque e que odeiam por motivos justos. Até aí, nenhuma novidade.
Novidade mesmo foi Merval Pereira, em um jornal de grande circulação, ter acusado o próprio PT de ter causado o ataque, para fazer exploração política do episódio. Ele não foi explícito, mas mencionou esta possibilidade. Não faz diferença, o efeito é o mesmo. Induz seus leitores a acreditarem nesta teoria. É pouco provável que esta teoria seja verdadeira, porque já foi o terceiro ataque a prédios do PT. Além disso, houve muitas agressões físicas a pessoas portando estrelas vermelhas durante a campanha eleitoral. Nem Gregório Duvivier foi poupado. É difícil imaginar que o PT tenha um staff tão grande só para atacar a si mesmo e se fazer de vítima. Ainda assim, as pessoas têm o direito de ter suas desconfianças e expressa-las oralmente na presença de familiares e amigos. Mas escrever essas coisas em jornal de grande circulação não é muito ético.
Outro questionamento que eu tenho ao Merval Pereira é: se a casa dele tivesse sido atacada por uma bombinha e um pequeno rombo tivesse aparecido na porta, será que ele escreveria uma coluna no jornal minimizando a importância do episódio?
Outra parte do texto do Merval a ser comentada é quando ele fala que são minoritários os manifestantes anti-Dilma que pedem a volta dos militares. São minoritários, mas não dá pra fingir que o Globo não tem a ver com isso. Esses "minoritários" que pedem a volta dos militares tiveram suas cabeças moldadas pelo "filósofo" Olavo de Carvalho. E este "filósofo" só é conhecido porque ele publica colunas no Globo e na Época, revista que pertence ao mesmo grupo empresarial. Olavo dizia que só membros da luta armada foram mortos pela ditadura militar, que só havia censura para propaganda da luta armada. Isto não é opinião. Isto é mentira. Rubens Paiva, Vladimir Herzog e outros foram assassinados independentemente de qualquer "opinião" proferida pelo Olavo de Carvalho. Aconteceu e pronto. As mentiras do "filósofo" moldaram as cabeças da molecada. O Globo e a Época têm responsabilidade nisso. Se não quisessem que existissem crianças defendendo o regime militar em passeatas, que podem ser utilizadas pelos petistas para deslegitimar "justas manifestações", poderiam ter pensado duas vezes antes de ter dado espaço a Olavo de Carvalho.
Em poucas palavras: Merval Pereira escreveu um monte de merda. Portanto, ele deveria enfiar no meio do cu o computador que ele usou para escrever sua coluna.

terça-feira, 4 de agosto de 2015

Regulação da mídia

Regulação da mídia é uma pauta importante. Não é censura. Acontece nos países civilizados. É lesivo para a concorrência e para a qualidade da informação que um mesmo grupo empresarial tenha TV aberta, canais de TV por assinatura, serviço de vendas de pacotes de canais de TV por assinatura, rádio, jornal, revistas, livros escolares, gravadora musical e produção de cinema. O Brasil já regula outros setores naturalmente oligopolizados: eletricidade, telefonia, transportes, planos de saúde e petróleo. Falta a mídia.
Mas que no meio dos proponentes da regulação da mídia tem uns poucos que defendem coisas parecidas com censura, ah, isso tem. Dá pra perceber no contexto em que aparecem sugestões de regulação da mídia. É preciso separar as frutas podres das frutas boas, para que o debate não fique confuso.