sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

O que os estúpidos de extrema-esquerda e extrema-direita têm em comum?

Ambos enxergam Franklin Martins e Cesare Battisti em posição de igualdade.

Espiritismo saiu do armário, e a umbanda?

Diz esta matéria

Espiritismo saiu do armário, e a umbanda? Lista traz 100 livros sobre religião afro
O espiritismo saiu do armário em 2010 com uma série de lançamentos de filmes e livros. No maior país católico do mundo, que testemunhou o avanço evangélico nesta década, já não causa mais tanto escândalo declarar ser seguidor de outras crenças. Mas depois da doutrina do médium Chico Xavier, qual será a próxima religião no Brasil a dar a cara para bater?
Nas livrarias, as religiões afro-brasileiras ganham cada vez mais espaço e atenção dos leitores.

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http://www1.folha.uol.com.br/livrariadafolha/852557-espiritismo-saiu-do-armario-e-a-umbanda-lista-traz-100-livros-sobre-religiao-afro.shtml

Resposta minha: o espiritismo saiu do armário, a umbanda saiu do armário, o judaísmo saiu do armário, o islamismo saiu do armário. No Brasil não existe ódio contra qualquer religião, mesmo as não cristãs. No Brasil persiste o ódio apenas contra quem não tem religião. As eleições majoritárias continuam valendo uma missa.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

O melhor álbum de rock da década de 2000


Não sou crítico musical e não pretendo emitir uma opinião especializada ou objetiva. Qualquer lista ou escolha de tops que se pretende ser objetiva gera muito mimimi. O mesmo não vale para simples opiniões pessoais, baseadas no próprio gosto.
Então, subjetivamente, considero A Woman A Man Walked By, da cantora inglesa Polly Jean Harvey, produzido em parceria com o compositor e multi-instrumentista John Parish, o melhor álbum de rock da década de 2000.
Neste decênio, foram lançados vários bons álbuns de rock. Podemos falar do Elephant (White Stripes), do You Could Have It So Much Better (Franz Ferdinand), do Accelerate (REM), do Aha Shake Heartbkreak (Kings of Leon) e de muitos outros. Mas o que diferencia o A Woman A Man Walked By dos outros é que este é um dos poucos álbuns com A maiúsculo lançados na era do MP3. Os outros são amontoados de boas músicas.
Este álbum é menos melhor do que os meus favoritos de décadas anteriores. No topo dos anos 60, eu colocaria o Sgt. Peppers dos Beatles. No topo dos anos 70, eu colocaria o Dark Side of the Moon do Pink Floyd. No topo dos anos 80, eu colocaria o Rattle and Hum do U2. Quanto aos anos 90, sou dividido. Meu coração opta pelo Ten, do Pearl Jam, e minha cabeça opta pelo OK Computer, do Radiohead.
A PJ é muito menos conhecida do que estes mencionados, porém, apresenta algumas vantagens em relação a alguns destes. Compare-se com Pearl Jam. Tanto o PJ de Seattle quanto o PJ da Inglaterra iniciaram suas carreiras em 1991. O PJ de Seattle foi certamente muito maior durante sua fase de auge. Porém, o PJ de Seattle esgotou sua criatividade em 1998, enquanto o PJ da Inglaterra a mantém até os dias atuais.
Um benefício colateral que ouvir PJ Harvey trouxe para mim foi aumentar o interesse pelo rock com vocal feminino produzido nos anos recentes. Yeah Yeah Yeahs, The Kills e Le Tigre são boas bandas.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Celso Amorin, o sexto maior pensador global de 2010

A Revista Foreign Policy fez uma lista dos 100 maiores pensadores globais de 2010. Quem ficou no topo foram Warren Buffett e Bill Gates. Na sexta posição ficou Celso Amorin.


6. Celso Amorim
for transforming Brazil into a global player.
Foreign minister Brazil
Celso Amorim wouldn't crack a smile at the old canard that Brazil is the country of the future, and always will be. The wily and urbane Brazilian diplomat, finishing off his second term as foreign minister, has done his utmost to make his country an international powerhouse -- right now.


continua em
http://www.foreignpolicy.com/articles/2010/11/29/the_fp_top_100_global_thinkers?page=0,5

domingo, 19 de dezembro de 2010

A atualidade do texto de Marx de 1853 sobre a Índia

Neste início de século XXI, vemos muita gente que se considera de esquerda tolerando a existência de práticas sociais cruéis em ambientes onde vigoram culturas não-ocidentais. Tudo isso em nome do anti-imperialismo e da suposta aceitação à diversidade cultural. A indignação a estas práticas tendem a gerar acusações de pró-colonialismo ou tentativa de ocidentalização forçada.
Marx não pensava assim. Em um artigo de jornal publicado em 1853, o filósofo-economista de Trier mostrava os danos que a colonizaçãobritânica havia causado à Índia. Porém, Marx não deixou de demonstrar como as tradições culturais indianas antes da colonização eram opressoras. E enxergou que embora a colonização tivesse sido motivada por interesses abjetos, teve como efeito colateral positivo o desmantelamento da estrutura social da Índia.

Vale a pena ler o texto
http://www.marxists.org/portugues/marx/1853/06/10.htm


Destaque para os parágrafos finais

Ora, por mais triste que seja do ponto de vista dos sentimentos humanos ver essas miríades de organizações sociais patriarcais, inofensivas e laboriosas se dissolverem, se desagregarem em seus elementos constitutivos e serem reduzidas à miséria, e seus membros perderem ao mesmo tempo sua antiga forma de civilização e seus meios de subsistência tradicionais, não devemos esquecer que essas comunidades villageoisies idílicas, malgrado seu aspecto inofensivo, foram sempre uma fundação sólida do despotismo oriental, que elas retém a razão humana num quadro extremamente estreito, fazendo dela um instrumento dócil da superstição e a escrava de regras admitidas, esvaziando-a de toda grandeza e de toda força histórica. Não devemos esquecer os bárbaros que, apegados egoisticamente ao seu miserável lote de terra, observam com calma a ruina dos impérios, as crueldades sem nome, o massacre da população das grandes cidades, não lhes dedicando mais atenção do que aos fenômenos naturais, sendo eles mesmos vítimas de todo agressor que se dignasse a notá-los. Não devemos esquecer que a vida vegetativa, estagante, indigna, que esse gênero de existência passiva desencadeia, por outra parte e como contragolpe, forças de destruição cegas e selvagens, fazendo da morte um rito religioso no Hindustão. Não devemos esquecer que essas pequenas comunidades carregavam a marca infame das castas e da escravidão, que elas submetiam o homem a circunstâncias exteriores em lugar de fazê-lo rei das circunstâncias, que elas faziam de um estado social em desenvolvimento expontâneo uma fatalidade toda poderosa, origem de um culto grosseiro da natureza cujo caráter degradante se traduzia no fato de que o homem, mestre da natureza, caia de joelhos e adorava Hanumán, o macaco, e Sabbala, a vaca.
É verdade que a Inglaterra, ao provocar uma revolução social no Hidustão, era guiada pelos interesses mais abjectos e agia de uma maneira estúpida para atingir seus objetivos. Mas a questão não é essa. Trata-se de saber se a humanidade pode cumprir seu destino sem uma revolução fundamental na situação social da Ásia. Senão, quaisquer que fossem os crimes da Inglaterra, ela foi um instrumento da História ao provocar esta revolução. Nesse caso, diante de qualquer tristeza que possamos sentir diante do espetáculo do colapso de um mundo antigo, temos o direito de exclamar como
Goethe: "Deve esta dor nos atormentarjá que ela nosso proveito aumenta,O jugo de Timur não consumiumiríades de vidas humanas?(Goethe, Westostlicher Diwan. An suleika.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

A defesa de tese de Aloizio Mercadante

Nesta sexta-feira, o futuro ex-senador e futuro Ministro de Ciência e Tecnologia Aloysio Mercadante defendeu sua tese de doutorado no Instituto de Economia da Unicamp. Seu trabalho foi um balanço dos oito anos de governo Lula, classificado pelo senador como um período de "novo desenvolvimentismo".
Nunca na história desta República uma defesa de tese havia recebido um público tão elevado. Todas as cadeiras do auditório do Instituto do Economia da Unicamp foram ocupadas. Algumas pessoas se espremeram de pé nos corredores. Outras pessoas viram o evento no telão instalado no saguão do prédio do IE.
Quem atraiu um elevado público foi não apenas o candidato a doutor (que já tem o poder de sozinho atrair um grande número de pessoas para palestras), como também a composição prevista da banca, que incluia João Manuel Cardoso de Mello, Maria da Conceição Tavares, Luiz Carlos Bresser-Pereira e Antônio Delfim Netto. Isto é para os fãs de economia o mesmo que uma partida entre Gustavo Kuerten e Andre Agassi é para os fãs de tênis.
Maria da Conceição Tavares não pode comparecer por causa de uma gripe. Ricardo Abramovay a substituiu. Foi uma perda e um ganho. A banca perdeu o conhecimento, a sabedoria, o humor e os divertidos palavrões da Conceição, mas ganhou pluralidade. Os quatro membros originais tinham orientações partidárias diferentes e haviam participado de governos diferentes, mas todos eles eram desenvolvimentistas e seguiam alguma orientação keynesiana. Escalados para avaliar um trabalho de um desenvolvimentista com orientação keynesiana. Ricardo Abramovay, embora não seja um liberal puro, sai um pouco da linha dos outros três.
Em sua exposição de 45 minutos, Mercadante defendeu que o governo Lula se diferenciou tanto do velho nacional-desenvolvimentismo de 1930-1980 quanto do neoliberalismo de Collor e Fernando Henrique Cardoso. Os quatro eixos principais do governo Lula teriam sido o estabelecimento de um modelo de desenvolvimento econômico comandado pelo desenvolvimento social, em que a economia seria puxada por um mercado de consumo de massas; o fortalecimento da democracia; a inserção externa soberana, e a nova política energética (principalmente com a descoberta do pré-sal). Mercadante também discutiu as políticas macroeconômica, científica, ambiental e educacional do governo Lula e ainda falou de prioridades a serem tratadas pelo próximo governo.
Os quatro avaliadores avaliaram positivamente a tese, assim como avaliam positivamente o governo Lula. Apesar disso, os quatro observaram discretamente que o trabalho procurou evidenciar muito mais os aspectos positivos do que os negativos do governo Lula e que exagerou ao ver 2002 como um ano de ruptura, negligenciando o que havia sido feito de continuidade a governos anteriores. Também foi destacada a conjuntura internacional favorável que vigorou até 2008, principalmente por causa do crescimento da China. Mas como a banca era composta por pessoas qualificadas, ninguém falou que tudo de bom que ocorreu no governo Lula foi resultado do governo FHC.
O próprio Mercadante reconheceu que é impossível separar totalmente o histórico militante do PT que ajudou a escrever o programa de governo do Lula desde 1989 e que foi um grande líder do governo no Senado e o acadêmico que vai fazer um trabalho de análise do governo de seu partido.
Como afirmou Delfim Netto, economistas entendem de diferenciar o produto para vendê-lo mais caro. Quase todos fazem isso. Ao comentar a avaliação de Mercadante da política científica e tecnológica do governo Lula, Delfim Netto afirmou que a Embrapa já existia desde 1970 e a Embraer desde 1967. Também afirmou que a despeito do crescimento absoluto das exportações no atual governo, as exportações brasileiras hoje equivalem a 1,3% das exportações mundiais e que isto já ocorria em 1980-1984. Bresser-Pereira lamentou a não continuidade da sua reforma de 1995.
A principal crítica de Delfim Netto à tese de Mercadante foi a de considerar que o desenvolvimento alicerçado no social teria iniciado no governo Lula. Para o ex-ministro, o modelo social teria iniciado com a Constituição de 1988. Bresser-Pereira falou da falta de abordagem teórica da tese. Abramovay reclamou que a tese foi muito pessimista (e às vezes contraditória) em relação às privatizações de FHC e observou que foi negligenciado que não só a esquerda, mas as forças políticas chamadas de neoliberais, também lutaram pela redemocratização do Brasil. João Manuel Cardoso de Mello sugeriu um texto mais curto, abordando menos temas, porém, de uma forma mais aprofundada.
No geral, a apresentação de Mercadante foi muito boa, os comentários da banca também, e o mesmo vale para as réplicas. O único problema a ser mencionado foi o clima de chá de comadres. Discussão com civilidade é muito importante para elevar a qualidade intelectual do país. Porém, fazer enormes elogios ao candidato ou a outros integrantes da banca antes de cada crítica ou manifestação de discordância já vira puxa-saquismo.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

A transferência do poder



Uma imagem sobre a transição de um governo para o outro.

Fiz no Paint. Não tenho Photoshop.

As formas criativas de participação popular online na administração de Hamburgo

Desde meados dos anos 90, algumas cidades da Europa vêm promovendo a participação popular na elaboração do orçamento municipal. Muitas destas cidades se inspiraram no modelo do orçamento participativo de Porto Alegre e adotaram procedimento semelhante. O acréscimo que as cidades européias forneceram foi o uso de tecnologias da informação. Embora exista esta ferramenta nova, ela é, na maioria das cidades, utilizada para atividades tradicionais do ciclo de elaboração do orçamento participativo: coleta de demandas dos cidadãos, discussão destas demandas, votação de uma lista de demandas prioritárias. As cidades que adotam o orçamento participativo online contraram empresas de tecnologia que fornecem uma plataforma eletrônica para as mencionadas atividades.
A cidade de Hamburgo, na Alemanha, fez um programa diferente de participação popular online, o
Bürgerbeteiligung an der Haushaltplannung. Nessa cidade, o foco não é criar uma lista de obras públicas prioritárias. Os participantes debatem formas de alocar os recursos com mais eficiência, evitar gastos desnecessários e investir em projetos que levam retorno econômico à cidade. O programa não ocorre anualmente e não discute o orçamento anual. O objetivo é debater mudanças de longo prazo no perfil do gasto público da cidade.
A criação do Bürgerbeteiligung an der Haushaltplannung teve início em 2005, quando uma comissão composta por legisladores da cidade contratou uma empresa de projetos de participação na Internet. Esta empresa, em parceria com a Universidade Técnica de Hamburgo, criou uma plataforma eletrônica chamada DEMOS.
O primeiro ciclo de participação ocorreu em abril e maio de 2006. Na primeira etapa, os participantes criaram e debateram tópicos em um fórum online disponibilizado no DEMOS. A medida em que assuntos apareciam, eles eram debatidos com mais profundidade em sub-fóruns. Propostas que aparecerm nos sub-fóruns foram sistematizadas em documentos criados em conjunto pelos participantes no DEMOS, através de wikis (o exemplo mais conhecido no mundo de elaboração de textos por wiki é a Wikipedia). Modificações finais nos documentos wiki foram discutidas no fórum principal, ao final da etapa de participação. As discussões online e as sistematizações de sugestões foram auxiliadas por moderadores.
Outra novidade disponibilizada pelo DEMOS foi o "calculador de orçamento". Nele, os participantes podem sugerir modificações de prioridades gasto da administração da cidade por tema (educação, saúde, policiamento, ciência e tecnologia, trânsito, cultura, esportes). Só é possível sugerir aumento no gasto em um tema se sugerir correspondente redução em outros. O calculador indica o quando exato deve ser cortado em saúde, cultura, esportes etc para elevar uma certa quantidade em educação. O objetivo do "calculador de orçamento" é conscientizar os cidadãos de que os recursos são limitados e que, portanto, não é possível ter mais de tudo.
Apesar de inovador, o Bürgerbeteiligung an der Haushaltplannung não foi um sucesso de público. Em 2006, apenas 2870 pessoas participaram. Isto corresponde a 0,16% da população da cidade. Em cidades alemãs que adotam métodos mais simples de orçamento participativo, o total de participantes atinge por volta de 1% do total da população da cidade. Além disso, o perfil dos participantes é diferente do perfil da população da cidade como um todo. Há uma participação desproporcional de homens (85% dos participantes), jovens (76%), com educação superior (75%).
Ao todo, foram criados 1228 tópicos no fórum. Estes tópicos foram sistematizados em 38 sugestões concretas. Cada uma delas recebeu um documento em wiki contendo descrição, formas de implementação, prós e contras, e nome dos autores. Das 38 sugestões, 7 eram relativas a projetos de investimento, 4 eram relativas a criação, aumento e redução de impostos, 5 eram relativas a aumento ou redução do papel do governo local em determinados temas, 15 eram relativas a reduções de custos e 7 eram relativas ao aumento da eficiência na administração. No "calculador de orçamento", a maioria dos participantes sugeriu aumento dos gastos em educação, atendimento às crianças e ciência, e redução dos gastos em policiamento, esportes, cultura, justiça, integração, família, meio ambiente, trânsito e saúde.
A comissão de orçamento da casa legislativa de Hamburgo e os demais integrantes da casa apenas revelaram que tomaram conhecimento das propostas do Bürgerbeteiligung an der Haushaltplannung, mas não houve um compromisso formal em adotá-las. Houve algumas emendas parlamentares baseadas nestas propostas, com menção explícita.
O Bürgerbeteiligung an der Haushaltplannung foi repetido em 2009. Nesse mesmo ano, a cidade de Erfurt, com apoio da universidade local (eu me incluindo), adotou procedimento semelhante. O método de participação foi menos complexo, mas também foi criada uma plataforma de Internet para debate e sistematização de propostas para a administração local.


Mais informações podem ser encontradas em

http://www.buergerhaushalt-hamburg.de/ (Site do programa de orçamento participativo de Hamburgo. Só pode ser lido em Alemão)

http://www.binary-objects.de/ (Site da Binary Objects, empresa que colaborou na criação da plataforma deste e de muitos outros mecanismos de participação online. Tem versão em Inglês)