domingo, 19 de dezembro de 2010

A atualidade do texto de Marx de 1853 sobre a Índia

Neste início de século XXI, vemos muita gente que se considera de esquerda tolerando a existência de práticas sociais cruéis em ambientes onde vigoram culturas não-ocidentais. Tudo isso em nome do anti-imperialismo e da suposta aceitação à diversidade cultural. A indignação a estas práticas tendem a gerar acusações de pró-colonialismo ou tentativa de ocidentalização forçada.
Marx não pensava assim. Em um artigo de jornal publicado em 1853, o filósofo-economista de Trier mostrava os danos que a colonizaçãobritânica havia causado à Índia. Porém, Marx não deixou de demonstrar como as tradições culturais indianas antes da colonização eram opressoras. E enxergou que embora a colonização tivesse sido motivada por interesses abjetos, teve como efeito colateral positivo o desmantelamento da estrutura social da Índia.

Vale a pena ler o texto
http://www.marxists.org/portugues/marx/1853/06/10.htm


Destaque para os parágrafos finais

Ora, por mais triste que seja do ponto de vista dos sentimentos humanos ver essas miríades de organizações sociais patriarcais, inofensivas e laboriosas se dissolverem, se desagregarem em seus elementos constitutivos e serem reduzidas à miséria, e seus membros perderem ao mesmo tempo sua antiga forma de civilização e seus meios de subsistência tradicionais, não devemos esquecer que essas comunidades villageoisies idílicas, malgrado seu aspecto inofensivo, foram sempre uma fundação sólida do despotismo oriental, que elas retém a razão humana num quadro extremamente estreito, fazendo dela um instrumento dócil da superstição e a escrava de regras admitidas, esvaziando-a de toda grandeza e de toda força histórica. Não devemos esquecer os bárbaros que, apegados egoisticamente ao seu miserável lote de terra, observam com calma a ruina dos impérios, as crueldades sem nome, o massacre da população das grandes cidades, não lhes dedicando mais atenção do que aos fenômenos naturais, sendo eles mesmos vítimas de todo agressor que se dignasse a notá-los. Não devemos esquecer que a vida vegetativa, estagante, indigna, que esse gênero de existência passiva desencadeia, por outra parte e como contragolpe, forças de destruição cegas e selvagens, fazendo da morte um rito religioso no Hindustão. Não devemos esquecer que essas pequenas comunidades carregavam a marca infame das castas e da escravidão, que elas submetiam o homem a circunstâncias exteriores em lugar de fazê-lo rei das circunstâncias, que elas faziam de um estado social em desenvolvimento expontâneo uma fatalidade toda poderosa, origem de um culto grosseiro da natureza cujo caráter degradante se traduzia no fato de que o homem, mestre da natureza, caia de joelhos e adorava Hanumán, o macaco, e Sabbala, a vaca.
É verdade que a Inglaterra, ao provocar uma revolução social no Hidustão, era guiada pelos interesses mais abjectos e agia de uma maneira estúpida para atingir seus objetivos. Mas a questão não é essa. Trata-se de saber se a humanidade pode cumprir seu destino sem uma revolução fundamental na situação social da Ásia. Senão, quaisquer que fossem os crimes da Inglaterra, ela foi um instrumento da História ao provocar esta revolução. Nesse caso, diante de qualquer tristeza que possamos sentir diante do espetáculo do colapso de um mundo antigo, temos o direito de exclamar como
Goethe: "Deve esta dor nos atormentarjá que ela nosso proveito aumenta,O jugo de Timur não consumiumiríades de vidas humanas?(Goethe, Westostlicher Diwan. An suleika.

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