domingo, 28 de novembro de 2010

Brasil ascendente, Argentina decadente. É mesmo?

Quando a partir de 2003, a Argentina sob o governo Kirschner passou a apresentar taxas de crescimento do PIB nitidamente superiores às do Brasil, os pessimistas em relação à política econômica argentina atribuíram o resultado à simples recuperação da depressão. Passaram-se sete anos e viu-se que a recuperação da depressão não explica tudo. Em 2009, a distância do PIB per capita argentino do PIB per capita brasileiro estava tão grande quanto em 1998, data início da crise argentina que durou até 2002. E para 2010, a Economist prevê que o PIB argentino crescerá 8%, enquanto que o brasileiro crescerá 7,5%.
De 1980 para os dias atuais, houve um leve distanciamento entre os dois países. Em 1980, o PIB per capita brasileiro equivalia a 77% do PIB per capita argentino. Em 2009, esta relação estava em 72,3%.

Relação PIB per capita Brasil / PIB per capita Argentina

Fonte: IMF database

A Argentina teve grande crescimento econômico entre 1880 e 1914. O Brasil teve grande crescimento econômico entre 1930 e 1980, se aproximando da Argentina em PIB per capita nesse período. Esta tendência foi não apenas estancada, como levemente revertida nas três décadas mais recentes.
A realidade mostra um cenário bem diferente de estereótipos como o do Brasil como país do momento e país do futuro e da Argentina como país do passado.
Quando se compara Brasil e Argentina com os Estados Unidos, observa-se outro cenário pouco animador. Somente a partir de 2004 o Brasil começou a reverter o processo de distanciamento do PIB per capita dos Estados Unidos, iniciado em 1980. Ainda assim, a recuperação é lenta. Em 1980, o PIB per capita brasileiro equivalia aproximadamente a 30% do PIB per capita estadunidente. Esta relação chegou a 20% em 2003 e alcançou 23% em 2009.

Relação PIB per capita Brasil / PIB per capita EUA, relação PIB per capita Argentina / PIB per capita EUA

Fonte: IMF database

sábado, 27 de novembro de 2010

O que dividiu o Brasil entre Dilma e Serra?

O Tratado de Tordesilhas!!!


Mapa tirado de http://www.cartacapital.com.br/politica/os-tons-do-azul


O mapa eleitoral brasileiro mostra um fato curioso: a linha que marca a divisão político-partidária do Brasil de 2010 não é muito diferente de uma linha traçada em 1494.
Os estados vermelhos estão quase todos eles na área lusitana desde a origem. Os estados azuis estão na área que deveria pertencer aos espanhóis.
As excessões de um lado foram Amazonas, Pará e Amapá; e de outro foi o Espírito Santo. Mas ao observar a história desses estados, é possível perceber que estas excessões não são tão excepcionais assim. A região do Amazonas atraiu interesse de colonizadores desde os primórdios da chegada dos ibéricos ao continente americano. O Espírito Santo demorou para ser ocupado como um todo porque os índios que lá habitavam não eram dos mais amigáveis.
Em poucas palavras: Dilma venceu nas áreas de colonização precoce e Serra venceu nas áreas de colonização tardia. Se foi apenas coincidência ou se existe alguma relação de causalidade, eu não sei.


Em um post anterior, eu cheguei a afirmar que o mapa eleitoral do Brasil atual é o oposto do mapa eleitoral dos EUA atual. Aqui, o PT vence, em geral, nos estados mais pobres, enquanto que lá, o Partido Democrata vence, em geral, nos estados mais ricos. Mas considerando a história e não a renda dos estados, vê-se que existe um padrão semelhante, e não oposto. Assim como o PSDB vence em estados do Oeste, de colonização mais tardia, o Partido Republicano também vence em estados do Oeste (tirando os litorâneos), onde a ocupação por brancos também demorou mais para acontecer.

sábado, 20 de novembro de 2010

A triste romantização do monoglotismo feita por Lula

Não tenho o hábito de ver coisas erradas em discursos do Lula e considero anedóticos os mimimis feitos pelos de sempre contra o uso de expressões coloquiais e contra as "críticas à mídia".
Mas um discurso, em particular, foi um péssimo exemplo para um país que quer se tornar desenvolvido.
http://www.youtube.com/watch?v=keyVjdMFJec
Neste discurso que era para ser supostamente contra o preconceito, Lula berrou as seguintes palavras a partir do 1:20.

"Uma vez eu estava almoçando na Folha de S. Paulo, um diretor da Folha de S. Paulo perguntou pra mim escuta aqui ô candidato, o senhor fala Inglês? eu falei não, como é que você quer governar o Brasil se você não fala Inglês?, eu vou arrumar um tradutor, mas assim não é possível, o Brasil tem que ter um presidente que fala Inglês, aí eu perguntei pra ele alguém perguntou se o Bill Clinton fala Português?, não, mas eles achavam que o Bill Clinton não tinha obrigação de falar Português, era eu, o subalterno, do país colonizado, que tinha que falar Inglês"

Em primeiro lugar, não tem nada de errado um presidente não falar idiomas estrangeiros. Mesmo os presidentes que falam idiomas estrangeiros utilizam intérpretes no ofício.
Mas não há problema algum em achar que Lula, como um cidadão, e não como presidente, devesse falar Inglês, assim como os demais cidadãos brasileiros. O aprendizado de idiomas estrangeiros facilita a circulação de informação, conhecimento e idéias, contribuindo para o desenvolvimento econômico, social e cultural. Dialogando com outros povos, é possível conhecer e compreender outras formas de pensar, e por isso, o aprendizado de idiomas estrangeiros está muito mais vinculado ao combate do que ao fomento de preconceitos.
Infelizmente, vivemos em um país onde não apenas grande parte da população pobre, que estudou em escola pública de baixa qualidade (o que já é um problema grave), não fala o idioma de Shakespeare. Há muitos monoglotas de classe média com diploma de bacharelado.
A comparação o presidente do Brasil falar Inglês/o presidente dos EUA falar Português foi improcedente. Há, no planeta em que vivemos, chefes de Estado de 200 países. Muitos destes chefes falam Inglês. Seria difícil esperar que para compensar, o presidente dos EUA falasse cada um dos idiomas maternos dos chefes de Estado que falam Inglês.
Um exemplo interessante é o do ex-presidente da Rússia Vladmir Putin. Ele falava Inglês e não tinha interesse em saber se o Bush falava Russo. Nas mesas de negociação, Putin levava vantagem. Ele entendia o que Bush falava em Inglês, e aproveitava para raciocinar a resposta no tempo em que o intérprete traduzia para o Russo. Bush, que não falava Russo, tinha que prestar atenção para o intérprete. Putin podia ter muitos defeitos, mas não era colonizado nem líder de país subalterno.
Dizem que na China, outro país nem um pouco colonizado e subalterno, quando um ocidental é visto andando pelas ruas, as mães chinesas olham para suas crianças e falam "aproveita essa pessoa para praticar o Inglês que você está aprendendo na escola".
Mesmo os franceses, que em outros tempos eram hostis ao idioma do outro lado do canal, estão percebendo o tamanho da tolice. Os jovens falam Inglês com menos objeção. Ah sim, quem vai para a França para trabalhar ou estudar, mesmo que o trabalho ou o estudo sejam em Inglês, deve aprender um pouco de Francês anteriormente, para o dia a dia, e o turista que não fala Francês deve consultar o básico em guias turísticos, porque abordar um local, em seu próprio país, em outro idioma, não é uma atitude muito polida. O mesmo vale para qualquer país. Isso tudo, porém, mostra não que não é importante falar Inglês, mas sim que é muito bom aprender um segundo idioma estrangeiro.
Quem não gosta de idioma de outro país é a direita, principalmente aquela que fomenta o preconceito. O NPD da Alemanha defende o fim das aulas de Inglês para crianças no Jardim da Infância. O candidato democrata a presidente dos EUA em 2004 John Kerry tinha vergonha de assumir em público que falava Francês, porque os republicanos estavam em forte campanha anti-França.