sábado, 20 de novembro de 2010

A triste romantização do monoglotismo feita por Lula

Não tenho o hábito de ver coisas erradas em discursos do Lula e considero anedóticos os mimimis feitos pelos de sempre contra o uso de expressões coloquiais e contra as "críticas à mídia".
Mas um discurso, em particular, foi um péssimo exemplo para um país que quer se tornar desenvolvido.
http://www.youtube.com/watch?v=keyVjdMFJec
Neste discurso que era para ser supostamente contra o preconceito, Lula berrou as seguintes palavras a partir do 1:20.

"Uma vez eu estava almoçando na Folha de S. Paulo, um diretor da Folha de S. Paulo perguntou pra mim escuta aqui ô candidato, o senhor fala Inglês? eu falei não, como é que você quer governar o Brasil se você não fala Inglês?, eu vou arrumar um tradutor, mas assim não é possível, o Brasil tem que ter um presidente que fala Inglês, aí eu perguntei pra ele alguém perguntou se o Bill Clinton fala Português?, não, mas eles achavam que o Bill Clinton não tinha obrigação de falar Português, era eu, o subalterno, do país colonizado, que tinha que falar Inglês"

Em primeiro lugar, não tem nada de errado um presidente não falar idiomas estrangeiros. Mesmo os presidentes que falam idiomas estrangeiros utilizam intérpretes no ofício.
Mas não há problema algum em achar que Lula, como um cidadão, e não como presidente, devesse falar Inglês, assim como os demais cidadãos brasileiros. O aprendizado de idiomas estrangeiros facilita a circulação de informação, conhecimento e idéias, contribuindo para o desenvolvimento econômico, social e cultural. Dialogando com outros povos, é possível conhecer e compreender outras formas de pensar, e por isso, o aprendizado de idiomas estrangeiros está muito mais vinculado ao combate do que ao fomento de preconceitos.
Infelizmente, vivemos em um país onde não apenas grande parte da população pobre, que estudou em escola pública de baixa qualidade (o que já é um problema grave), não fala o idioma de Shakespeare. Há muitos monoglotas de classe média com diploma de bacharelado.
A comparação o presidente do Brasil falar Inglês/o presidente dos EUA falar Português foi improcedente. Há, no planeta em que vivemos, chefes de Estado de 200 países. Muitos destes chefes falam Inglês. Seria difícil esperar que para compensar, o presidente dos EUA falasse cada um dos idiomas maternos dos chefes de Estado que falam Inglês.
Um exemplo interessante é o do ex-presidente da Rússia Vladmir Putin. Ele falava Inglês e não tinha interesse em saber se o Bush falava Russo. Nas mesas de negociação, Putin levava vantagem. Ele entendia o que Bush falava em Inglês, e aproveitava para raciocinar a resposta no tempo em que o intérprete traduzia para o Russo. Bush, que não falava Russo, tinha que prestar atenção para o intérprete. Putin podia ter muitos defeitos, mas não era colonizado nem líder de país subalterno.
Dizem que na China, outro país nem um pouco colonizado e subalterno, quando um ocidental é visto andando pelas ruas, as mães chinesas olham para suas crianças e falam "aproveita essa pessoa para praticar o Inglês que você está aprendendo na escola".
Mesmo os franceses, que em outros tempos eram hostis ao idioma do outro lado do canal, estão percebendo o tamanho da tolice. Os jovens falam Inglês com menos objeção. Ah sim, quem vai para a França para trabalhar ou estudar, mesmo que o trabalho ou o estudo sejam em Inglês, deve aprender um pouco de Francês anteriormente, para o dia a dia, e o turista que não fala Francês deve consultar o básico em guias turísticos, porque abordar um local, em seu próprio país, em outro idioma, não é uma atitude muito polida. O mesmo vale para qualquer país. Isso tudo, porém, mostra não que não é importante falar Inglês, mas sim que é muito bom aprender um segundo idioma estrangeiro.
Quem não gosta de idioma de outro país é a direita, principalmente aquela que fomenta o preconceito. O NPD da Alemanha defende o fim das aulas de Inglês para crianças no Jardim da Infância. O candidato democrata a presidente dos EUA em 2004 John Kerry tinha vergonha de assumir em público que falava Francês, porque os republicanos estavam em forte campanha anti-França.

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