quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Nem nem nem. Porque não sou governista, nem oposição de direita, nem oposição de esquerda

As atuais forças políticas no Brasil dão desânimo. Já fui favorável ao governo Lula, principalmente durante o segundo mandato. Atualmente, 71% dos brasileiros e eu estamos nada satisfeitos com o governo Dilma. Estou ainda mais insatisfeito com o partido do governo do que com o próprio governo. Isto não quer dizer que a oposição seja melhor. A oposição de direita nada tem a oferecer de melhor. A oposição de esquerda tem alguns méritos, mas também tem defeitos.
Por isso, faço um textão criticando o PSDB, que vale também para os outros partidos da oposição de direita, um textão criticando o PT, que vale algumas coisas também para o PCdoB, e finalmente um textão criticando o PSOL, que vale também para os outros partidos da oposição de esquerda.
Como o nome já diz, os textões são grandes, mas preferi mantê-los no mesmo post para evitar que alguém difunda separadamente, ou seja, escolha só um dos textos para difundir. Quer difundir, ótimo, mas faça com os três textões juntos.
Boa leitura


Oposição de direita: mais especificamente, o PSDB

Quando se fala em oposição à direita, o primeiro partido que vem à mente é o PSDB. Se já vou pegar pesado com o PSDB, é dispensável falar também do DEM, do PMDB, do PP e do PSD, que são piores, mesmo que os últimos três sejam governistas (ou principalmente por causa disso).

Eu voto desde 2000 e nunca apertei um 45 em uma urna eletrônica, nem pretendo fazer isso em breve. Se eu fosse dois anos mais velho, teria feito isso no segundo turno de 1998, dando o voto útil em Covas contra o Maluf. De lá pra cá, o PSDB só vem piorando. Se eu fosse adulto em 1988, ano da fundação do partido, eu provavelmente teria sido otimista quanto ao seu futuro.

Em 1994, muitos eleitores que se consideravam de centro-esquerda votaram em Fernando Henrique Cardoso, pensando que ele fosse fazer um governo social-democrata de verdade. Grande decepção. Os programas sociais de transferência de renda só tiveram início do sétimo ano de governo, e foram muito tímidos. O percentual de brasileiros vivendo abaixo da linha de pobreza era de 35% em 1995 e 34% em 2002. O índice de Gini ficou estável neste período. A participação da renda do capital na renda total aumentou, enquanto que a dos salários declinou. A geração de empregos com carteira assinada teve desempenho ruim. O Plano Real foi bem sucedido, mas pouco foi feito depois. O governo FHC seguiu a ideologia de que basta o governo não atrapalhar que o desenvolvimento vem. O governo, com tanta privatização e desregulamentação, parou de "atrapalhar", mas o desenvolvimento, mesmo oito anos depois, não veio.

Apesar de ter sido decepcionante o governo FHC, o PSDB ainda era melhor naquele tempo do que nos dias atuais. Se em termos de redução de pobreza e desigualdade o governo FHC deixou a desejar, não se pode negar que houve progresso em direitos humanos e Estado laico. Daquele tempo para o atual, o PSDB retrocedeu até nessas áreas. Alckmin foi reeleito em 2002 utilizando na campanha um massacre cometido pela Polícia Militar como prova de que a política de segurança estava funcionando. O partido esculachou o III Plano Nacional de Direitos Humanos, proposto pelo ministro Vannuchi, durante o segundo mandato do Lula, em 2009. A campanha de Serra utilizou ateufobia em 2010 e homofobia em 2012. Em 2015, o PSDB indicou o Coronel Telhada para dirigir a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de São Paulo, gesto simbólico que significa dar uma banana para a comissão. Atualmente, há um deputado do partido, que seguindo o lobby do Escola Sem Partido (???), propõe uma lei para censurar a atividade docente.

Duas características interligadas, muito marcantes no PSDB são o elitismo e o autoritarismo. Para o PSDB, a opinião que conta é a opinião da classe média para cima. É muito comum escutar políticos do PSDB dizendo "a sociedade pensa isso", "a sociedade pensa aquilo", sendo que a "sociedade" à qual eles se referem é o quinto mais rico da população brasileira. Por isso que o PSDB tem ojeriza a criação de qualquer mecanismo de democracia direta, participação popular. No ano passado, Alberto Goldman e Fernando Henrique Cardoso disseram indiretamente que a eleição de Dilma vale menos porque ela dependeu dos votos dos mais miseráveis (que seriam pessoas que valem menos?) Quando eu ouço alguém dizendo que o PSDB vai começar uma campanha para se aproximar das classes mais baixas, já é possível prever o que vem: demagogia religiosa e demagogia policialesca. São estes discursos que aproximam o PSDB de alguns segmentos das classes mais baixas, porque o social deste partido consta apenas no nome. O único momento em que o PSDB se lembra da desigualdade da distribuição de renda no Brasil é na hora de falar mal de universidades públicas, com o pretexto de que elas são frequentadas por filhos de pessoas com alto poder aquisitivo. Utiliza-se muito o discurso do "temos que priorizar a educação básica", que seria muito bonito e não fosse pelo significado oculto de "temos que sucatear o único nível de ensino que o setor público brasileiro ainda fornece com alguma qualidade para quem sabe sobrar um dinheirinho pra dar uma melhoradinha na educação básica". Bom, neste tema, o PT também não vem tendo um bom desempenho, basta ver o triste estado em que se encontram as federais no ano de 2015. Mas ao menos não é intenção deliberada. Ainda nesse tema, o PSDB é o partido que se considera o inventor do Bolsa Família, mas também é o partido favorito de quem considera que Bolsa Família só serve para comprar voto de vagabundo.

Como não há elitismo sem autoritarismo, não é difícil perceber as marcas deste vício no PSDB, mesmo tendo sido este partido fundado por antigos opositores do autoritarismo. Sabemos que a PM de São Paulo espanca manifestantes e mata morador de periferia assim como a PM dos outros 25 estados e do Distrito Federal. Mas não se verifica em outros estados caso semelhante de amor que se vê entre Alckmin e PM. É marcante também a agressividade de José Serra com jornalistas, mesmo que eles trabalhem para empresas de comunicação favoráveis a seu partido. E não pode deixar de ser mencionada a tentativa do senador Aloysio Nunes agredir fisicamente um engraçadinho ex-assessor de uma deputada do PT que fez apenas uma provocação verbal. Quando acontece qualquer ato de hostilidade contra qualquer integrante do PSDB ou contra qualquer aliado, seus líderes, junto com os aliados nos meios de comunicação, já exigem que o PT se ajoelhe no milho e peça desculpas, mesmo que o praticante do ato hostil não seja do PT. E palavrinha dos tucanos contra a bomba no Instituto Lula ou contra as agressões físicas sofridas por militantes petistas durante a campanha de 2014? Não vi. Outra atitude recente de baixo nível cometida pelo PSDB foi aquela nota dizendo que "jornalistas que corajosamente discordam do PT sofrem ataques em redes sociais". Em primeiro lugar, esses jornalistas (aliados do PSDB) não sofrem "ataques" em redes sociais porque falam mal do PT, e sim porque são simpáticos a racistas, machistas e homofóbicos e exaltam o regime militar. Em segundo lugar, "atacar" jornalistas em redes sociais também faz parte da liberdade de expressão.

E quanto à corrupção? Eu aceito a hipótese que o valerioduto praticado pelo PSDB em Minas Gerais em 1998 não foi tão grave quanto o praticado pelo PT a nível federal em 2005. E que o escândalo do Metrô em São Paulo tem uma diferença com o escândalo da Petrobras: no de São Paulo, ainda não apareceram indícios tão evidentes de políticos metendo diretamente a mão. Mas que algumas empresas obtiveram contratos superfaturados para prestar serviços ao Metrô de São Paulo é fato, e que estas empresas doaram para campanhas do PSDB também. Se tem focinho de forco, orelha de porco, lombo de porco e pé de porco pode ser a feijoada ou a porca, mas também é muito grande a probabilidade de ser porco. A mesma analogia do porco vale para a blindagem do Daniel Dantas. Sabemos que Daniel Dantas foi vencedor do leilão da privatização de telefonia, leilão em que ocorreram irregularidades conforme gravações mostraram. A irmã de Daniel Dantas tinha uma empresa em parceria com a filha de José Serra (o fato em si não é crime, mas ter critérios mais rigorosos pra escolher parceiros de negócios faz bem). Daniel Dantas se relacionava muito bem com Antônio Carlos Magalhães, do PFL. E quando Daniel Dantas entrou na mira da polícia federal, quem fez a blindagem do banqueiro baiano: Gilmar Mendes, o ministro pró PSDB/DEM, e jornalistas pró PSDB/DEM. A relação de causa e efeito pode não ter sido essa, mas que é coincidência não se pode negar.
Os defeitos que o PSDB tem, outros partidos também têm. Mas os defeitos do PSDB ficam menos aparentes quando o partido conta com uma blindagem feita pelas grandes empresas de comunicação. Não é a toa que há os que pensam que a crise energética nacional de 2001 e a crise hídrica paulista de 2014 foram causadas pela natureza. Como vocês lerão a seguir, o PT conta uma rede de jornalistas passa-pano. O PSDB também. A diferença é que os do PT estão em blogs, e os do PSDB estão nos jornalões.
Chegando perto do fim do texto, acho desnecessário explicar mais uma vez a relação não muito aparente, mas existente, entre PSDB e grupelhos de extrema-direita. Importante destacar mais uma vez apenas que Reinaldo Azevedo é PSDB e PSDB é Reinaldo Azevedo. O colunista da Veja não é simplesmente um reacionário que acha o PSDB menos ruim por falta de outras opções à direita. A sua ligação com o PSDB é bem mais antiga que seu olavismo. Já expliquei isso aqui no blog.

Outro feito do PSDB que não foi igualado nem pelos governos arenistas de São Paulo foi ter transformado a TV Cultura em um veículo de propaganda da direita, empregando gente da Veja e da nova safra de geradores de texto reaça.
 
Por fim, tento dar um palpite para uma pergunta que algumas pessoas fazem. "Fernando Henrique Cardoso e José Serra tiveram suas vidas acadêmicas ligadas à esquerda. Atualmente, na política, estão ligados à direita. Será que eles mudaram de ideia e passaram a acreditar na direita por convicção, ou eles apenas estão ocupando um espaço anteriormente vago no espectro político brasileiro?" Eu acredito que nos anos 90, quando eram governo, eles eram de centro, liderando uma coalização que incluía partidos de centro e partidos de direita. A parceria com a direita, representada pelo PFL que virou DEM, se manteve quando foram para a oposição, e talvez o convívio com a direita por mais de 20 anos acabou moldando suas mentes. 

 

Governismo: mais especificamente, o PT

Votei pela primeira vez em 2000, para prefeito de Campinas, no Toninho do PT, assassinado no ano seguinte. Votei pela primeira vez para presidente em 2002, no Lula. E vou ser sincero. Sabem o que o mensalão, revelado em 2005, significou para mim? Pouca coisa, pois eu já estava muito irritado antes com o partido, por causa da política econômica adotada por Lula no primeiro mandato. Foi só depois, lá por meados de 2006, já perto da campanha da reeleição, eu fui descobrir que a decisão de Lula quanto à política econômica havia sido acertada. Mas não o mensalão, óbvio. Na eleição de 2006, eu anulei no primeiro turno (voto em ninguém) e votei no Lula no segundo (veto ao Alckmin e sua base de apoio). Naquele tempo, eu considerava ainda válido o manjado discurso petista do "sempre foi assim, todo mundo fez, é que agora está sendo mais investigado". Não por achar que os escândalos foram aceitáveis, mas por achar que tinha que escolher o mal menor. Muitas decisões do PT e de Lula entre junho de 2005 e outubro de 2006 caminharam na direção certa. Todos os investigados foram afastados do governo. Delcídio, o deputado petista que presidia a CPI, não criou empecilhos para as investigações. Delúbio foi afastado do PT. Veio o segundo mandato, com o PIB do Brasil crescendo, a miséria diminuindo, o Brasil se projetando no exterior com a diplomacia sul-sul. Com o escândalo da Petrobras ainda escondido, os maiores escândalos aparentes entre 2007 e 2010 ocorreram no Rio Grande do Sul, então governado pelo PSDB, e no Distrito Federal, então governado pelo DEM. Voltei a me simpatizar com o PT, mas não tanto quanto entre 2000 e 2002.

Aí a partir de 2010, foi ficando cada vez mais difícil ser favorável ao PT. Em 2010, último ano de euforia, aqueles problemas ainda eram invisíveis. A campanha de Dilma foi irrigada com dinheiro de empresas que ganharam contratos superfaturados com a Petrobras (ou seja, a campanha foi irrigada com dinheiro da Petrobras). Fez alianças excêntricas no Paraná, no Rio de Janeiro, em Minas Gerais, em Pernambuco e em Goiás, abrindo mão de ter candidatos a governador para ter mais apoios na eleição para senador. Na época, achávamos isso justificável, pois considerávamos que com um Senado mais favorável, Dilma poderia fazer um governo mais progressista, o que acabou não ocorrendo. O PT recorreu a Eduardo Cunha e Marco Feliciano para ter os votos de evangélicos. Para os autores e receptores de cartilhas petistas, os dois só viraram escrotos na hora que se voltaram contra o PT. 

Veio o governo Dilma, recuando em relação ao que Lula avançou. Substituiu a política inovadora de Juca Ferreira na cultura por uma política pró gravadoras de Ana de Hollanda (pelo menos nesta área a bobagem foi desfeita, e Juca voltou). Negligenciou a questão indígena e teve seu ministro Cardozo parado frente a assassinatos de índios. Acabou com o material didático anti-homofobia para não promover "opção sexual". Demitiu um integrante do Ministério da Justiça que havia declarado ser contra a guerra às drogas. A área em que Dilma tentou se posicionar à esquerda de Lula foi a economia. Mas nem isso conseguiu. Não considero uma atitude muito esquerdista prolongar isenção de IPI para automóvel indefinidamente e represar preços de serviços públicos para simplesmente eles aumentarem depois. Alguns podem dizer: Dilma não é PT, é um alien dentro do partido. Alguns diriam até que ela saiu do PDT, mas o PDT não saiu dela. OK, mas o que ocorreu com o PT nos últimos cinco anos foi até pior do que o que ocorreu com o governo Dilma. 

Já em 2011, o PT aceitou Delúbio de volta. Em 2012, preferiu atacar o Supremo Tribunal Federal, ao invés de desligar do partido os membros condenados pelo tribunal. Alimentou a teoria de que os condenados teriam sido vítimas de uma vingança das elites por terem defendido o povão. Mesmo que oito dos onze ministros STF tenham sido nomeados por Lula ou por Dilma. E que um dos condenados tenha tido o hábito de dar consultoria para integrantes desta elite que supostamente estaria se vingando dele. É estranha esta lógica do PT, que considera que não pode defender legalização do aborto porque isso faz perder voto, não pode defender legalização da maconha porque isto faz perder voto, e preservar políticos condenados por corrupção também faz perder voto, mas isso o partido faz mesmo assim.

Quando veio o escândalo da Petrobras, acabou qualquer desculpa que era usada nos escândalos anteriores. No tempo do mensalão, alguns diziam que se não fizesse isso, não haveria base de apoio no Congresso, e, dessa forma, o país pararia. Os delatores do escândalo da Petrobras disseram que não apenas o PMDB e o PP receberam propina, mas que o próprio PT ficou com parte do dinheiro. Então, o escândalo não se restringe a formar base de apoio no Congresso. A outra desculpa, a de que o PT tem mais dificuldade de obter doações legais no meio empresarial por causa de diferenças ideológicas, e por isso utilizaria meios ilegais, também não é válida, pois em 2010 o Lula tinha 80% de aprovação.

A favor do PT há uma rede de sites que têm como pretexto uma boa causa, que é fornecer um contraponto à opinião transmitida pelos grandes meios de comunicação, mas acabam sendo tão nocivos quanto esses grandes meios de comunicação (chamados de PIG) quando criam uma massa de adestrados que acham que tudo que está a favor do PT é bom e tudo que está contra o PT é ruim. Ensinam a ter lealdade somente ao partido, e não a ideais. Dez anos depois da revelação do mensalão, que eles adoram escrever entre aspas, ainda mantém o discurso do “sempre foi assim, todo mundo fez, é que agora está sendo mais investigado”. Ora, porra, se sempre foi assim, sempre foi errado. Se todo mundo fez, todo mundo fez errado. Se só agora está sendo investigado, antes estava errado. A falta de discernimento que os seguidores destes sites têm é tão grande que não sabem diferenciar Gilmar Mendes, realmente comprometido com uma política conservadora, de Joaquim Barbosa, jurista de opiniões progressistas que foi tachado de reacionário simplesmente porque condenou ex-dirigentes do PT. Um dos sites chegou a reprovar Joaquim Barbosa pelo fato dele ter uma esposa branca.  Durante a Operação Lava Jato, junto com a justa crítica à partidarização declarada de alguns delegados da Polícia Federal, vemos uma tentativa infundada de desqualificar todo o instrumento da Delação Premiada, a não ser, é claro, que sirva contra o Eduardo Cunha. É justo criticar vazamentos seletivos, mas que a Delação Premiada tem muitos efeitos positivos em desvendar escândalos, sobre isto não há dúvida. Outra tentativa destes sites de defender o indefensável é defender o "legado da Copa". Um destes sites chegou ao ridículo de defender a realização de jogos da Copa em Cuiabá, Manaus e Natal, cidades sem clubes fortes para manter os estádios, alegando que Lula tinha uma visão de Brasil e que por isso ele não quis restringir o evento ao "sul maravilha" (texto que criou um espantalho, uma vez que ninguém foi contra fazer jogo em Salvador, Recife e Fortaleza, cidades com clubes mais fortes). Quem gostou do fato da Copa ter tido doze, e não apenas nove estádios, foram as empreiteiras.

Quando o governo federal faz coisas que quem se considera de esquerda não tem a menor condição de defender, apela-se à tentativa de separar o governo do partido. O problema desta estratégia é que algumas das decisões indefensáveis são tomadas por ministros do PT ou ministros não indicados pelos partidos "aliados", como Joaquim Levy e Kátia Abreu, que estão lá porque a Dilma quis, e não por solicitação do PMDB. Os adestrados mais delirantes também acham que o PSOL é aliado do PSDB e do PIG. E não houve muita diferença de opinião de alguns sites petistas e do PIG sobre os protestos pelo passe livre, protestos de índios e protestos contra a Copa. Quanto ao posicionamento sobre o PSOL, tem os fanáticos que acham que acham que o PSOL faz o jogo da direita e tem os um pouquinho mais moderados, mas não muito menos piores, que querem cagar regra sobre o que pode e o que não pode ser feito ao se fazer oposição ao governo e ao PT pela esquerda. Esses aí dizem que criticar o PT por ter caminhado demais para o centro tudo bem, mas que criticar o PT por causa de corrupção é coisa de coxinha udenista médio-classista pequeno burguês. Dão um presente para a direita, ao dar a ela o monopólio da defesa da ética, mesmo sendo muitos da direita também completamente desprovidos de ética.

As redes de petistas fanáticos e de direitista ignorantes se retroalimentam. Uma dificilmente seria tão forte sem a outra. Como alguns dos que criticam corretamente os colunistas trolls de direita defendem erroneamente petistas condenados, isto vira álibi para defensores desses trolls de direita desqualificarem os críticos. Mesmo que muitos desses trolls de direita defendam os corruptos do lado deles. Por outro lado, esses trolls de direita viram ótimos espantalhos para o antipetismo, e isto beneficia o petismo. A direita adora utilizar a despolitização de grande parte da população brasileira que acha que esquerda = PT. Como o PT está enrolado, isto é visto como uma oportunidade de jogar a crise no colo de toda a esquerda. Quando as redes petistas alimentam a ideia de que anti PT = direita, está colaborando com quem quer mostrar que esquerda = PT.

Outro costume muito ruim do PT é o de deixar pautas progressistas em banho maria e mostrar empenho em defende-las apenas quando são úteis para mobilizar militância em favor do partido. Um dos exemplos é o do financiamento exclusivamente público de campanha. É certo que como a esmagadora maioria dos deputados é eleita com financiamento privado, é muito difícil obter uma maioria pró financiamento exclusivamente público. Mas no tempo em que Lula tinha 80% de aprovação, o Executivo poderia ter tentado mandar um projeto a este respeito para o Legislativo, que o poder de pressão seria grande, e, talvez, o resultado final poderia ter sido a aceitação do financiamento privado, mas com um limite bem baixo. Recentemente, circulou uma PEC legalizando o financiamento privado, e um dos autores desta PEC era um deputado do PT, que não foi expulso do partido. Somente na campanha de 2014 e no decorrer de 2015 o PT ressuscitou o tema financiamento exclusivamente público. Outra bandeira ignorada pelo PT durante muito tempo foi a realização de uma reforma tributária que corrigisse a distorção brasileira de tributar muito o consumo e pouco a renda e o patrimônio, ou seja, de tributar muito o pobre e pouco o rico. Tanto o imposto sobre grandes fortunas, quando a criação de uma alíquota de Imposto de Renda superior a 27,5% para rendas muito altas, foram deixados em banho maria pelo PT. Também não é possível utilizar como desculpa o excesso de conservadorismo do Legislativo, porque o Executivo não enviou um projeto a esse respeito. Quando a deputados fundamentalistas pentecostais se voltam contra o PT, e a direita laica se une de forma oportunista a eles, os petistas alertam com razão sobre os danos causados por esses religiosos. Mas quando os religiosos estão na paz, os sites petistas comemoram quando a Record supera a Globo em audiência. O PT também deve ser criticado por não ter feito esforço para aprovar PEC proibindo a privatização da Petrobras e PEC constitucionalizando o Bolsa Família, e usar privatização da Petrobras e esvaziamento do Bolsa Família como fantasmas em campanha eleitoral.

Muitos dos que votavam no PT antes de 2002 eram aqueles que valorizavam bastante a educação e a saúde públicas, e consideravam que para ter educação e saúde públicas de qualidade valia a pena até mesmo pagar imposto elevado. Doze anos depois, a educação e a saúde públicas não deram um grande salto de qualidade. Parte disso é responsabilidade de governos estaduais e municipais, mas se a precariedade dos serviços é disseminada em todo o território nacional, o governo federal também deve ser cobrado. Como antes de 2002 o PT tinha grande base de apoio em universidades, esperava-se que com o PT no governo, o Brasil teria um grande desenvolvimento intelectual. Não foi isso que aconteceu. A ampliação do acesso dos jovens pobres à universidade é um fato que deve ser comemorado, mas não podemos esquecer que quando se fala de qualidade, e não de quantidade, os resultados não são os mesmos. A saída de milhões de pessoas da condição de miséria e a expansão do emprego com carteira assinada também são fatos que não podem ser desprezados. Ainda assim, mudanças mais profundas não ocorreram, mesmo depois de doze anos. Não precisa ser revolucionário trotskista para notar que houve frustração. Até mesmo para quem defende uma social democracia houve frustração.

Existe um grande abismo entre o discurso esquerdista de parte da militância da base da pirâmide do PT, que é tão esquerdista quando o PSOL e só não saiu da nave mãe porque considera que não pode dividir a esquerda, e as práticas de lideranças do PT de composição com as forças políticas e econômicas conservadoras. Quando no debate da eleição presidencial de 2014 a candidata Marina Silva disse que a palavra "elite" pode ter significado positivo, a militância começou o esculacho. Foi demonizada a pessoa de Neca Setúbal, que já trabalhou para o governo federal e já apoiou o Haddad. Aí, no ministério do segundo mandato, Dilma incluiu Joaquim Levy, representante da elite financeira, Kátia Abreu, representante da elite agrária, e Armando Monteiro, representante da elite industrial. Não há problema no fato do PT tentar manter bom relacionamento com o empresariado. O problema é a hipocrisia, é fazer isso e atacar os outros que fazem.

Muitas vezes, a composição com setores conservadores da sociedade vai longe demais, e, às vezes, o esquerdismo de fachada que preserva também vai longe demais. O governo Lula perdeu tempo demais com Cesare Battisti. Isto não passou de um prêmio de consolação para a militância esquerdista do partido. O resultado não foi dos melhores. A revista Carta Capital, que faz muitas críticas pela esquerda ao governo, concordou com os críticos à direita em considerar que o posicionamento do governo sobre o ex-terrorista italiano foi uma grande bobagem. O petismo comporta tanto o fornecimento de generosas verbas de publicidade para o PIG, quanto a comemoração por causa de dificuldades financeiras do PIG e dos jornalistas demitidos.

O discurso classemediofóbico pró-povão e sulfóbico feito por interneteiros petistas de classe média soa sinal de memória curta, uma vez que até 2002 os petistas se orgulhavam de pertencer à classe mais culta do país e consideravam o povo gaúcho mais politizado que a média dos brasileiros porque o PT era forte no Rio Grande do Sul.

Alguns petistas habitualmente perguntam "tudo bem, há integrantes do PT envolvidos em esquemas de corrupção, mas por que essa raiva toda é só contra o PT, os outros também não roubaram, por que não batem panelas para os outros também?" Respondendo à pergunta de maneira muito simples: as pessoas que batem panelas rejeitam o PT não só por corrupção, mas também por outros motivos. E...??????? Se petistas rejeitam outros partidos não só por causa de corrupção, mas também por outros motivos, por que quem rejeita o PT teria que rejeitar só por causa de corrupção? Alguns dos motivos de rejeitar o PT além de corrupção são justos e já mencionei, outros não. Em muitos assuntos, considero que quem está errado é quem bate panela, e não o PT. Mas de qualquer forma, petistas têm que aprender que são coisas da vida existir pessoas que rejeitam seu partido favorito. Ainda sobre "corrupção, mas só o PT, e uzotro?", também tem que ser considerado que embora PSDB e DEM já tenham praticado atos ilícitos quando eram governo federal e pratiquem ainda atualmente em estados e municípios, e PMDB e PP pratiquem os atos ilícitos juntos com o PT, as pessoas observam mais o presente do que o passado, mais o governo federal do que os governos subnacionais, e mais o partido de quem ocupa a cadeira de presidente do que os "aliados". Outro motivo de haver uma raiva muito grande específica ao PT por causa de corrupção é que o partido da estrela tinha, antes de ter virado governo, uma fama de partido honesto, e até quem não gostava do partido acreditava nisso. Sempre quanto maior a expectativa, maior é a decepção.

Outra atitude muito decorrente de petistas muito fanáticos é a de achar que todo mundo que saiu do PT é oportunista. Não conheço outro partido com tantas deserções. Grande parte dos prefeitos e governadores do PT eleitos antes de 2002 deixaram o partido. Incluem-se Jacó Bittar, Vitor Buaiz, Luíza Erundina, Cristóvam Buarque, Marta Suplicy, Edmílson Rodriguez. Além disso, saíram outros nomes como os que foram mais para a esquerda, para o PSOL, e os que foram mais para a direita, como Eduardo Jorge, Marina Silva e Hélio Bicudo. Nem todos estes listados são ídolos meus, mas quem diz que todo mundo que sai do PT é oportunista tem que admitir então que antigamente o PT tinha muito oportunista, uma vez que a lista dos que saíram é enorme.

Muita gente concorda com todas essas críticas, mas sempre dá um 13 "crítico" no segundo turno por causa do "mal menor". Eu mesmo fazia isso. Mas se o PT souber que sempre vai contar com apoio incondicional no segundo turno, nunca vai ter incentivo para corrigir seus erros. Chegou a hora de suspender este hábito. Não é o simples votinho 50 no primeiro turno que vai fazer o PT perceber que tem algo realmente errado. A reação do PT à prisão de Vacari foi um sinal de que parece que mesmo em 2015 o PT ainda não aprendeu.

Eu compreendo porque há algumas pessoas de bem que mesmo reconhecendo que o "PT cometeu alguns erros", ainda são condicionadas a recusar a perceber a gravidade desses "erros". Sabemos que nem todo mundo que odeia o PT é elitista, racista, machista e homofóbico. Mas não há qualquer dúvida de que todo mundo que é elitista, racista, machista e homofóbico odeia o PT. Muita gente que não tem qualquer ética no dia a dia odeia o PT. Daí o subconsciente de algumas pessoas dizem que, por causa disso, o PT é bom. Mas o mundo não se restringe a bem versus mal. Muitas pessoas escrotas odeiam o PT. Mas isto não impede que apesar de também ter feito muitas coisas boas, o PT também tenha feito muitas coisas escrotas.

Mas depois de todas as críticas ao PT, um lembrete: impeachment da Dilma seria um golpe sim.

 

Oposição de esquerda: mais especificamente, o PSOL

Este texto será basicamente sobre o PSOL, o partido da oposição de esquerda pelo qual sou mais favorável. Como já é um texto bem crítico, fica subentendido que minhas objeções ao PSTU e ao PCB seriam ainda maiores.

Conforme eu escrevi durante a campanha eleitoral de 2014, o PSOL, naquela campanha, marcou um golaço em direitos e tomou um frango em economia. Alguns libertários também disseram isso. Mas eu não estava defendendo uma posição libertária, considerando que só é bom defender legalização do aborto e legalização da maconha, e que ser socialista é ruim. Eu não sou libertário. Não sou contra ser socialista. Sou contra apenas ser infantil.

Pelo que líderes e militantes do PSOL falam, parece que orçamentos são ilimitados. A ideia básica é "podemos definir arbitrariamente um padrão de vida ideal e os governantes que não proporcionarem este padrão para toda a população são maus". A luta política deve ser feita para melhorar a distribuição da renda em favor das classes mais baixas, mas nenhuma luta política é capaz de multiplicar a renda por mágica. Este discurso do "temos que aumentar o gasto nisso, aumentar o gasto naquilo" pode até ser útil para mobilizar militância, pois é o mais fácil para pessoas com pouca instrução entenderem. Mas tenho dúvidas de que isso seja realmente politizante, pois apenas represa futura decepção para quando o PSOL for governo. Não precisa nem falar de situações hipotéticas. Isto já ocorre na realidade. A prefeitura de Macapá percebeu que não dá para pagar o salário para os professores que considera justo quando não tem dinheiro para isso. E não é verdade que o governo gasta 45% do "nosso dinheiro" com pagamento de juros da dívida, sei lá quantas vezes mais do que gasta com saúde e educação. O governo não gasta 45%*(impostos) e sim 45%*(impostos+empréstimos). O dinheiro para pagar juros dos títulos velhos vem da emissão de títulos novos, ou seja, empréstimos. Se o governo resolvesse dar o calote na dívida e usar o dinheiro emprestado para a saúde e educação, não haveria mais dinheiro emprestado.

A esquerda erra quando foca sua luta política em defesa de déficits públicos elevados e maior tolerância com inflação. Quem mais perde com déficit são os pobres, que os favoráveis ao déficit dizem estar defendendo, porque mais déficit implica juros mais altos, que prejudica tomadores de empréstimos e beneficia emprestadores. E se um Estado fica endividado demais, fica impossibilitado de prover serviços básicos. Se há déficit grande e os juros não sobem, há inflação elevada, que come mais a renda do pobre do que a renda do rico, pois o pobre tem menos acesso ao sistema financeiro. O que deve ser decidido politicamente é de onde deve vir a receita e para onde deve ir a despesa, mas não há política que permita fazer com que a despesa seja indefinidamente muito maior do que a receita. Este costume de parte da esquerda de não conseguir diferenciar alhos e bugalhos não é novo e já causou prejuízo anteriormente. Durante o governo João Goulart, também havia déficit e inflação, e o governo tentou fazer um ajuste, através do Plano Trienal. E ao contrário do que ocorre hoje, quem chefiava a economia não era um Chicago Boy, era ninguém menos do que Celso Furtado. O governo pretendia conciliar ajuste com reformas progressistas. Parte da esquerda passou a hostilizar o Plano Trienal, contribuindo para o enfraquecimento político de João Goulart.

Mesmo quando tenta sofisticar um pouco mais o discurso sobre economia, a oposição de esquerda comete erros básicos. Critica a desindustrialização do Brasil (perda de participação da indústria de transformação no PIB e nas exportações), mas reclama que os salários não aumentaram o suficiente, que são necessários mais direitos trabalhistas. Ou seja, o que propõem é ligar o ar condicionado e o aquecedor ao mesmo tempo. A desindustrialização do Brasil ocorreu justamente porque os salários aumentaram, e tornou-se impossível alguns setores industriais no Brasil concorrer com países asiáticos, que têm baixo custo do trabalho. Comprimir salários não é a única opção para recuperar a indústria, pois é possível investir em setores mais sofisticados tecnologicamente, não intensivos em trabalho não qualificado. Mas para isso, precisa capacitar melhor a força de trabalho brasileira. E para isso, precisa melhorar e muito a proficiência dos estudantes brasileiros em leitura e matemática. É aí que vem mais um defeito da extrema-esquerda: mania de sonhar demais quando fala em Educação e ser hostil às políticas que no curto prazo priorizem conteúdos mais tradicionais, como leitura e matemática. Poderemos ter um ensino mais vanguardista somente quando sairmos da merda no mais básico.

Todos estes defeitos comprometem os programas de governo do PSOL para o Poder Executivo. Por isso, muita gente que vota no PSOL sabe que as propostas são inviáveis e que os candidatos não desejam realmente exercer o cargo para o qual concorrem, mas vota no 50 como um gesto simbólico, acreditando que um bom resultado para o PSOL pressiona o PT voltar mais para a esquerda. As exceções foram Marcelo Freixo concorrendo a prefeitura do Rio de Janeiro e o ex-prefeito de Belém Edmílson Rodriguez concorrendo novamente ao cargo em 2012. Os dois elaboraram programa viável com intenção de concorrer de verdade.

Considero que Luciana Genro está cometendo um erro quando defende uma nova constituinte. O Brasil atual não tem sindicatos e movimentos sociais tão fortes quanto tinha em 1988. As forças políticas reacionárias estão muito mais fortes hoje do que estavam naquele tempo. Uma Assembleia Constituinte eleita nos dias atuais não escreveria uma Carta com os mesmos direitos individuais, sociais e trabalhistas presentes na de 1988. Seria criada uma República Teocrática Evangélica, que de liberal só seria na economia.

Por outro lado, os deputados do PSOL têm atuação muito boa. Aí, no Legislativo, meu voto começa com 50 sem qualquer indício de dúvida. Como agora eu moro no Rio de Janeiro e transferi meu título, minha dúvida em 2014 foi apenas entre Jean Wyllys e Chico Alencar, os dois muito bons. Quase que precisei decidir na moedinha.



Se eu falei mal de partidos, quer dizer que eu odeio partidos, que partidos são ultrapassados, que política agora só dá para fazer com ação direta? Não, eu apenas estou insatisfeito com os partidos brasileiros na atualidade.
Na década de 1990, poderíamos dizer que era um luxo o brasileiro ter condição de escolher entre PT e PSDB. Eram dois partidos dois quais se podia falar bem. Muitos acreditaram que em 1994, escolher entre Fernando Henrique e Lula era escolher entre dois bons candidatos. O mesmo se podia falar em 2002, com Lula e Serra. Eu me lembro de que no meu primeiro voto para presidente, eu votei no Lula e não contra o Serra. Eu acreditava que se o Serra fosse eleito, também não seria ruim. Assim como muita gente que votou no Serra ficou com muita esperança de que o Lula pudesse fazer um bom governo.
Atualmente, é possível dizer que poder escolher entre PT e PSDB é uma desgraça. Um pouco porque os dois partidos pioraram, um pouco porque alguns defeitos desses partidos, que já existiam, vieram mais à tona.
O voto nulo em 2018 deve ser considerado como possibilidade. Sou contra campanhas por voto nulo em segundo turno, porque a neutralidade no momento torna-se impossível. Quem é de esquerda e prega o voto nulo ajuda o candidato de direita (porque só converte potenciais votos do candidato de esquerda em votos nulo) e quem é de direita e prega o voto nulo ajuda o candidato de esquerda. Por isso, é melhor que campanhas pelo voto nulo sejam feitas antes do primeiro turno.

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