sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Merval Pereira e a bomba

Quando algum grupo político sofre algum ato violento, a reação mais habitual é reagir com ataques verbais a qualquer um que não goste deste grupo, mesmo os que não gostam por motivos justos e não praticam violência. Isso é uma prática muito antiga, vem desde os tempos do incêndio de Roma (embora a reação neste caso não tenha sido apenas verbal). Essa forma de reação pode ter seus defeitos, mas também tem seu lado positivo. Impõe a necessidade de todos manifestarem repúdio à violência em alto e bom som. Por exemplo, foi correto exigir que os muçulmanos manifestassem condenação ao ataque à Charlie Hebdo, para evitar vínculo entre a religião e os terroristas.
Em dois casos recentes no Brasil, envolvendo grupos políticos opostos, verificamos esta prática. No ano passado, às vésperas do segundo turno, o prédio da Abril foi pichado e emporcalhado por militantes da UJS. Isso serviu de pretexto para que simpatizantes da ideologia da Veja tentassem criminalizar até quem pacificamente repudia a revista por motivos justos. Há uma semana, o prédio do Instituto Lula foi atacado com uma bomba de fabricação caseira. Aí os petistas resolveram apontar o dedo pra quem odeia o PT, incluindo aqueles que não participaram do ataque e que odeiam por motivos justos. Até aí, nenhuma novidade.
Novidade mesmo foi Merval Pereira, em um jornal de grande circulação, ter acusado o próprio PT de ter causado o ataque, para fazer exploração política do episódio. Ele não foi explícito, mas mencionou esta possibilidade. Não faz diferença, o efeito é o mesmo. Induz seus leitores a acreditarem nesta teoria. É pouco provável que esta teoria seja verdadeira, porque já foi o terceiro ataque a prédios do PT. Além disso, houve muitas agressões físicas a pessoas portando estrelas vermelhas durante a campanha eleitoral. Nem Gregório Duvivier foi poupado. É difícil imaginar que o PT tenha um staff tão grande só para atacar a si mesmo e se fazer de vítima. Ainda assim, as pessoas têm o direito de ter suas desconfianças e expressa-las oralmente na presença de familiares e amigos. Mas escrever essas coisas em jornal de grande circulação não é muito ético.
Outro questionamento que eu tenho ao Merval Pereira é: se a casa dele tivesse sido atacada por uma bombinha e um pequeno rombo tivesse aparecido na porta, será que ele escreveria uma coluna no jornal minimizando a importância do episódio?
Outra parte do texto do Merval a ser comentada é quando ele fala que são minoritários os manifestantes anti-Dilma que pedem a volta dos militares. São minoritários, mas não dá pra fingir que o Globo não tem a ver com isso. Esses "minoritários" que pedem a volta dos militares tiveram suas cabeças moldadas pelo "filósofo" Olavo de Carvalho. E este "filósofo" só é conhecido porque ele publica colunas no Globo e na Época, revista que pertence ao mesmo grupo empresarial. Olavo dizia que só membros da luta armada foram mortos pela ditadura militar, que só havia censura para propaganda da luta armada. Isto não é opinião. Isto é mentira. Rubens Paiva, Vladimir Herzog e outros foram assassinados independentemente de qualquer "opinião" proferida pelo Olavo de Carvalho. Aconteceu e pronto. As mentiras do "filósofo" moldaram as cabeças da molecada. O Globo e a Época têm responsabilidade nisso. Se não quisessem que existissem crianças defendendo o regime militar em passeatas, que podem ser utilizadas pelos petistas para deslegitimar "justas manifestações", poderiam ter pensado duas vezes antes de ter dado espaço a Olavo de Carvalho.
Em poucas palavras: Merval Pereira escreveu um monte de merda. Portanto, ele deveria enfiar no meio do cu o computador que ele usou para escrever sua coluna.

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