sábado, 16 de janeiro de 2010

Porque seria tolice acabar com os campeonatos estaduais

Houve inegáveis progressos no futebol brasileiro nos últimos anos: campeonato brasileiro com poucos clubes disputado pelo sistema de pontos corridos, calendário racional que acabou com a possibilidade de um mesmo time jogar três vezes em uma única semana. Porém, muitos dos que defenderam acertadamente estas mudanças, se equivocam completamente quando defendem uma mudança adicional: o fim dos campeonatos estaduais. Isto não seria bom para o futebol brasileiro, não seria bom para os torcedores brasileiros.
Tal mudança beneficiaria SOMENTE e NÃO NECESSARIAMENTE 12 clubes brasileiros, localizados em apenas 5 municípios, em um país que conta com mais de 5000. Tudo bem que estes clubes contam com a torcida de mais de 80% dos torcedores brasileiros, mas o fim dos estaduais não beneficiaria nem mesmo os torcedores de fora destes clubes. Estes mencionados torcedores teriam reduzidas as possibilidades de irem ao estádio para ver seus times jogar.
Somente os 12 maiores clubes do Brasil teriam (ou melhor, têm) condiçoes financeiras de se manter regularmente na Série A do Brasileiro. Para as outras 8 vagas, há um rodízio constante, há muitos times iôiô. Como a Série A recebe a maior atenção, somente torcedores mais fanáticos de estádio torceriam para times fora do eixo Rio de Janeiro - São Paulo - Santos - Belo Horizonte - Porto Alegre. Os torcedores de televisão, mesmo morando fora destes respectivos municípios, inevitavelmente torceriam para um dos grandes clubes.
Os campeonatos estaduais permitem que times de fora do eixo joguem regularmente contra times grandes. Isto é importante principalmente para o interior de São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Para os times de capital do Norte e do Nordeste, os estaduais também são importantes. Acredito que os cearenses acompanhem mais o Ceará e o Fortaleza no campeonato cearense do que na Série B do Brasileiro.
Sem os campeonatos estaduais, os times de fora do G12 definhariam, por falta de atenção dos torcedores locais. E o que seria do futebol brasileiro com somente 12 times competitivos? Algo como Fórmula 1 com somente McLaren, Ferrari e Williams. A Fórmula 1 precisa de uma Red Bull ou Toro Rosso para ter um pouco mais de emoção. O mesmo vale para o futebol.
Um argumento muito utilizado pelos defensores do fim dos campeonatos estaduais é o de que há três meses de disputa para chegar a uma final extremamente previsível. Este argumento não está baseado em fatos verídicos. É mais comum a final do campeonato gaúcho não ser Grêmio X Internacional do que ser. O mesmo vale para o campeonato mineiro, em que muitas vezes, a final não é disputada entre Cruzeiro e Atlético. Em São Paulo, é comum times de fora do G4 chegar às semifinais. No Rio de Janeiro também. No campeonato goiano, há times competitivos de Anápolis, Catalão e Itumbiara.
Outro argumento utilizado é o de que no futebol europeu, o melhor do mundo, não há campeonatos estaduais. Há dois problemas neste argumento: primeiro, um país europeu tem o tamanho de um estado brasileiro. Segundo, tirando a Inglaterra e a Itália, a rivalidade local na Europa não tem muita importância. O maior rival do Real Madrid, por exemplo, é o Barcelona, e não o Atlético de Madrid. E mais: alguns estados da Alemanha fazem disputa estadual de taça.
Outra coisa a ser lembrada é que ao contrário do que ocorre na política, no futebol, o Brasil é uma verdadeira república federativa. O futebol começou nos estados. Os campeonatos estaduais são muito mais antigos do que o nacional, e por isso, têm charme e tradição.
Alguns defensores do fim dos campeonatos estaduais alegam que é necessário o calendário do futebol brasileiro sincronizar com o europeu para evitar debandada de jogadores no meio do campeonato nacional. Mas para isto, não é necessário o fim dos campeonatos estaduais. Basta agendá-los para o período compreendido entre os meses de agosto e outubro, e agendar o campeonato nacional para o período compreendido entre os meses de novembro e junho.

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