Há dois revisionismos sobre a história do nazismo que alguns pilantras praticam por motivos políticos. Um é o de que o Holocausto não existiu. O outro é o de que o nazismo seria de esquerda.
O primeiro é o pior por desrespeitar vítimas de uma atrocidade. Mas o segundo não deixa de ser abjeto. E como se trata de uma questão subjetiva e não de um acontecimento fartamente documentado, há o risco maior de algumas pessoas serem iludidas. Portanto, esta postagem discute um pouco este revisionismo.
Recentemente, há uma grande corrente de "pensadores" de direita e de usuários de Internet que seguem esses pensadores que passaram a divulgar a patacoada de que o nazismo seria de esquerda com um simples objetivo: se livrar do filho feio. Como ninguém (ou melhor, quase ninguém) acha que o nazismo foi bom, é melhor esconder o fato de que o nazismo foi de direita para que o nome da direita não fique manchado. Estranhamente, alguns desses "pensadores" elogiam o Generalíssimo Franco, aquele que teve ajuda da Força Aérea do Hitler para chegar ao poder.
Os principais motivos dessa turma são:
1) Nazismo é abreviatura de Nacional Socialismo
2) Usava bandeira vermelha
3) Praticou políticas keynesianas
4) Um texto do Mises Institute disse que o nazismo era de esquerda
5) O Leandro Narloch disse que o nazismo era de esquerda
6) O Rodrigo Constantino disse que o nazismo era de esquerda
Bom, o que dizer disso? Nome de partido não quer necessariamente dizer conteúdo, vide os inúmeros exemplos de partidos brasileiros. E mesmo se o socialismo for verdadeiro, pode significar anti-liberalismo, e não necessariamente igualitarismo.
Sobre as políticas keynesianas, elas não são necessariamente de esquerda. As políticas econômicas keynesianas têm dois objetivos. O primeiro é combater recessões causadas por insuficiência de demanda. O segundo é combater a elevada concentração de renda gerada pelo capitalismo. Somente as políticas para atingir esse segundo objetivo são necessariamente de esquerda. Esse tipo de política não foi praticado pelos nazistas. Eles fizeram apenas políticas de fomento à demanda, que podem ser praticadas tanto por governos de esquerda, quanto pelos de direita. Em geral, governos de direita fazem política de demanda através dos gastos militares. Foi o que fizeram os nazistas.
O que ajuda muito na discussão sobre o posicionamento do nazismo no espectro político é observar documentos históricos. A matéria da Folha da Manhã do dia 1 de fevereiro de 1933, dia seguinte à chegada do Hitler ao poder, mostra muito bem quem estava a favor e quem estava contra.
É possível ver perfeitamente como os comunistas e os socialistas (SPD) estavam contra a formação do governo nazista e como o capital financeiro e o ex-kaiser estavam a favor.
É de notório conhecimento que o SPD e o KPD (Partido Comunista) não endossaram a ascensão de Hitler ao poder e que outros partidos conservadores além do nacional socialista endossaram. O Partido Nacional Socialista (NSDAP) nunca obteve maioria absoluta no Parlamento, o apoio de outros conservadores foi fundamental.
Além de documentos históricos, há análises acadêmicas interessantes. Quanto às política econômicas keynesianas dos nazistas, é interessante este artigo escrito em 2009, em que é possível perceber como essas políticas estiveram bem distantes daquelas aplicadas pelos social democratas europeus no pós segunda guerra.
Ainda que as políticas nazistas fossem completamente estatizantes, elas não seriam de esquerda só por causa disso. E além disso, essas políticas não foram completamente estatizantes. Sim, isso mesmo, Hitler privatizava. Este trabalho acadêmico mostra bem isso.
Atualmente, os neonazistas são chamados na Alemanha de rechtsradikale (a tradução é radicais de direita). Eles certamente não gostariam de ser chamados de esquerdistas. Aqui no Brasil, o adolescente que quer mostrar "mamãe, sou radical de direita" ainda não sabe se vai virar neonazista ou se vai rejeitar de boca pra fora o nazismo (provavelmente concordando com algumas de suas ideias) e dizer que "o nazismo é de esquerda".
segunda-feira, 12 de janeiro de 2015
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