sábado, 3 de janeiro de 2015

O seguid... alunos de Olavo de Carvalho

Olavo de Carvalho não é burro. Se ele conseguiu ter um rebanho de seguid... quer dizer, alunos, que pagam por seus cursos e suas apostilas, alguma inteligência ele deve ter. Já os seus seguid... quer dizer, alunos, o que dizer deles? Estou sem criatividade para descrevê-los exatamente. Digo apenas que são... diferentes de seres humanos normais.

O instinto que eles têm de proteger seu Mestre parece o instinto que cachorros têm em proteger seus donos. Basta alguém escrever algum comentário negativo sobre o Mestre na Internet que eles já agem em bando emitindo um grande rol de lat... insultos. O mais comum é o de que quem ataca o Mestre deles é "pago pelo petê". Isto foi visto, por exemplo, na tempestade de comentários que o texto crítico ao Olavo escrito pelo Wando do Yahoo gerou. Se esses canídeos descobrem este texto pelo Google, provavelmente despejarão quilos de comentários do nível "você é pago pelo petê". Comentários que eu não publicarei.

Eu posso gostar de um determinado escritor, mas não é por isso que vou xingar em caixa de comentários qualquer um que escreve críticas ao escritor que eu gosto.

Os alunos de Olavo de Carvalho pensam que seu Mestre é o maior pensador vivo do Brasil. Provavelmente pensam que não é prestigiado em universidades brasileiras porque estas estariam dominadas pelo marxismo cultural. Não sei se um dia pararam para pensar na seguinte pergunta: "se Olavo não é prestigiado nas universidades brasileiras porque elas são dominadas pelo marxismo cultural, por que ele não está demonstrando todo seu vastíssimo conhecimento em universidades do Estados Unidos, país onde ele reside?"

Bom, então vamos demonstrar um exemplo do "vastíssimo" conhecimento detido pelo Grande Mestre Olavo de Carvalho. Em uma coluna que ele cometeu... quer dizer, escreveu, para a Revista Época de 16 de dezembro de 2000, ele cagou..., quer dizer, disse o seguinte sobre Marx:

Marx ficou tão deslumbrado quando descobriu um suposto “fetichismo da mercadoria” que não percebeu que as coisas só podem ser quantidades abstratas ou puras mercadorias do ponto de vista de quem vende, jamais de quem compra. Para este, elas são bens concretos, bens de uso e consumo. Um menino não compra uma bola porque é “mercadoria”, mas porque é bola. Uma mulher não compra um vestido porque vale x ou y no mercado, mas porque agrada a seus olhos, aos do marido ou aos da roda de amigas a quem deseja impressionar.
http://www.olavodecarvalho.org/semana/idomercado.htm

Ao abrir "O Capital" na primeira página, podemos ler o seguinte:

A mercadoria é, antes de tudo, um objecto exterior, uma coisa que, pelas suas propriedades, satisfaz necessidades humanas de qualquer espécie. ...
A utilidade de uma coisa transforma essa coisa num valor-de-uso. Mas esta utilidade nada tem de vago e de indeciso. Sendo determinada pelas propriedades do corpo da mercadoria, não existe sem ele. O próprio corpo da mercadoria, tal como o ferro, o trigo, o diamante, etc., é, consequentemente, um valor-de-uso, e não é o maior ou menor trabalho necessário ao homem para se apropriar das qualidades úteis que lhe confere esse carácter.
http://www.marxists.org/portugues/marx/1867/ocapital-v1/vol1cap01.htm#topp

Entenderam? Pela leitura da primeira página do Capital é possível perceber que Marx percebeu sim as coisas só podem ser quantidades abstratas ou puras mercadorias do ponto de vista de quem vende, jamais de quem compra. Marx sabe muito bem que um menino compra uma bola porque é bola. Em poucas palavras: Olavo de Carvalho quis refutar Marx sem ter lido (ou compreendido) sequer a primeira página da principal obra do pensador alemão. Ninguém tem obrigação de ler Marx. Mas quem pretende refutá-lo tem.

Se alguém que consideramos uma referência intelectual comete uma gafe dessas, a reação natural é passar a ver essa "referência" com um pouco mais de desconfiança. Mas quem não conhece a obra de pensadores por leitura direta, conhece apenas o que Olavo de Carvalho escreveu sobre esses pensadores, dificilmente reconhecerá essas gafes.

Quando recebe qualquer crítica, Olavo tem o costume de dizer que "seus críticos o atacam apenas por uma ou outra coisa que ele escreveu na imprensa ou falou na Internet, mas não têm capacidade de debater a vasta obra dele sobre Aristóteles". Ora porra (jargão dele), o que Aristóteles tem a ver com isso? Se eu não conheço Aristóteles e ele conhece, eu não vou discutir o que ele escreveu sobre Aristóteles. Mas se eu conheço a obra de Marx e percebo que ele falou uma groselha (usando o vocábulo do Pirula) sobre Marx, não vou deixar de alertar só porque eu não conheço a obra de Aristóteles. Se alguém que conhece detalhes da biografia do ator que faz o papel do Bozo diz que 3 + 3 = 33, eu não preciso deter o mínimo conhecimento da biografia do ator que faz o papel do Bozo para dizer que quem falou que 3 + 3 = 33 falou uma grande groselha.

Em relação aos clássicos de Economia Política, Olavo de Carvalho cometeu uma groselha não apenas sobre Marx, mas também sobre Keynes, como eu apresentei em outro post http://blogdomarcelobrito.blogspot.com.br/2014/05/o-que-keynes-e-gramsci-tem-em-comum-ha.html

O rol de atrocidades não se limita à Economia Política. O ex-astrólogo também foi muito incompetente para prever o futuro. Em 26 de outubro de 2002, sobre o futuro governo Lula, ele escreveu no jornal O Globo:

Em poucas semanas, a estréia petista no poder terá superado de muito a ditadura militar, que em vinte anos não fez mais de dois mil presos políticos.
http://www.olavodecarvalho.org/semana/10262002globo.htm

Não sei se algum segui... aluno chegou um dia a perguntar "Mestre, onde estão localizados os prisioneiros políticos do governo Lula?" Muito provavelmente, nem uma previsão tão furada quanto esta abalou a confiança dos aprendizes no mestre.
E não foi a única. Em 3 de fevereiro de 2001, ele escreveu o seguinte na Revista Época

No futuro Brasil socialista, quando estivermos disputando a tapa uma perna de rato, Olívio Dutra, exibindo indignado uma lata de Coca-Cola vazia, dirá que é tudo culpa da maldita Ford que o deixou na mão quando ele mais precisava dela.
http://www.olavodecarvalho.org/semana/doido.htm

Mas não é o futuro a única vítima do autointitulado filósofo. O passado também é. Em várias colunas, ele disse que a ditadura militar brasileira matou "trezentos terroristas". Portanto, qualquer um que adquire conhecimentos de História do Brasil apenas pela leitura das colunas de Olavo de Carvalho acaba tendo uma visão deformada. Por dois motivos. Primeiro, porque os assassinados pela ditadura não foram apenas os integrantes da luta armada. Entre os mortos se incluem o Edson Luís, o Rubens Paiva, o Wladimir Herzog, o Manoel Fiel Filho, o Pedro Pomar, os três mortos pela carta bomba à OAB e os muitos índios assassinados na construção de obras faraônicas na região Amazônica. Segundo porque nem todos os atos praticados por integrantes da luta armada se enquadram na definição de terrorismo.

Muito provavelmente, o jovem discípulo olavete ainda está tão mergulhado na imaturidade que ainda não sabe definir se o fascismo é bom ou se o fascismo é de esquerda. Caso se convença de que o fascismo é ruim, precisa se convencer de que o fascismo é de esquerda, porque nada que seja de direita poderia ser ruim. E o Mestre só fomenta essa confusão.

Em 2000, ele tentou transmitir a ideia de que o fascismo seria de esquerda

Pelo fim do século XIX, as revoluções liberais tinham acabado, os regimes liberais entravam na fase de modernização pacífica. O liberalismo triunfante podia agora reabsorver valores religiosos e morais sobreviventes do antigo regime, tornados inofensivos pela supressão de suas bases sociais e econômicas. Ele já não se incomodava de personificar a "direita" aos olhos das duas concorrentes revolucionárias, rebatizadas "comunismo soviético" e "nazifascismo".
http://www.olavodecarvalho.org/semana/fascismo.htm

Porém, em 2012 ele escreveu

Moralmente falando, Francisco Franco, Charles de Gaule ou Humberto Castelo Branco, homens de uma idoneidade pessoal exemplar
http://www.olavodecarvalho.org/semana/120117dc.html

Ou seja: o fascismo tem as semelhanças com o comunismo, mas o Generalíssimo Franco, que chegou ao poder com ajuda de Hitler e Mussolini tem idoneidade pessoal exemplar. Em breve, vou escrever um post específico sobre esse charlatanismo de dizer que o "nazismo era de esquerda porque tinha socialismo no nome".

Mas qual seria a ideologia política seguida por Olavo de Carvalho? Em 5 de novembro de 2000, ele escreveu na Revista Época que era a favor da democracia liberal

Se nas coisas que escrevo há algo que irrita os comunas até à demência, é o contraste entre o vigor das críticas que faço à sua ideologia e a brandura das propostas que lhe oponho: as da boa e velha democracia liberal. Eles se sentiriam reconfortados se em vez disso eu advogasse um autoritarismo de direita, a monarquia absoluta ou, melhor ainda, um totalitarismo nazifascista. Isso confirmaria a mentira sobre a qual construíram suas vidas: a mentira de que o contrário do socialismo é ditadura, é tirania, é nazifascismo.
http://www.olavodecarvalho.org/semana/verdadireita.htm

Porém, em 11 de setembro de 2006, ele parece preferir a teocracia do tzarismo às democracias liberais

Vejam, por exemplo, o que aconteceu na Rússia entre a metade do século XIX e a queda da URSS. Por volta de 1860-70 a cultura russa, até então raquítica em comparação com as da Europa ocidental, começava a tomar impulso para lançar-se a grandes realizações. A inspiração que a movia era sobretudo a confiança mística no destino da nação como portadora de uma importante mensagem espiritual a um Velho Mundo debilitado pelo materialismo cientificista. Preservada da corrosão revolucionária por um regime político fortemente teocrático em que as crenças oficiais da côrte e a religiosidade popular se confirmavam e se reforçavam mutuamente, a Rússia contrastava de maneira dramática com as nações ocidentais onde a elite e as massas viviam num divórcio ideológico permanente e que por isso só se modernizavam à custa de reprimir e marginalizar os sentimentos religiosos da população.
http://www.olavodecarvalho.org/semana/060911dc.html

Não sei se os segui... quer dizer alunos perguntaram um dia "Mestre, isso está um pouco confuso, você prefere a democracia liberal ou o tzarismo?"

Por fim, Olavo de Carvalho se mostrou irresponsável em questões de saúde. Ele escreveu em 17 de julho de 2006

Alguns de meus oito filhos tomaram vacinas, outros não. Todos foram abençoados com saúde, força e vigor extraordinários, e nenhum deles deve isso aos méritos da ciência estatal, mas a Deus e a ninguém mais.
http://www.olavodecarvalho.org/semana/060717dc.html

Não foi Deus que tornou saudável os filhos que não tomaram vacina. Foi o fato de outros pais não serem igualmente psicopatas e terem levado suas crianças para tomar vacina, impedindo a propagação de doenças inclusive nos poucos (filhos de psicopatas) que não tomaram vacinas.

Apesar de abilolado, Olavo de Carvalho é esperto o suficiente a ponto de ter um público cativo para vender cursos. Já os seus alunos...


Obs: Reparem que em todas as referências às colunas escritas por Olavo de Carvalho eu dei o link para o texto completo, para evitar críticas como a de que "você retirou as frases do contexto". Querem conferir o contexto completo? Leiam as colunas completas. Verão que não alivia, e sim que só piora.



2 comentários:

antonio barbosa filho disse...

Marcelo, gostaria de pedir-lhe autorização para usar pelo menos um de seus textos num livro que estou preparando sobre o que chamo de "direitona-burra", e que tratará bastante do Olavão. Por favor, vamos trocar informações pelo valepensar@bol.com.br.
Sou jornalista e tenho três livros publicados, e preciso enviar os originais do próximo para a editora nos próximos dias. Um abraço, e muito obrigado.

Marcelo Brito disse...

Autorização concedida