quinta-feira, 3 de setembro de 2009
Palpite pro jogo entre Brasil e Argentina
Neste clássico, quem entra em campo com três pontos costuma sair com zero. E vice versa. E isto vale para os dois lados.
Pequenas notas automobilísticas
> Devemos louvar o esforço do Barrichello em se manter na Fórmula 1 durante 16 anos e ainda conquistar algumas vitórias. Seu maior problema são as cordas vocais. Isto decorre de falta e não de excesso de personalidade. Ele era simpático antes do Senna ter ido embora. Anos depois, passou a achar que tinha talento para ser um novo ídolo. Bastava ele ter resistido à pressão galvânica e assumido que não seria um novo ídolo e ponto final. Apenas um bom piloto e um bom mecânico. Mas não, prefere inventar desculpas para justificar o fato de não conseguir acompanhar companheiros de equipe. E o pior de tudo é ficar remoendo a troca de posicoes na Áustria em 2002. A decisão da Ferrari foi absurda (diferente daquela de mandar o Massa dar a vitória ao Raikonnen, quando se tratava de disputa de título). Mas foi devolvida em Indianápolis no mesmo ano. Por que ele de repende voltou a esbravejar ódio contra a ex-equipe alguns anos depois?
> Se for confirmado que Nelson Piquet Jr. bateu no muro em Cingapura de propósito, isto será um banho de água fria nas cordas vocais dele e nas do pai.
> A TV alemã RTL, que transmite Fórmula 1, está desesperada para o Vettel emplacar. Quando o Schumacher corria, a audiência era de 7 milhões de telespectadores. Hoje é de 4 milhões.
Bom texto sobre assunto que eu tinha abordado em post anterior
O perigo da utopia
Se as utopias de esquerda levaram - em muitos casos - ao totalitarismo, a utopia liberal e sua permanente negação do papel do poder e da preparação para a guerra, na história do capitalismo e das relações internacionais, leva, com freqüência, os intelectuais e dirigentes destes países mais fracos, à uma posição de servilismo internacional.
José Luís Fiori
"...a geopolítica do equilibro de poderes e a prática do imperialismo explícito deixaram de fazer sentido devido a uma série de novos fatos históricos [...], esta abordagem das relações internacionais não tem mais espaço no mundo em que vivemos, do pós-colonialismo, da globalização, do sistema político global, e da democracia [...] com a globalização, todos os mercados estão abertos e é inimaginável que um país recuse vender a outro, por exemplo, petróleo a preço de mercado..[...] Resulta ainda daqueles fatos que a guerra entre grandes países tambem não faz mais sentido [...] No século XX, as guerras entre as grandes potências não faziam sentido porque todas as fronteiras já estavam definidas?"
LUIZ CARLOS BRESSER PEREIRA, "O mundo menos sombrio", Jornal de Resenhas, nº 1, 2009, USP, p:7.
Na segunda metade do Século XX, em particular depois de 1968, tornou-se lugar comum a crítica dos "novos filósofos" europeus, que associavam a utopia socialista ao totalitarismo. Mas não se ouviu o mesmo tipo de reflexão, depois da década de 80, quando a utopia liberal se tornou hegemônica e suas idéias tomaram conta do mundo acadêmico e político. Logo depois da Guerra Fria, Francis Fukuyama popularizou a utopia do "fim da história" e da vitória da "democracia, do mercado e da paz". E apesar dos acontecimentos que seguiram, suas idéias seguem influenciando intelectuais e governantes, sobretudo na periferia do sistema mundial.
Basta ver a confusão causada pelo anúncio recente da decisão norte-americana de ampliar sua presença militar na América do Sul. Com a instalação ou ampliação de sete bases militares no território colombiano, que deverão servir de "ponto de apoio para transporte de cargas e soldados no continente e fora dele".( FSP,5/8/09) O governo norte-americano justificou sua decisão com objetivos "de caráter humanitário e de combate ao narcotráfico". A mesma explicação que foi dada pelo governo americano, por ocasião da reativação da sua IV Frota Naval, na zona da América do Sul, no ano de 2008 : "uma decisão administrativa, tomada com objetivos pacíficos, humanitários e ecológicos" (FSP, 9/0708).
Uma das funções dos diplomatas é participar deste jogo retórico que às vezes soa até um pouco divertido. E cabe aos jornalistas o acompanhamento destes debates sobre distâncias, raio de ação dos aviões, ameaça das drogas, etc. Todavia os intelectuais têm a obrigação de transcender este mundo da retórica e dos números imediatos, e também, o mundo das fantasias utópicas, o que as vezes não acontece, e não se trata - evidentemente - de um problema de ignorância. Pense-se, por exemplo, na utopia liberal do "fim das guerras" que já não fariam mais sentido entre os grandes países, e contraponha-se este tese com a história passada e a história do próprio século XX e XXI.
Segundo a pesquisa e os dados do historiador e sociólogo norte-americano, Charles Tilly: "de 1480 a 1800, a cada dois ou três anos iniciou-se em algum lugar um novo conflito internacional expressivo; de 1800 a 1944, a cada um ou dois anos; a partir da Segunda Guerra Mundial, mais ou menos, a cada quatorze meses. A era nuclear não diminuiu a tendência dos séculos antigos a guerras mais freqüentes e mais mortíferas [ alias] , desde 1900, o mundo assistiu a 237 novas guerras, civis e internacionais.. [enquanto.] o sangrento século XIX contou 205 guerras" (Charles Tilly, Coerção, capital e Estados europeus , Edusp, 1996, p. 123 e 131.) Mesmo na década de 1990, durante os oito anos da administração Clinton, que foi transformado na figura emblemática da vitória da democracia, do mercado e da paz, os EUA mantiveram um ativismo militar muito grande. E ao contrário da impressão generalizada, "os Estados Unidos se envolveram em 48 intervenções militares, muito mais do que em toda a Guerra Fria, período em que ocorreram 16 intervenções militares". (Bacevich, 2002: p:143). E mais recentemente, os "fracassos" militares dos EUA, no Iraque e no Afeganistão - ao contrário do que dizem - aumentaram a presença militar dos EUA na Ásia Central e o cerco da Rússia e da China, envolvendo, portanto, preparação para a guerra entre três grandes potências.
Em tudo isto, fica clara a dificuldade intelectual dos liberais conviverem de forma inteligente, com o fato de que as guerras são uma dimensão essencial e co-constitutiva do sistema mundial em que vivemos, e que portanto não é sensato pensar que desaparecerão. Ao contrário do que pensam os liberais, a associação entre a "geopolítica do equilíbrio de poderes" e as guerras, não se restringe ao século XIX, ( já havia sido identificada na Grécia), e o sonho do "governo mundial" das grandes potências, já existe pelo menos desde o Congresso de Viena, em 1815, sem que isto tenha impedido o aumento do numero dos estados e das guerras nacionais.
Neste tipo de sistema mundial, por outro lado, é muito difícil acreditar na possibilidade do "fim do imperialismo", e ainda menos, neste início do século XXI, em que as grandes potências - velhas e novas - se lançam sobre a África, e sobre a América Latina, disputando palmo a palmo o controle monopólico dos seus mercados e das fontes de energia e matérias primas estratégicas. E soa quase ingênua a crença liberal nos "mercados abertos", num mundo em que todas as grandes potências impedem o acesso às tecnologias de ponta, não aceitam a venda de suas empresas estratégicas, e protegem de forma cada vez mais sofisticada seus produtores industriais e seus mercados agrícolas.
Neste ponto, chama atenção a facilidade com que os economistas liberais confundem os mercados de petróleo, armas e moedas, por exemplo, com os mercados de chuchu, queijos e vinhos. Em tudo isto, o importante é que a utopia liberal também pode ter conseqüências nefastas, sobretudo para os países que não estão situados nos primeiros escalões da hierarquia de poder do sistema mundial. Se as utopias de esquerda levaram - em muitos casos - ao totalitarismo, a utopia liberal e sua permanente negação do papel do poder e da preparação para a guerra, na história do capitalismo e das relações internacionais, leva, com freqüência, os intelectuais e dirigentes destes países mais fracos, à uma posição de servilismo internacional.
José Luís Fiori, cientista político, é professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
sexta-feira, 21 de agosto de 2009
20 anos sem Raul
A música popular tem muitos Fla-Flus, do tipo Beatles ou Stones, Emilene ou Marlinha. Mas Raul fez parte nao de um Fla-Flu, mas sim de um Flamengo-Fluminense-Vasco sobre o nome do rock brasileiro que foi embora cedo: Raul, Cazuza ou Renato Russo? Entre os três, sou mais Raul.
Raul fez "o dia em que a terra parou", música mais da paz do que "imagine", de John Lennon.
Raul foi embora deixando saudades, mesmo para aqueles que nao se lembram dele vivo.
sexta-feira, 14 de agosto de 2009
Estão prontos para a guerra?
Para este ano, o plano é instalar bases militares na Colômbia.
Seria paranóia pensar que os interesses de longo prazo são o controle das florestas equatoriais e das reservas de petróleo da América do Sul? Hmmm...
> Al Gore já disse que a Amazônia é de toda a humanidade. John Major, Mitterand e Gorbatchev fizeram declarações parecidas. Os jornais The New York Times e o The Independent já escreveram editorais contestando implicitamente a soberania dos países que tem a Amazônia em seu território sobre a mesma.
> A mídia dos EUA e da Europa relata freqüentemente a ameaça representada pelo armamento da Venezuela. Por que tanto interesse deles no assunto, se certamente o país nunca teria condições de atingir os EUA e a Europa?
> A alta do preço do petróleo provoca redução do crescimento econômico dos EUA e de muitas outras potências da OCDE. Até quando eles vão tolerar isto?
> O crescimento econômico mundial certamente provoca pressão de demanda por recursos naturais. Por que os países de alta renda per capita aceitariam na boa que grande parte destes recursos permaneçam na periferia, com a possibilidade de governos pouco confiáveis fazerem o preço deles subir?
> Vocês se lembram da invasão ao Iraque em 2003?
Quem difunde a versão de que isto tudo é paranóia é um pouco suspeito. Nesta semana, a revista The Economist fez uma matéria criticando a política externa do Brasil, e de quebra, afirmou que as bases na Colômbia servem apenas para combater traficantes e terroristas, e que a história do interesse na Amazônia e na Venezuela é pura paranóia. Esta mesma revista, neste ano, falou mal do plano do Mangabeira Unger para a Amazônia, dizendo que a necessidade de proteger a Amazônia é pura "paranóia dos militares". Ora, se realmente fosse paranóia, o único dano que o plano de Mangabeira Unger causaria seria o desperdício de dinheiro público. Ora, desperdício de dinheiro público tem em todo lugar. Por que uma revista inglesa estaria tão preocupada com o desperdício de dinheiro público em um certo país da América do Sul? E mais: tal revista costuma defender a relativizacão de soberanias nacionais em nome de causas humanitárias. Algumas de fato são, como em Ruanda, por exemplo. Outras nem tanto. Vocês se lembram do Iraque?
Critiquemos o Hugo Chávez porque ele ameaça estaçoes de rádio e televisão opositoras, porque existe opositores presos, porque ele cria divisoes administrativas regionais para se sobrepor aos governos locais oposicionistas legitimamente eleitos e porque ele faz trapalhadas na economia. Agora, quanto ao rearmamento, ele está certíssimo. A Venezuela está sentada em muitos barris de petróleo e ainda tem um trecho de Floresta Amazônica em seu território. E sua relação gasto militar / PIB é ainda menor que a da Colômbia.
Alerta também deve ser feita a esquerdistas brasileiros. Precisamos reequipar nossas Forças Armadas para garantir nossa soberania. Precisamos dar ouvidos a militares que relatam as ameaças em relação à Amazônia. Chega de intrigas entre esquerda e Forças Armadas. Já se foram 24 anos. As Forças Armadas devem proteger o povo brasileiro independentemente do fato dele eleger um governo de esquerda, centro, ou direita.
A questão abordada neste tópico não tem aver com esquerda X direita, e sim com nação X colônia.
quinta-feira, 13 de agosto de 2009
Meu pitaco no debate sobre a ANPEC
No ano passado, estudantes da UFRJ fizeram um abaixo-assinado para criticar: 1. o conteúdo do exame, 2. a alta taxa de inscrição, 3. a existência reportada de cola.
Sobre os pontos 2 e 3, eu concordo.
Sobre o ponto 1, não.
Os autores do abaixo-assinado afirmam que o exame não deveria ter uma orientação teórica única e hegemônica. Neste tópico são criticados a ausência de espaço para as abordagens heterodoxas da economia e o risco de padronização dos cursos de graduação.
Em primeiro lugar, a orientação teórica única e hegemônica só existe nas provas de Microeconomia e de Macroeconomia. Para fazer a prova de Economia Brasileira, o estudante precisa conhecer um pouco de teorias heterodoxas. E se uma faculdade desejar que seus alunos de pós tenham mais deste conhecimento, é só dar mais peso para a prova de Economia Brasileira. E se a faculdade achar que a maioria dos conhecimentos presentes na prova não são adequados para o perfil desejado do estudante de pós, basta introduzir outros critérios de avaliação. Isto faz, por exemplo, o Mestrado em Desenvolvimento da Unicamp, que só utiliza a prova de Economia Brasileira, a avaliação do projeto e a entrevista, estes dois, fora da ANPEC.
Sobre o conteúdo das provas de Microeconomia e de Macroeconomia, não há problema algum que seja baseado em livros-texto como Varian, Pyndick&Rubinfeld, Blanchard, Dornbusch&Fisher. O lado positivo de focar unicamente do básico da teoria ortodoxa é justamente evitar a padronização dos cursos de graduação. A Micro e Macro destes livros são muito básicas e devem ser lecionadas a estudantes de graduação de qualquer escola, independentemente de sua abordagem teórica.
A economia ortodoxa é praticamente só uma e precisa ser aprendida por ortodoxos e heterodoxos. As economias heterodoxas são várias, e uma chega a competir com a outra. Colocar conteúdo de correntes de pensamento heterodoxas induziria todos os cursos de graduação a acrescentá-las em seus currículos. Como não é possível ensinar todas as correntes heterodoxas na graduação, que são muitas, algumas teriam que ser selecionadas. Isto criaria uma padronização heterodoxa. Quando apenas a Micro e a Macro de livros-texto entram na prova, os cursos de graduação tem mais autonomia para além de lecionar este conteúdo, decidir ensinar a teoria ortodoxa com mais profundidade ou escolher quais teorias heterodoxas a ensinar, sem prejudicar o aluno que pretende fazer o exame.