sexta-feira, 4 de abril de 2008

O dia de Reinaldo Azevedo

8h: acorda
8h30: Depois de ter escovado os dentes, feito a barba e tomado o café, vai passear com o cachorro, no momento mais relax do dia, antes da árdua labuta. Vai pensando nos xingamentos que escreverá ao longo do dia. No caminho, a maioria das pessoas não o reconhece. Uma ou outra senhora fala “parabéns, se todos os brasileiros tivessem acesso aos seus textos, o país não teria esta bandalheira toda”.
9h15: Senta na frente do computador, onde pasará quase o dia inteiro. Começa seu trabalho checando os comentários dos petralhas. Encontra alguns que servem muito bem de escada, para respondê-los.
10h: Terminada esta primeira etapa, entra no blog do Luís Nassif para refutar algum texto. Encontra um post dizendo que os juros altos e o câmbio sobrevalorizado fazem mal ao país. Começa escrever que é típico dos anões morais defender a corrupção e a proteção aos traficantes e ser contra o governo na única coisa que ele acerta. Telefona para algum economista do PSDB para saber que argumento que tem que usar para responder às críticas ao BC. Recebe a resposta “ele está certo, esta política monetária é ruim, sempre achávamos nos tempos de Primeira Leitura achava isso e você teve amnésia, se seu blog serve pra atacar o governo, diz que o governo é uma bosta porque faz umas políticas estúpidas como estas”. Responde “bom, se eu falar mal do BC, meus chefes na Veja não vão gostar, então deixa pra lá”.
10h30: Meio sem idéias, faz o que costuma fazer nos momentos de preguiça. Entra no site do Estadão, acha uns artigos e editoriais conservadores, e os reproduz em seu blog.
11h: Entra no site do Olavo de Carvalho, para repercutir algum artigo, adicionando alguns elogios, mas o mais recente diz que o PT e o PSDB são tudo da mesma putada lá da USP. Resolve deixar pra lá e esperar o próximo artigo.
11h15: Fica cansado da árdua labuta até então e entra no Youtube pra relaxar com alguns vídeos engraçados.
11h30: Entra no site do Globo pra ver o último artigo do Ali Kamel, reproduzi-lo em seu blog, com comentários finais “brilhante, fantástico”. Telefona pro Ali Kamel, diz como ele é um jornalista competente e honrado. Oferece alguns serviços de proteção, porque normalmente os jornalistas conservadores são indefesos.
12h: Entra na comunidade Olavo de Carvalho nos odeia pra ver se tem alguma coisa pra refutar. Sem citar o nome, é caro, pra não fazer divulgação.
12h30: Seus filhos chegam da escola. Almoço em família. O filho diz que na aula de História, xingou o professor de petralha e esquerdopata porque foi ensinado que a crise de 1929 foi culpa do liberalismo e que o mundo capitalista prosperou entre 1950 e 1973 durante o período do Estado Keynesiano. RA diz estar orgulhoso do filho que tem. Aí este pergunta pro pai que argumento ele tem que usar quando alguém diz o que o professor de História disse. RA responde que vai pesquisar.
13h30: Terminado o almoço e o descanso, manda um e-mail pro Giambiagi perguntando que argumento tem que usar pra responder ao texto de Economia do blog do Luís Nassif e também ao professor de História do filho.
14h: Entra de novo no blog do Luís Nassif pra ver se tem textos mais fáceis pra refutar. Encontra mais um capítulo do dossiê contra a Veja. Telefona pro Mário Sabino pra saber como deve ser refutado. É instruído pra não refutar e também para fazer silêncio sobre o assunto.
14h15: Exalta o brilhantismo do último pod-cast do Diogo Mainardi, liga pra ele e diz que vai fazer três, ao invés dos habituais dois elogios semanais, caso Diogo lhe arrume uma cadeira permanente no programa Manhattan Connection.
14h45: Elogia o mais recente texto de Caio Blinder.
15h: Começa ficar sem idéias. Procura vários sites de notícias e descobre uma dizendo que o viaduto do município de Coisa Linda da Serra, administrado pelo PT, está sofrendo rachaduras. Reproduz esta notícia em seu blog.
15h30: Escuta uma música do U2 saindo do quarto da filha. Vai até o quarto e diz pra ela não ouvir essas coisas porque o Bono é mau, já que ele não acha o cristianismo superior ao islamismo, e que portanto, suas músicas não têm qualidade.
15h45: Checa o e-mail pra ver se recebeu a resposta de Giambiagi. Como a resposta não chegou, decide ele mesmo criar um argumento. Diz que esses estatizantes querem transformar o Brasil em uma Cuba de dimensões continentais.
16h30: Recebe um comentário de um estudante indignado porque o DCE de sua universidade escreveu um texto defendendo o socialismo. Publica este texto em vermelho, com a refutação em azul. A refutação diz: esses esquerdopatas têm doença mental. O capitalismo é melhor porque na Coréia do Su tem riqueza e liberdade e na Coréia do Norte tem miséria e opressão. Acha que esta refutação vai convencer todos os estudantes.
17h: Termina o expediente da empregada. Antes dela ir embora, ele a alerta que se a Marta tiver mais votos em seu bairro do que o Kassab, não vai ter panetone no Natal.
17h30: Seu filho recebe um convite pra ir ao cinema com os amigos no fim de semana. RA liga pra Isabela Bocóv pra saber se o filme proposto é adequado ou não.
19h: Vai jantar com a família em um restaurante. Ao fundo toca Chico Buarque. Ele chama o garçom e diz que a música é ruim porque o cantor votou no Lula e defende Fidel Castro.
22h: Vai dormir. Reza um Pai-Nosso, com final diferente. Ao invés de “mas livrai-nos do mal”, diz “mas livrai-nos dos petralhas e dos esquerdopatas”. Aí se lembra de que sem eles, não teria assunto.

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