segunda-feira, 26 de abril de 2010

A inutilidade de discutir Cuba

Um dos temas mais quentes de discussões reais e virtuais é o regime comunista de Cuba. Mesmo em rodas de discussões, reais e virtuais, em que existam somente esquerdistas, há uma grande divisão: comunistas são a favor, social-democratas, anarquistas e socialistas utópicos são contra.
O que faz algumas pessoas serem a favor do regime é puramente a emoção. Não há argumentos racionais favoráveis para, nos dias de hoje, louvar aquela ditadura. Isto fazia sentido nos anos 60 e 70. Naquele tempo, o regime cubano, assim como hoje, não era democrático. Mas muitos outros regimes da América Latina também não eram. E Cuba tinha melhores níveis de educação e saúde. A imagem de um moço barbudo de 33 anos tomando o poder em uma época de muitos governantes idosos (Eisenhower, Kruchev, De Gaulle, Adenauer) tinha forte apelo emocional. Além disso, Cuba era um país sedutor: um paraíso tropical do rum e da salsa.
Isto criou um apego emocional de uma geração de militantes de esquerda na América Latina com o regime. E muitos destes militantes, mesmo velhos, não conseguem se livrar deste apego. Aí tentam escavar argumentos para defender uma ditadura velhaca.
O argumento da saúde e educação não funciona mais. Cuba continua tendo uma das maiores expectativas de vida do continente americano, e uma das menores taxas de analfabetismo. Mas por que uma ditadura é necessária para obter estas conquistas? O Brasil tem indicadores bem piores, mas vem melhorando muito. Chile e Costa Rica têm excelentes indicadores de saúde e educação.
Ao observarmos os dez países com melhor IDH do mundo - Noruega, Austrália, Islândia, Canadá, Irlanda, Holanda, Suécia, França, Suíça, Japão - podemos observar que estes países, apesar de serem muito diferentes entre si em muitos aspectos, partilham de uma característica comum: são países capitalistas. Nestes países, há excelentes indicadores de educação e saúde, e além disso, a renda per capita é alta. E as pessoas não têm que enfrentar racionamento de produtos básicos.
Um castrófilo provavelmente diria: "ah, mas estes países sempre foram ricos, Cuba teve o mérito de melhorar o padrão de vida da população mesmo sendo pobre". Não é verdade. Japão e Irlanda não eram países ricos nos anos 50. Mesmo a França também não era muito rica. Outros países muito desenvolvidos, como Portugal, Espanha, Itália e Finlândia eram pobres nos anos 50.
Outra estranheza dos defensores do castrismo é o fato de muitos deles não terem sido simpatizantes dos outros regimes comunistas (ufa, ainda bem). Mas Cuba não tinha o regime menos pior. O regime comunista cubano era mais linha-dura que o da Polônia, Tchecoslováquia e Hungria e se assemelhava aos da República Democrática Alemã e Romênia.
Conforme dito anteriormente, a maioria dos apologistas brasileiros da ditadura cubana viveu o tempo das ditaduras de direita na América do Sul e o tempo da Guerra Fria. Devido ao forte apelo emocional que Cuba exerceu sobre uma geração, discutir o regime cubano com pessoas desta geração é difícil e desnecessário. Basta esperar pelo ciclo natural das coisas. Uma geração se aposenta, surge uma geração mais nova, com outras idéias.
Entre comentaristas de blog e postadores de mensagens em comunidades virtuais, há alguns jovens que também defendem os senis irmãos Castro. Mas quanto a estes jovens, também basta esperar pelo ciclo natural das coisas: eles viverem mais anos e perceberem que a experiência de esquerda reformista do Brasil também pode ampliar muito os direitos sociais, e ao mesmo tempo, preservar os direitos individuais.
Portanto, acredito que estas sejam das últimas linhas que eu escrevo sobre Cuba.
Vamos esperar que os cubanos escrevam as linhas sobre seu próprio país.

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