Não teve Dilma, mas teve Alessandro Molon, Lindberg Farias, Gilberto Palmares, Carlos Minc, Benedita da Silva, Miguel Rosseto, autor de Dilma Bolada, Leonel Brizola Neto, Roberto Amaral, Jandira Fegali, samba, churrasquinho, Heineken e muita alegria.
quinta-feira, 23 de outubro de 2014
quinta-feira, 16 de outubro de 2014
O que o Marcelo Brito pensa sobre esses "manifestos pelo voto nulo"
Quando um opinador de esquerda escreve e divulga amplamente um "manifesto pelo voto nulo", a consequência prática de sua ação não é neutra entre os dois candidatos concorrentes no segundo turno. A consequência prática é ajudar o Aécio. Isto porque opinadores de esquerda têm leitores de esquerda e influenciam pessoas de esquerda. Portanto, quando um esquerdista quer aumentar o número de votos nulos escrevendo e divulgando amplamente um manifesto defendendo esta opção, ele apenas converte potenciais votos da Dilma em voto nulo, ele não converte votos do Aécio em voto nulo, porque quem é potencial eleitor do Aécio provavelmente não lerá ou, pelo menos, não será influenciado pelo manifesto. Quando um esquerdista escreve o "manifesto pelo voto nulo", ele ataca os dois concorrentes pela esquerda. Aí, os argumentos anti-Aécio contidos no manifesto não convencerão os potenciais eleitores do Aécio.
No segundo turno, há apenas dois candidatos. E apenas um deles será vencedor. Um ou outro. Não existe um terceiro candidato chamado "nulo". Mesmo se o número de votos nulos superar o número de votos de ambos os candidatos, ganha, entre os dois, quem tiver o maior número de votos.
Se alguém estiver muito insatisfeito com ambos os candidatos, e, desta maneira, não quiser ajudar qualquer um dos candidatos, a atitude mais coerente é simplesmente votar nulo e falar que faz isso quando perguntado. E depois da eleição, se empenhar nos próximos quatro anos para construir uma candidatura melhor que as duas que disputam o atual segundo turno.
Um "manifesto pelo voto nulo" pode fazer sentido quando se deseja criticar a democracia representativa ou ao modo de funcionamento da democracia representativa no Brasil. Mas aí, faz mais sentido fazer isto no primeiro turno. Eu não sou contra a democracia representativa, não pretendo votar nulo por isso, apenas estou dizendo que uma atitude dessas para quem pensa assim é mais útil no primeiro turno do que no segundo turno.
O argumento vale para o lado oposto também. Um opinador de direita que escreve "manifesto pelo voto nulo" auxilia a Dilma. A diferença é que diferente daquele, este exemplo não existe na vida real, é apenas hipotético. Pastor Everaldo, Levy Fidelix e Eymael fecharam com Aécio. Jair Bolsonaro e Olavo de Carvalho apoiam Aécio.
No segundo turno, há apenas dois candidatos. E apenas um deles será vencedor. Um ou outro. Não existe um terceiro candidato chamado "nulo". Mesmo se o número de votos nulos superar o número de votos de ambos os candidatos, ganha, entre os dois, quem tiver o maior número de votos.
Se alguém estiver muito insatisfeito com ambos os candidatos, e, desta maneira, não quiser ajudar qualquer um dos candidatos, a atitude mais coerente é simplesmente votar nulo e falar que faz isso quando perguntado. E depois da eleição, se empenhar nos próximos quatro anos para construir uma candidatura melhor que as duas que disputam o atual segundo turno.
Um "manifesto pelo voto nulo" pode fazer sentido quando se deseja criticar a democracia representativa ou ao modo de funcionamento da democracia representativa no Brasil. Mas aí, faz mais sentido fazer isto no primeiro turno. Eu não sou contra a democracia representativa, não pretendo votar nulo por isso, apenas estou dizendo que uma atitude dessas para quem pensa assim é mais útil no primeiro turno do que no segundo turno.
O argumento vale para o lado oposto também. Um opinador de direita que escreve "manifesto pelo voto nulo" auxilia a Dilma. A diferença é que diferente daquele, este exemplo não existe na vida real, é apenas hipotético. Pastor Everaldo, Levy Fidelix e Eymael fecharam com Aécio. Jair Bolsonaro e Olavo de Carvalho apoiam Aécio.
quarta-feira, 15 de outubro de 2014
Respondendo aos principais questionamentos anti-Dilma
Normalmente, os adversários da Dilma fazem essas perguntas. Eis as respostas.
Os defensores da candidatura da
reeleição de Dilma gostam muito de comparar os indicadores macroeconômicos dos
oito anos de Lula com os oito anos de FHC, mas o que dizer dos quatro anos de
Dilma, com crescimento baixo do PIB e inflação alta?
Durante o governo
Dilma foi feita a necessária correção do câmbio, cujos efeitos positivos
ocorrem no longo prazo e os efeitos negativos ocorrem no curto prazo. Sempre
quando é feita uma desvalorização cambial, o efeito imediato é a estagflação. Isto
ocorreu de forma muito pior em 1983 e 1999, quando o trabalhador sentiu os
efeitos no bolso. Nos anos que se seguiram a 1999, por sinal, quando o Armínio
Fraga, indicado por Aécio para ser Ministro da Fazenda era Presidente do Banco
Central, a inflação estourou a meta algumas vezes, algo que não ocorreu durante
o governo Dilma.
O crescimento
do PIB do Brasil foi baixo entre 2011 e 2014, mas é necessário lembrar que já
em 2010 o PIB per capita do Brasil atingiu nível superior ao de 2007, último
ano pré-crise, algo que ainda não ocorreu com países desenvolvidos que fizeram
as políticas de austeridade tão defendidas pelos entusiastas da candidatura de
Aécio.
Há alguns
países em desenvolvimento que tiveram crescimento do PIB bem maior do que o do
Brasil, mas são países com rede de proteção social bem menor que a do Brasil, aí
vem a pergunta “crescimento para quem?”. Se a campanha adversária fizer
apologia desses países, está mostrando bem a que veio.
O governo
Dilma cometeu sim alguns erros na condução da política macroeconômica, assim
como outros governos, incluindo o de FHC, com aquele Presidente do Banco
Central...
Mas nem só de
macroeconomia vive o ser humano. O governo Dilma tem importantes realizações na
área social, como o Pronatec, o Mais Médicos, a continuação do Minha Casa Minha
Vida, do Bolsa Família, o programa de ônibus escolares nas regiões rurais, a
Lei dos Royalties para a Educação e a Saúde, o Marco Civil da Internet, o Marco
Regulatório das Organizações da Sociedade Civil e o fortalecimento das obras de
mobilidade urbana do PAC 2.
E mesmo com
muitas críticas aos últimos quatro anos, é importantíssimo lembrar que a
candidatura adversária não é apenas contra os últimos quatro anos, é contra os
últimos doze anos.
Como assim votar pela continuidade
deste governo? Quer dizer que o país está bom? Que não precisa mudar?
É óbvio que
não está bom, mas quem acha que o Brasil não tem padrão de vida igual ao da
Suíça sempre por causa do governo atual tem problemas mentais. E é óbvio que o
Brasil está bem menos ruim agora do que estava em 2002. O período de 2002 até
aqui só foi década perdida para ex-historiador que virou animador de circo na
mídia e para acadêmicos que acham que o Brasil é a Gávea.
A educação, a
saúde e a segurança pública não vão bem, e o governo federal TAMBÉM deve ser
cobrado por isto, mas quem fornece diretamente a maior parte destes serviços
são estados e municípios, e quase metade da população brasileira vive em um
estado governado pelo partido de Aécio
(o segundo
mais populoso estado do Brasil, coincidentemente o de Aécio, não será mais).
Se Dilma
achasse que o Brasil está bom, não estaria se empenhando tanto pela reforma
política, algo pelo qual aparentemente Aécio não demonstra tanto interesse.
Como votar em alguém do PT com mais um
caso de corrupção em evidência, o da Petrobrás? Não é muita lama? E sobre o
Aécio, só acharam dois aeroportos.
Comparando
pessoa com pessoa, contra a Aécio, há no mínimo os dois aeroportos. Contra a
Dilma, há NADA.
Comparando
partido com partido, políticos do PT se envolveram em escândalos de corrupção,
políticos do PSDB também. A história do PSDB é farta em escândalos, como o
revelado pelas conversas telefônicas sobre as privatizações das empresas de
telecomunicações, o valerioduto de Minas Gerais em 1998, o escândalo do metrô
em São Paulo. O partido é o que tem maior candidatos barrados pelo Ficha Limpa.
Sobre a
corrupção na Petrobrás, parece óbvio que existe, mas até agora não se falou da
nova direção nomeada por Dilma em 2012, apenas da que existia anteriormente. É
importante lembrar também que Paulo Roberto Costa já trabalhava na Petrobrás
antes do Lula ser Presidente do Brasil. Mesmo o esquema tendo existido, nem
tudo que ele falou em depoimento sigiloso seletivamente vazado
oportunisticamente em período eleitoral é necessariamente verdade. Não há
provas, são apenas palavras.
Se tudo que
Paulo Roberto Costa disse realmente fosse verdade, o ex-governador do Rio de
Janeiro Sérgio Cabral estaria envolvido no esquema. E isto em nada arranhou o
apoio das forças conservadoras do Brasil à candidatura de seu sucessor ao
governo do Rio de Janeiro, essas mesmas forças conservadoras que estão
utilizando tanto as declarações de Costa para bater na Dilma. Aí se vê que a
indignação seletiva sobre a Petrobrás tem propósitos diferentes de simplesmente
diminuir a corrupção no Brasil.
Os defensores da candidatura de Dilma
falam muito de FHC, mas isto não é passado distante? Quem está se candidatando
é Aécio Neves e não Fernando Henrique Cardoso.
É verdade que
Aécio Neves não é igual a Fernando Henrique Cardoso. Aécio Neves é pior. Apesar
do governo com muitos defeitos, FHC defendeu o Mercosul. Aécio Neves tem
desprezo pelo bloco. FHC propôs no último ano do seu segundo mandato o Plano
Nacional de Direitos Humanos. Em 2009, Lula propôs algo parecido, e o PSDB se
juntou aos setores mais retrógrados da sociedade brasileira para enterrar o
plano. O PSDB nunca foi um partido social-democrata de verdade, porque, ao
contrário dos partidos social-democratas europeus, nunca teve o sindicalismo
como base de apoio. A caminhada em direção à direita começou com a aliança com
o PFL em 1994, e, se deslocou ainda mais para a direita quando se tornou
oposição. As candidaturas de Alckmin 2006, Serra 2010 e Aécio 2014 foram mais
direitistas do que a de Covas 1989, FHC 1994 e 1998 e Serra 2002.
Como é possível falar que Aécio é de
direita se ele é descendente de Tancredo, que tanto lutou pela democracia, e
pertence a um partido fundado por opositores da ditadura?
Pouco importa
se Aécio é ou não o candidato DE direita. Fato inquestionável é o de que ele é
o candidato DA direita. Depois do fim da ditadura e do fiasco de Collor, a
direita adotou a tática de “gozar com o pau dos outros”. Para defender seus interesses,
recruta candidatos que já atuaram no campo da esquerda (FHC, Serra, Marina) ou
que tiveram padrinhos políticos que já atuaram no campo da esquerda (Alckmin
(Covas), Aécio (Tancredo), Eduardo Campos (Miguel Arraes)).
Se Aécio é o
candidato do Jair Bolsonaro, do Silas Malafaia, do Olavo de Carvalho e do
Reinaldo Azevedo, algum motivo deve ter. Se Aécio é o candidato daquela parte
da classe média que está revoltada que comer fora ficou caro porque o garçom e
o cozinheiro não ganham mais tão mal, algum motivo deve ter.
Mas também há direitistas que apoiam
Dilma: Sarney, Renan, Jáder Barbalho, Kátia Abreu.
O apoio mais
problemático a Dilma é de Kátia Abreu. Os demais são apenas oligarcas que
gostam do poder, e não merecem nossa admiração. Mas ao contrário dos
direitistas que apoiam Aécio, estes não dedicam a atividade política a atacar
os direitos humanos, a atacar as minorias.
O Aécio Neves é conservador em
economia e defende a redução da maioridade penal, mas parece que em algumas
questões de moral e costumes, ele é razoavelmente moderno.
Pouco
importa. A base de apoio dele é reacionária em todas as questões e isso é o que
determina as decisões de um governo. FHC defende a descriminalização da
maconha, mas nada fez sobre isso durante seu governo. A lei que deixa de punir
com prisão posse de pequenas quantidades é de 2006, sancionada pelo Lula.
Mas o Aécio não fez um bom governo lá
em Minas Gerais?
Os maiores
feitos apontados pelos defensores de Aécio foi ter implantado em Minas Gerais
as reformas que Bresser Pereira fez em nível federal. Se o Aécio fez em seu
estado o que já foi feito na união, qual a relevância de sua experiência?
Quanto ao mérito das reformas de Bresser, é importante lembrar que o que elas
têm de positivo foram mantidas por Lula e Dilma. O que tem de negativo, como
f... o servidor, ainda bem que não foram. E Bresser Pereira apoia a... Dilma.
Bom, e Aécio
foi reeleito, fez Anastasia como sucessor, mas perdeu em Minas Gerais no
primeiro turno, e o PSDB perdeu a eleição para governador.
A meritocracia proposta por Aécio para
o serviço público não é uma ideia interessante?
Ninguém fez
tanto algo tão meritocrático do que os governos do PT: contratar servidores por
concurso público. Um exemplo de apego dos governos do PT pela meritocracia foi
o de não ter embaixadores políticos. Chegou-se a preencher embaixadas em todos
os lugares do mundo com pessoal do quadro do Itamaraty. Antes, era comum as
embaixadas dos países mais poderosos do mundo serem preenchidas por indicação
política.
E o início da
carreira de Aécio na vida pública não é um caso de meritocracia. A família
contou muito.
Não é ruim para a democracia um
partido ficar no poder por tanto tempo?
Se for por
vontade popular, qual é o problema? Conforme foi mencionado em post anterior, o
Partido Social Democrata já ficou 40 anos seguidos no poder na Suécia, o
Partido Democrata já ficou 20 anos seguidos no poder nos Estados Unidos, a
União Democrata Cristã já ficou 16 anos seguidos no poder na Alemanha. Quem usa
o argumento da “alternância de poder” se esquece de São Paulo, porque lá, quem
está no poder há muito tempo é outro partido.
É difícil
falar que “o PT está no poder”, porque este partido nunca teve mais do que um
quinto do Congresso Nacional.
O PT não está aparelhando o Estado?
Muito
provavelmente, nove em cada dez pessoas que dizem isso sabem porra nenhuma
sobre o que isso significa e simplesmente papagaiam o que ouviram pela grande
mídia. O Estado depende de servidores de carreira, e, em geral, o PT valoriza
mais isto do que os partidos conservadores fazem, mas também depende dos cargos
de livre provimento, aí, é legítimo um governo eleito pelo povo nomear pessoas
afinadas ideologicamente com o governo.
Não é melhor para a esquerda que o PT
vá para a oposição se renove e volte mais combativo em 2018?
É melhor para
o país que a direita perca agora e volte mais moderada em 2018, sem Armínio
Fraga. Desta forma, o modelo social desenvolvimentista do Lula se tornará
suprapartidário. Situação análoga ocorreu nos Estados Unidos em 1948, ano da
reeleição de Truman, a última vitória democrata da série de cinco consecutivas.
Aquela vitória forçou os republicanos a indicarem um candidato mais moderado
para 1952, o Eisenhower, e dessa maneira, o modelo do New Deal foi
suprapartidário até 1980.
A vitória de
Aécio seria importante para a direita por motivos que vão além da economia. Alguns
ministros do STF irão se aposentar e o presidente que tomar posse em 2015
indicará novos ministros. O Senado precisa aprovar as escolhas. Como o Senado é
majoritariamente conservador, é impossível para a Dilma nomear aliados
políticos do PT. Não haverá mais Tóffolis. Verificou-se que a maioria das
indicações de Lula e Dilma não foi de aliados políticos: Carmen Lúcia, Rosa
Weber, Zavaski e Barroso poderiam ter sido indicados por qualquer presidente. Com
Aécio eleito, ele teria caminho livre para colocar mais tipos como Gilmar
Mendes para dentro do STF.
E voltando ao FHC? O desempenho pior
dele em comparação a Lula não se deveu a uma conjuntura internacional menos
favorável? Não se deveu ao fato dele ter pego a casa desarrumada, arrumado a
casa e passado a casa arrumada para o Lula?
Já respondi
estes mitos em um post de 2010.
terça-feira, 14 de outubro de 2014
quarta-feira, 8 de outubro de 2014
As máquinas de spining do PT e do PSDB
O que Luís Nassif e Miriam Leitão têm em comum? Ambos não
defendem um Estado totalmente mínimo, embora o Luís Nassif esteja mais distante
disso do que a Miriam Leitão. Ambos também consideram que o nacional
desenvolvimentismo praticado entre 1930 e 1980 parou de responder às
necessidades do país e precisou ser superado. Ambos apoiam programas de
transferência de renda. Ambos abordam questões sobre minorias e direitos humanos.
Se fôssemos coloca-los na régua do espectro político, diríamos que ambos estão
próximos do centro. Mas há uma diferença fundamental entre ambos. E qual é?
Luís Nassif é o elemento mais à direita da máquina de spining do PT. Miriam
Leitão é o elemento mais à esquerda da máquina de spining do PSDB.
O spining é uma forma propaganda de determinada
organização, no caso, partidos políticos. Não é uma simples manifestação de
opinião. O spining é feito através da construção de uma narrativa construída a
partir de acontecimentos reais para favorecer quem está sendo defendido. As
narrativas construídas por quem faz spining são fáceis de serem compreendidas e
repetidas por militantes partidários nos ambientes reais e virtuais. Mais
explicações aqui http://en.wikipedia.org/wiki/Spin_(public_relations)
Existem várias formas de fazer spining, que podem ser
listadas aqui. Pode-se divulgar o maior número possível de notícias que mostram
sucessos das administrações do partido aliado e insucessos das administrações
do partido adversário. Lembrando que como administrações do PT existem a atual
administração federal e algumas administrações estaduais e municipais, e como
administrações do PSDB existem a administração federal de mais de doze anos
atrás e muitas administrações estaduais e municipais atuais. Notícias de
sucessos e insucessos de administrações do partido aliado e de sucessos e
insucessos de administrações do partido adversário existem muitas. Basta “fazer
a feira”, ou seja, selecionar as notícias convenientes. Quando não é possível
esconder sucessos de administrações do partido adversário ou insucessos de
administrações do partido aliado, argumenta-se que o sucesso adversário e o
insucesso aliado são resultados de variáveis não controláveis pela
administração, que podem incluir a conjuntura internacional, a responsabilidade
de outros níveis de governo, o efeito defasado das políticas da administração
anterior. Quando um lado faz este tipo de argumentação, o outro replica, o
outro treplica, e assim vai. Ninguém “vence” definitivamente um debate porque
argumento para defender qualquer tese sempre existe. Isto pode ser muito bem
observado no filme “Obrigado por Fumar”.
E como os spin doctors abordam um clássico caso na
administração pública em que o chefe de um órgão, nomeado pelo governante,
entra em conflito com os servidores de carreira do órgão, o “pessoal da casa”?
Duas explicações são possíveis. Se a administração é do partido adversário, o
conflito ocorreu porque o órgão tem um corpo técnico altamente qualificado
vítima de ingerência de um líder desqualificado que está lá apenas por
indicação política. Se a administração é do partido aliado, o conflito ocorreu
porque o governante visionário decidiu colocar alguém para modernizar o órgão,
mas esbarrou no corporativismo de seus servidores de carreira.
E quanto às acusações de corrupção? Se as acusações são
contra o partido adversário, o acusado é culpado até que se prove o contrário.
Se o acusado é o partido aliado, o acusado é inocente até que se prove o
contrário. Se não há provas suficientes contra o aliado, isto ocorre porque as
acusações são falsas. Se não há provas suficientes contra o adversário, isto
ocorre porque os órgãos de investigação não estão fazendo seu papel por estarem
sob controle do partido adversário. Se a justiça condena um membro do partido
adversário ou absolve um membro do partido aliado, a justiça agiu com
independência e imparcialidade. Se a justiça faz o oposto, está corrompida. Se
um escândalo que envolve políticos do partido aliado é descoberto por meios
ilegais, como escuta não autorizada ou violação de sigilo bancário ou fiscal, o
mais relevante é o fato da descoberta ter sido feita por meios ilegais e o maior
criminoso é quem utilizou-se destes meios. Se um escândalo que envolve
políticos do partido adversário é descoberto por meios ilegais, o mais
importante é o escândalo em si, e denunciar que a descoberta foi feita por
meios ilegais é uma forma de desviar a atenção. Quando o TSE suspende um
anúncio do partido aliado é censura, quando o TSE suspende um anúncio do
partido adversário, está cumprindo seu papel em coibir o jogo sujo.
A máquina de spining do PSDB é composta por colunistas
como Miriam Leitão, Merval Pereira, Carlos Sardenberg, Arnaldo Jabor, Lúcia
Hipólito, Sérgio Malbergier, Eliane Castanhede, Bolívar Lamounier, Marco
Antônio Villa e Reinaldo Azevedo. Ou seja, repara-se que este time começa no
centro, com Miriam Leitão, e vai até a extrema-direita, com Reinaldo Azevedo,
passando por toda a direita. É conveniente para um partido que o spining reúna
uma ampla faixa do espectro político, para atrair uma ampla faixa de leitores.
Como não há homogeneidade ideológica total, verificou-se até mesmo um ano atrás
uma troca de farpas entre Miriam Leitão e Reinaldo Azevedo.
Uma vez que eu mencionei o Reinaldo Azevedo, é necessário
não confundir este grupo de colunistas citados no parágrafo anterior com os
colunistas olavetes. O Reinaldo Azevedo é apenas uma ponte entre estes dois
grupos. Porque ele faz tanto spining para o PSDB quanto pregação olavete. Definem-se
como olavetes aqueles que acham que os politicamente corretos vão destruir a
civilização judaico-cristã-ocidental. O colunista Luís Felipe Pondé é do grupo
das olavetes junto com o Reinaldo, mas ao contrário deste, Pondé não entra em
discussões partidárias. O interessante na história de Reinaldo Azevedo é que
ele é spin doctor do PSDB antes de ter virado olavete. Tinha no final dos anos
1990 e no início dos anos 2000, em parceria com Luiz Carlos Mendonça de Barros,
a revista República, que depois virou Primeira Leitura. Neste revista, Reinaldo
Azevedo defendia o governo FHC dos ataques de outros partidos, mas, ao mesmo
tempo, defendia a ala desenvolvimentista paulista do PSDB em contraposição à
ala monetarista carioca do partido. Ou seja, defendia a ala do PSDB que
supostamente era a mais de esquerda. Fez campanha para José Serra em 2002
atacando furiosamente Ciro Gomes. Não atacava Lula ideologicamente. Sua revista
chegou a dizer que ideologicamente, Lula e Serra eram parecidos, mas Serra era
“o mais preparado”. Para atrair leitores mais à esquerda, a revista entrevistou
gente como Joseph Stiglitz e Dani Rodrik. A súbita conversão de Reinaldo
Azevedo ao olavismo ocorreu depois que Lula tomou posse. Ainda assim, o
colunista continuou peessedebista e serrista, e seu partido se aproximou do
olavismo, culminando com a campanha de Serra de 2010, que falou da “ligação do
PT com as Farc”, do “perigo da república sindical” e do abortismo da Dilma.
Conforme foi possível ver, todos os spin doctors favoráveis
PSDB escrevem para grandes empresas de mídia, representando a opinião dos donos
destas empresas, que incluem a Globo (que além do canal de TV aberta, tem a
Globo News, o portal G1, a Rádio CBN, o jornal O Globo e a revista Época), a
Abril (que publica a Veja e a Exame), a Folha e o Estadão. Por pertencerem a
veículos de comunicação que não transmitem apenas opinião, mas também notícias,
alguns tentam parecer neutros. Outros nem tentam.
Exemplos de spin doctors favoráveis ao PT são Luís
Nassif, Mino Carta, Paulo Henrique Amorin, Luiz Carlos Azenha, Franklin
Martins, Altamiro Borges, Paulo Moreira Leite, Ricardo Melo e Emir Sader. Com
exceção de Ricardo Melo, que trabalha na Folha, estes colunistas não fazem
parte da grande mídia. A grande maioria já fez, mas foi demitida. Embora as
grandes empresas de mídia sempre tenham tido donos com ideologia conservadora,
havia maior pluralidade de opinião nas décadas de 1980 e 1990. Ao longo da
década de 2000, a esquerda sofreu expurgo da grande mídia. Por isso, esses
colunistas estão na mídia alternativa, que inclui a revista Carta Capital e os
sites Carta Maior, Viomundo, Diário do Centro do Mundo, Brasil 247, Conversa
Afiada e Tijolaço. Alguns destes sites recebem patrocínio de empresas públicas,
e, por isso, são criticados pela grande mídia conservadora. Como as empresas da
grande mídia conservadora também recebem publicidade estatal, não é o
patrocínio estatal que realmente incomoda as grandes empresas de mídia, e sim,
a existência de diversidade de opinião.
Voltando a falar desses colunistas, assim como ocorre
entre os colunistas pró-PSDB, há também uma grande diversidade ideológica entre
os pró-PT. Tem desde o Luís Nassif, quase no centro, até o Emir Sader, bastante
à esquerda. Destes, Luís Nassif e Mino Carta são os que estão menos presos à
defesa de um partido. São críticos, muitas vezes, do governo Lula e
principalmente do governo Dilma. Tanto o blog do Luís Nassif, quanto a revista
Carta Capital, são plurais e assim como publicam defesas do governo federal,
publicam críticas tanto pela esquerda quanto pela direita. A Carta Capital já
publicou entrevistas de Aécio Neves e Eduardo Campos, assim como já publicou
colunas de políticos do PSOL. Luís Nassif já teve uma visão mais positiva do
PSDB nos anos 1990, mas se distanciou dos tucanos à medida em que eles se
deslocaram muito para a direita. Emir Sader, por sua vez, publica de vez em
quando alguns tweets de mau gosto.
Não se pode confundir colunistas de esquerda em geral com
colunistas que escrevem textos favoráveis ao PT. Vladimir Safatle, por exemplo,
é um colunista de esquerda da Folha, mas não escreve textos sobre disputas de
partidos políticos. Ele não faz propaganda nem mesmo de seu PSOL. Prefere
enfocar assuntos mais acadêmicos. Leonardo Sakamoto é outro colunista de
esquerda que não escreve sobre política partidária. Ele escreve sobre
movimentos sociais, condições de trabalho, reforma agrária, meio ambiente e
conflito de valores (religiosos X secularistas) sem defender políticos do PT ou
atacar políticos do PSDB.
O spining não é uma atividade criminosa. É uma prática
inevitável em uma democracia de massas. Nem todas as pessoas que votam
conseguem entender textos complexos, opiniões complexas. Mas votam. Ainda bem.
Se apenas pessoas com capacidade de entender teses acadêmicas votassem, não
haveria democracia, e sim ditadura. Não é absurdo mostrar o máximo possível de
notícias boas para seu partido favorito. E nem todos os autores citados neste
texto realizam cada um todos os exemplos de spining. Alguns destes autores,
escrevem bons textos opinativos.
O problema é que, muitas vezes, a criação de narrativas a
favor de partidos é construída em cima de fatos falsos, ou de fatos verdadeiros
amarrados de forma desonesta. Nestes casos, gera-se propaganda enganosa e a
qualidade do debate político é prejudicada.
O PSOL nesta eleição
Nesta eleição, o PSOL marcou golaços e tomou frangos. Marcou golaço na área de direitos civis (LGBT, aborto, drogas leves, antiviolência policial), de justiça social (tributação sobre grandes fortunas, reforma agrária e urbana) e democracia (desoligopolização dos meios de comunicação, financiamento público de campanha), mas tomou frango em posições sobre política (o maniqueísmo de achar "somos os bons e os demais são todos iguais") e economia (o anticapitalismo dogmático, a v...isão do orçamento como algo ilimitado). Organizando candidaturas de verdade, de alguém pensando em exercer o cargo executivo, como de Marcelo Freixo no Rio e Edmílson em Belém em 2012, o PSOL pode crescer muito mais. A candidatura de Luciana Genro acabou sendo mais uma declaração de princípios do que uma disputa pela presidência. Foi improvisada, decidida na última hora. E mesmo assim teve um milhão e meio de votos. Nas próximas eleições, pode ter mais. E no Rio, o PSOL se consolidou como maior força de esquerda.
sábado, 4 de outubro de 2014
Projeção do resultado do primeiro turno
Para projetar os resultados em votos válidos do primeiro turno, eu peguei as 27 pesquisas estaduais do Ibope, calculei os válidos, jogando todos os indecisos na conta do Aécio, considerando seu crescimento, aí eu fiz a ponderação pela população de cada estado e o resultado final ficou.
Dilma Rousseff 43,6%
Aécio Neves 28,3%
Marina Silva 23,9%
Outros 4,2%
Não detalhei os outros, mas observando estado por estado no site do Ibope, é possível prever que entre os "outros", Luciana Genro fica em primeiro e Eduardo Jorge, Pastor Everaldo e Levy Fidelix praticamente empatam logo a seguir. A declaração anti-gay rendeu. Caso contrário, ele estaria disputando a lanterna com Eymael e Rui Costa Pimenta.
Assinar:
Postagens (Atom)