domingo, 11 de outubro de 2015

Paradoxo no debate sobre educação básica no Brasil

No debate brasileiro atual sobre educação básica, há dois grupos claramente delimitados, que pregam políticas bem diferentes. O primeiro grupo tem empresários, economistas, administradores, fundações empresariais e organizações internacionais para promoção de desenvolvimento, como o Banco Mundial. O segundo grupo tem docentes sindicalizados e acadêmicos na área de pedagogia. Se dependesse apenas do primeiro grupo, teríamos um dirigismo bem soviético. Se dependesse apenas do segundo grupo, teríamos um laissez-faire total. Não, eu não me confundi, é isso mesmo. Atores políticos que normalmente pregam economia livre de intervenção do Estado são extremamente top-down na hora de falar de educação. E atores políticos que defendem maior intervenção do Estado na economia são bem anti-intervenção na hora de falar de educação.
Empresários, economistas, administradores, fundações empresariais e Banco Mundial defendem um currículo nacional que todas as escolas, todos os professores devem seguir, uma avaliação padronizada nacional baseada neste currículo para medir o desempenho de redes educacionais e de escolas, uma política de consequências relacionada com o resultado dessa avaliação, que pode incluir tanto remuneração extra por bons resultados, quanto afastamento de diretores, um material didático padronizado que pode ser apostilado. Docentes sindicalizados e acadêmicos na área de pedagogia defendem maior autonomia para o professor. Maior autonomia para escolher o que ensinar, como ensinar, que material didático utilizar, como avaliar.
Eu não sou moderate hero por regra, mas neste debate eu fico com a opinião do meio. Sou a favor de um currículo nacional, mas desde que este currículo ocupe metade do tempo das aulas. A outra metade, o professor teria que ter autonomia para preencher. Sou a favor de autonomia para cima deste currículo, mas não para baixo. Diferenças sociais e regionais no Brasil não justificam a ausência de qualquer padronização. Equação é a mesma coisa no norte e no sul do Brasil. Leis da ciência também. Sou a favor de uma avaliação padronizada nacional, mas não de política de remuneração variável vinculada a este avaliação. Esta política foi implementada primeiro nos Estados Unidos, que já estão revendo, por não terem verificado êxito. Por outro lado, a avaliação, em si, é importante, porque dá mais transparência para o sistema educacional e auxilia até mesmo a escola e o professor no seu planejamento de aulas. Sem a política de remuneração variável, seria mais fácil o professor perceber que a avaliação padronizada é aliada dele, e não inimiga. Quanto ao material apostilado, não sou muito favorável. Isto seria assumir que os professores serão sempre incompetentes para elaborar a própria aula.

Os entusiastas da autonomia, autonomia e autonomia perguntarão: mas e a Finlândia, que não tem currículo nacional, que dá muita autonomia para o professor, e tem o melhor sistema educacional do Ocidente? Resposta simples: a Finlândia só aboliu o currículo nacional e introduziu a autonomia na metade dos anos 1990, depois do país já ter atingido um elevado patamar. Antes disso, a Finlândia tinha um rígido currículo nacional e uma rígida formação de professores. Manteve a rígida formação de professores. Este texto explica bem http://edexcellence.net/commentary/education-gadfly-weekly/2013/january-3/real-lessons-from-finland.html
Autonomia pode ser uma política adequada para passar do bom para o excelente, mas não do ruim para o bom.

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