Que não decola agora não é difícil de entender. A Internet fez minguar os periódicos de papel. A pergunta é: por que não decolou antes da massificação da Internet? Por que não se consolidou no tempo em que se lia só no papel? Se tivesse se consolidado naquele tempo, ainda venderia muitos exemplares hoje (mesmo que se fosse decrescente com o tempo), e teria um site muito acessado.
Por que é um percentual tão pequeno da população brasileira que lê Carta Capital?
Uma possível explicação (não quer dizer que eu tenha certeza) é: revista semanal de variedades é um produto cujo consumidor típico é de direita e ponto final. Não adianta tentar fazer uma revista semanal de variedades de esquerda. Seria igual tentar fazer um sarau de direita.
A primeira revista semanal de variedades foi a norte-americana Time, que inspirou as demais. É de direita. A compatriota Newsweek também. As alemãs Spiegel e Focus também tendem mais para a direita (embora a Spiegel já tenha tido uma bem leve tendência de esquerda no passado). A britânica Economist é mais antiga que a Time, do século XIX, mas deixou de ser jornal e passou a ser revista bem depois. É mais intelectualmente sofisticada, mas continua sendo uma revista semanal de variedades. Pelo menos em economia, é de direita. Da Veja e da Época, nem precisa falar muito.
Por que o consumidor típico de revista semanal de variedade é de direita?
Luís Nassif, ao falar da Time, definiu assim este tipo de produto:
"O lançamento da revista Time foi um divisor de águas na imprensa mundial, conferindo um novo status às revistas semanais, uma influência política sobre a opinião pública equiparável à dos grandes diários e inspirando similares em todos os países, muitos deles tendo a própria Time-Life como sócia.
O estilo Time consistia em organizar o universo (já abundante) das notícias diárias em uma periodicidade mais cômoda para o leitor – a semanal -, selecionando um universo restrito de temas, mas embalando-os de forma agradável, com um texto eminentemente opinativo que fosse compreendido pelo leitor mediano.
Para obter esse alcance, havia uma simplificação de tal ordem, especialmente em cima de temas complexos."
http://jornalggn.com.br/noticia/uma-pequena-historia-da-midia-brasileira-nos-50-anos-da-globo
Ou seja, o típico leitor de revista semanal de variedades tem nível intelectual médio. Suficiente para ler textos não muito curtos, mas apreciador de abordagens mastigadas de temas. Isto é o perfil de quem tem a instrução necessária para ter bom poder aquisitivo, normalmente, curso superior completo, cultura necessária para a convivência social, mas não enxerga a instrução como um fim em si. Em geral, pessoas assim são de direita.
Já as pessoas de esquerda são os extremos em instrução. Há os trabalhadores sem curso superior, que podem ler jornais feitos para este público, mas não são o perfil típico de leitores de revista. E os esquerdistas de classe média são, em geral, pessoas mais letradas que, quando querem ler opinião, preferem livros e revistas especializadas. Nota-se que esquerdistas de classe média são, em geral, estudantes universitários, professores universitários ou funcionários públicos (lembrando que estes conseguem a ocupação respondendo a uma prova).
Não é apenas no Brasil que existe esta relação entre instrução e orientação política. Nos Estados Unidos, a maioria das pessoas que só tem o high school ou nem isso (pobres) vota nos democratas. Quem tem o graduate school (equivalente a pós) também. Quem mais vota nos republicanos é quem tem apenas o college.
E não é apenas revista semanal de variedades o meio de comunicação cujo consumidor típico é de direita. O rádio também. A CBN é de direita. Quem ouve um comentarista daquela rádio, ouve todos. Arnaldo Jabor, Merval Pereira, Carlos Sardenberg..., tudo igual. Porém, a CBN, comparada com a Jovem Pan, é até meio social democrata. Por que o típico ouvinte de rádio é de direita? Normalmente é quem tem alto poder aquisitivo, mora em casa, longe do trabalho, e vai de automóvel particular.
terça-feira, 27 de outubro de 2015
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