Sem o calor do clima de eleições, pois estamos quase equidistantes da de 2014 e da de 2016 (embora alguns insistam que a eleição de 2014 ainda não tenha acabado), posso fazer uma reflexão com mais calma sobre o que significa votar 50 no primeiro turno e 13 no segundo turno.
Durante muito tempo eu fui simpático a este tipo de voto, mas agora me veio à mente esta constatação: o voto "50 no primeiro turno, 13 no segundo turno" é um dos tipos de voto de esquerda mais quadrados que existem. Muitas vezes, a ideia que está por trás deste tipo de voto é a de que a única coisa que importa nos candidatos é o quanto eles são de esquerda. Que esquerdismo é a única coisa que conta (a versão mais extrema disso seria votar não 50, mas 16 no primeiro turno).
Quem vota 13 em qualquer turno considera que o esquerdismo do 50 está fora da realidade, que estar mais à esquerda não significa necessariamente ser melhor. Quem vota 50 no primeiro turno e anula no segundo turno considera que mesmo o 13 estando um pouquinho à esquerda do 45, endossar esse "um pouquinho à esquerda" pode não ser uma opção melhor do que trabalhar por um "bem mais à esquerda" para o futuro, ou que mesmo quem está "um pouquinho à esquerda" pode, por motivos diferentes do eixo esquerda/direita, não merecer o apoio.
Claro que há exceções. Em 2014, feministas votaram na Luciana Genro no primeiro turno e na Dilma Rousseff no segundo turno não apenas por causa de esquerdismo.
Votar 50 no primeiro turno, 13 no segundo turno foi uma prática muito comum entre muitos militantes de esquerda. Uma exceção foi Idelber Avelar. Ele nunca fez isso. De 1989 a 2006 ele apoiou o Lula no primeiro e no segundo turno (quando houve, óbvio). Em 2010, ele apoiou a Dilma no primeiro e no segundo turno. Em 2014, ele defendeu o voto em Mauro Iasi no primeiro turno e nulo no segundo turno. Teria defendido o voto em Marina no segundo turno se ela tivesse ido para o segundo turno, seja contra Dilma, seja contra Aécio. Antes eu não compreendia o Idelber Avelar direito, mas atualmente estou enxergando-o como um dos mais lúcidos pensadores brasileiros de esquerda. Mais adiante pretenderei escrever um post só sobre o que penso sobre ele.
Por fim, há um único voto de esquerda mais quadrado do que o "50 no primeiro turno, 13 no segundo turno". É o "13 no primeiro turno, 13 no segundo turno", mas não com a convicção de das limitações do 50 e sim por achar que tem que evitar o segundo turno.
É tão complicada a política no Brasil... Quem vota 13 é de esquerda moderada e quem vota 50 é de esquerda radical? Geralmente é assim, mas nem sempre. Tem gente de esquerda moderada que vota 50 porque não quer votar em um partido relacionado com escândalos de corrupção. Tem gente de esquerda radical que vota 13 porque acha que a esquerda não pode se dividir em diferentes partidos.
E eu em 2018? Entre Lula, Aécio Neves, Geraldo Alckmin, Eduardo Paes, Marina Silva e Luciana Genro, votaria 84 (meu ano de nascimento) em qualquer turno.
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