sábado, 4 de julho de 2015

Sobre a falácia de que "é bom pra democracia existir uma direita"

Provavelmente, muitos já ouviram a seguinte afirmação
"Podemos não concordar com as ideias de Jair Bolsonaro, Eduardo Cunha, Marco Feliciano, Álvaro Dias e Coronel Telhada, mas é bom para a democracia que eles existam. Da mesma forma que uma democracia forte deve ter uma esquerda, também deve ter uma direita".
Ou então
"O Brasil não tem direita. O máximo de direita que o Brasil tem é o PSDB, que não é exatamente de direita. É importante para a democracia que exista uma direita".
Quem fala essas coisas certamente está falando merda. É óbvio que uma democracia exige liberdade de opinião, liberdade de organização e pluralismo ideológico. Portanto, deve haver a possibilidade de existir diferentes partidos políticos, uns mais à esquerda que os outros, outros mais à direita que os uns.
Porém, esquerda e direita são termos relativos. Não existe uma régua absoluta para medir o que é esquerda e o que é direita. Não existe um Political Compass absoluto. Isto vale tanto para indivíduos diferentes, quanto para lugares diferentes, quanto para épocas diferentes. Em relação a indivíduos, sabemos que um esquerdista pode considerar que um centrista é direitista, e que um direitista pode considerar que um centrista é esquerdista. Em relação a lugares, sabemos que por muito tempo, a política da França esteve mais à esquerda do que o espectro político dos Estados Unidos. Um gaullista, que é a direita no espectro político francês, não era muito diferente de um democrata, que é a esquerda no espectro político norte-americano. Equivalentes aos republicanos norte americanos não são muito fortes na França e equivalentes aos socialistas franceses não são muito fortes nos Estados Unidos. Em relação a tempo, sabemos que o mundo atual está à direita do que era no imediato pós Segunda Guerra Mundial e à esquerda do que era no século XIX. Defender sufrágio universal nos dias de hoje é apenas um pré-requisito para não ser dodói (a Veja é dodói e por isso não defende). Defender sufrágio universal era uma posição de extrema-esquerda no século XIX. Ser keynesiano era ser centrista no imediato pós Segunda Guerra Mundial. Ser keynesiano nos dias de hoje é ser de esquerda.
Portanto, não adianta um simples indivíduo tirar da bunda uma régua própria sobre o que é esquerda e o que é direita e decidir que o espectro político do Brasil tem que se distribuir de forma equilibrada nesta régua. Se Fernando Henrique Cardoso, José Serra, Geraldo Alckmin e Aécio Neves foram os mais direitistas entre os candidatos competitivos a presidente do Brasil, eles são a direita no espectro político brasileiro e ponto final. Os brasileiros tiveram a opção de eleger políticos ainda mais à direita e não fizeram porque não quiseram. Isto é democracia. Esperidião Amim e Enéas Carneiro concorreram em 1994. Perderam feio. Enéas concorreu de novo em 1998. Perdeu de novo. Levy Fidelix e Eymael concorreram em 2010 e 2014. Tiveram votação ridícula em ambas as oportunidades. Pastor Everaldo concorreu em 2014 e perdeu feio também. . Ainda assim, Fernando Henrique Cardoso, José Serra, Geraldo Alckmin e Aécio Neves não são totalmente "a direita" no Brasil, pois há deputados muito mais conservadores do PSDB, PMDB, DEM e PP em plena atividade. E mesmo se não houvessem políticos ainda mais conservadores, seria perfeitamente democrático que a direita no Brasil fosse os quatro tucanos citados, desde que esta opção não fosse imposta pela força. Se no Brasil a esquerda fosse o PSDB e a direita fosse o DEM, por vontade popular e não pela força, o sistema político não deixaria de ser democrático. Se no Brasil a esquerda fosse o PSOL e a direita fosse o PT, por vontade popular e não pela força, o sistema político não deixaria de ser democrático.
(Se no Brasil, a esquerda fosse o PSDB e a direita fosse o DEM por causa da possibilidade do poder econômico remover outras opções, aí não seria tão democracia assim)
Se o povo decidir rejeitar fundamentalistas, machistas, racistas, homofóbicos, pobrefóbicos e saudosistas da ditadura, e eles não tiverem boas perspectivas eleitorais, isto é manifestação da democracia e não negação da mesma. Eles não precisam existir só porque na régua de um ou outro reaça, ser neoliberal é apenas ser de centro, e que pra ser de direita é necessário ser machista, racista, homofóbico e pobrefóbico, e que o Brasil ser uma "boa democracia", é necessário que alguém se encaixe como direita nesta régua. Pior: os brasileiros já vem elegendo machistas, racistas, homofóbicos, pobrefóbicos e saudosistas da ditadura.
É legítimo que a esquerda, desde que não seja pela força e sim pelo poder de governar bem e convencer bem, tente tornar inviável alguma força política que se pareça com a direita em outros países. E que a direita tente tornar inviável alguma força política que se pareça com esquerda em outros países. Exemplo disso é o Reino Unido. Depois que Clement Atlee deixou o poder em 1951, Winston Churcill e os conservadores subsequentes não destruíram o que Atlee fez. Depois que Tony Blair assumiu o poder em 1997, ele não destruiu o que Margaret Thatcher e John Major fizeram.
Portanto, quem diz
"Podemos não concordar com as ideias de Jair Bolsonaro, Eduardo Cunha, Marco Feliciano, Álvaro Dias e Coronel Telhada, mas é bom para a democracia que eles existam. Da mesma forma que uma democracia forte deve ter uma esquerda, também deve ter uma direita"
na verdade concorda com as ideias dos nomes mencionados, mas decidiu ainda não sair do armário.


quarta-feira, 1 de julho de 2015

Regimes comunistas vs. Governos de centro esquerda em países capitalistas

Achava que tudo o que vou escrever aqui era óbvio, mas depois de ter visto neste ano tantas pessoas de capacidade intelectual limitada protestando "contra o comunismo no Brasil", nas ruas e na Internet, considerei adequado tocar no tema.
Falar que tem comunismo no Brasil é uma imbecilidade gigantesca porque regimes comunistas são tão diferentes de governos de centro esquerda de países capitalistas quanto a água é do vinho.
Por regime comunista, entende-se hoje apenas o de Cuba e da Coreia do Norte (há controvérsias quanto este), e até 1989, o da União Soviética, o dos países da Europa Central e Oriental, o da China (até 1978) e alguns outros.
Por governo de centro esquerda de países capitalistas, entende-se existem quando estão no poder o Partido Social Democrata (SPD) da Alemanha, o Partido Democrático da Itália, o Partido Socialista da França, o Partido Trabalhista britânico, o Partido Socialista Operário Espanhol, o Partido Democrata dos Estados Unidos (esse um pouco questionável) e o Partido dos Trabalhadores (PT) no Brasil.
Diferença mais básica: como nos países comunistas quem controla a economia é o Estado, que se confunde com o governo e com o partido, quem tem poder político também tem poder econômico. No caso dos governos de centro esquerda de países capitalistas, os partidos líderes, normalmente, têm relação pacífica com quem tem o poder econômico, que é privado, mas ainda assim não são os partidos favoritos do poder econômico. Enfrentam uma pequena oposição de extrema-esquerda, totalmente desvinculada do poder econômico, mas enfrentam também uma grande oposição de centro-direita, esta sim, o grupo político mais aliado do poder econômico. O regime comunista é o establishment do país comunista. Poder político e econômico estão unidos, polícias e forças armadas reprimem quem é contra o regime. Nos países capitalistas com governo de centro esquerda, não é bem definido quem é o establishment, uma vez que quem tem o poder econômico é aliado de quem faz oposição a quem tem temporariamente o poder político. Simpatizantes do partido do governo correm o risco de levar porrada da polícia em uma greve contra empregador privado, em uma passeata contra líderes direitistas nos poderes legislativo e judiciário e em uma passeata contra governos subnacionais de direita. Polícias e forças armadas estão mais identificadas com quem tem o poder econômico do que com quem tem temporariamente o poder político.
Por causa disso, há algumas semelhanças entre regimes comunistas e governos de direita de países capitalistas, estes sim, que unem poder político e econômico. Entre essas semelhanças, podem ser listados o ódio contra sindicatos livres e contra greves, a defesa de uma política linha dura de segurança pública, a exaltação do patriotismo e a manutenção de um sistema educacional careta. Há algumas semelhanças entre regimes comunistas e governos de centro esquerda de países capitalistas. Ambos defendem grande investimento em educação, saúde pública, previdência, e a tentativa de fazer uma sociedade com pouco desnível da distribuição pessoal de renda. Mas as diferenças são maiores.
Em regimes comunistas, o Estado detém a grande maioria dos meios de produção e planifica centralmente a economia. Não vê problemas em comprimir os salários ao máximo, para aumentar mais a produção de bens de investimento do que de bens de consumo. O papel do Estado nos países capitalistas com governo de centro esquerda é redistribuir renda e manter uma grande rede de proteção social, mas não é deter os meios de produção nem planejar centralmente a economia. Há planejamento estatal em países capitalistas, mas isto ocorreu principalmente em ditaduras militares de direita, como no Brasil e na Coreia do Sul. Há uma propensão levemente maior de partidos de centro esquerda do que de partidos de centro direita em manter empresas públicas. Mas isto depende mais de ondas do que de ideologia de governos. Houve uma onda de estatização em países capitalistas no imediato pós segunda guerra mundial, e até os partidos de centro-direita aceitaram. Houve uma onda de privatização nas décadas de 1980 e 1990, e até os partidos de centro-esquerda aceitaram.
Em países com regimes comunistas, há inicialmente um elevado crescimento do produto. Isto ocorre como resultado do esforço de comprimir os salários, e consequentemente, a produção de bens de consumo, e aumentar a produção de bens de investimento, aumentando o estoque de capital. Este crescimento tem limite quando o simples aumento do estoque de capital perde o poder de aumentar o produto, cujo crescimento passa a depender apenas do progresso técnico. E as economias centralmente planificadas geram pouco incentivo para o progresso técnico (com exceção do militar e alguns notáveis exemplos, como o da medicina em Cuba). Já os países capitalistas com governos de centro esquerda não têm elevadas taxas de crescimento do produto por outro motivo: o estoque de capital não aumenta com facilidade, porque a prioridade desses governos não é o puro e simples crescimento. Esses governos muitas vezes atuam para aumentar a participação dos salários na renda nacional, e isto acaba incentivando maior produção de bens de consumo e menos de bens de investimento.

O Chile de 1970-1973 e a Venezuela desde 1999 são os poucos exemplos de híbrido entre o regime comunista e o governo de centro esquerda de país capitalista.

domingo, 28 de junho de 2015

Não compreendo a fixação que alguns militantes LGBT têm por nomes

Em primeiro lugar, deixo a expressão de felicidade por ver a Suprema Corte dos Estados Unidos aprovando o casamento de pessoas do mesmo sexo. A do Brasil já fez isso em 2011. A maioria dos estados norte-americanos já reconhecia a instituição. Ainda assim, a importância simbólica foi muito grande.

Agora, aqui manifesto não uma reprovação, mas uma incompreensão sobre militantes do movimento LGBT. Por que tanta obsessão com o nome certo e o nome errado das coisas?
Perfeitamente compreensível que não devemos falar "baitola", "boiola", "viado", "marica", "queima-rosca", "sapatão" e "traveco". Também é compreensível que devemos falar "movimento LGBT" e não "movimento gay", para não excluir lésbicas, bissexuais, transgêneros e travestis. E que homossexualidade não é "opção sexual" porque ser homossexual não é opção.
Agora, por que uma relação tem que ser homoerótica ou homoafetiva, e não pode ser homossexual? Por que temos que falar "casal de gays" ou "casal de lésbicas", e não "casal de homossexuais"?
Um hábito recente é o uso da expressão "cisgênero", para designar quem não é "transgênero". Não sou contra o uso, não desqualifico quem usa. Apenas considero desnecessário que tenha que virar regra universal para que os transgêneros não sejam mais discriminados. Chamar um "homem cis" apenas de homem, e uma "mulher cis" apenas de mulher não é manifestar aversão aos "transgêneros". É natural que o que é esmagadora maioria numérica não seja especificado. Falamos futebol de salão, futebol society, futebol de areia. Mas futebol de campo é apenas futebol. E como futebol de campo é disparadamente o esporte mais popular do Brasil, uma bola de basquete é uma bola de basquete, uma bola de vôlei é uma bola de vôlei, uma bola de futebol de salão é uma bola de futebol de salão, mas uma bola de futebol (de campo) é simplesmente uma bola. Alguns carrinhos vendem hot dog de calabresa. Já o hot dog de salsicha é apenas hot dog. Em Campinas, antes da inauguração do enorme Shopping Dom Pedro, ir ao Shopping Iguatemi era simplesmente ir ao shopping. Para ir aos outros shoppings da cidade, menores, era necessário especificar.
Também vai ser difícil impor que devemos falar "a travesti" e não "o travesti", porque a questão sobre se existe ou não gênero biológico não tem resposta definitiva.
Eu sei que para ter opinião sobre questões relacionadas a minorias, é necessário escutar pessoas que pertencem a essas minorias. Não estou querendo impor que militantes LGBT não lutem pela ampla adoção desse vocabulário, estou apenas manifestando a visão de um hétero que conviveu no meio de pessoas preconceituosas e sabe como essas questões são difíceis. Talvez seja importante que militantes esclareçam melhor porque esse vocabulário é tão importante. O estigma de "chatos do politicamente correto" não favorece movimentos.
Para ser mais bem compreendidos, pode ser positivo para militantes de causas de minorias escutar quem faz parte das não minorias. Existem integrantes das não minorias que são cheios de ódio e que são inconsertáveis. Mas existem aqueles que cresceram em ambientes preconceituosos, mas tem propensão a abrir a mente, principalmente se o movimento não aparentar ser sectário.

sexta-feira, 19 de junho de 2015

Sobre a grande mídia empresarial brasileira

Agora, um tema novíssimo, que quase ninguém discute na Internet. Provavelmente, este é o primeiro texto de blog sobre o tema: o posicionamento político da grande mídia empresarial brasileira. Deixando ironias de lado, é óbvio que até as teclas dos computadores já estão cansadas de tanto trabalhar para escrever texto sobre este tema. Mas considerei adequado tratar deste tema por não me posicionar nas panelinhas mais habituais.
Por grande mídia empresarial brasileira, entendem-se as Organizações Globo (que inclui a TV aberta, a Globonews, a rádio CBN, o jornal O Globo, a revista Época e o portal G1), a Abril (que inclui Veja e Exame), o SBT, a Bandeirantes, o Estado de São Paulo e a Folha de São Paulo. São os principais fornecedores de informação e opinião do Brasil. Nos últimos tempos, até a TV Cultura, pública, entrou nesse time. É comum críticos desta grande mídia dizerem que essas empresas de comunicação são a favor do PSDB. Eu considero que não é bem isso. Na verdade, é o PSDB que é a favor da ideologia das empresas de comunicação. Por isso, recebe tratamento mais favorável. Globo, Abril, SBT, Bandeirantes e Estadão são um Tea Party tropical, que odeiam tudo que tem a ver com setor público, a não ser, é óbvio, verba de publicidade, empréstimo oficial e restrição ao capital estrangeiro na mídia, e somente na mídia. Se o PSDB tiver em uma ou outra ocasião algum indício de "recaída" para a social-democracia que deu o nome ao partido, nem o PSDB será poupado. Não se trata apenas de suposição. Isto se verificou na prática. O Fernando Henrique Cardoso recebe muitos elogios desta mídia, mas não por ter feito o Plano Nacional de Direitos Humanos. O Geraldo Alckmin não foi aplaudido quando implementou política de cotas. O José Serra, por sua visão de Economia oriunda da Unicamp, demorou para ter virado o queridinho desta mídia. Isto só ocorreu quando ele compensou sua falta de direitismo na Economia investindo em direitismo em discurso do tipo Guerra Fria.
Em geral, se vê nos veículos das mencionadas empresas opinião contrária ao imposto sobre grandes fortunas, favorável à terceirização das atividades fim, favorável à possibilidade de doações de empresas privadas às campanhas eleitorais. Vimos muitas notícias sobre impostômetro e quase nada sobre sonegômetro. Vimos muitas comparações desonestas da carga tributária do Brasil com a de outros países, em que a brasileira é medida por uma organização anti-impostos e a dos demais países é medida pelos órgãos oficiais. Os problemas das grandes cidades mais retratados são geralmente os problemas dos bairros de renda média/alta das grandes cidades. A voz das agências classificadoras de risco é tida como a voz de Deus, mesmo depois de tantas cagadas que essas agências cometeram. Esta mídia tem boa vontade em falar de crimes cometidos por políticos (o que é positivo), mas fica cheia de dedos na hora de falar de crimes cometidos por empresários (o que é negativo). É defendido um alinhamento da política externa brasileira com os Estados Unidos, e ridicularizada a diplomacia sul sul. A abordagem de política externa defendida pela grande mídia empresarial foi rejeitada não apenas pelos governos Lula e Dilma, mas por todos os governos desde 1930, com exceção de Eurico Gaspar Dutra e Castelo Branco. Pequenos exemplos mostram a que ponto essa ideologização chegou. O William Wack atingiu o ápice daquilo que pode ser definido como cara de pau ao ter organizado um "debate" sobre esquerda e direita, em que os três participantes foram Reinaldo Azevedo, Luís Felipe Pondé e Bolívar Lamounier, ou seja, três participantes de direita. No debate eleitoral da Bandeirantes do ano passado, os jornalistas da emissora se posicionaram à direita de Pastor Everaldo e Levy Fidélix. Em todos os jornais, revistas, sites e programas de televisão, aparecem os especialistas de sempre sobre determinados assuntos. Raul Veloso para falar de finanças públicas. Fábio Giambiagi para falar de previdência. Edward Amadeo e José Pastore para falar de mercado de trabalho. Denis Lehrer Rosenfield para falar de ética e filosofia. Marco Antônio Villa e Demétrio Magnolli para falar de todos os assuntos. O consultor de educação de sempre, antes era Cláudio Moura de Castro. Aí descobriram um mais quadrado ainda, que se encaixa melhor na cartilha ideológica dessa mídia: Gustavo Ioschpe.
Essa grande mídia empresarial tem um forte direitismo econômico, mas, com exceção da Veja e do SBT, não tem direitismo social. Tanto que a Globo tenta promover a aceitação da homossexualidade em suas novelas. Apesar de não terem direitismo social, não vêem problemas em apoiar políticos com esse tipo de direitismo, quando a pauta destes políticos fora das questões sociais lhes interessa e quando são a única opção do momento. É por isso que Eduardo Cunha habitualmente recebe cobertura favorável. E que José Serra tenha sido perdoado até mesmo por jornalistas ateus por ter investido em fanatismo religioso durante a campanha eleitoral de 2010, uma vez que essa estratégia de campanha seria um "mal necessário" visando o "bem maior".
A Folha é membro desajustado da turma, mas ainda assim é membro da turma. É a única que mantém pluralidade ideológica de colunistas. Tem coluna do Reinaldo Azevedo, do Luís Felipe Pondé e do João Pereira Coutinho, mas também tem coluna do Jânio de Freitas, do Vladimir Safatle, do Ricardo Melo, do Guilherme Boulos e do Gregório Duvivier.  Tirando os colunistas, as posições expressas nos editoriais muitas vezes se alinham com as apresentadas pelas outras empresas. O diferencial da Folha é que por ter opiniões mais progressistas em questões sociais, a Folha é mais crítica com políticos reacionários nestas questões.
Até mesmo a credencial democrática das maiores empresas de mídia do Brasil pode ser colocada em questionamento, uma vez que Globo, Folha e Estadão apoiaram o golpe de 1964. A Folha e o Estadão tornaram-se (tardiamente) opositores do regime militar, mas o Globo, em 1984, publicou um editorial falando como este jornal sempre apoiou o regime. A Veja tinha algumas matérias favoráveis ao regime mesmo no tempo do Mino Carta. O SBT foi resultado de concessão daquele tempo, e como retribuição, criou a semana do presidente. Até 2002, parecia que tudo isso era página virada na história. Aí naquele ano, teve tentativa de golpe na Venezuela, e as revistas Veja e Época fizeram matéria de capa passando pano nos golpistas. Alguém pode argumentar "mas com o autoritarismo crescente na Venezuela, o golpe não teria sido justificado?" Não, porque as medidas autoritárias de Chávez e Maduro só ocorreram depois da tentativa de golpe. João Goulart e Salvador Allende não praticaram medidas autoritárias e mesmo assim foram depostos pela força. Em 2009, houve um golpe bem sucedido em Honduras, travestido de legalidade, uma vez que a iniciativa partiu da Suprema Corte (uma estranha legalidade com prisões, censura, repressão a manifestações). A mídia dos países desenvolvidos, mesmo com fortes críticas ao presidente deposto, condenou o golpe. Chefes de Estado do mundo inteiro não reconheceram o governo golpista. Já essa mídia brasileira..., teve visão diferente. Em 2012, o impeachment relâmpago, sem chance de defesa, de Lugo no Paraguai foi retratado como um impeachment convencional. Além de defesa de golpes contemporâneos, aparecem, de vez em quando, revisionismos históricos sobre a ditadura militar. Tanto o Globo quanto a Época publicavam colunas do Olavo de Carvalho, que diziam, entre outras coisas, que somente "terroristas" tinham sido assassinados pela ditadura militar e que a única forma de censura que existia naquele tempo era censura à propaganda da luta armada. É por tudo isso que eu não duvido que se o Brasil elegesse um governo realmente de esquerda (e não só mais ou menos de esquerda como Lula e Dilma), nossa mídia empresarial apoiaria alguma forma de golpe, não necessariamente um golpe clássico como os dos anos 60, mas algum golpe ao estilo Honduras.
Nem sempre os jornalões, revistonas e tevezonas brasileiras foram tão Tea Party Instituto Millenium como são hoje. Nas décadas de 1980 e 1990, havia mais abertura política interna. Colunistas de direita sempre existiram, até porque é a posição dos donos das empresas, mas havia pluralidade. Era comum encontrar um número razoável de jornalistas e colunistas de esquerda. Franklin Martins já foi comentarista do Globo e da Globo. Maria Rita Kehl já foi colunista do Estadão. Também foi colunista da Época, assim como Wanderley Guilherme dos Santos, Maria Aquino e Paulo Moreira Leite. Luís Nassif, no tempo em que ele era um "tucano progressista" (e não o PSDB de hoje), já foi colunista da Folha. Luís Felipe de Alencastro já foi colunista da Veja, embora nesta revista a direita tenha sido esmagadora maioria até no período de maior abertura. José Arbex e o finado Aloysio Biondi, antes de serem da Caros Amigos, já trabalharam na Folha.
A redireitização da mídia empresarial brasileira ocorreu ao longo do governo Lula, durante a década de 2000. Gradualmente, a esquerda foi sendo expulsa dessa mídia e obtendo asilo na Carta Capital, na Caros Amigos, na Fórum e em blogs. A diversidade de ideologias só não foi completamente extinta porque passou a haver dois grupos distintos: o dos tucanos convencionais, que inclui Miriam Leitão, Carlos Sardenberg, Merval Pereira, Eliane Castanhede e Ricardo Noblat, e um grupo ainda mais a direita composto por uma geração influenciada por Olavo de Carvalho: Reinaldo Azevedo, Diogo Mainardi, Rodrigo Constantino e Luís Felipe Pondé. Arnaldo Jabor pertencia ao primeiro grupo e agora oscila entre os dois.
Os prováveis motivos da redireitização foram: 1. o público da faixa de renda que tem condições de comprar jornais e revistas e os produtos por eles anunciados caminhou para a direita, e não apenas a mídia influencia a opinião de seus leitores, mas seus leitores também influenciam a opinião da mídia. 2. com a expansão da Internet, jornais e revistas em papel passaram a ter menos compradores, aí diminuiu a necessidade de atraírem pessoas de diferentes opiniões sobre política. Não tenho certeza ainda sobre qual foi a maior causa da redireitização. Só tenho certeza de que este fenômeno ocorreu.
Como eu disse que pertencia a nenhuma panelinha, depois de tantos parágrafos criticando a grande mídia empresarial brasileira, não é menos importante criticar os críticos mais visíveis desta mídia. Em geral, os maiores críticos desta mídia são colunistas de sites pró-PT. O que causa mais indignação a esses críticos é o fato de jornais, revistas, sites e televisão publicarem denúncias de corrupção envolvendo políticos do PT. É péssimo que critiquem por causa disso. Como demonstrado nos parágrafos anteriores, há muitos outros motivos para criticar. Agora, denunciar corrupção de políticos, incluindo os do PT, não passa de obrigação. Que bom que vivemos em uma sociedade que tem uma mídia que fiscaliza governos, mesmo que estes governos sejam progressistas. Há algumas denúncias falsas, principalmente aquelas presentes na Veja, e isso sim deve ser muito criticado, mas muitas denúncias, principalmente as publicadas em outros veículos, são verdadeiras. Se a grande mídia dá mais destaque para escândalos de corrupção envolvendo políticos do PT do que políticos do PSDB, deve ser criticada pela falta de destaque para o PSDB e não pelo excesso de destaque para o PT. Ao fazerem isso, os sites pró-PT cometem um grande desserviço para a esquerda. Primeiro porque dão um presentaço para a grande mídia, um pretexto para ela exibir um heroísmo inexistente dizendo coisas como "somos perseguidos porque o PT odeia a gente porque nós denunciamos os desmandos cometidos pelo PT". Segundo porque ajudam a fomentar a ideia de que esquerda = PT. Terceiro porque passam a impressão de que quem é de esquerda aceita numa boa as sem vergonhices praticadas por aliados políticos, e contribuem ainda mais para ampliar o descrédito da esquerda, que já anda muito grande no Brasil atualmente.
E quanto ao posicionamento geral da grande mídia empresarial sobre o PT? Pelo que eu enxergo, apenas a Veja faz oposição sistemática aos governos Lula e Dilma. Os outros periódicos e canais de televisão repudiam apenas as ideologias de esquerda presentes em alguns membros do PT, mas não os governos Lula e Dilma como um todo, que não são lá muito esquerdidíssimos. Fazem grandes ataques apenas em momentos de "recaída", como a tentativa de aprovar o III Plano Nacional de Direitos Humanos. Mas caso se mantenham bem comportados, jornais e revistas também ficam bem comportados. A evidência de que o posicionamento é ideológico, e não partidário, é que no primeiro mandato do Lula, quando havia divergência entre o então Ministro da Fazenda Antônio Palocci (do PT) e o então presidente do BNDES Luciano Coutinho (então do PMDB), a grande mídia se colocava claramente no lado do Palocci.
Outra questão importante a ser mencionada é que discussões sobre regulação da mídia não devem ser muito misturadas com questões de conteúdo. A mídia, por ser uma atividade econômica de tendência natural à concentração, deve ter regulação econômica, assim como têm os setores de energia, telecomunicações e petróleo. É péssimo para a concorrência que as Organizações Globo sejam ao mesmo tempo fornecedoras de pacote de televisão por assinatura e fornecedoras de alguns canais. Dificulta a concorrência limpa da Globo News com a Band News, da Sportv com a Band Sports. A propriedade cruzada de televisão aberta, televisão por assinatura, rádio, jornal, revista, cinema e livros escolares por um mesmo grupo empresarial deveria ser proibida. Um grupo que incluísse todas essas atividades deveria ser compulsoriamente desmembrado. Por outro lado, falar de conteúdo quando se fala de regulação é jogar água no moinho de quem diz que regulação é censura. Passa a impressão de que no meio das pessoas que defendem a regulação, alguns realmente defendem a censura.
A grande mídia empresarial brasileira é mesmo controversa. Quem é de esquerda diz que ela é de direita. Quem é de direita diz que ela é de esquerda. A verdade é que ela é de... direita. Não é só porque há dois grupos barulhentos defendendo posições opostas que a verdade precisa estar no exato ponto intermediário entre estas posições. É perfeitamente possível que um lado esteja totalmente certo e o outro esteja totalmente errado, como ocorre agora. Porém, embora estando totalmente correta quando diz que a grande mídia empresarial brasileira é de direita, a esquerda deve evitar fazer críticas burras, para evitar correr o risco de backlash, tiro pela culatra e efeito bumerangue.
Uma sociedade civilizada é aquela que tem uma imprensa que incomoda quem tem o poder. Tanto quem tem temporariamente o poder político, quanto quem tem permanentemente o poder econômico. A imprensa brasileira só cumpre o primeiro pré-requisito: incomoda quem tem temporariamente o poder político, mas é subserviente a quem tem permanentemente o poder econômico. Erra quem critica por incomodar o poder político. Acerta quem critica por ser subserviente ao poder econômico.

domingo, 24 de maio de 2015

O que a treta do Idelber Avelar nos ensina

Não vou repetir o que foi a treta do Idelber Avelar, divulgada há aproximadamente seis meses, porque acredito que a turma que cabe em uma van que lê meu blog sabe o que foi a treta. E nem vou usar esse post para discutir se é aceitável ou não o que ele fazia. Sinceramente, não sei.
Agora, uma coisa eu sei. Que este episódio nos ensinou que um ser humano pode ter seu discurso voltado contra si próprio.
Quando havia um conflito, em que em um dos lados havia homem cis hétero branco de classe média/alta, e no outro lado havia alguém que não tivesse uma ou mais de uma dessas características, e Idelber Avelar se simpatizava com o lado que não era de homem cis hétero branco de classe média/alta, ele habitualmente apontava racismo, sexismo ou elitismo, enrustido ou explícito, no lado com o qual ele não concordava.
Bom, aí ele se viu em um conflito em que ele, homem cis hétero branco de classe média/alta, estava em um lado, e mulheres estavam em outro. E embora tenha havido exceções nos dois lados, em geral, quem defendeu o Idelber Avelar foram seus fãs homens progressistas e quem o criticou foram mulheres, incluindo ex-fãs dele.
Como disse no início do texto, não sei se a atitude dele foi machista ou não, se foi desrespeitosa com mulheres ou não. Mas me parece que se o Idelber fosse escrever sobre ele mesmo na linha através da qual ele habitualmente escrevia, ele afirmaria que ele mesmo foi machista.

Não sei se o próprio Idelber chegou a escrever isso, mas sei que algo que seus adeptos muitas vezes diziam, era que quando ocorria uma situação em que alguém era acusado de ter agido de forma racista/machista/homofóbica, somente a palavra de negros/índios valia para avaliar se havia ocorrido racismo ou não, somente a palavra de mulheres valia para avaliar se havia ocorrido machismo ou não, e somente a palavra de homossexuais valia para avaliar se havia ocorrido homofobia ou não. Isto porque somente membros dos grupos desfavorecidos tinham condição de saber o que era fazer parte do grupo desfavorecido, porque eles é que tinham tido vivência. Isso faz sentido. Concordo que membros dos grupos favorecidos devem escutar humildemente o que os grupos desfavorecidos têm a dizer.
Só que o episódio discutido aqui neste texto mostrou que tal regra não pode ser generalizada sempre. Caso contrário, ela pode atingir até quem inspira quem defende essa regra.

Homens cis hétero brancos de classe média/alta devem escutar pessoas de outros grupos em temas relacionados com opressão, mas também podem usar esses depoimentos para formar própria opinião.

sábado, 16 de maio de 2015

Sobre a possibilidade de civis portarem arma de fogo

Acho que muitos de nós já vimos as mesmas pessoas que, muitas vezes com razão, criticam frequentemente as polícias e as forças armadas, defenderem que membros das polícias e das forças armadas sejam as únicas pessoas autorizadas a portar armas de fogo. Isto não é esquizofrênico? Se polícias e forças armadas não são instituições confiáveis, por que elas deveriam ter o monopólio do direito da posse de arma de fogo?
No imaginário dessas pessoas, defender direito de cidadãos comuns portarem arma de fogo e portar arma de fogo são vistos como coisa de reaça. Portadores de arma de fogo seriam apenas latifundiários querendo atirar em sem-terra. Não é bem assim.
Pessoas com ideias politicamente opostas àqueles habitualmente associados à posse de armas de fogo também podem achar que as forças de segurança do Estado não são confiáveis o suficiente para garantir a proteção. Vimos que na campanha eleitoral do ano passado, muitos militantes de esquerda sofreram agressões físicas praticadas por militantes de direita. Esses militantes de esquerda talvez possam considerar a polícia incapaz de protege-los. Podem duvidar da neutralidade política das polícias. É inaceitável alguém usar arma para fazer política em uma democracia, mas algumas pessoas podem considera-las um meio necessário de defesa.
Lésbicas que têm que voltar à noite para casa por causa de estudo ou trabalho podem ter medo de sofrer ataques de grupos neofascistas e não confiar no empenho da polícia em protege-las, dada a existência de notícias de comportamentos machistas praticados por policiais.
Não se duvida da existência de bons policiais. O que se coloca aqui é que muitas notícias relacionadas ao comportamento de polícias geram dúvidas em pessoas que precisam de segurança.
E mesmo deixando a política de lado e  tratando da situação de pessoas que consideram a necessidade de portar arma de fogo para se proteger de delinquentes. Tem gente que mora perto do mato, em área de difícil acesso, onde até a polícia demora para chegar. Não tenho e não pretendo ter arma de fogo, mas algumas pessoas que não eu podem precisar.
Quanto mais indefesos se sentem os cidadãos, quanto mais dependentes os cidadãos se sentem em relação às forças de segurança do Estado, mais eles estarão propensos a aceitar que essas forças de segurança pratiquem tortura e execuções sumárias em nome do que seria um bem maior.
Alguns podem contra-argumentar: "Eu critico as polícias e as forças armadas porque no Brasil atualmente elas são muito ruins, não acho que na teoria elas sejam ruins em si. Em uma situação ideal, as polícias e as forças armadas deveriam ser competentes para garantir a segurança dos cidadãos e ninguém precisar andar armado". OK, mas vivemos no mundo real, não na "situação ideal". Parece argumento do tipo "não deveria existir cota, porque a educação pública básica deveria ser boa". Quem nos "protege" são as polícias e as forças armadas que realmente são, e não as que deveriam ser. No Reino Unido, o porte de arma de fogo por cidadãos comuns é proibido. Se tivéssemos uma polícia britânica, eu certamente seria a favor da proibição do porte de arma de fogo por cidadãos comuns.
Ser contra o monopólio do Estado da posse de armas de fogo não implica ser neoliberal, defensor do Estado mínimo. É possível defender que o Estado exerça papel importante no desenvolvimento e na redistribuição de renda, mas que os cidadãos não sejam cordeirinhos. No Reino Unido, com economia mais liberal, o porte de armas de fogo por cidadãos comuns é proibido. Nos países escandinavos, com generoso Estado de Bem Estar Social, o porte de armas de fogo por cidadãos comuns é permitido, e o número de armas de fogo per capita é razoavelmente elevado. http://en.wikipedia.org/wiki/Number_of_guns_per_capita_by_country
No referendo de 2005, os eleitores brasileiros tiveram duas opções: fazer que o Brasil tenha A legislação de armas MAIS rigorosa do mundo (o sim) ou continuar que o Brasil tenha UMA DAS legislações de armas MAIS rigorosas do mundo (o não). Venceu o não por larga margem. Não foi um simples duelo esquerda X direita. A esquerda mainstream, composta por PT, PCdoB, pela maior parte do recém fundado PSOL, e pelas organizações da sociedade civil satélites destes partidos optaram pelo sim. A Revista Veja, símbolo do jornalismo impresso de direita, e muitos proeminentes políticos e "pensadores" de extrema-direita optaram pelo não. Porém, a Globo, símbolo da televisão de direita, e o PSDB, já naquele tempo apoiado mais pela centro-direita do que pela centro-esquerda, optaram pelo sim. Até o ACM Neto do PFL optou pelo sim também. Partidos de extrema-esquerda, como o PSTU e o PCO optaram pelo não. Em um panfleto do PSTU daquele tempo estava escrito que eles eram contra o desarmamento porque a classe trabalhadora poderia precisar de armas para se defender de outros grupos que também são contra o desarmamento.

domingo, 3 de maio de 2015

Meu pitaco sobre a Reforma Política

Como se fala muito de Reforma Política, aqui vai meu pitaco: o sistema de representação que eu considero ideal é o sistema de representação distrital mista, como ocorre na Alemanha. Não é tão complicado. Cada estado é dividido em distritos de população semelhante, que podem englobar tanto várias cidades pequenas, quanto vários bairros de uma cidade grande. Cada distrito elege seu deputado. Mas além de votar para o candidato a deputado do seu distrito, cada eleitor também vota... em um partido. Esta votação no partido é o que define quantas cadeiras cada partido vai ter na Câmara. Quando o número de deputados eleitos nos distritos não é suficiente para preencher as vagas a que o partido tem direito, o restante das vagas é preenchido pela lista do partido. Este sistema reúne as vantagens da representação distrital com as vantagens da representação proporcional.
O atual sistema brasileiro de representação proporcional com lista aberta favorece a formação do Congresso BBB (Bíblia, Boi, Bala) porque exige custos altíssimos de campanha para poder ser eleito, uma vez que um mesmo candidato pode ter votos tanto em Ubatuba quanto em Presidente Prudente (cidades muito distantes uma da outra). Aí ganha quem tem dinheiro. Além disso favorece candidatos fanfarrões porque quem mais polemiza mais é lembrado no meio de milhares de candidatos e ainda favorece a prática de usar celebridades pra puxar votos. O sistema de representação distrital pura tem o perigo de dificultar o pluripartidarismo e favorecer apenas candidatos que tratam de questões locais. O sistema de representação proporcional com lista fechada dificilmente se adaptaria ao Brasil porque muitos brasileiros gostam de votar em pessoas e 75% dos brasileiros não têm partido preferido. E o distritão reúne o pior de todos os sistemas.

Eu entendo que possa existir preocupação sobre quem e como vai desenhar os distritos. Não nego a possibilidade de haver desenhos feitos para beneficiar determinados políticos. Mas isto seria mal menor em comparação com os defeitos dos outros sistemas. E dizer que não é bom adotar a representação distrital porque é difícil desenhar os distritos é igual dizer que não é bom adotar as cotas porque é difícil definir quem é negro e quem é índio.
 E óbvio, também é importante tratar do fim do financiamento de campanha por pessoas jurídicas e estabelecimento de limites de valores para pessoas físicas.