Depois de apresentar informações talvez pouco conhecidas sobre Olavo de Carvalho, Reinaldo Azevedo e Rodrigo Constantino, exponho agora minha opinião sobre como devemos lidar com estes colunistas e outros que pertencem à mesma corrente de pensamento.
Alguns dizem que esse tipo de colunista deve ser completamente ignorado. Isto porque esses colunistas gostam de aparecer, são do tipo que amam ser odiados por alguns, e que, portanto, falar sobre eles, mesmo emitindo opinião negativa, é ajudar a divulga-los.
Concordo parcialmente com este argumento. É verdade que todos esses colunistas adoram aparecer, que falar deles ajuda a coloca-los em evidência. Mas o fato é que desde 2003, esse tipo de colunista vem ganhando muita evidência na mídia, seja escrita, seja televisiva, seja radiofônica, seja online. Alguns já são suficientemente conhecidos para não precisarem mais do "nosso" trabalho de divulgação. E existe o risco deles fazerem a cabeça de pessoas. Isto não seria nem um pouco bom. Pois haverá danos à saúde pública se as pessoas passarem a pensar que não há problema em não levar crianças para tomar vacina ou que campanhas governamentais de uso de preservativo são ruins. Haverá danos à tolerância às minorias se fosse padrão as pessoas pensarem que homossexualidade é uma doença ou que o cidadão mais oprimido é o homem, branco, heterossexual e cristão. Haverá danos à segurança pública se linchadores passassem a ser vistos como algo "até compreensível". Haverá danos aos conhecimentos do país sobre sua história se a mentira de que só "terroristas" foram assassinados durante a ditadura militar for vista como verdade. Haverá danos ao conhecimento dos brasileiros sobre ciência se as pessoas disserem que "o aquecimento global não existe" com base apenas no "eu acho que".
Portanto, esses colunistas merecem resposta, mas a resposta precisa ser bem feita. Caso contrário, as preocupações dos que defendem que esses colunistas devem ser ignorados tornam-se reais.
Escrevo aqui um conjunto de sugestões tanto para colunistas de revistas de esquerda e lideranças de esquerda (muito provavelmente eles nunca vão encontrar este texto, mas quem sabe...), quanto para críticos de Facebook, Twitter e Blog.
1) Colunistas muito conhecidos devem ser criticados. Colunistas pouco ou nada conhecidos devem ser ignorados.
2) Não é recomendável publicar em Facebook, Twitter ou Blog um texto de um ultradireitista preconceituoso acompanhado apenas de comentários como "absurdo, nojento". Porque isto ajuda apenas a divulgar. É importante responder aos argumentos do texto. É muito bom que especialistas em determinadas áreas de conhecimento respondam às "groselhas" proferidas por esses colunistas, como vemos aqui.
3) Quem deve responder a esses colunistas direitistas raivosos é uma questão importante. Pessoas com conhecimento acadêmico ajudam a desmentir patacoadas desses colunistas. Às vezes, nem é necessário tanto conhecimento assim. Só não é recomendável que acadêmicos muito conhecidos, lideranças muito importantes de partidos políticos e lideranças muito importantes de movimentos sociais escrevam críticas a colunistas ultradireitistas. Devem fazer isso apenas em réplica, quando atacados. Em situação normal, esses colunistas precisam ser criticados por pessoas menos conhecidas que eles. Quando o crítico é muito conhecido e importante, gera muita publicidade para quem não merece. Considero uma decisão equivocada a do Guilherme Boulos de ter escrito uma coluna inteira criticando o Reinaldo Azevedo. O MTST é um movimento muito mais importante do que o blog do Reinaldo Azevedo. Para o colunista da Veja, foi como um troféu ter recebido um texto do Guilherme Boulos. Bons acadêmicos desconhecidos são pessoas ideais para criticar colunistas ultradireitistas. A crítica a esses colunistas deve ser um trabalho horizontal e de formiguinha. Vale a pena divulgar no Facebook e no Twitter as boas críticas.
4) Colunistas direitistas trolls e colunistas que têm as mesmas posições políticas, escrevem para os mesmos periódicos, mas mantém aparência de sérios e respeitáveis devem ser tratados sem distinção, a não ser que critiquem abertamente os colunistas trolls. Da mesma forma que esperamos que islâmicos em geral expressem repúdio contra terroristas que utilizam o nome da religião islâmica para cometer atentados, para que o terrorismo não seja associado à religião; esperamos que os "sérios e respeitáveis" repudiem publicamente quem usa a trollagem para defender as mesmas posições políticas que as deles.
5) Nunca devemos caluniar ou difamar qualquer colunista. Nenhuma boa causa, no caso, o repúdio ao extremismo de direita, deve ser defendida por mentiras. Se defensores de determinada causa consideram que são necessárias mentiras para defender esta causa, muito provavelmente a causa não é tão boa assim.
6) Nunca fazer graça com a aparência física de qualquer colunista, nem fazer piadas sexuais.
7) Usar o naofo, isto é óbvio.
terça-feira, 17 de fevereiro de 2015
quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015
domingo, 1 de fevereiro de 2015
O PT e a extrema esquerda, o PSDB e a extrema direita
Não foi surpreendente a quase ausência de reação do PSDB à declaração do Jair Bolsonaro sobre o estupro. Este partido não teria razão para incomodar os fãs do militar deputado pelo Rio de Janeiro. Afinal, quem mais se envolveu na campanha de Aécio Neves para presidente não foram os apreciadores da obra "Dependência e desenvolvimento na América Latina" de Fernando Henrique Cardoso, nem dos artigos de economia de José Serra, nem das ideias de Franco Montoro, Magalhães Teixeira e Mário Covas. Quem mais se empenhou em defender a candidatura do Aécio no Facebook, nas páginas de comentários dos sites de notícias e nas ruas foram os fãs de Jair Bolsonaro. E, óbvio, leitores da Veja, ouvintes de Rachel Sheherazade e Danilo Gentili e todas essas excrecências aí. O PSDB não daria um pé na bunda em seus mais aguerridos apoiadores apenas um mês depois de uma tão concorrida eleição. Repara-se que no município do Rio de Janeiro, Jair Bolsonaro teve aproximadamente 10% dos votos para deputado federal. No segundo turno para presidente, Aécio teve perto de 50% dos votos. Como todos os que votaram em Jair Bolsonaro para deputado votaram em Aécio para presidente, aproximadamente 1/5 dos eleitores de Aécio no município do Rio de Janeiro votou em Jair Bolsonaro. Não é pouca coisa.
Muitos posicionamentos são feitos na política através do silêncio. Quando o PSDB manifestou-se sobre o assunto apenas com uma tímida nota, que não mencionou sequer nomes, e seus deputados se calaram, a mensagem implícita passada foi "fãs de Bolsonaro, defende-lo explicitamente não dá, mas enquanto outros partidos repudiaram o deputado querido de vocês, nós ficamos caladinhos porque estamos fazendo o possível para não abandonar vocês, uma vez que vocês deram grande contribuição na campanha".
Um gesto análogo foi o do governo Lula ao ter recusado a extradição do terrorista italiano Cesare Battisti. Lula agiu igual Mitterrand: usou Battisti como um prêmio de consolação para extrema-esquerda, insatisfeita com a política econômica do governo. Foi um recado como "esquerdistas remanescentes no PT e no PCdoB, não nos abandonem, não vão para o PSOL e para o PSTU, a militância de vocês nas campanhas é muito importante, olhem como nós fomos legais com vocês. Na política doméstica, só não vamos mais para a esquerda porque o Congresso não deixa".
Os dois grandes partidos de eleições majoritárias no Brasil têm relação ambígua com os extremos do espectro político. Nos discursos oficiais de campanha, gostam de se mostrar como próximos do centro. Mas através de comunicação em código e gestos simbólicos, o PT sempre procura manter canal de comunicação com a extrema-esquerda e o PSDB sempre procura manter canal de comunicação com a extrema-direita. Por dois motivos: primeiro lugar, porque se os extremos se veem completamente excluídos dos partidos majoritários, eles podem se organizar sozinhos e se tornar uma ameaça aos partidos majoritários. Caso emblemático se viu na França, em que Sarkozy foi obrigado a incorporar para do discurso dos Le Pen para que a Frente Nacional não se tornasse maior até mesmo do que a UMP. Em segundo lugar, os extremos são uma força de militância muito mais combativa do que a forças políticas próximas do centro.
Por causa disso, o PT é ao mesmo tempo o partido que lidera um dos governos da "esquerda responsável" na América Latina, "responsável" até demais muitas vezes, principalmente depois das medidas anunciadas neste segundo mandato de Dilma, que mostra pros banqueiros que não é contra a austeridade, que mostra pros religiosos que não é satanista; e também o partido que se aproxima dos outros "governos progressistas" da América Latina, que repudia o imperialismo norte-americano e europeu, que está junto dos sindicatos, dos movimentos sociais, das minorias. O PSDB é ao mesmo tempo o partido que criou os fundamentos do Bolsa Família e também o partido dos que acham que Bolsa Família só serve pra comprar voto de vagabundo que não deveria ter o direito de votar.
Dois textos recentes tratam muito bem deste tema. Em "A Grande Ilusão", Vladimir Safatle mostra como o PT é ao mesmo tempo governo e oposição de esquerda ao seu próprio governo, ou seja, como procura tutelar a oposição de esquerda para não perder o controle. Em "O Perigo da Extrema Direita", Renato Janine Ribeiro mostra como a militância de extrema-direita pode ser útil eleitoralmente ao PSDB, mas como esta militância pode desfigurar o partido.
A relação do PT com a extrema esquerda é mais evidente para a maior parte dos observadores porque não é tão difícil de entender. O PT nasceu em 1980 ocupando o espaço mais à esquerda no espectro político brasileiro, e foi se moderando ao longo do tempo, chegando à Carta ao Povo Brasileiro de 2002. Por isso, sempre teve proximidade com movimentos sociais que estão mais à esquerda do que os governos Lula/Dilma. Já quando presidente, Lula usou um boné do MST como um gesto simbólico, para mostrar que mesmo com um Ministro da Agricultura ligado ao agronegócio, o PT não perdeu o contato com a luta pela reforma agrária. Atualmente, o PT ainda conta com uma rede de blogueiros e de comentaristas em comunidades virtuais do Facebook que criticam o PSOL não por ser radical demais, mas por "dividir a esquerda". Esses "formadores de opinião" gostam de passar a imagem de o PT continua tendo bandeiras tão esquerdistas quando o PSOL e que só não as implementa porque "a atual correlação de forças não permite". O PT não quer perder toda a militância de esquerda para o PSOL.
A relação do PSDB com a extrema direita, muitos conhecem só de atualmente, mas alguns laços não são tão recentes. Quando este partido foi fundado em 1988, alguns cientistas políticos consideram-no um partido de "centro-esquerda". Os fundadores foram antigos políticos do MDB, intelectuais com tendências esquerdistas no passado. Embora o partido tenha o nome de "social democrata", nunca teve relação com trabalhadores sindicalizados nem mesmo no ano de sua fundação. Diferente do que ocorre com partidos social democratas europeus. Mesmo nunca tendo sido muito esquerdista, o PSDB foi caminhando para a direita com o tempo, tendo como importante marco a coligação com o PFL em 1994.
Já na década de 1990, apareceu o primeiro sinal de aproximação do PSDB com a extrema direita. A Revista República, criada por Mendonça de Barros para ser um meio de comunicação paraoficial do partido, chegou a dedicar uma matéria de capa ao "filósofo" Olavo de Carvalho, quando ele ainda nem era conhecido. O redator chefe da revista, Reinaldo Azevedo, um simples tucano convencional no passado, tornou-se um imitador do "pensamento" de Olavo de Carvalho a partir do primeiro mandato do Lula. Isto ajudou a aproximar o tucanismo do olavismo. Isto eu expliquei com mais detalhes no meu post anterior. Importante lembrar que a Nossa Caixa, banco público paulista, patrocinava a revista de Reinaldo Azevedo.
O PSDB ainda contribui com a divulgação e o apoio financeiro ao "pensamento" de Reinaldo Azevedo e Rodrigo Constantino assinando a Revista Veja para as escolas estaduais paulistas.
O Instituto Millenium, criado para divulgar ideias de direita no Brasil, reúne economistas do PSDB e colunistas raivosos da imprensa.
Outro fato importante a se considerar são as frequentes aparições de Luís Felipe Pondé na TV Cultura.
Em 2010, José Serra explorou ateufobia alheia na campanha presidencial e em 2012, explorou homofobia alheia na campanha municipal. Não se esqueceu nem mesmo do Foro de São Paulo. Nem viu problemas em incentivar a participação de pessoas em uma manifestação onde se sabia que haveria pedidos de golpe militar.
Verifica-se através destes exemplos que o PSDB não apenas vem contando com a militância de extrema direita, como vem ajudando a fomentá-la. Não sabemos se o criador terá controle sobre a criatura para sempre.
domingo, 25 de janeiro de 2015
Por que eu bloqueio no meu Facebook quem posta texto do Reinaldo Azevedo
Em primeiro lugar, quem é Reinaldo Azevedo?
Alguns, que só conhecem-no recentemente, desde quando virou colunista da Veja, diriam que ele é um ultraconservador olavete que faz campanha para o Partido da Social Democracia (hahaha) Brasileira apenas porque não existe um partido mais conservador com chance de ganhar uma eleição majoritária. Certo ou errado?
Errado. Reinaldo Azevedo faz trabalho de public relations para o PSDB bem antes de ter virado olavete. Reinaldo Azevedo começou a despontar no jornalismo em 1996, quando Mendonça de Barros criou a revista República, uma publicação paraoficial do PSDB. Para não pregar apenas para os fiéis já convertidos, o time de colunistas da revista era variado, tinha até Franklin Martins. A revista entrevistava políticos de diferentes partidos, até mesmo do PT. Mas a linha editorial da revista era pró-PSDB. E Reinaldo Azevedo era o colunista puxa-saco de FHC, e logo virou redator chefe.
Durante o segundo mandato de FHC, quando ocorria a crise econômica e a crise energética, e a eleição de 2002 se aproximava, a revista, principalmente através de Reinaldo Azevedo, passou a defender a ideia de que existia um PSDB ruim, dos economistas monetaristas da PUC-Rio, que tinham forte influência sobre FHC, e o PSDB bom, dos economistas desenvolvimentistas da Unicamp e da FGV-SP, que teriam influência na candidatura de José Serra. Sim, isso mesmo, Reinaldo Azevedo, antes de ter virado olavete, defendia a "esquerda" do PSDB. Em 2002, a revista República mudou o nome para Primeira Leitura, e fez forte campanha para José Serra, não com o argumento de que Lula era comunista mau comedor de criancinha, e sim com o argumento de que José Serra era o candidato de centro-esquerda "mais preparado" do que Lula.
Bom, aí depois que Lula assumiu o governo, a revista Primeira Leitura deu uma súbita guinada ideológica, passando de tucana desenvolvimentista para ultraconservadora olavete. Depois da polêmica sobre o patrocínio da Nossa Caixa (sim, Reinaldo Azevedo, que tanto fala mal da Carta Capital, recebia patrocínio público), em 2006, a revista Primeira Leitura deixou de existir. E Reinaldo Azevedo tornou-se colunista da Veja. Daí pra frente, todos conhecem sua grande "obra".
E por que ele é nocivo?
Mesmo tendo virado olavete, ele nunca deixou de ser tucano. Até porque o PSDB está defendendo posições cada vez mais olavetes. O problema de Reinaldo Azevedo não é esse, nada há de errado em alguém defender um partido político. Abjeta é a maneira através da qual ele faz isso.
Todos nós sabemos que liberalismo econômico não ganha eleição. Pesquisas de opinião, como esta, mostram que a maioria dos brasileiros defende um Estado que intervenha na ordem econômica e social. Porém, estas mesmas pesquisas demonstram que em matéria de valores morais, os brasileiros são fortemente conservadores. As pesquisas não alcançam maior profundidade, mas sabemos que junto com conservadorismo veem muitos preconceitos. E o método Reinaldo Azevedo de propaganda política consiste em utilizar os preconceitos que muitos brasileiros têm como uma força anti-PT e consequentemente pró-PSDB. Como críticas ao estado inchado não mexem com muitas pessoas, apela-se a críticas a ONGs, movimentos sociais, movimentos favoráveis a minorias, feministas, ambientalistas, politicamente corretos e professores de universidades nas quais alguns leitores do colunista não conseguiram ingressar.
Muitas pessoas são preconceituosas, mas muitas pessoas rejeitam preconceitos. Por isso, expressar preconceitos abertamente é feio. Às vezes, causa problemas com a lei. Por isso, Reinaldo Azevedo utiliza a técnica do dog-whistle, que consiste passar mensagem implícita para determinados grupos. Ele não escreve textos abertamente racistas, machistas, homofóbicos, xenofóbicos e elitistas, mas agrada quem tem essas características.
Um exemplo disso pudemos perceber em sua coluna sobre o beijo gay da novela. Ele não escreveu "que horror, os gays vão destruir a família brasileira". Mas escreveu um textão desqualificando quem vê a exibição do beijo gay como um progresso social e falando como a novela foi ruim. Não há nada de errado em falar mal de uma novela, mesmo com o beijo gay, a novela pode ter sido ruim. Mas acontece que o tema das colunas de Reinaldo Azevedo não é novela, ele habitualmente não escreve sobre novela, aquele texto sobre novela foi uma exceção. A mensagem passada não foi explicitamente homofóbica. Mas quem é homofóbico adoraria ler um texto dizendo que a novela que teve um beijo gay foi muito ruim, um texto atacando o diretor. Adoraria divulgar este texto no Facebook. Escrevendo essas coisas, Reinaldo Azevedo passa a seguinte mensagem oculta aos homofóbicos: olhem, eu não ataco essas bichas diretamente porque pode pegar mal pra mim, mas eu sou alguém que olha por vocês, cidadãos de bem de família que odeiam viado. Pensem bem, Reinaldo Azevedo habitualmente não escreve sobre novela, mas um dia resolveu malhar pesado uma. Mesmo existindo tantas novelas, resolveu fazer isso sobre uma que teve beijo gay. Mais especificamente, no dia seguinte ao capítulo do beijo gay. Por que será?
Reinaldo Azevedo já chamou índios de pele vermelhas, uma expressão altamente pejorativa.
Há também insultos sobre a origem social das pessoas das quais o colunista não gosta. Ele já chamou a líder do Passe Livre de garçonete em tom depreciativo. Dá a entender que Reinaldo não gosta de pessoas que fazem trabalho braçal se metendo em política.
Ah, e óbvio, como não poderia faltar, Reinaldo Azevedo imita a mais retrógada direita norte-americana ao chamar o presidente dos Estados Unidos de Barack Hussein Obama, falando o nome do meio por extenso. Ninguém fala Franklin Delano Roosevelt, nem John Fitzgerald Kennedy, nem George Walker Bush. A intenção de falar Hussein é obviamente querer dizer que o fato de ter esse sobrenome torna o presidente dos Estados Unidos uma pessoa pior. Ou seja, xenofobia. Até mesmo o candidato republicano John McCain, em 2008, repudiou o uso dessa forma de falar.
Para ter uma base de leitores mais ampla, Reinaldo Azevedo usa escapatórias como defender a adoção de crianças por casais homossexuais ou participar da campanha somos todos macacos. Mas não há como negar que Reinaldo Azevedo, mesmo sem explicitar racismo, machismo, elitismo, homofobia e xenofobia, ele corteja pessoas que tem esses sentimentos.
Reinaldo Azevedo também quer ser aplaudido por quem pensa que sexo só deve ser utilizado para reprodução, ao tentar gerar ódio contra cartilhas de orientação sexual distribuídas em escolas. Provavelmente deve adorar a filha grávida de Sarah Palin.
Tudo isso fica muito evidente quando ele diz que o brasileiro mais oprimido é o homem, branco, cristão e heterossexual. É óbvio que não há qualquer dado para sustentar esta afirmativa. Estes grupos não são os que têm renda menor, não são os que sofrem mais homicídios. Eu sou homem, branco, heterossexual e filho de cristãos e não sinto qualquer opressão por causa disso. A única motivação para alguém a pensar assim é não se conformar em ver mulheres, negros e índios, homossexuais, seguidores de outras religiões e seguidores de religião nenhuma sendo cada vez menos oprimidos, ganhando espaço na sociedade. Um artifício muito utilizado por quem quer manter o grupo B oprimido é dizer que o grupo A, que é diferente do B, é o oprimido. É por isso que frequentemente Reinaldo Azevedo diz coisas como "nós, conservadores, não temos o direito de dizer isso, de dizer aquilo". Não Reinaldo, vocês, conservadores, têm o direito sim, assim como nós, que repudiamos os conservadores, temos o direito de refutar. Talvez este nosso direito o incomode.
O que Reinaldo Azevedo parece querer é fazer alguns brancos, cristãos, heterossexuais, que não ligam muito para os debates de economia entre PT e PSDB, mas são ressentidos com o aumento de visibilidade das minorias, pensarem que estão sendo vítimas de uma opressão a cidadãos de bem patrocinada por defensores de minorias e de direitos humanos. A intenção seria utilizar essa auto-vitimização dos grupos dominantes como uma corrente de ódio ao PT e, consequentemente, de apoio ao PSDB.
E esse costume de usar o preconceito dos outros tem intenção não apenas político-partidária, mas também de marketing pessoal. Isto ajuda o colunista ser bastante odiado por algumas pessoas, e Reinaldo Azevedo é o tipo de colunista que ama ser odiado.
Além de explorar ódio e preconceito alheio, Reinaldo Azevedo estimula a ignorância no debate de ideias. Habitualmente insinua que defensores da legalização da maconha consomem a droga mesmo quando ela não é legalizada. Ignora que isto é um debate sério, que há boas experiências no mundo a este respeito, como Holanda, Portugal, Colorado. Eu não consumo quiabo, mas se este alimento fosse ilegal, eu seria a favor da legalização. Reinaldo Azevedo é tão favorável à liberdade de expressão que defende a proibição das marchas da maconha. Em outros momentos, ele sugere disfarçadamente que colunistas de esquerda deveriam ser demitidos. Defender liberdade de expressão para suas próprias ideias é moleza. O verdadeiro defensor da liberdade de expressão é quem defende este direito para quem tem ideias diferentes.
Para piorar, Reinaldo Azevedo parece, em alguns assuntos, ser intelectualmente limitado. Isto foi demonstrado no momento em que discutiu com a Professora Camila Jourdan, em que ele pareceu não saber a diferença entre exemplo e conteúdo.
Alguns semi-defensores do colunista poderiam dizer "tá, ele exagera em algumas coisas, não concordo com tudo que ele escreve, mas o país está com tanta corrupção que é bom ter alguém que bate pesado no PT". Sim, há muitos políticos do PT envolvidos em escândalos do PT, isto deve ser criticado, até eu, alguns dias atrás, critiquei o costume de blogueiros pró-PT relativizarem escândalos de corrupção. Mas mesmo em relação ao debate sobre ética na política, Reinaldo Azevedo não tem muito o que contribuir. Sua indignação é seletiva. Diz que todos devem ser investigados, e se comprovada culpa, punidos, independentemente de partido e ideologia. Dããã... Ninguém vai dizer abertamente o contrário. Ele diz que todos devem ser investigados e quem sabe, punidos. Isso fica apenas no abstrato. Quando, no concreto, algum agente público tenta realmente fazer algo contra alguém próximo a pessoas de quem ele tem simpatia política, já há logo a tentativa de desqualificar este agente. Basta ver suas posições em relação à Operação Satiagraha. O caso mais emblemático do comportamento hipócrita de Reinaldo Azevedo sobre corrupção foi mais recente. Haddad quis que houvesse investigação sobre os auditores fiscais corruptos que agiram no tempo de Kassab. Lula não quis que a investigação ocorresse porque poderia prejudicar um neo-aliado. Reinaldo Azevedo tinha tudo para defender a investigação, se realmente fosse indignado com a corrupção, e ainda teria mais um motivo para atacar Lula, algo que adora fazer. Mas não. Neste episódio, ficou do lado de Lula. E consequentemente e coincidentemente, do lado de Kassab, prefeito para o qual já fez campanha em suas colunas na Veja. Deu a entender que considera que teria sido mais correta a atitude de colocar um escândalo debaixo do tapete em nome da conveniência política.
E o pior de tudo: não viu problema algum em deixar passar um comentário em seu blog defendendo as milícias. Sim, um colunista tem responsabilidade sobre os comentários.
Reinaldo Azevedo culpa pela preservação da corrupção no Brasil quem, entre PT e PSDB, escolhe o PT. Já é absurda a ideia de que com PSDB não haveria corrupção. E também é absurda a ideia de que o único critério que deve existir na cabeça do eleitor é a corrupção. Mas esta regra que o colunista quer impor é quebrada por ele mesmo quando, no Rio de Janeiro, na disputa entre PMDB e PSOL, ele defende o PMDB. Afinal, até a tecla 5 da urna eletrônica sabe que PMDB tem muito mais envolvimento em escândalos de corrupção do que o PSOL, inclusive em parceria com o PT.
Em resumo, nós pudemos ver como Reinaldo Azevedo tem belos valores. Ele defende a liberdade de expressão... para quem concorda com ele. Ele defende o combate implacável à corrupção... de adversários políticos dele. E pelo PSDB vale tudo, até mesmo fomentar e explorar preconceito alheio. Aí eu penso: se o PSDB realmente fosse tão bom, não haveria ótimos argumentos para convencer as pessoas a teclar 45? Se o PSDB é tão bom, por que apelar para preconceitos para criar ódio antí-PT?
Ódios de cor, religião, sexo e origem devem ser repudiados e ponto final. Devem ser vistos como uma praga a ser extinta. Quem, mesmo não expressando esses ódios abertamente, utiliza-os para propósitos políticos, não tem o que contribuir no debate sobre como melhorar a política do Brasil. Quem utiliza indignação contra corrupção apenas como um mero instrumento para atacar adversários também não tem o que contribuir no debate sobre como melhorar a política do Brasil.
É por tudo isso que minha tolerância contra textos de Reinaldo Azevedo postados no Facebook é muito baixa. Eu paro de seguir quem posta mais de três textos do Reinado Azevedo. Quem acha que esse colunista tem muito a dizer muito provavelmente tem pouquíssimo a dizer. Não vale a pena que postadores de textos do Reinaldo Azevedo façam parte da minha timeline virtual. Nem mesmo da minha timeline real. Se algumas dessas pessoas já fizeram parte da minha vida, mesmo em algum momento do passado e sem muita importância, já não fazem mais. E nem vão voltar a fazer.
Alguns, que só conhecem-no recentemente, desde quando virou colunista da Veja, diriam que ele é um ultraconservador olavete que faz campanha para o Partido da Social Democracia (hahaha) Brasileira apenas porque não existe um partido mais conservador com chance de ganhar uma eleição majoritária. Certo ou errado?
Errado. Reinaldo Azevedo faz trabalho de public relations para o PSDB bem antes de ter virado olavete. Reinaldo Azevedo começou a despontar no jornalismo em 1996, quando Mendonça de Barros criou a revista República, uma publicação paraoficial do PSDB. Para não pregar apenas para os fiéis já convertidos, o time de colunistas da revista era variado, tinha até Franklin Martins. A revista entrevistava políticos de diferentes partidos, até mesmo do PT. Mas a linha editorial da revista era pró-PSDB. E Reinaldo Azevedo era o colunista puxa-saco de FHC, e logo virou redator chefe.
Durante o segundo mandato de FHC, quando ocorria a crise econômica e a crise energética, e a eleição de 2002 se aproximava, a revista, principalmente através de Reinaldo Azevedo, passou a defender a ideia de que existia um PSDB ruim, dos economistas monetaristas da PUC-Rio, que tinham forte influência sobre FHC, e o PSDB bom, dos economistas desenvolvimentistas da Unicamp e da FGV-SP, que teriam influência na candidatura de José Serra. Sim, isso mesmo, Reinaldo Azevedo, antes de ter virado olavete, defendia a "esquerda" do PSDB. Em 2002, a revista República mudou o nome para Primeira Leitura, e fez forte campanha para José Serra, não com o argumento de que Lula era comunista mau comedor de criancinha, e sim com o argumento de que José Serra era o candidato de centro-esquerda "mais preparado" do que Lula.
Bom, aí depois que Lula assumiu o governo, a revista Primeira Leitura deu uma súbita guinada ideológica, passando de tucana desenvolvimentista para ultraconservadora olavete. Depois da polêmica sobre o patrocínio da Nossa Caixa (sim, Reinaldo Azevedo, que tanto fala mal da Carta Capital, recebia patrocínio público), em 2006, a revista Primeira Leitura deixou de existir. E Reinaldo Azevedo tornou-se colunista da Veja. Daí pra frente, todos conhecem sua grande "obra".
E por que ele é nocivo?
Mesmo tendo virado olavete, ele nunca deixou de ser tucano. Até porque o PSDB está defendendo posições cada vez mais olavetes. O problema de Reinaldo Azevedo não é esse, nada há de errado em alguém defender um partido político. Abjeta é a maneira através da qual ele faz isso.
Todos nós sabemos que liberalismo econômico não ganha eleição. Pesquisas de opinião, como esta, mostram que a maioria dos brasileiros defende um Estado que intervenha na ordem econômica e social. Porém, estas mesmas pesquisas demonstram que em matéria de valores morais, os brasileiros são fortemente conservadores. As pesquisas não alcançam maior profundidade, mas sabemos que junto com conservadorismo veem muitos preconceitos. E o método Reinaldo Azevedo de propaganda política consiste em utilizar os preconceitos que muitos brasileiros têm como uma força anti-PT e consequentemente pró-PSDB. Como críticas ao estado inchado não mexem com muitas pessoas, apela-se a críticas a ONGs, movimentos sociais, movimentos favoráveis a minorias, feministas, ambientalistas, politicamente corretos e professores de universidades nas quais alguns leitores do colunista não conseguiram ingressar.
Muitas pessoas são preconceituosas, mas muitas pessoas rejeitam preconceitos. Por isso, expressar preconceitos abertamente é feio. Às vezes, causa problemas com a lei. Por isso, Reinaldo Azevedo utiliza a técnica do dog-whistle, que consiste passar mensagem implícita para determinados grupos. Ele não escreve textos abertamente racistas, machistas, homofóbicos, xenofóbicos e elitistas, mas agrada quem tem essas características.
Um exemplo disso pudemos perceber em sua coluna sobre o beijo gay da novela. Ele não escreveu "que horror, os gays vão destruir a família brasileira". Mas escreveu um textão desqualificando quem vê a exibição do beijo gay como um progresso social e falando como a novela foi ruim. Não há nada de errado em falar mal de uma novela, mesmo com o beijo gay, a novela pode ter sido ruim. Mas acontece que o tema das colunas de Reinaldo Azevedo não é novela, ele habitualmente não escreve sobre novela, aquele texto sobre novela foi uma exceção. A mensagem passada não foi explicitamente homofóbica. Mas quem é homofóbico adoraria ler um texto dizendo que a novela que teve um beijo gay foi muito ruim, um texto atacando o diretor. Adoraria divulgar este texto no Facebook. Escrevendo essas coisas, Reinaldo Azevedo passa a seguinte mensagem oculta aos homofóbicos: olhem, eu não ataco essas bichas diretamente porque pode pegar mal pra mim, mas eu sou alguém que olha por vocês, cidadãos de bem de família que odeiam viado. Pensem bem, Reinaldo Azevedo habitualmente não escreve sobre novela, mas um dia resolveu malhar pesado uma. Mesmo existindo tantas novelas, resolveu fazer isso sobre uma que teve beijo gay. Mais especificamente, no dia seguinte ao capítulo do beijo gay. Por que será?
Reinaldo Azevedo já chamou índios de pele vermelhas, uma expressão altamente pejorativa.
Há também insultos sobre a origem social das pessoas das quais o colunista não gosta. Ele já chamou a líder do Passe Livre de garçonete em tom depreciativo. Dá a entender que Reinaldo não gosta de pessoas que fazem trabalho braçal se metendo em política.
Ah, e óbvio, como não poderia faltar, Reinaldo Azevedo imita a mais retrógada direita norte-americana ao chamar o presidente dos Estados Unidos de Barack Hussein Obama, falando o nome do meio por extenso. Ninguém fala Franklin Delano Roosevelt, nem John Fitzgerald Kennedy, nem George Walker Bush. A intenção de falar Hussein é obviamente querer dizer que o fato de ter esse sobrenome torna o presidente dos Estados Unidos uma pessoa pior. Ou seja, xenofobia. Até mesmo o candidato republicano John McCain, em 2008, repudiou o uso dessa forma de falar.
Para ter uma base de leitores mais ampla, Reinaldo Azevedo usa escapatórias como defender a adoção de crianças por casais homossexuais ou participar da campanha somos todos macacos. Mas não há como negar que Reinaldo Azevedo, mesmo sem explicitar racismo, machismo, elitismo, homofobia e xenofobia, ele corteja pessoas que tem esses sentimentos.
Reinaldo Azevedo também quer ser aplaudido por quem pensa que sexo só deve ser utilizado para reprodução, ao tentar gerar ódio contra cartilhas de orientação sexual distribuídas em escolas. Provavelmente deve adorar a filha grávida de Sarah Palin.
Tudo isso fica muito evidente quando ele diz que o brasileiro mais oprimido é o homem, branco, cristão e heterossexual. É óbvio que não há qualquer dado para sustentar esta afirmativa. Estes grupos não são os que têm renda menor, não são os que sofrem mais homicídios. Eu sou homem, branco, heterossexual e filho de cristãos e não sinto qualquer opressão por causa disso. A única motivação para alguém a pensar assim é não se conformar em ver mulheres, negros e índios, homossexuais, seguidores de outras religiões e seguidores de religião nenhuma sendo cada vez menos oprimidos, ganhando espaço na sociedade. Um artifício muito utilizado por quem quer manter o grupo B oprimido é dizer que o grupo A, que é diferente do B, é o oprimido. É por isso que frequentemente Reinaldo Azevedo diz coisas como "nós, conservadores, não temos o direito de dizer isso, de dizer aquilo". Não Reinaldo, vocês, conservadores, têm o direito sim, assim como nós, que repudiamos os conservadores, temos o direito de refutar. Talvez este nosso direito o incomode.
O que Reinaldo Azevedo parece querer é fazer alguns brancos, cristãos, heterossexuais, que não ligam muito para os debates de economia entre PT e PSDB, mas são ressentidos com o aumento de visibilidade das minorias, pensarem que estão sendo vítimas de uma opressão a cidadãos de bem patrocinada por defensores de minorias e de direitos humanos. A intenção seria utilizar essa auto-vitimização dos grupos dominantes como uma corrente de ódio ao PT e, consequentemente, de apoio ao PSDB.
E esse costume de usar o preconceito dos outros tem intenção não apenas político-partidária, mas também de marketing pessoal. Isto ajuda o colunista ser bastante odiado por algumas pessoas, e Reinaldo Azevedo é o tipo de colunista que ama ser odiado.
Além de explorar ódio e preconceito alheio, Reinaldo Azevedo estimula a ignorância no debate de ideias. Habitualmente insinua que defensores da legalização da maconha consomem a droga mesmo quando ela não é legalizada. Ignora que isto é um debate sério, que há boas experiências no mundo a este respeito, como Holanda, Portugal, Colorado. Eu não consumo quiabo, mas se este alimento fosse ilegal, eu seria a favor da legalização. Reinaldo Azevedo é tão favorável à liberdade de expressão que defende a proibição das marchas da maconha. Em outros momentos, ele sugere disfarçadamente que colunistas de esquerda deveriam ser demitidos. Defender liberdade de expressão para suas próprias ideias é moleza. O verdadeiro defensor da liberdade de expressão é quem defende este direito para quem tem ideias diferentes.
Para piorar, Reinaldo Azevedo parece, em alguns assuntos, ser intelectualmente limitado. Isto foi demonstrado no momento em que discutiu com a Professora Camila Jourdan, em que ele pareceu não saber a diferença entre exemplo e conteúdo.
Alguns semi-defensores do colunista poderiam dizer "tá, ele exagera em algumas coisas, não concordo com tudo que ele escreve, mas o país está com tanta corrupção que é bom ter alguém que bate pesado no PT". Sim, há muitos políticos do PT envolvidos em escândalos do PT, isto deve ser criticado, até eu, alguns dias atrás, critiquei o costume de blogueiros pró-PT relativizarem escândalos de corrupção. Mas mesmo em relação ao debate sobre ética na política, Reinaldo Azevedo não tem muito o que contribuir. Sua indignação é seletiva. Diz que todos devem ser investigados, e se comprovada culpa, punidos, independentemente de partido e ideologia. Dããã... Ninguém vai dizer abertamente o contrário. Ele diz que todos devem ser investigados e quem sabe, punidos. Isso fica apenas no abstrato. Quando, no concreto, algum agente público tenta realmente fazer algo contra alguém próximo a pessoas de quem ele tem simpatia política, já há logo a tentativa de desqualificar este agente. Basta ver suas posições em relação à Operação Satiagraha. O caso mais emblemático do comportamento hipócrita de Reinaldo Azevedo sobre corrupção foi mais recente. Haddad quis que houvesse investigação sobre os auditores fiscais corruptos que agiram no tempo de Kassab. Lula não quis que a investigação ocorresse porque poderia prejudicar um neo-aliado. Reinaldo Azevedo tinha tudo para defender a investigação, se realmente fosse indignado com a corrupção, e ainda teria mais um motivo para atacar Lula, algo que adora fazer. Mas não. Neste episódio, ficou do lado de Lula. E consequentemente e coincidentemente, do lado de Kassab, prefeito para o qual já fez campanha em suas colunas na Veja. Deu a entender que considera que teria sido mais correta a atitude de colocar um escândalo debaixo do tapete em nome da conveniência política.
E o pior de tudo: não viu problema algum em deixar passar um comentário em seu blog defendendo as milícias. Sim, um colunista tem responsabilidade sobre os comentários.
Reinaldo Azevedo culpa pela preservação da corrupção no Brasil quem, entre PT e PSDB, escolhe o PT. Já é absurda a ideia de que com PSDB não haveria corrupção. E também é absurda a ideia de que o único critério que deve existir na cabeça do eleitor é a corrupção. Mas esta regra que o colunista quer impor é quebrada por ele mesmo quando, no Rio de Janeiro, na disputa entre PMDB e PSOL, ele defende o PMDB. Afinal, até a tecla 5 da urna eletrônica sabe que PMDB tem muito mais envolvimento em escândalos de corrupção do que o PSOL, inclusive em parceria com o PT.
Em resumo, nós pudemos ver como Reinaldo Azevedo tem belos valores. Ele defende a liberdade de expressão... para quem concorda com ele. Ele defende o combate implacável à corrupção... de adversários políticos dele. E pelo PSDB vale tudo, até mesmo fomentar e explorar preconceito alheio. Aí eu penso: se o PSDB realmente fosse tão bom, não haveria ótimos argumentos para convencer as pessoas a teclar 45? Se o PSDB é tão bom, por que apelar para preconceitos para criar ódio antí-PT?
Ódios de cor, religião, sexo e origem devem ser repudiados e ponto final. Devem ser vistos como uma praga a ser extinta. Quem, mesmo não expressando esses ódios abertamente, utiliza-os para propósitos políticos, não tem o que contribuir no debate sobre como melhorar a política do Brasil. Quem utiliza indignação contra corrupção apenas como um mero instrumento para atacar adversários também não tem o que contribuir no debate sobre como melhorar a política do Brasil.
É por tudo isso que minha tolerância contra textos de Reinaldo Azevedo postados no Facebook é muito baixa. Eu paro de seguir quem posta mais de três textos do Reinado Azevedo. Quem acha que esse colunista tem muito a dizer muito provavelmente tem pouquíssimo a dizer. Não vale a pena que postadores de textos do Reinaldo Azevedo façam parte da minha timeline virtual. Nem mesmo da minha timeline real. Se algumas dessas pessoas já fizeram parte da minha vida, mesmo em algum momento do passado e sem muita importância, já não fazem mais. E nem vão voltar a fazer.
terça-feira, 13 de janeiro de 2015
Sobre as reações ao atentado
Os limites do humor são um tema delicado e devem ser discutidos sim. Lembrando que há poucos dias, o Renato Aragão reclamou que está mais difícil atualmente fazer piadas sobre negros e gays do que era no passado. Ele não é contra piadas sobre negros e gays, mas há cerca de um ano disse que é contra piadas sobre religião. Outros pensam diferente, inclusive eu. De qualquer forma é algo a ser discutido. Mas depois do que ocorreu na França há poucos dias, não é o melhor momento.
Logo depois de um atentado terrorista, é comum aparecer a turma do "nada justifica a violência, mas...". Não sei se percebem que o que é dito logo depois do "mas" é exatamente aquilo que os terroristas queriam que fosse dito. Dessa maneira, os terroristas acabam conseguindo o que queriam, ou seja, divulgar sua visão de mundo com o atentado.
Por isso eu prefiro dizer "nada justifica a violência ponto".
Manifesto repúdio total a quem está culpando as vítimas pela tragédia, mesmo quando isso é feito de forma sutil.
E sobre os que dizem: "estou preocupado porque isso vai fortalecer a islamofobia, vai fortalecer a extrema-direita". Sim, eu também estou preocupado com isso. Eu sei que islamofobia é algo perigoso, extrema-direita é algo perigoso. E também acho que terrorismo dos fundamentalistas islâmicos também é perigoso, estou muito preocupado com isso também.
O fascismo ocidental é perigoso. O jihadismo também.
Logo depois de um atentado terrorista, é comum aparecer a turma do "nada justifica a violência, mas...". Não sei se percebem que o que é dito logo depois do "mas" é exatamente aquilo que os terroristas queriam que fosse dito. Dessa maneira, os terroristas acabam conseguindo o que queriam, ou seja, divulgar sua visão de mundo com o atentado.
Por isso eu prefiro dizer "nada justifica a violência ponto".
Manifesto repúdio total a quem está culpando as vítimas pela tragédia, mesmo quando isso é feito de forma sutil.
E sobre os que dizem: "estou preocupado porque isso vai fortalecer a islamofobia, vai fortalecer a extrema-direita". Sim, eu também estou preocupado com isso. Eu sei que islamofobia é algo perigoso, extrema-direita é algo perigoso. E também acho que terrorismo dos fundamentalistas islâmicos também é perigoso, estou muito preocupado com isso também.
O fascismo ocidental é perigoso. O jihadismo também.
segunda-feira, 12 de janeiro de 2015
Sobre a história de que o Hitler era de esquerda...
Há dois revisionismos sobre a história do nazismo que alguns pilantras praticam por motivos políticos. Um é o de que o Holocausto não existiu. O outro é o de que o nazismo seria de esquerda.
O primeiro é o pior por desrespeitar vítimas de uma atrocidade. Mas o segundo não deixa de ser abjeto. E como se trata de uma questão subjetiva e não de um acontecimento fartamente documentado, há o risco maior de algumas pessoas serem iludidas. Portanto, esta postagem discute um pouco este revisionismo.
Recentemente, há uma grande corrente de "pensadores" de direita e de usuários de Internet que seguem esses pensadores que passaram a divulgar a patacoada de que o nazismo seria de esquerda com um simples objetivo: se livrar do filho feio. Como ninguém (ou melhor, quase ninguém) acha que o nazismo foi bom, é melhor esconder o fato de que o nazismo foi de direita para que o nome da direita não fique manchado. Estranhamente, alguns desses "pensadores" elogiam o Generalíssimo Franco, aquele que teve ajuda da Força Aérea do Hitler para chegar ao poder.
Os principais motivos dessa turma são:
1) Nazismo é abreviatura de Nacional Socialismo
2) Usava bandeira vermelha
3) Praticou políticas keynesianas
4) Um texto do Mises Institute disse que o nazismo era de esquerda
5) O Leandro Narloch disse que o nazismo era de esquerda
6) O Rodrigo Constantino disse que o nazismo era de esquerda
Bom, o que dizer disso? Nome de partido não quer necessariamente dizer conteúdo, vide os inúmeros exemplos de partidos brasileiros. E mesmo se o socialismo for verdadeiro, pode significar anti-liberalismo, e não necessariamente igualitarismo.
Sobre as políticas keynesianas, elas não são necessariamente de esquerda. As políticas econômicas keynesianas têm dois objetivos. O primeiro é combater recessões causadas por insuficiência de demanda. O segundo é combater a elevada concentração de renda gerada pelo capitalismo. Somente as políticas para atingir esse segundo objetivo são necessariamente de esquerda. Esse tipo de política não foi praticado pelos nazistas. Eles fizeram apenas políticas de fomento à demanda, que podem ser praticadas tanto por governos de esquerda, quanto pelos de direita. Em geral, governos de direita fazem política de demanda através dos gastos militares. Foi o que fizeram os nazistas.
O que ajuda muito na discussão sobre o posicionamento do nazismo no espectro político é observar documentos históricos. A matéria da Folha da Manhã do dia 1 de fevereiro de 1933, dia seguinte à chegada do Hitler ao poder, mostra muito bem quem estava a favor e quem estava contra.
É possível ver perfeitamente como os comunistas e os socialistas (SPD) estavam contra a formação do governo nazista e como o capital financeiro e o ex-kaiser estavam a favor.
É de notório conhecimento que o SPD e o KPD (Partido Comunista) não endossaram a ascensão de Hitler ao poder e que outros partidos conservadores além do nacional socialista endossaram. O Partido Nacional Socialista (NSDAP) nunca obteve maioria absoluta no Parlamento, o apoio de outros conservadores foi fundamental.
Além de documentos históricos, há análises acadêmicas interessantes. Quanto às política econômicas keynesianas dos nazistas, é interessante este artigo escrito em 2009, em que é possível perceber como essas políticas estiveram bem distantes daquelas aplicadas pelos social democratas europeus no pós segunda guerra.
Ainda que as políticas nazistas fossem completamente estatizantes, elas não seriam de esquerda só por causa disso. E além disso, essas políticas não foram completamente estatizantes. Sim, isso mesmo, Hitler privatizava. Este trabalho acadêmico mostra bem isso.
Atualmente, os neonazistas são chamados na Alemanha de rechtsradikale (a tradução é radicais de direita). Eles certamente não gostariam de ser chamados de esquerdistas. Aqui no Brasil, o adolescente que quer mostrar "mamãe, sou radical de direita" ainda não sabe se vai virar neonazista ou se vai rejeitar de boca pra fora o nazismo (provavelmente concordando com algumas de suas ideias) e dizer que "o nazismo é de esquerda".
O primeiro é o pior por desrespeitar vítimas de uma atrocidade. Mas o segundo não deixa de ser abjeto. E como se trata de uma questão subjetiva e não de um acontecimento fartamente documentado, há o risco maior de algumas pessoas serem iludidas. Portanto, esta postagem discute um pouco este revisionismo.
Recentemente, há uma grande corrente de "pensadores" de direita e de usuários de Internet que seguem esses pensadores que passaram a divulgar a patacoada de que o nazismo seria de esquerda com um simples objetivo: se livrar do filho feio. Como ninguém (ou melhor, quase ninguém) acha que o nazismo foi bom, é melhor esconder o fato de que o nazismo foi de direita para que o nome da direita não fique manchado. Estranhamente, alguns desses "pensadores" elogiam o Generalíssimo Franco, aquele que teve ajuda da Força Aérea do Hitler para chegar ao poder.
Os principais motivos dessa turma são:
1) Nazismo é abreviatura de Nacional Socialismo
2) Usava bandeira vermelha
3) Praticou políticas keynesianas
4) Um texto do Mises Institute disse que o nazismo era de esquerda
5) O Leandro Narloch disse que o nazismo era de esquerda
6) O Rodrigo Constantino disse que o nazismo era de esquerda
Bom, o que dizer disso? Nome de partido não quer necessariamente dizer conteúdo, vide os inúmeros exemplos de partidos brasileiros. E mesmo se o socialismo for verdadeiro, pode significar anti-liberalismo, e não necessariamente igualitarismo.
Sobre as políticas keynesianas, elas não são necessariamente de esquerda. As políticas econômicas keynesianas têm dois objetivos. O primeiro é combater recessões causadas por insuficiência de demanda. O segundo é combater a elevada concentração de renda gerada pelo capitalismo. Somente as políticas para atingir esse segundo objetivo são necessariamente de esquerda. Esse tipo de política não foi praticado pelos nazistas. Eles fizeram apenas políticas de fomento à demanda, que podem ser praticadas tanto por governos de esquerda, quanto pelos de direita. Em geral, governos de direita fazem política de demanda através dos gastos militares. Foi o que fizeram os nazistas.
O que ajuda muito na discussão sobre o posicionamento do nazismo no espectro político é observar documentos históricos. A matéria da Folha da Manhã do dia 1 de fevereiro de 1933, dia seguinte à chegada do Hitler ao poder, mostra muito bem quem estava a favor e quem estava contra.
É possível ver perfeitamente como os comunistas e os socialistas (SPD) estavam contra a formação do governo nazista e como o capital financeiro e o ex-kaiser estavam a favor.
É de notório conhecimento que o SPD e o KPD (Partido Comunista) não endossaram a ascensão de Hitler ao poder e que outros partidos conservadores além do nacional socialista endossaram. O Partido Nacional Socialista (NSDAP) nunca obteve maioria absoluta no Parlamento, o apoio de outros conservadores foi fundamental.
Além de documentos históricos, há análises acadêmicas interessantes. Quanto às política econômicas keynesianas dos nazistas, é interessante este artigo escrito em 2009, em que é possível perceber como essas políticas estiveram bem distantes daquelas aplicadas pelos social democratas europeus no pós segunda guerra.
Ainda que as políticas nazistas fossem completamente estatizantes, elas não seriam de esquerda só por causa disso. E além disso, essas políticas não foram completamente estatizantes. Sim, isso mesmo, Hitler privatizava. Este trabalho acadêmico mostra bem isso.
Atualmente, os neonazistas são chamados na Alemanha de rechtsradikale (a tradução é radicais de direita). Eles certamente não gostariam de ser chamados de esquerdistas. Aqui no Brasil, o adolescente que quer mostrar "mamãe, sou radical de direita" ainda não sabe se vai virar neonazista ou se vai rejeitar de boca pra fora o nazismo (provavelmente concordando com algumas de suas ideias) e dizer que "o nazismo é de esquerda".
sábado, 3 de janeiro de 2015
O seguid... alunos de Olavo de Carvalho
Olavo de Carvalho não é burro. Se ele conseguiu ter um rebanho de seguid... quer dizer, alunos, que pagam por seus cursos e suas apostilas, alguma inteligência ele deve ter. Já os seus seguid... quer dizer, alunos, o que dizer deles? Estou sem criatividade para descrevê-los exatamente. Digo apenas que são... diferentes de seres humanos normais.
O instinto que eles têm de proteger seu Mestre parece o instinto que cachorros têm em proteger seus donos. Basta alguém escrever algum comentário negativo sobre o Mestre na Internet que eles já agem em bando emitindo um grande rol de lat... insultos. O mais comum é o de que quem ataca o Mestre deles é "pago pelo petê". Isto foi visto, por exemplo, na tempestade de comentários que o texto crítico ao Olavo escrito pelo Wando do Yahoo gerou. Se esses canídeos descobrem este texto pelo Google, provavelmente despejarão quilos de comentários do nível "você é pago pelo petê". Comentários que eu não publicarei.
Eu posso gostar de um determinado escritor, mas não é por isso que vou xingar em caixa de comentários qualquer um que escreve críticas ao escritor que eu gosto.
Os alunos de Olavo de Carvalho pensam que seu Mestre é o maior pensador vivo do Brasil. Provavelmente pensam que não é prestigiado em universidades brasileiras porque estas estariam dominadas pelo marxismo cultural. Não sei se um dia pararam para pensar na seguinte pergunta: "se Olavo não é prestigiado nas universidades brasileiras porque elas são dominadas pelo marxismo cultural, por que ele não está demonstrando todo seu vastíssimo conhecimento em universidades do Estados Unidos, país onde ele reside?"
Bom, então vamos demonstrar um exemplo do "vastíssimo" conhecimento detido pelo Grande Mestre Olavo de Carvalho. Em uma coluna que ele cometeu... quer dizer, escreveu, para a Revista Época de 16 de dezembro de 2000, ele cagou..., quer dizer, disse o seguinte sobre Marx:
Marx ficou tão deslumbrado quando descobriu um suposto “fetichismo da mercadoria” que não percebeu que as coisas só podem ser quantidades abstratas ou puras mercadorias do ponto de vista de quem vende, jamais de quem compra. Para este, elas são bens concretos, bens de uso e consumo. Um menino não compra uma bola porque é “mercadoria”, mas porque é bola. Uma mulher não compra um vestido porque vale x ou y no mercado, mas porque agrada a seus olhos, aos do marido ou aos da roda de amigas a quem deseja impressionar.
http://www.olavodecarvalho.org/semana/idomercado.htm
Ao abrir "O Capital" na primeira página, podemos ler o seguinte:
A mercadoria é, antes de tudo, um objecto exterior, uma coisa que, pelas suas propriedades, satisfaz necessidades humanas de qualquer espécie. ...
A utilidade de uma coisa transforma essa coisa num valor-de-uso. Mas esta utilidade nada tem de vago e de indeciso. Sendo determinada pelas propriedades do corpo da mercadoria, não existe sem ele. O próprio corpo da mercadoria, tal como o ferro, o trigo, o diamante, etc., é, consequentemente, um valor-de-uso, e não é o maior ou menor trabalho necessário ao homem para se apropriar das qualidades úteis que lhe confere esse carácter.
http://www.marxists.org/portugues/marx/1867/ocapital-v1/vol1cap01.htm#topp
Entenderam? Pela leitura da primeira página do Capital é possível perceber que Marx percebeu sim as coisas só podem ser quantidades abstratas ou puras mercadorias do ponto de vista de quem vende, jamais de quem compra. Marx sabe muito bem que um menino compra uma bola porque é bola. Em poucas palavras: Olavo de Carvalho quis refutar Marx sem ter lido (ou compreendido) sequer a primeira página da principal obra do pensador alemão. Ninguém tem obrigação de ler Marx. Mas quem pretende refutá-lo tem.
Se alguém que consideramos uma referência intelectual comete uma gafe dessas, a reação natural é passar a ver essa "referência" com um pouco mais de desconfiança. Mas quem não conhece a obra de pensadores por leitura direta, conhece apenas o que Olavo de Carvalho escreveu sobre esses pensadores, dificilmente reconhecerá essas gafes.
Quando recebe qualquer crítica, Olavo tem o costume de dizer que "seus críticos o atacam apenas por uma ou outra coisa que ele escreveu na imprensa ou falou na Internet, mas não têm capacidade de debater a vasta obra dele sobre Aristóteles". Ora porra (jargão dele), o que Aristóteles tem a ver com isso? Se eu não conheço Aristóteles e ele conhece, eu não vou discutir o que ele escreveu sobre Aristóteles. Mas se eu conheço a obra de Marx e percebo que ele falou uma groselha (usando o vocábulo do Pirula) sobre Marx, não vou deixar de alertar só porque eu não conheço a obra de Aristóteles. Se alguém que conhece detalhes da biografia do ator que faz o papel do Bozo diz que 3 + 3 = 33, eu não preciso deter o mínimo conhecimento da biografia do ator que faz o papel do Bozo para dizer que quem falou que 3 + 3 = 33 falou uma grande groselha.
Em relação aos clássicos de Economia Política, Olavo de Carvalho cometeu uma groselha não apenas sobre Marx, mas também sobre Keynes, como eu apresentei em outro post http://blogdomarcelobrito.blogspot.com.br/2014/05/o-que-keynes-e-gramsci-tem-em-comum-ha.html
O rol de atrocidades não se limita à Economia Política. O ex-astrólogo também foi muito incompetente para prever o futuro. Em 26 de outubro de 2002, sobre o futuro governo Lula, ele escreveu no jornal O Globo:
Em poucas semanas, a estréia petista no poder terá superado de muito a ditadura militar, que em vinte anos não fez mais de dois mil presos políticos.
http://www.olavodecarvalho.org/semana/10262002globo.htm
Não sei se algum segui... aluno chegou um dia a perguntar "Mestre, onde estão localizados os prisioneiros políticos do governo Lula?" Muito provavelmente, nem uma previsão tão furada quanto esta abalou a confiança dos aprendizes no mestre.
E não foi a única. Em 3 de fevereiro de 2001, ele escreveu o seguinte na Revista Época
No futuro Brasil socialista, quando estivermos disputando a tapa uma perna de rato, Olívio Dutra, exibindo indignado uma lata de Coca-Cola vazia, dirá que é tudo culpa da maldita Ford que o deixou na mão quando ele mais precisava dela.
http://www.olavodecarvalho.org/semana/doido.htm
Mas não é o futuro a única vítima do autointitulado filósofo. O passado também é. Em várias colunas, ele disse que a ditadura militar brasileira matou "trezentos terroristas". Portanto, qualquer um que adquire conhecimentos de História do Brasil apenas pela leitura das colunas de Olavo de Carvalho acaba tendo uma visão deformada. Por dois motivos. Primeiro, porque os assassinados pela ditadura não foram apenas os integrantes da luta armada. Entre os mortos se incluem o Edson Luís, o Rubens Paiva, o Wladimir Herzog, o Manoel Fiel Filho, o Pedro Pomar, os três mortos pela carta bomba à OAB e os muitos índios assassinados na construção de obras faraônicas na região Amazônica. Segundo porque nem todos os atos praticados por integrantes da luta armada se enquadram na definição de terrorismo.
Muito provavelmente, o jovem discípulo olavete ainda está tão mergulhado na imaturidade que ainda não sabe definir se o fascismo é bom ou se o fascismo é de esquerda. Caso se convença de que o fascismo é ruim, precisa se convencer de que o fascismo é de esquerda, porque nada que seja de direita poderia ser ruim. E o Mestre só fomenta essa confusão.
Em 2000, ele tentou transmitir a ideia de que o fascismo seria de esquerda
Pelo fim do século XIX, as revoluções liberais tinham acabado, os regimes liberais entravam na fase de modernização pacífica. O liberalismo triunfante podia agora reabsorver valores religiosos e morais sobreviventes do antigo regime, tornados inofensivos pela supressão de suas bases sociais e econômicas. Ele já não se incomodava de personificar a "direita" aos olhos das duas concorrentes revolucionárias, rebatizadas "comunismo soviético" e "nazifascismo".
http://www.olavodecarvalho.org/semana/fascismo.htm
Porém, em 2012 ele escreveu
Moralmente falando, Francisco Franco, Charles de Gaule ou Humberto Castelo Branco, homens de uma idoneidade pessoal exemplar
http://www.olavodecarvalho.org/semana/120117dc.html
Ou seja: o fascismo tem as semelhanças com o comunismo, mas o Generalíssimo Franco, que chegou ao poder com ajuda de Hitler e Mussolini tem idoneidade pessoal exemplar. Em breve, vou escrever um post específico sobre esse charlatanismo de dizer que o "nazismo era de esquerda porque tinha socialismo no nome".
Mas qual seria a ideologia política seguida por Olavo de Carvalho? Em 5 de novembro de 2000, ele escreveu na Revista Época que era a favor da democracia liberal
Se nas coisas que escrevo há algo que irrita os comunas até à demência, é o contraste entre o vigor das críticas que faço à sua ideologia e a brandura das propostas que lhe oponho: as da boa e velha democracia liberal. Eles se sentiriam reconfortados se em vez disso eu advogasse um autoritarismo de direita, a monarquia absoluta ou, melhor ainda, um totalitarismo nazifascista. Isso confirmaria a mentira sobre a qual construíram suas vidas: a mentira de que o contrário do socialismo é ditadura, é tirania, é nazifascismo.
http://www.olavodecarvalho.org/semana/verdadireita.htm
Porém, em 11 de setembro de 2006, ele parece preferir a teocracia do tzarismo às democracias liberais
Vejam, por exemplo, o que aconteceu na Rússia entre a metade do século XIX e a queda da URSS. Por volta de 1860-70 a cultura russa, até então raquítica em comparação com as da Europa ocidental, começava a tomar impulso para lançar-se a grandes realizações. A inspiração que a movia era sobretudo a confiança mística no destino da nação como portadora de uma importante mensagem espiritual a um Velho Mundo debilitado pelo materialismo cientificista. Preservada da corrosão revolucionária por um regime político fortemente teocrático em que as crenças oficiais da côrte e a religiosidade popular se confirmavam e se reforçavam mutuamente, a Rússia contrastava de maneira dramática com as nações ocidentais onde a elite e as massas viviam num divórcio ideológico permanente e que por isso só se modernizavam à custa de reprimir e marginalizar os sentimentos religiosos da população.
http://www.olavodecarvalho.org/semana/060911dc.html
Não sei se os segui... quer dizer alunos perguntaram um dia "Mestre, isso está um pouco confuso, você prefere a democracia liberal ou o tzarismo?"
Por fim, Olavo de Carvalho se mostrou irresponsável em questões de saúde. Ele escreveu em 17 de julho de 2006
Alguns de meus oito filhos tomaram vacinas, outros não. Todos foram abençoados com saúde, força e vigor extraordinários, e nenhum deles deve isso aos méritos da ciência estatal, mas a Deus e a ninguém mais.
http://www.olavodecarvalho.org/semana/060717dc.html
Não foi Deus que tornou saudável os filhos que não tomaram vacina. Foi o fato de outros pais não serem igualmente psicopatas e terem levado suas crianças para tomar vacina, impedindo a propagação de doenças inclusive nos poucos (filhos de psicopatas) que não tomaram vacinas.
Apesar de abilolado, Olavo de Carvalho é esperto o suficiente a ponto de ter um público cativo para vender cursos. Já os seus alunos...
Obs: Reparem que em todas as referências às colunas escritas por Olavo de Carvalho eu dei o link para o texto completo, para evitar críticas como a de que "você retirou as frases do contexto". Querem conferir o contexto completo? Leiam as colunas completas. Verão que não alivia, e sim que só piora.
O instinto que eles têm de proteger seu Mestre parece o instinto que cachorros têm em proteger seus donos. Basta alguém escrever algum comentário negativo sobre o Mestre na Internet que eles já agem em bando emitindo um grande rol de lat... insultos. O mais comum é o de que quem ataca o Mestre deles é "pago pelo petê". Isto foi visto, por exemplo, na tempestade de comentários que o texto crítico ao Olavo escrito pelo Wando do Yahoo gerou. Se esses canídeos descobrem este texto pelo Google, provavelmente despejarão quilos de comentários do nível "você é pago pelo petê". Comentários que eu não publicarei.
Eu posso gostar de um determinado escritor, mas não é por isso que vou xingar em caixa de comentários qualquer um que escreve críticas ao escritor que eu gosto.
Os alunos de Olavo de Carvalho pensam que seu Mestre é o maior pensador vivo do Brasil. Provavelmente pensam que não é prestigiado em universidades brasileiras porque estas estariam dominadas pelo marxismo cultural. Não sei se um dia pararam para pensar na seguinte pergunta: "se Olavo não é prestigiado nas universidades brasileiras porque elas são dominadas pelo marxismo cultural, por que ele não está demonstrando todo seu vastíssimo conhecimento em universidades do Estados Unidos, país onde ele reside?"
Bom, então vamos demonstrar um exemplo do "vastíssimo" conhecimento detido pelo Grande Mestre Olavo de Carvalho. Em uma coluna que ele cometeu... quer dizer, escreveu, para a Revista Época de 16 de dezembro de 2000, ele cagou..., quer dizer, disse o seguinte sobre Marx:
Marx ficou tão deslumbrado quando descobriu um suposto “fetichismo da mercadoria” que não percebeu que as coisas só podem ser quantidades abstratas ou puras mercadorias do ponto de vista de quem vende, jamais de quem compra. Para este, elas são bens concretos, bens de uso e consumo. Um menino não compra uma bola porque é “mercadoria”, mas porque é bola. Uma mulher não compra um vestido porque vale x ou y no mercado, mas porque agrada a seus olhos, aos do marido ou aos da roda de amigas a quem deseja impressionar.
http://www.olavodecarvalho.org/semana/idomercado.htm
Ao abrir "O Capital" na primeira página, podemos ler o seguinte:
A mercadoria é, antes de tudo, um objecto exterior, uma coisa que, pelas suas propriedades, satisfaz necessidades humanas de qualquer espécie. ...
A utilidade de uma coisa transforma essa coisa num valor-de-uso. Mas esta utilidade nada tem de vago e de indeciso. Sendo determinada pelas propriedades do corpo da mercadoria, não existe sem ele. O próprio corpo da mercadoria, tal como o ferro, o trigo, o diamante, etc., é, consequentemente, um valor-de-uso, e não é o maior ou menor trabalho necessário ao homem para se apropriar das qualidades úteis que lhe confere esse carácter.
http://www.marxists.org/portugues/marx/1867/ocapital-v1/vol1cap01.htm#topp
Entenderam? Pela leitura da primeira página do Capital é possível perceber que Marx percebeu sim as coisas só podem ser quantidades abstratas ou puras mercadorias do ponto de vista de quem vende, jamais de quem compra. Marx sabe muito bem que um menino compra uma bola porque é bola. Em poucas palavras: Olavo de Carvalho quis refutar Marx sem ter lido (ou compreendido) sequer a primeira página da principal obra do pensador alemão. Ninguém tem obrigação de ler Marx. Mas quem pretende refutá-lo tem.
Se alguém que consideramos uma referência intelectual comete uma gafe dessas, a reação natural é passar a ver essa "referência" com um pouco mais de desconfiança. Mas quem não conhece a obra de pensadores por leitura direta, conhece apenas o que Olavo de Carvalho escreveu sobre esses pensadores, dificilmente reconhecerá essas gafes.
Quando recebe qualquer crítica, Olavo tem o costume de dizer que "seus críticos o atacam apenas por uma ou outra coisa que ele escreveu na imprensa ou falou na Internet, mas não têm capacidade de debater a vasta obra dele sobre Aristóteles". Ora porra (jargão dele), o que Aristóteles tem a ver com isso? Se eu não conheço Aristóteles e ele conhece, eu não vou discutir o que ele escreveu sobre Aristóteles. Mas se eu conheço a obra de Marx e percebo que ele falou uma groselha (usando o vocábulo do Pirula) sobre Marx, não vou deixar de alertar só porque eu não conheço a obra de Aristóteles. Se alguém que conhece detalhes da biografia do ator que faz o papel do Bozo diz que 3 + 3 = 33, eu não preciso deter o mínimo conhecimento da biografia do ator que faz o papel do Bozo para dizer que quem falou que 3 + 3 = 33 falou uma grande groselha.
Em relação aos clássicos de Economia Política, Olavo de Carvalho cometeu uma groselha não apenas sobre Marx, mas também sobre Keynes, como eu apresentei em outro post http://blogdomarcelobrito.blogspot.com.br/2014/05/o-que-keynes-e-gramsci-tem-em-comum-ha.html
O rol de atrocidades não se limita à Economia Política. O ex-astrólogo também foi muito incompetente para prever o futuro. Em 26 de outubro de 2002, sobre o futuro governo Lula, ele escreveu no jornal O Globo:
Em poucas semanas, a estréia petista no poder terá superado de muito a ditadura militar, que em vinte anos não fez mais de dois mil presos políticos.
http://www.olavodecarvalho.org/semana/10262002globo.htm
Não sei se algum segui... aluno chegou um dia a perguntar "Mestre, onde estão localizados os prisioneiros políticos do governo Lula?" Muito provavelmente, nem uma previsão tão furada quanto esta abalou a confiança dos aprendizes no mestre.
E não foi a única. Em 3 de fevereiro de 2001, ele escreveu o seguinte na Revista Época
No futuro Brasil socialista, quando estivermos disputando a tapa uma perna de rato, Olívio Dutra, exibindo indignado uma lata de Coca-Cola vazia, dirá que é tudo culpa da maldita Ford que o deixou na mão quando ele mais precisava dela.
http://www.olavodecarvalho.org/semana/doido.htm
Mas não é o futuro a única vítima do autointitulado filósofo. O passado também é. Em várias colunas, ele disse que a ditadura militar brasileira matou "trezentos terroristas". Portanto, qualquer um que adquire conhecimentos de História do Brasil apenas pela leitura das colunas de Olavo de Carvalho acaba tendo uma visão deformada. Por dois motivos. Primeiro, porque os assassinados pela ditadura não foram apenas os integrantes da luta armada. Entre os mortos se incluem o Edson Luís, o Rubens Paiva, o Wladimir Herzog, o Manoel Fiel Filho, o Pedro Pomar, os três mortos pela carta bomba à OAB e os muitos índios assassinados na construção de obras faraônicas na região Amazônica. Segundo porque nem todos os atos praticados por integrantes da luta armada se enquadram na definição de terrorismo.
Muito provavelmente, o jovem discípulo olavete ainda está tão mergulhado na imaturidade que ainda não sabe definir se o fascismo é bom ou se o fascismo é de esquerda. Caso se convença de que o fascismo é ruim, precisa se convencer de que o fascismo é de esquerda, porque nada que seja de direita poderia ser ruim. E o Mestre só fomenta essa confusão.
Em 2000, ele tentou transmitir a ideia de que o fascismo seria de esquerda
Pelo fim do século XIX, as revoluções liberais tinham acabado, os regimes liberais entravam na fase de modernização pacífica. O liberalismo triunfante podia agora reabsorver valores religiosos e morais sobreviventes do antigo regime, tornados inofensivos pela supressão de suas bases sociais e econômicas. Ele já não se incomodava de personificar a "direita" aos olhos das duas concorrentes revolucionárias, rebatizadas "comunismo soviético" e "nazifascismo".
http://www.olavodecarvalho.org/semana/fascismo.htm
Porém, em 2012 ele escreveu
Moralmente falando, Francisco Franco, Charles de Gaule ou Humberto Castelo Branco, homens de uma idoneidade pessoal exemplar
http://www.olavodecarvalho.org/semana/120117dc.html
Ou seja: o fascismo tem as semelhanças com o comunismo, mas o Generalíssimo Franco, que chegou ao poder com ajuda de Hitler e Mussolini tem idoneidade pessoal exemplar. Em breve, vou escrever um post específico sobre esse charlatanismo de dizer que o "nazismo era de esquerda porque tinha socialismo no nome".
Mas qual seria a ideologia política seguida por Olavo de Carvalho? Em 5 de novembro de 2000, ele escreveu na Revista Época que era a favor da democracia liberal
Se nas coisas que escrevo há algo que irrita os comunas até à demência, é o contraste entre o vigor das críticas que faço à sua ideologia e a brandura das propostas que lhe oponho: as da boa e velha democracia liberal. Eles se sentiriam reconfortados se em vez disso eu advogasse um autoritarismo de direita, a monarquia absoluta ou, melhor ainda, um totalitarismo nazifascista. Isso confirmaria a mentira sobre a qual construíram suas vidas: a mentira de que o contrário do socialismo é ditadura, é tirania, é nazifascismo.
http://www.olavodecarvalho.org/semana/verdadireita.htm
Porém, em 11 de setembro de 2006, ele parece preferir a teocracia do tzarismo às democracias liberais
Vejam, por exemplo, o que aconteceu na Rússia entre a metade do século XIX e a queda da URSS. Por volta de 1860-70 a cultura russa, até então raquítica em comparação com as da Europa ocidental, começava a tomar impulso para lançar-se a grandes realizações. A inspiração que a movia era sobretudo a confiança mística no destino da nação como portadora de uma importante mensagem espiritual a um Velho Mundo debilitado pelo materialismo cientificista. Preservada da corrosão revolucionária por um regime político fortemente teocrático em que as crenças oficiais da côrte e a religiosidade popular se confirmavam e se reforçavam mutuamente, a Rússia contrastava de maneira dramática com as nações ocidentais onde a elite e as massas viviam num divórcio ideológico permanente e que por isso só se modernizavam à custa de reprimir e marginalizar os sentimentos religiosos da população.
http://www.olavodecarvalho.org/semana/060911dc.html
Não sei se os segui... quer dizer alunos perguntaram um dia "Mestre, isso está um pouco confuso, você prefere a democracia liberal ou o tzarismo?"
Por fim, Olavo de Carvalho se mostrou irresponsável em questões de saúde. Ele escreveu em 17 de julho de 2006
Alguns de meus oito filhos tomaram vacinas, outros não. Todos foram abençoados com saúde, força e vigor extraordinários, e nenhum deles deve isso aos méritos da ciência estatal, mas a Deus e a ninguém mais.
http://www.olavodecarvalho.org/semana/060717dc.html
Não foi Deus que tornou saudável os filhos que não tomaram vacina. Foi o fato de outros pais não serem igualmente psicopatas e terem levado suas crianças para tomar vacina, impedindo a propagação de doenças inclusive nos poucos (filhos de psicopatas) que não tomaram vacinas.
Apesar de abilolado, Olavo de Carvalho é esperto o suficiente a ponto de ter um público cativo para vender cursos. Já os seus alunos...
Obs: Reparem que em todas as referências às colunas escritas por Olavo de Carvalho eu dei o link para o texto completo, para evitar críticas como a de que "você retirou as frases do contexto". Querem conferir o contexto completo? Leiam as colunas completas. Verão que não alivia, e sim que só piora.
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