domingo, 29 de agosto de 2010
Aloizio Mercadante e Manuel Zelaya: unidos pelo chapéu e pelo bigode
http://noticias.terra.com.br/eleicoes/2010/fotos/0,,OI134785-EI15311,00-Mercadante+visita+Festa+do+Peao+de+Boiadeiro+em+Barretos.html
Quem terá melhor recuperação depois da crise? EUA ou Alemanha?
Agora, até mesmo o mouse do meu computador sabe como serão as muitas coluninhas que aparecerão em cadernos de economia e jornais de business nos dois casos.
Se a economia dos EUA se recuperar melhor, as causas apontadas serão a maior flexibilidade dos mercados de trabalho, o menor valor e menor abrangência do seguro-desemprego, o menor poder dos sindicatos, o menor peso dos gastos sociais, e a menor carga tributária.
Se a economia da Alemanha se recuperar melhor, as causas apontadas serão a maior rejeição do governo conservador ao uso de déficits fiscais como estímulo, e a política de contenção dos salários.
É igual comentarista de futebol de segunda-feira que já tem opinião formada no sábado sobre um determinado jogador. Se este jogador entra só no segundo tempo e o time perde, é porque ele teve pouco tempo para jogar. Se ele entra só no segundo tempo e o time ganha, é porque ele teve papel decisivo.
terça-feira, 24 de agosto de 2010
A crença em Deus aproxima um chefe de Estado dos valores?
José Serra acha que sim. E passa uma péssima mensagem para um país que quer se modernizar, não apenas na economia, mas também nas idéias. Quem acredita em Deus pode até mesmo dizer que o país é abençoado, porque ao contrário do que ocorre em alguns países da Ásia, da África e da Europa Oriental, no Brasil não há conflitos religiosos. No Brasil há pessoas de diferentes crenças e que na maioria das vezes se respeitam e se toleram. Mas falta uma coisa para melhorar: no Brasil também há pessoas que não têm crenças, e estes, embora não sejam perseguidos, são incompreendidos por uma larga parcela da população. Esperava-se de um intelectual que fosse um líder, para ensinar as pessoas a tolerar quem é diferente, e mostrar que acreditar em Deus não faz alguém nem melhor nem pior. Mas para tentar ganhar uns votinhos a mais, endossar só um preconceitozinho a mais é visto como uma arma necessária.
Parece ser uma sistemática estratégia da campanha do Serra atacar a falta de religiosidade da Dilma. Índio da Costa já fez isso no Twitter. No debate de ontem promovido pela TV Canção Nova, ele afirmou que Dilma não compareceu ao evento entre outras coisas porque não queria se expor por causa do 3PNDH. Ou seja, o candidato tucano quis que os padres atacassem Dilma por causa do programa. Serra teve a oportunidade de ter perguntado diretamente à Dilma sobre o plano, durante o debate na Band, mas não teve galhardia suficiente. Prefere que os ataques partam de terceiros. Não quer perder a parcela cult de seu eleitorado, aquela que recebe ensinamentos de uma ex-VJ da MTV. Por causa disso também, acusou o 3PNDH de criminalizar quem é contra o aborto. O plano não criminaliza quem é contra o aborto. Apenas defende a legalização do aborto. Mas eufemismos são necessários para não assustar a mencionada parcela cult.
Posturas bem diferentes tiveram a evangélica Marina Silva e o católico Plínio Arruda Sampaio no debate de ontem. Os dois deixaram claramente que mesmo sendo religiosos, são contra o uso destas para desrespeitar quem não tem religião ou quem não segue costumes recomendados por religiões. Plínio pode ter pisado na bola no Twitter, mas no debate esteve impecável, defendendo a legalização do aborto por questão de saúde pública, defendendo a lei anti-homofobia, e de uma forma bastante simpática aos religiosos, defendendo a retirada de símbolos religiosos de prédios do Estado. Marina Silva, outrora acusada se ser fanática, teve resposta completamente diferente da de Serra na pergunta sobre a importância do Presidente da República acreditar em Deus.
Será que quem tanto batia em Marina Silva por seu suposto fanatismo vai agora bater em Serra? Ou será que a objeção à Marina não era o seu suposto fanatismo em si, mas sim o fato dela ser da igreja da concorrência?
Será que quem ficou indignado com a recusa dos jogadores evangélicos do Santos de visitar, à revelia deles, um centro espírita, vai ficar indignado com o Serra? Ou o motivo da indignação seria o simples fato destes jogadores serem da igreja da concorrência?
Vamos esperar que um dia sejamos como a Austrália, onde uma primeira-ministra não precisa de dedos para assumir que é atéia
http://www.youtube.com/watch?v=3hMgY8z96dE
Ou os Estados Unidos, onde seu presidente faz um contundente discurso a favor do Estado laico
http://www.youtube.com/watch?v=eVuOTwlMEjU
segunda-feira, 23 de agosto de 2010
Plínio teve um dia de Índio
Em 2006, Heloísa Helena e Cristóvam Buarque, em um ou outro momento, poderiam até ser criticados por beneficiarem indiretamente a candidatura do PSDB. O mesmo não pode ser dito nem de Plínio, nem de Marina.
Mas hoje Plínio pisou na bola. Sobre a ausência de Dilma no debate promovido pela TV católica, o candidato do PSOL fez o seguinte comentário no Twitter:
Dilma não irá ao debate da rede Vida. Logo a candidata menos conhecida. Considera-se eleita e esnoba o eleitorado católico
Nada contra a histórica ligação de Plínio com a Igreja Católica. Não é só porque o cara é de esquerda que ele não pode ser religioso.
Agora, foi surpresa negativa vê-lo imitando Índio da Costa ao fazer demagogia com religião.
O título do Internacional na Libertadores
A Taça Libertadores da América é disputada por clubes, e não por nações.
quarta-feira, 18 de agosto de 2010
Pirataria e desenvolvimento econômico
No Copyright Law
The Real Reason for Germany's Industrial Expansion?
By Frank Thadeusz
Did Germany experience rapid industrial expansion in the 19th century due to an absence of copyright law? A German historian argues that the massive proliferation of books, and thus knowledge, laid the foundation for the country's industrial might.
The entire country seemed to be obsessed with reading. The sudden passion for books struck even booksellers as strange and in 1836 led literary critic Wolfgang Menzel to declare Germans "a people of poets and thinkers."
"That famous phrase is completely misconstrued," declares economic historian Eckhard Höffner, 44. "It refers not to literary greats such as Goethe and Schiller," he explains, "but to the fact that an incomparable mass of reading material was being produced in Germany."
Höffner has researched that early heyday of printed material in Germany and reached a surprising conclusion -- unlike neighboring England and France, Germany experienced an unparalleled explosion of knowledge in the 19th century.
German authors during this period wrote ceaselessly. Around 14,000 new publications appeared in a single year in 1843. Measured against population numbers at the time, this reaches nearly today's level. And although novels were published as well, the majority of the works were academic papers.
The situation in England was very different. "For the period of the Enlightenment and bourgeois emancipation, we see deplorable progress in Great Britain," Höffner states.
Continua em
http://www.spiegel.de/international/zeitgeist/0,1518,710976,00.html
domingo, 15 de agosto de 2010
Juca Kfouri X Guarani
"O que mudou inteiramente no segundo tempo, quando Galo foi à frente e de tanto martelar fez dois merecidos gols, ambos com Tardelli, ambos com o artilheiro ligeiramente impedido, daqueles difíceis, que o bandeirinha tem autorização para deixar o lance seguir."
Mentira!
http://www.youtube.com/watch?v=1fvKxYwgLw8
Pelas imagens, é possível perceber claramente que a regra "impedimento, na dúvida, não marque" não pode ser aplicada a estes dois lances, porque em nenhum deles havia desculpa para ter alguma dúvida.
No primeiro gol, a distância não era muito pequena, e além disso, o lance não foi tão rápido assim. Em nenhum momento, Tardelli esteve atrás dos marcadores do Guarani. Foi bem diferente do gol impedido de Tevez contra o México, em que os marcadores mexicanos recuaram rapidamente e confundiram o bandeirinha.
No segundo gol do Atlético Mineiro, Tardelli estava só um pouquinho adiantado. Mas em cobrança de falta, era obrigação da bandeira ter prestado atenção na linha de impedimento.
Se o São Paulo tivesse perdido tomando dois gols daquele jeito, era muito provável que Juca Kfouri falasse que o time estava sendo perseguido por ser opositor do Ricardo Teixeira. Por motivo muito menor, o colunista já insinuou isso.
O mesmo ele não falaria do Corinthians. Juca Kfouri tem muitos defeitos, mas a contaminação de suas opiniões por paixão clubística não é um deles. Agora, se o Timão tivesse ganhado algum jogo com gols iguais ao do Galo, Juca Kfouri seria capaz de insinuar que seu time de coração estava sendo favorecido por ser aliado de Ricardo Teixeira.
terça-feira, 10 de agosto de 2010
Aborto, vida, dignidade e perguntas
A vida humana tem que ser defendida desde seu suposto início para que não seja banalizada?
Aceitar o aborto de anencefálicos levaria à uma aceitação da violência contra os doentes?
Interessante observar este mapa da Wikipedia sobre a situação legal do aborto no mundo.
sexta-feira, 6 de agosto de 2010
A lógica de Celso Ming e similares
Diz Celso Ming na postagem de 2 de agosto de seu blog:
Enquanto a economia dos Estados Unidos cambaleia e levanta apreensões, a economia da locomotiva europeia, a Alemanha, apresenta súbita recuperação para euforia geral.
Depois da prostração que durou mais de um ano, na semana passada a Federação da Indústria Alemã (BDI) publicou seu relatório trimestral em que projeta para 2010 crescimento de 2% e aumento das exportações de 8%.
...
O exemplo alemão é foco de grande controvérsia. Ao longo desta crise, o governo da chanceler Angela Merkel rejeitou sumariamente a criação de novos estímulos destinados a tirar a economia do sufoco.
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Mais do que isso, como não conta com moeda própria, o governo alemão não pode aumentar a competitividade do produto nacional por meio de desvalorização cambial, como costumam fazer os governos quando querem empurrar exportações e inibir importações. Para obter efeito equivalente, a decisão foi comprimir salários e aposentadorias para derrubar os custos de produção e aumentar a capacidade de exportar.
...
Em poucas palavras: o colunista do Estadão vinculou a melhor recuperação da economia da Alemanha, em comparação com a recuperação da economia dos EUA, à decisão do governo alemão de não recorrer a estímulos fiscais.
Com base nos demais textos que Celso Ming escreve e nos textos que outros colunistas que pensam como ele escrevem, não há maiores dificuldades em adivinhar o que tais colunistas diriam caso fosse a economia dos EUA que tivesse se recuperado melhor. A explicação estaria no mercado de trabalho mais flexível, na carga tributária mais baixa e no welfare state menos generoso.
Aconteça o que acontecer, estará sempre "provado" que políticas econômicas conservadoras funcionam melhor. As explicações para os fatos já estão prontas antes mesmo dos fatos acontecerem. O raciocínio funciona do seguinte modo: se a economia do país A vai melhor que a do país B, seleciona-se as políticas de A que são mais conservadoras que a de B e define-se estas políticas como a causa. Se a economia do país B vai melhor, seleciona-se as políticas de B que são mais conservadoras que as de A e define-se estas como a causa.
Da comparação entre Alemanha e EUA podem ser retiradas outras conclusões, dependendo da orientação ideológica prévia do observador. Como foi possível ver no texto, o desemprego da Alemanha no auge da crise foi de 7% e o dos EUA foi de 10%. Ou seja, o mercado de trabalho da Alemanha, com maior regulação, maior seguro-desemprego e maior taxa de sindicalização, funcionou melhor durante a crise do que o mercado de trabalho dos EUA. E isso tudo era considerado vilão do bom funcionamento dos mercados de trabalho pela ortodoxia que Ming defende. E mais: o mercado de trabalho regulado e a carga tributária mais elevada não estão atrapalhando a competitividade da indústria exportadora alemã.
E por falar em competitividade das exportações, não existe a dicotomia desvalorização nominal X compressão de salários. Ambos são meios para se atingir um único fim: a desvalorização real. Nisto é possível criticar a Alemanha. Desvalorização real serve para país com déficit isolado no balanço de pagamentos ou com recessão isolada. Em um contexto de recessão global, desvalorização real é política de empobrecer a vizinhança.
Durante as últimas duas décadas, foi esporte favorito do jornalismo econômico conservador (quase um pleonasmo) exaltar a superioridade do modelo norte-americano de Estado pequeno em comparação ao modelo europeu continental de economia social de mercado. O seguro-desemprego, os sindicatos, os impostos altos e os gastos sociais supostamente estariam fazendo a Europa ficar para trás. Já foi demonstrado aqui que a superioridade dos EUA neste período nem foi tão marcante assim.
Agora que surgem evidências em contrário ao habitua raciocínio, pesca-se uma ou outra coisinha em que um país europeu continental é mais conservador, e aí a explicação está dada.
Rigor científico é uma coisa grande demais para caber em uma coluninha jornalística.