Já expliquei há alguns meses porque na política brasileira eu estou nem-nem-nem. Nem PT, nem direita, nem extrema esquerda (leia clicando aqui). Não estou sozinho. Acompanho um grupo de ótimos tuiteiros e feicebuqueiros que vem postando textos ótimos sobre política e outros assuntos, e também estão na linha nem-nem-nem: Idelber Avelar, Moysés Pinto Neto, Luiz Eduardo Soares, Raphael Tsavkko, Gunter Zinbell, Dona Ddivinas Tretas (Ladyrasta). Porém, tenho uma pequena divergência com muitos deles: considero um erro alguns deles namorarem demais o impeachment. Um se declarou a favor, outros indefinidos, outros se dizem contra, mas afirmam que é uma decisão difícil.
Para mim não é difícil ser contra o impeachment. Entre os políticos mais atuantes pelo impeachment na direita brasileira, está muito escancarado que estão cagando para as pedaladas. Está feio demais. Está bem evidente que um dos motivos é a falta de apoio do Congresso ao governo e outro é que eles querem que Michel Temer, ou um eleito em nova eleição, implemente 100% do programa do candidato derrotado em 2014, e não apenas 80%, como Dilma vem fazendo. FHC vem claramente relacionando o impeachment com melhorar a economia, chegou a dizer que o mercado quer o impeachment. Também disse logo depois do pleito de 2014, que a reeleição de Dilma havia sido ilegítima. FHC, em uma coluna de jornal escrita agora em 2016, chegou a colocar como uma possibilidade alternativa ao impeachment: a "retomada da liderança presidencial sob novas bases". Não escreveu explicitamente, mas deu a entender (a partir de sugestões mais explicitadas por outros políticos) que se Dilma se desfiliar do PT, demitir os ministros do PT ou pedir a desfiliação deles também, e abraçar 100%, e não apenas 80%, do programa do candidato derrotado em 2014, a oposição de direita desistiria do impeachment. Ora, se Dilma fizer isso, não vai alterar o passado. Se os políticos pró-impeachment realmente consideram que houve um crime de responsabilidade que justifica o afastamento, qualquer decisão política da Dilma hoje não elimina o suposto crime de responsabilidade do passado. Aí, deixar de tentar o impeachment poderia gerar críticas por omissão (seguindo a linha de pensamento dos pró-impeachment).
A novela do impeachment já está sendo muito prejudicial para o Brasil. Discordo da extrema esquerda e até mesmo de parte do PT quando dizem que quem causou a recessão foi o ajuste do Levy. As sementes da crise foram plantadas no primeiro mandato. O combate à crise está sendo mais difícil porque a Dilma está tendo que afrouxar o ajuste, para manter uma base de apoio contra o impeachment.
Ah sim, aquela pergunta de sempre (de sempre e pertinente): mas a esquerda não pediu tantas vezes o afastamento de presidentes/governadores/prefeitos/deputados (um deles é bem conhecido atualmente) eleitos? Sim. Se a esquerda tivesse um nome forte para disputar uma nova eleição, eu seria a favor de sindicatos, movimentos sociais e partidos de esquerda irem para as ruas pedirem a renúncia de Dilma e de Michel Temer. Luciana Genro defende dupla renúncia (mesmo não sendo ela um nome forte para uma próxima eleição). Nesta questão, acho o sensato o posicionamento dela. Pressão pela renúncia tudo bem. Impeachment com base legal capenga, com tentativa de constituir uma comissão com base legal capenga, feito por uma base parlamentar de direita, com apoio de setores de direita da sociedade brasileira, para que Michel Temer implemente um programa de direita, nem pensar.
Não estou fazendo campanha ativa diária contra o impeachment, não coloco no meu perfil do Facebook o fundo vermelho com a foto da guerrilheira e a frase # não vai ter golpe. Até porque eu sei que a Dilma vai tentar resistir ao impeachment com concessões cada vez maiores aos partidos fisiológicos e aos setores da sociedade que poderiam estar pressionando pelo impeachment. Nada a ver com o "coração valente". Mas nem por isso eu acho difícil dizer que sou contra o impeachment.
Atualmente, quem está mais pensando do jeito que eu penso são Ciro Gomes, Renato Janine e Bresser Pereira.
terça-feira, 19 de janeiro de 2016
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