sábado, 23 de janeiro de 2016

Ainda a Carta Capital

Depois de ter escrito, há cerca de três meses, este texto sobre a Carta Capital, vou fazer mais umas observações sobre a revista de Mino Carta.
A Carta Capital é melhor do que as três outras revistas semanais brasileiras: Veja, Época, Isto É. Aborda questões que as outras três não abordam: mostra que a desigualdade de renda no Brasil, mesmo tendo declinado nos últimos 15 anos, continua muito elevada, que a desigualdade de renda no mundo vem aumentando, que a carga tributária brasileira incide muito mais sobre os pobres do que sobre os ricos porque o peso de impostos sobre consumo é muito grande, que racismo reverso não existe, que feminismo não é o oposto de machismo (sim, infelizmente tem que explicar isto). Assim como as outras três revistas semanais, a Carta Capital tem como público principal aquele que faz parte do quinto mais rico do Brasil. Mas ao contrário das outras três, enfatiza problemas que atingem os não leitores das revistas, ou seja, os pobres. Não foca nos problemas que atinge o umbigo do mundinho dos leitores.
Outro ponto positivo da Carta Capital é o de não abrir mão das "duas esquerdas". Defende com firmeza tanto as bandeiras da esquerda tradicional (melhor distribuição de renda, melhores condições de vida para os trabalhadores), quando da Nova Esquerda (direitos LGBTT, aborto, legalização de drogas leves, ambientalismo). Isto é muito importante principalmente no momento em que vivemos, em que auto denominados comunistas estão flertando com a Quarta Teoria Política e simpatizantes das causas da Nova Esquerda estão flertando com o libertarianismo. Ao não abrir mão das duas esquerdas, a Carta Capital serviria como um orientador ideológico, para evitar os dois desvios mencionados.
Também é positivo a Carta Capital não se limitar a criticar o governo Lula/Dilma apenas por não ser suficiente de esquerda. É perfeitamente possível ser de esquerda, mas criticar os governos do PT por outros motivos além de falta de esquerdismo. Mino Carta e Walter Maierovitch se opuseram à política do governo Lula sobre o Cesare Battisti. A revista, já em 2012, criticou o prolongamento das isenções de IPI no governo Dilma. Nunca adotou tom ufanista sobre os grandes eventos esportivos realizados no Brasil.
Mas... O "mas" é muito importante. A Carta Capital tem um probleminha: relativiza demais o envolvimento de lideranças importantes do PT em escândalos de corrupção. Isto gera a má vontade que muitas pessoas têm com a revista. E compromete o conteúdo bom.
Bom, nem nisso as outras três revistas semanais são melhores, pois também fazem suas relativizações.

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