sábado, 23 de fevereiro de 2008

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Texto sobre o Bolsa Família

Na semana passada, saiu uma boa reportagem sobre o programa bolsa família na revista inglesa The Economist. Vale a pena ler http://www.economist.com/world/la/displaystory.cfm?story_id=10650663
A matéria diz que a experiência pioneira foi no México, com o Oportunidad, se espalhou pela América Latina, chegou a Nova York e vai ser implementado no Egito. Em seguida, é explicado o funcionamento do programa no Brasil, e depois, seus efeitos são destacados. Os principais são o aumento da freqüência escola e o alívio da situação de miséria absoluta de uma grande parcela da população brasileira, com uma modesta quantia de dinheiro gasta. Também destaca o fato do programa ser continuação do Bolsa Escola, implementado pelo governo anterior. A revista ainda apresenta as críticas ao programa, sem, porém, aderir a elas.
Programas de transferência direta de renda, como o Bolsa Família, são inofensivos para quase todas as correntes de pensamento econômico. Socialistas (moderados, é claro) gostam porque existe redistribuição de renda. Liberais gostam porque isto é feito com parcela pequena do orçamento e ainda por cima, o programa não cria distorções no sistema de preços relativos. Vale lembrar que The Economist é uma revista liberal no bom e no mau sentido.
Outro ponto importante destacado pela matéria é que a globalização facilita a difusão de boas idéias, no caso mencionado, programas sociais baseado em transferência direta de renda. Eu já havia presenciado isso no meu ambiente globalizado que é minha sala de aula. Meu professor de Introdução às Políticas Públicas, que morou no México, apresentou um caso a ser discutido sobre a implementação do Oportunidad. Além da discussão de casos, a aula conta com trabalhos individuais em que cada aluno escreve sobre um problema de seu país. Minha colega turca se propôs a falar sobre meninas da parte asiática da Turquia que não freqüentam a escola ou por extrama pobreza, ou por preconceitos culturais. Meu professor disse que uma simples e boa política a ser implementada é o governo pagar uma bolsa a cada família pobre com a condição de que as crianças freqüentem a escola, sendo maior o valor para meninas do que para meninos.
Enquanto isso no Brasil, tem gente com a convicção de que quem recebe o Bolsa Família é vagabundo e que a finalidade do programa é comprar votos. A maior tragédia não é este tipo de opinião em si, mas a preguiça de pensar, que faz pessoas repetirem idéias sem qualquer exame crítico. E como se resolveria este problema, investindo em educação? Não, não adianta. Os papagaios (ou ovelhas) do "Bolsa Família é pra comprar voto de vagabundo" pertencem à parcela mais instruída da população brasileira. Quase todos eles têm "deproma".

sábado, 26 de janeiro de 2008

My Blueberry Nights: faltou o peru

Acabei de chegar do cinema. Vi "My blueberry nights", de Wong Kar Wai. Fazendo uma metáfora, este filme é que nem uma ceia de Natal composta por uma deliciosa farofa de nozes, um fantástico arroz com passas uma ótima sobremesa, mas sem o principal, que é o peru. A trilha sonora estava fantástica, combinando muito bem com as belas imagens dos EUA, os truques de filmagem (de distorcer a imagem nas mudanças de cena) encaixaram muito bem no filme, a atuação de Norah Jones foi boa (temia-se o fato dela não ser atriz profissional). E o menu de beldades do filme não é pra ninguém botar defeito. Além da cantora e da Natalie Portman, tinha a Rachel Weisz, mais linda do que normalmente ela é em outros filmes. Agora, só faltou um enredo.
Foi uma pena ver as três falando Alemão. Principalmente a Rachel Weisz, a que mais perdeu com a remoção de sua voz e sotaque original.
Como Jude Law e Rachel Weisz não apareceram na mesma cena, não foi possível eles comentarem suas experiências na Batalha de Stalingrado. Ed Harris também não apareceu na mesma cena de Jude Law. Caso contrário, ele teria falado "eu não matei você, seu desgraçado?"

domingo, 6 de janeiro de 2008

Pra quem acompanha a corrida presidencial nos EUA

Uma vez meu colega dos EUA perguntou se no Brasil comenta-se bastante as eleições presidenciais norte-americanas. Eu respondi que, normalmente, pelo tamanho da cobertura na imprensa brasileira na semana que antecede, parece até que nós também vamos votar.
Aqui na Alemanha não é muito diferente. Houve destaque nas capas dos principais jornais para as primárias de Iowa, tendo sido comentada muito mais a vitória de Obama do que a de Huckabee, que áo contrário do democrata, parece ter menos chances nas outras primárias, mesmo com o apoio de ninguém menos do que Chuck Norris.
Esta é a primeira corrida presidencial, depois de muito tempo, em que ambos os partidos apresentam grande disputa interna. Nas vezes anteriores, ou havia campanha pela reeleição, ou pela eleição do vice do presidente que ficou 8 anos. Desta vez, o Cheney está velhinho.
Este link tem a posição dos candidatos nas primárias sobre os diversos assuntos http://www.2decide.com/table.htm

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

O Fla-Flu das revistas semanais brasileiras

A revista semanal que mais leio agora é a Spiegel (normalmente na Internet, só comprei um exemplar impresso). Mas anteontem eu dei uma entrada nos sites das revistas Veja e Carta Capital para conferir o que é que tinha nas edições de fim de ano.
Na Veja, tinha um texto chamado "Pede pra sair, esquerda embolorada" http://veja.abril.com.br/291207/p_140.shtml. Na Carta Capital, tinha entrevista com os empresários Manuel Felix Cintra Neto (BM&F), Jorge Gerdau Johannpeter (Gerdau) e Roger Agnelli (Vale), discutindo o futuro do Brasil, tema que contou com outros textos http://www.cartacapital.com.br/edicoes/477.
Tem gente que diz que Veja e Carta Capital praticam o mesmo tipo de jornalismo, apenas com o sinal contrário. Se isto for uma opinião sincera e amparada em fatos, tudo bem. Basta me mostrar algum texto da Carta Capital cujo título seja "Pede pra sair, direita embolorada" que eu acredito nesta tese. Caso contrário, penso que quem nivela Veja e Carta Capital lê pouco ambas as revistas.
Sem evidência na realidade, qual seria a motivação para dizer que Veja e Carta Capital praticam o mesmo tipo de jornalismo com sinal contrário? A motivação pode ser mostrar uma certa maturidade ficando em cima do muro. Não acho que este seja o melhor caminho para a maturidade. Aos que gostam de sempre ter a opinião intermediária, muito cuidado. Isto pode viciar. Em uma discussão sobre saltar da janela do primeiro andar ou saltar da janela do terceiro andar, estes proporiam saltar da janela do segundo andar. Considerariam como extremismo a sensata opinião de simplesmente não saltar da janela.
Maturidade se adquire estudando e vivendo, e não atirando opiniões de cima do muro.

segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Reflexão: como cristãos fervorosos podem defender a pena de morte?

Nos Estados Unidos, quanto mais conservadora é uma pessoa, mais fervorosa ela é na fé cristã e, também, mais favorável à pena de morte.
Isto me intriga. Cristãos não acham que os mal-feitores arderão nas profundezas do enxofre pela eternidade? O tempo de vida no mundo dos vivos não é apenas uma parte muito pequena se comparada à eternidade? Por que acelerar o processo? Seria falta de fé na justiça divina?

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

É, cadê o ditador?



Ficou engraçada esta imagem que tirei da Desciclopedia



Chávez é um verdadeiro líder popular, defensor dos negros, defensor dos índios, defensor dos oprimidos. Os ataques contra ele partem de uma elite branca asquerosa que sempre oprimiu o povo, e que agora, merece uma resposta... ops!!!, isto é o que eu chamo de loaded language (ou linguagem carregada), que deve ser evitada. Não apenas a linguagem tem problemas, o que escrevi nas primeiras frases também é um pouco distorcido em relação à realidade. Agora, dizer que Chávez é um ditador, que ele é uma ameaça a isso, isso e aquilo, também é loaded language, também é deformação.

O resultado do referendo sobre as reformas na Constituição foi uma vitória muito incoveniente para a oposição mais radical (dentro e fora da Venezuela), que teve esvaziado seu discurso quanto ao "ditador". Foi uma vitória muito mais relevante para os eleitores que reconhecem os avanços sociais ocorridos na administração de Chávez, porém, acreditam que alternância de poder é importante, que movimentos políticos não devem ser personalizados e que o surgimento de novas lideranças é necessário. A esperteza de Chávez não deu resultado. Ele misturou no referendo algumas políticas de inclusão social com políticas de fortalecimento do Poder Executivo e possibilidade de reeleição infinita, esperando que o povo votasse no si por causa das políticas sociais, levando as de fortalecimento de poder pessoal no pacote.

Fora o referendo, que como afirmei, mesmo alguns defensores moderados do atual governo venezuelano votaram no, Chávez ganhou três eleições presidenciais (1998, 2000, 2006), o referendo da nova constituição (1999), o referendo da continuidade do mandato (2004) e ainda obteve respaldo do povo para retornar ao Palácio Miraflores após ao infame golpe de 2002. Os processos eleitorais foram desprovidos de fraude. A organização de Jimmy Carter garantiu que houve lisura em 2004, por exemplo. E na ausência de indícios de sujeira, o ônus da prova fica com quem acha que houve, e não com quem acha que não houve.

Enfraquecida, pelo último referendo, a tese da "ditadura", os opositores fanáticos do presidente venezuelano (principalmente os de outros países) costumam martelar na história do "líder populista manipulador das massas ignorantes". O apoio popular de Hugo Chávez viria da miséria da falta de instrução do povo. PORRA! Quem jamais esteve em um determinado país, pouco procura se informar sobre este país, não conhece o cotidiano deste país, sabe sobre este presidente baseado apenas nas bobagens que este disse e que apareceu nos Telejornais, e ainda pensa que sabe melhor como votar do que a própria população deste determinado país, não é uma pessoa que apenas "pensa diferente". É uma pessoa que tem algum problema, alguma esquizofrenia. Eu, por exemplo, não sou venezuelano, nunca estive na Venezuela, nunca conversei sobre um venezuelano sobre política, portanto, não vou aqui falar que os apoiadores ou opositores de Hugo Chávez são isso ou aquilo. Este texto é sobre os críticos de fora.
Uma eleição pode ser ganha por manipulação, por uma boa campanha de marketing. Agora, qualquer um que ganha três eleições e dois referendos, deve ter seus méritos em administração, mesmo falando ou fazendo umas bobagens de vez em quando. Em 1998, quando Chávez foi eleito pela primeira vez, 50,4% dos venezuelanos viviam em situação de pobreza e 20,3% em situação de extrema pobreza. Depois do caos inicial do governo, e das greves provocadas pela oposição, que provocaram uma depressão econômica, esses números eram 61% e 30,2% em 2003. Depois de três anos de forte recuperação na economia, no final de 2006, 36,3% dos venezuelanos viviam em condição de pobreza e 11,1% em extrema pobreza. Além disso, a ampliação do gasto social pode ter melhorado a situação dos que ainda estão abaixo da linha de pobreza.
Nos anos 70, devido à alta do preço do petróleo, a Venezuela tinha a maior renda per capita da América do Sul. Porém, depois de 1977, o PIB do país começou a cair e até hoje não atingiu o nível daquele ano, mesmo com o crescimento de 2004 até hoje (o PIB atual pelo menos é o maior desde 1980). Nos anos 80, houve sucessivos governos fracassados. No final da década, Carlos Andrés Pérez tentou fazer reformas neoliberais. A falta de êxito levou a uma revolta popular, tendo como pretexto uma elevação do preço da tarifa de ônibus. Esta revolta foi massacrada. Diante do clima de instabilidade, o então para-quedista Hugo Chávez tentou dar um golpe em 1992, sendo merecidamente preso (ao contrário do que ocorreu com o golpista Pedro Carmona em 2002). Em 1994, cansada do neoliberalismo, o povo venezuelano elegeu Rafael Caldeira, um esquerdista "moderno, democrático e que entendeu a queda do muro de Berlim". Sua tentativa de reforma branda fracassou, e no final de seu governo, houve nova tentativa de retomar as reformas neoliberais. É neste contexto que Hugo Chávez foi eleito em 1998.
É um fato que o presidente venezuelano perde muitas oportunidades para ficar de boca fechada, como o "el diablo" para Bush e as interrupções à fala de Zapatero. Também é verdade que ele desrespeitosamente e prejudicialmente a si próprio opina sobre eleições em outros países, causando a derrota da esquerda no México e no Peru. Mas me parece razoável que as pessoas mais pobres votem dando prioridade às perguntas como se tem mais comida na mesa ou se o atendimento à saúde melhorou do que se o líder se comporta bem nos encontros internacionais. Achar que todo mundo tem que dar prioridade à etiqueta é prepotência de classe média, que acha que seus valores devem ser universais. O presidente do Brasil também dá suas escorregadas. Mas se fineza fosse a maior qualidade de um político, teria votado na Gloria Kalil.
Em maior ou menor moderação, a esquerda foi não apenas eleita, como também reeleita no Brasil, na Argentina, no Chile e na Venezuela. O fato do continente sulamericano ter muitas pessoas pobres e com pouca instrução não desqualifica, mas qualifica ainda mais as vitórias. Na Europa, onde as pessoas são mais instruídas, é de se esperar que 30% das pessoas votam ideologicamente na esquerda e 30% na direita. Na América do Sul, espera-se que este número seja de 10% para ambos os lados. Ou seja, para conseguir mais que os 10% cativos, é preciso ter competência. Em relação a redução da miséria, os quatro países foram exemplos de realização.
Obs. Há maiores informações sobre a economia venezuelana na era Chávez neste documento http://www.cepr.net/documents/publications/venezuela_2007_07_spanish.pdf Está em espanhol, mas dá pra entender quase tudo.


Alguns acham que nela os políticos devem se inspirar. Tudo bem, ainda assim ela é bem mais progressista que muitos dos políticos favoritos destes "alguns".