sexta-feira, 24 de julho de 2015

Miséria e criminalidade

Qual é o maior causador da criminalidade? É miséria, é desigualdade, é exclusão?
Quem achar que é só isso poderia tentar responder a algumas questões: Por que o pior da criminalidade do mundo está na América Latina? Por que muitos países da Ásia que têm percentual maior de miseráveis não têm indicadores de criminalidade iguais aos da América Latina? Por que até a década de 1990 o pior da criminalidade no Brasil estava na Região Sudeste? Por que a criminalidade na Região Nordeste cresceu tanto na década de 2000 mesmo tendo caído tanto o número de miseráveis naquela região? Por que a criminalidade cresceu tanto nos Estados Unidos durante a década de 1960, se esta foi uma década de grande crescimento econômico?
Óbvio que quem quer argumentar a favor das questões sociais como principal causa da criminalidade também tem exemplos para mostrar. Pode falar que uma cidade mais igualitária como Estocolmo tem muito menos criminalidade do que o Rio de Janeiro, onde tem Gávea ao lado da Rocinha.
Isto quer dizer que não tem resposta fácil para a questão dos determinantes da criminalidade. Quem diz que pode ser a exclusão social o principal causador não está mentindo. Mas quem diz que é óbvio que é a exclusão social o principal causador está mentindo sim. Porque não é óbvio. A questão da criminalidade é uma questão sem óbvio.
Eu quero viver em uma sociedade segura. Mas para mim, não basta que a sociedade seja segura. Tem que ser justa também. Uma sociedade, mesmo sem crime, em que os ricos são muito ricos e os pobres são muito pobres não é uma sociedade boa. Por isso, o poder público deve combater tanto a criminalidade, quanto a exclusão social.
Agora, defender causas com mentiras não é coisa que se faça. Mesmo que as causas sejam muito boas. Ou melhor, principalmente se as causas forem muito boas. Se uma causa é boa, há argumentos bons para defende-la, usar mentiras como forma de argumentação é enfraquecer a causa. Quando descobrem que uma causa foi defendida com mentiras, as pessoas que defendem essa causa perdem credibilidade, e, talvez, até mesmo a própria causa perde credibilidade.
Em poucas palavras: devemos defender que o governo corrija os elevados níveis de concentração de renda. Mas não usar a criminalidade como argumento. Porque nem sabemos direito o quanto ela é causada pela concentração de renda.

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