Do que o Brasil precisa para ter futuro? Sabemos que desde 1980, o PIB per capita brasileiro não cresce com suas próprias pernas. De 2004 a 2011, houve um crescimentozinho impulsionado pelo boom de commodities, impulsionado pelo crescimento asiático. Muita gente deixou a condição de miséria neste período, o que é muito importante. Mas este período acabou.
Mudar de governo não parece a solução. O Brasil já teve governos diferentes neste período: Figueiredo, Sarney, Collor, Itamar, Fernando Henrique, Lula e Dilma. Mudar de regime macroeconômico também não. Tivemos regimes macroeconômicos diferentes neste período, e o PIB brasileiro sempre patinou. O tripé composto por câmbio flutuante, superávits primários e regime de metas de inflação parece ser o mal menor.
Então do que o Brasil precisa? Para mim, precisa ter uma sociedade que aceite algum sacrifício do bem estar no presente para ter um futuro melhor. Alguns economistas dizem que a tendência de sobreapreciação da moeda nacional neste período matou a possibilidade de termos um crescimento acelerado. Sim, e a causa da sobreapreciação são as políticas do imediatismo.
É compreensível que haja pessoas que repudiem a defesa do sacrifício do presente por um futuro melhor. Isto porque ele foi mal utilizado. Nas décadas de 1960 e 1970, a população pobre foi obrigada pela força das armas a sacrificar o bem estar no presente para o futuro do país. Mas só esta parcela da população recebeu tal incumbência. Naquele tempo, o PIB do Brasil cresceu muito, mas a concentração de renda também. E ainda bem que houve uma explosão de lutas na década de 1980.
Mas muitos anos se passaram, e não são só as lutas que vão garantir o bem estar das próximas gerações. É bom que haja liberdade para protestar, é bom que haja protestos, pois os protestos ajudam corrigir alguns defeitos de nosso país. Mas não é só protestando que chegaremos ao IDH da Suécia. Precisamos poupar, investir, capacitar, trabalhar, inovar... Para que isso seja feito, alguns sacrifícios são necessários.
Quem primeiro precisa dar sua cota são os deputados e senadores. Seus salários e benefícios são desnecessariamente elevados. Não é fácil de entender porque eles ganham mais do que R$20.000. O salário deles poderia ficar alguns anos sem ser corrigidos pela inflação, para que se pudesse diminuir o valor real. Com o topo ganhando menos, diminuem as pressões dos demais servidores públicos. Estes, por sua vez, devemos entender que não temos e nem devemos ter direito a ter salário indexado por algum índice de preços. Não é aceitável ficar mais de três anos sem reajuste, seria bom ter reajuste com frequência. Mas o governo não pode ser obrigado a dar reajuste anual com base em índice de preços, porque quando há perda de receita, diminuir o valor real dos salários dos servidores através da inflação é inevitável, uma vez que servidores não podem ser demitidos com finalidade de cortar custos. Temos também que acabar com o hábito de bancar a criança chorona porque o irmãozinho recebeu mais da mãe. Esse hábito da categoria A entrar em greve porque teve aumento menor do que o da categoria B. Não é bonito ver gente que ganha salários de cinco dígitos se comportando como se fosse operário de macacão azul.
Que trabalhadores, em geral, tenham liberdade de fazer greve, isto é ótimo. Mas não são as greves que vão faze-los ganhar um salário que arbitrariamente definimos como o justo. Os salários podem crescer por um curto período acima da produtividade se foi logo depois de terem crescido abaixo da produtividade. Mas os salários não podem crescer indefinitivamente mais do que a produtividade. Vamos supor que o trabalhador produza R$2.500, sendo que ele ganhe R$2.000 e a mais valia seja R$500. Pela luta política ele pode ganhar R$2.500 (desconsiderando o inconveniente de acabar os recursos para reinvestimento), mas se quiser ganhar R$3.000, só elevando a produtividade.
A classe média alta, por sua vez, deveria parar de chiar porque paga mais IPTU do que aquilo que a prefeitura utiliza de dinheiro em seus bairros. Imposto serve para que o setor público possa prover bens e serviços, mas também serve para redistribuir renda. Algo que ocorre pouco no Brasil, uma vez que a tributação sobre consumo é muito grande, e a tributação sobre renda e patrimônio é pequena.
Nosso país deveria também temporariamente parar de sonhar com vanguardismos em educação. Nossa maior deficiência está no feijão com arroz da educação, que é leitura e matemática. Sendo assim, dificilmente conseguiremos exportar muitos bens além dos primários. Produzir bens com elevado conteúdo tecnológico requer bons engenheiros, operários muito qualificados. As políticas de educação no momento atual deveriam priorizar melhorar a proficiência em leitura e matemática das crianças e adolescentes brasileiros. Atingido este patamar, poderia se pensar em formas criativas de educação. E o "descaso com a zumanas" é uma reclamação fora de lugar no Brasil. Quando se faz uma comparação com outros países, se verifica que, no Brasil, o percentual de estudantes de Humanas sobre o total de estudantes universitários é elevado. Formam-se muitos bacharéis em Ciências Sociais e em Relações Internacionais que prestam concursos públicos genéricos, que não exigem estas graduações. As vagas de humanas devem ser mantidas, nem aumentadas, nem reduzidas. Mas a prioridade dos novos investimentos em educação superior devem ser as engenharias e as ciências naturais.
domingo, 27 de setembro de 2015
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