sábado, 12 de setembro de 2015

Por que eu recuso a ter intimidade com quem gosta do Reinaldo Azevedo

Há alguns meses, eu escrevi que dou unfollow no Facebook em quem postar mais do que três textos do Reinaldo Azevedo. Hoje vou além e digo: eu recuso ter intimidade com qualquer pessoa que seja fã do Reinaldo Azevedo, que o tem como referência para formar opinião. Eu habitualmente sou tolerante com pessoas com opiniões diferentes das minhas. Não tenho qualquer problema em conviver bem com quem é liberal em economia, quem é contra o casamento gay, quem é contra a legalização do aborto, quem é contra a legalização da maconha, quem é contra as cotas, quem acha que religião faz bem para as pessoas. Porém, fã de Reinaldo Azevedo, sem condições. Uma coisa é a pessoa ser de esquerda, de centro ou de direita. Outra coisa é gostar de mau caratismo, que existe na esquerda, no centro e na direita. Há uns colunistas também na esquerda que eu gostaria que nem quem fosse de esquerda gostasse.
Mas por que a repulsa com quem idolatra o Reinaldo Azevedo?
Motivo mais simples: a probabilidade do fã do Reinaldo Azevedo ser elitista, racista, machista, homofóbico, transfóbico e ateufóbico é muito elevada. Não acredito que Reinaldo Azevedo seja essas coisas. Mas seus leitores muito provavelmente são. Isto porque muitas coisas que Reinaldo Azevedo escreve empolgam esse tipo de gente. Quem acha graça de gracinhas como chamar o presidente do Estados Unidos pelo nome completo de Barack Hussein Obama? Ninguém fala John Fitzgerald Kennedy ou James Earl Carter, a intenção de falar o nome do meio do atual presidente é evidentemente ataca-lo pela origem de sua família. E quem acha graça de chamar índio de pele vermelha? Ou de tentar diminuir a militante do passe livre porque ela é garçonete? Ou do texto sobre o Laerte?
Reinaldo Azevedo tem obsessão de escrever contra movimentos de minorias. Eu também já escrevi neste blog algumas críticas a movimentos de minorias. Às vezes, alguns militantes destes movimentos exageram. Às vezes, o que ocorre é que eu simplesmente não consigo entende-los porque sou homem cis hétero branco de classe média assim como a maioria dos leitores de Reinaldo Azevedo. Mas acho que outras vezes alguns militantes realmente exageram mesmo. Porém, exageros de movimentos é um assunto melhor para ser tratado com pessoas que entendem a importância dos movimentos, e não com leitor da Veja. Além do mais, por que falar tanto de exagero de movimentos? Eles podem existir sim, mas que tanto mal eles provocam? Seres humanos erram, e militantes destes movimentos são seres humanos. Quem gosta tanto de ler sobre exagero de movimentos muito provavelmente é quem gostaria que os movimentos não existissem, que os preconceitos continuassem sendo tolerados, e que a denúncia do "exagero" é um mero pretexto para desqualificar os movimentos como um todo.
Conforme eu disse anteriormente, não acredito que o Reinaldo Azevedo realmente acredita nestes ódios. Ele muito provavelmente faz isso para ganhar fama, gerar repercussão contra e favor e cavalgar nestes ódios que uma parcela da população tem para favorecer seus aliados políticos. Quem lê Reinaldo Azevedo é ou quem acredita nestes ódios, ou é quem acha aceitável cavalgar neles para atingir propósitos políticos. É gente escrota de qualquer maneira.
Reinaldo Azevedo chegou a escrever que o brasileiro mais oprimido é o homem, branco, hétero e cristão. Não sou cristão, sou apenas filho de cristãos, mas sou homem, branco e hétero e sei muito bem que não sou oprimido por causa disso. A maioria destes leitores é essas quatro coisas. Achar que seu próprio grupinho é o mais oprimido, mesmo existindo outras pessoas sofrendo muito mais, é falta de caráter.
E mais: quem leva a sério um colunista que desqualifica políticas de saúde pública sobre prevenção à gravidez e doenças sexualmente transmissíveis só porque tem visão antiquada sobre sexo, quem leva a sério um colunista que ao invés de criticar a legalização da maconha com argumentos, prefere relacionar a defesa da legalização da maconha com usuários da droga que consomem mesmo quando é ilegal, quem leva a sério um colunista que fala em ciclofascismo e Estado Islâmico sobre duas rodas não merece ser levado a sério.
Alguns podem falar: eu acho que o Reinaldo Azevedo exagera em algumas coisas (automaticamente diz que endossa outras), mas é bom que exista gente como ele porque ele mete o pau no petê. Não, não tentem me enganar com isso. Sei muito bem que quem gosta do Reinaldo Azevedo é por causa do que ele escreve sobre minorias, religião, sexo e drogas. Isto porque colunista que mete o pau no petê tem de montão, não precisa escolher justamente o Reinaldo Azevedo.
Ele realmente é empenhado em combater toda a corrupção? É óbvio que ele diz que sim. É óbvio que ele não vai falar abertamente que só quer combater a corrupção do petê. É óbvio que ele diz que quer que todos sejam investigados e se comprovada culpa, devidamente punidos. Agora, quando há alguém tenta de fato investigar corrupção de adversário do petê, Reinaldo Azevedo tenta desqualificar quem faz isso. Quando houve a investigação da Polícia Federal a Daniel Dantas, Reinaldo Azevedo se empenhou em partir para cima de quem queria investigar. Quando Lula e Haddad se divergiram sobre investigar ou não a gestão Kassab, Lula era contra porque Kassab é neoaliado. Reinaldo Azevedo ficou contra Lula? Não, ficou contra Haddad. Ah, e antes que eu me esqueça, Reinaldo Azevedo ama Eduardo Cunha.
Alguns podem perguntar: mas não haveria pessoas boas que gostam do Reinaldo Azevedo e que concordam com ele só porque não tiveram a oportunidade de sair do mundo do senso comum? Eu respondo: isto pode se aplicar a fãs de opinadores simplórios como Datena e Rachel Sheherazade, pessoas com as quais eu tenho um pouco mais de paciência. Já o Reinaldo Azevedo escreve para pessoas com mais instrução. Seus textos têm conteúdo nada sofisticado, mas têm rococó na forma. Não é qualquer não iniciado em política que entende. Quem gosta dos textos do Reinaldo Azevedo têm plena capacidade de perceber as escrotices e partilha delas.
Dificilmente eu vou deixar de ter intimidade com uma pessoa só porque eu descobri que ela é fã do colunista da Veja. Muito provavelmente eu já não tenho intimidade com quem gosta do Reinaldo Azevedo antes de eu saber disso. Porque quem gosta dele já passou antes outros sinais de que são pessoas nada interessantes. Eu não vou deixar de frequentar ambientes que essas pessoas frequentam, não vou deixar de falar oi e tchau, não vou xingá-las de reaça fascista, não vou falar mal delas em público. Apenas eu não convidaria gente assim para minha casa, nem iria para a casa desse tipo de gente. Não pediria ajuda, nem ofereceria ajuda. Não quero fazer o mal para quem gosta do Reinaldo Azevedo. Não estou fazendo mal a essas pessoas. Tenho certeza de que elas não sentiriam a mínima falta da minha companhia.
Sou a favor da liberdade de expressão. Sou a favor do direito do Reinaldo Azevedo expressar suas opiniões. Sou a favor do direito de pessoas lerem este escritor. Sou a favor do meu direito de escolher as pessoas de quem eu gosto.
Sou a favor da tolerância com opiniões diferentes. Mas a tolerância tem que existir nos dois lados. Questão de reciprocidade.

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