domingo, 13 de setembro de 2015

Também não me alinho ao anarco marinismo

Em um post que escrevi há alguns dias, expliquei porque eu não sou alinhado nem com o governo, nem com a oposição de direita, nem com a oposição de esquerda. Fiz críticas ao PT, ao PSDB e ao PSOL. Isto pode ter causado a impressão de que eu sou favorável ao anarco marinismo, que também é crítico ao PT, ao PSDB e ao PSOL. Mas não sou.
Em primeiro lugar, o que é o anarco marinismo?
O anarco marinismo é uma corrente política forte na Internet, defendida por blogueiros, tuiteiros, feicebuqueiros e participantes de comunidades virtuais. Tem alguns apoios acadêmicos também. Essa corrente política apoia não partidos, mas movimentos sociais e ONGs. Essa corrente defende o meio ambiente e os direitos. Direitos dos índios, dos quilombolas, dos sem terra, dos sem teto, dos atingidos por grandes obras, dos presidiários, dos moradores de favela, dos estudantes. Repudiam violação de direitos humanos feita por polícias. Alguns dos integrantes desta corrente gostam da Marina Silva. Outros nem tanto, mas consideraram-na a menos pior das três grandes candidaturas do ano passado. Por isso eu dei este nome a esta corrente. Marina Silva é um caso estranho na política brasileira. É um centro, mas um centro diferente de Eduardo Campos. O ex-governador pernambucano é centro porque é centro mesmo, é um meio termo entre PT e PSDB. A ex-senadora acreana é centro porque é uma média de quem está muito à direita com quem está muito à esquerda. Seu programa de governo tinha algumas propostas que estavam à direita de Aécio, por exemplo, a independência do Banco Central e a flexibilização da CLT, não defendidas pelo senador mineiro. Por outro lado, Marina tem seus apoiadores de esquerda, existindo alguns deles que querem dar aula de esquerdismo para o PSOL. O lado esquerdo do apoio à Marina é o anarco marinismo.
Os petistas mais fanáticos acham que tudo que está contra eles é a mesma coisa, por isso, não conseguem distinguir o anarco marinismo do PSOL. Acham que tudo é "trosko". Mas há diferenças importantes entre o anarco marinismo e o PSOL. Ambos apoiam movimentos sociais. Ambos criticam a negligência da Dilma com índios, LGBTT, aborto e legalização de drogas. Mas diferente do PSOL, os anarco marinistas não defendem grande intervencionismo estatal na economia. Também não são liberais. São apenas indiferentes a esta discussão. A leitura dos protestos de 2013 que estes grupos fazem é bem diferente. O PSOL considera que teve o protesto bom, que foi o do MPL e o dos críticos à Copa, e o protesto ruim, que foi o dos fascistas que agrediram militantes de partidos de esquerda, incluindo o PSOL. Os anarco marinistas acham que todos os protestos foram bons, e falam das "Jornadas de Junho", como se tudo tivesse sido uma coisa só. O PSOL é meio cheio de dedos na hora de fazer críticas ao PT por causa da corrupção, prefere fazer outros tipos de crítica. Os anarco marinistas fazem críticas pesadas ao PT por causa de corrupção.
E por que eu não sou anarco marinista?
Eu concordo com muitas ideias dos anarco marinistas. Também considero que o atual governo não é bom, que o PT tem defeitos graves, que não pode ficar no "sempre foi assim, todo mundo fez, é que agora está sendo mais investigado" e que a solução passa por um governo melhor, mais aberto, mais democrático, mais transparente, mas não por mais liberalismo como quer o PSDB nem por mais socialismo como quer o PSOL. Também sou a favor de quem luta por direitos e pelo meio ambiente.
Mas tenho grande divergência com a maneira através da qual os anarco marinistas defendem suas bandeiras. Por exemplo, a defesa que alguns deles fazem dos black bloc. Postam memes dizendo que se as manifestações fossem pacíficas, a Bastilha estaria de pé até hoje. Uma evidente falsa analogia. Muitos movimentos de massas ocorridos entre 1789 e 2013 foram pacíficos. E desobediência não pode ser relacionada automaticamente com violência. Alguns anarco marinistas fazem mimimi contra pessoas de esquerda que não defendem os black bloc, como se isso fosse um absurdo. A rejeição da esquerda ao black bloc é nada mais do que uma posição que a esquerda tradicional, seja comunista, seja social democrata, sempre teve com a ação violenta de pequenos grupos.
Não considero correto falar dos protestos de 2013 como se fosse uma coisa só. Houve vários protestos diferentes, cujos participantes se odiavam. No início de 2013, houve protestos pró e anti Feliciano. Também houve protestos anti Renan. Protestos anti Belo Monte. O Movimento Passe Livre existe desde 2005 (ou antes?), mas ganharam grande evidência em maio de 2013, quando o pau comeu nas ruas de Porto Alegre. Nos dias 10, 11, 12 e 13 de junho houve manifestações do Movimento Passe Livre em São Paulo e no Rio de Janeiro, com grande violência policial. Nos dias 17 e 20 de junho ocorreram os mais famosos protestos das "Jornadas de Junho". Militantes do MPL dividiram as ruas com simpatizantes de pequenos partidos de esquerda, que sempre apoiaram o movimento, militantes do PT, que aproveitaram o momento para tirar casquinha, atacando o governo estadual de São Paulo, pessoas que ficaram simpáticas ao MPL e pessoas mobilizadas por grupos nacionalistas de direita, que aproveitaram o momento para dar uma outra interpretação à luta pela redução do preço das passagens. Estes nacionalistas de direita foram hostis aos partidos de esquerda e ao próprio MPL. As manifestações do 17 e do 20 de junho ocorreram em várias cidades brasileiras e talvez tenham sido os maiores desde as Diretas. Paralelamente, ocorreram os protestos contra a Copa das Confederações. Depois, houve o movimento Fora Cabral e a greve dos professores do Rio de Janeiro, com apoio dos black bloc. Não é possível falar disso tudo como uma coisa só. Há anarco marinistas que defendem os black bloc e relativizam as agressões à esquerda.
É comum ver anarco marinistas falando que "Dilma reprimiu os protestos", como se ela mandasse nas polícias militares estaduais e nas justiças estaduais. Há também críticas a Dilma porque ela mobilizou aparatos de segurança para "garantir a segurança da Copa". Se Dilma merece alguma crítica sobre a Copa é porque quando ela era da Casa Civil em 2007 ela não sugeriu em evitar a candidatura. A cagada foi feita em 2007, e a maior responsabilidade é do Lula. Foi um grande erro o Brasil ter assumido o compromisso com a Fifa, sediar esse tipo de evento não gera benefícios de longo prazo para o país. Mas uma vez assumido o compromisso, não tinha como voltar atrás. Era óbvio que era necessário garantir a segurança da Copa. Protestar é bom, ameaçar a segurança de jornalistas, atletas e turistas não. Como os anarco marinistas têm raiva da Dilma e não do Lula, porque Lula até que dava um pouco de atenção a suas bandeiras, as críticas por causa da Copa são todas dirigidas à Dilma, mesmo tendo sido Lula o responsável pela candidatura.
É comum ver anarco marinistas reclamando que o PSOL está próximo demais do PT. Não acho coerente não ser tão de esquerda assim e querer ensinar o PSOL a ser mais de esquerda do que é. Ou queriam que o PSOL estivesse ajudando o PSDB?
Sem estes equívocos, muitos dos que eu rotulei de anarco marinistas dizem muitas coisas com as quais eu concordo sobre a política nacional e eles têm grande potencial de ser uma nova força para nossa política.

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